quarta-feira, julho 03, 2024

Ministério Público: começou a corrida à PGR

 Tal&Qual é de hoje.



 O primeiro milho é dos pardais, como dantes se dizia...

E porque estamos nas aves, nos pássaros, passarinhos e passarões e outros animais de capoeira, este artigo do Público da autoria de um conhecido político socialista, suscita a tese da cabala sob o ponto de vista marreco que é o que normalmente lhe assiste:


Ora então façamos lá o teste do pato para os patos perceberem o pathos;

Um político que foi primeiro-ministro e que deu ocupação política a este político sectariamente patológico, foi apanhado em escutas telefónicas a combinar esquemas de organização de negócios em que o Estado era parte, com empresas privadas, intermediados por um amigo que segundo tudo indica para lá foi por ser amigo de quem era ( a tal parte do parece um pato...); esses negócios careciam de variada intervenção político-administrativa e chegou a um ponto em que tal só poderia ser feito em Conselho de Ministros presidido por aquele. Foi levado a cabo o esquema manhoso que o presidente da república rejeitou por o ser ( é a parte em que o pato actua como um pato porque o esquema apresentava-se como indiciador de corrupção, indiciada pelo modus operandi).

 De acordo com a lógica mago-patológica, o que deveria fazer o Ministério Público? De pato? Ou de caçador? Optou pelo seu papel legítimo e concluiu que se o esquema parecia corruptivo e alguém se actuou como se o fosse, mesmo primeiro-ministro,  só poderia ser...logo, fez o que tinha a fazer e comunicou a quem de direito ( ao pSTJ) as suspeitas legítimas, dando a conhecer tal facto através de um comunicado, para esclarecer a população acerca do que se passava e não esconder o essencial. 

Pois bem! Esta actuação do MºPº é entendida pelo preclaro patológico como um atentado ao Estado de Direito, um golpe de Estado não violento, apenas porque lhe pareceu que o seu mentor foi apeado por causa de um parágrafo desse comunicado. Esquecendo tudo o resto, incluindo uma quantia de várias dezenas de milhar de euros escondidos em lugares esconsos no gabinete ao lado do mentor em funções e cuja proveniência continua por explicar cabalmente, sem pactos e sem ser para pato ver. 

Golpe de Estado porque lhe parece golpe de estado. Poderia parecer-lhe outra coisa, por exemplo, o exercício legítimo da acção penal segundo o princípio geral e constitucional da igualdade dos cidadãos perante a lei, mas não, isso não lhe ocorreu. Enfim, poupemos em adjectivos porque é demasiado fácil malhar em gente desta estirpe..

A terminar, um pequeno artigo do procurador-geral adjunto jubilado, Alberto Pinto Nogueira, pessoa estimável e que no outro dia escreveu no mesmíssimo Público um artigo com sentido contrário, a anunciar o medo que devemos ter do MºPº . Hoje, escreve que não o teme. Ufa! Ao Ministério Público, entenda-se. Ainda bem.

 Quanto ao resto apenas deve dizer-se que a personagem mistério exposta no escrito pode muito bem ser...Rui Rio. Também ocorreram com este político ressabiado com o MºPº coisas idênticas pelo que é legítimo supor tratar-se de uma e a mesma pessoa. Edificante! 


Do resto do artigo que daria pano para mangas muito compridas, já tenho comentado por aqui que o MºPº é o que é actualmente porque sempre foi assim, particularmente depois de conquistada a autonomia externa e interna de que goza. 

O problema não reside aí, mas na formação dos seus magistrados, nas faculdades, no CEJ, nos formadores, nas rotinas processuais e métodos de trabalho etc etc. Muito complexo, tudo isso e principalmente muito difícil de alterar. O que vem de trás, toca-se para a frente e quem divergir, apanha com inspecções para o arrimo conveniente, com pleno conhecimento da hierarquia. 

Este problema, curiosamente é que não vejo a ser tratado. Vamos a isso, caro dr. Pinto Nogueira?


terça-feira, julho 02, 2024

Os obituários de Fausto nos jornais

 A notícia da morte de Fausto ocorreu ontem e os jornais tiveram todo o tempo para coligir elementos para o obituário da praxe. Percorrendo as folhas dos principais diários temos um ponto comum, na memória de um disco de 1982 sobre as viagens marítimas dos portugueses nos séculos XV e XVI, Por este rio acima. Os demais discos ou nem são referidos ou são-no em nota fugidia.

Não há falta de informação sobre a obra musical de Fausto disponível à mercê de alguns clicks na internet. No entanto, parafraseando Frank Zappa, a informação não é conhecimento; conhecimento não é sabedoria; sabedoria não é verdade. Verdade não é beleza e Beleza não é amor. Amor não é música. Música é o melhor que há.  ( Information is not knowledge. Knowledge is not wisdom. Wisdom is not truth. Truth is not beauty. Beauty is not love. Love is not music. Music is the best.”).

A música de Fausto não se resume ao disco  do rio acima nem a meu ver esse será o melhor de Fausto porque muito previsível e repetitivo, musicalmente. Prefiro outros, dos anos setenta, mesmo os panfletários. 

O primeiro disco de 1970 já mostrado no postal anterior, não precisa de mais acrescentos do que os que lá estão. 

O disco de 1974, Pró que der e  vier começa com um som de harmónica baixo e continua com o Daqui desta Lisboa, com  letra de Alexandre O´Neill e vozes de Adriano Correia de Oliveira e Zeca Afonso, para além de Fausto e uma instrumentação já um pouco mais elaborada relativamente ao primeiro disco de 1970. 

O disco foi editado por Arnaldo Trindade e gravado em Madrid, nos estúdios Kírios, "até 17 de Abril de 1974". Três temas, os mais panfletários- Venha cá senhor buguês, Marcolino e O patrão e nós- foram já gravados em Outubro de 1974 nos estúdios Polisom.

O tema Carta de Paris é uma reprise do som do primeiro lp e até ficava bem nesse primeiro disco, pelos vistos renegado pelo artista ao ponto de nunca ter sido reeditado. O tema seguinte, Não canto porque sonho com letra de Eugénio de Andrade e voz de José Afonso a acompanhar, poderia figurar num disco posterior dos anos oitenta. 

Pró que der e vier ( com um som de Moog tocado por Vitorino), Marcolino ( com guitarra eléctrica de Júlio Pereira e uma sonoridade zappiana que o rio acima nem perscruta alguma vez)  e Daqui desta Lisboa são dos temas que o programa Página Um do Rádio Renascença passava muitas vezes nos primeiros meses de 1975, até à interrupção do programa em Fevereiro desse ano por causa do...Prec. O tema o Homem e a Burla parece...Paul Simon de 1972, com a harmónica baixo.

O segundo disco da década, de 1975, Um Beco com saída, editado pela Orfeu, ainda mais panfletário do que essoutro. O tema Queremos ver tudo diferente não mascara as palavras na frase final: "viva a Revolução Popular". O tema Final que afinal tem uma Introdução ...e coragem, logo no primeiro temavale o disco e nenhum tema do rio acima se equivale.

O disco de 1977, Madrugada dos Trapeiros, tem pelo menos quatro temas de antologia. Atrás dos tempos, Se tu fores ver o mar ( Rosalinda),  Uns vão bem outros mal, do lado um. Mariana das sete saias, do lado dois. Nenhum dos temas do rio acima os supera mas apenas repete.

O disco de 1979, Histórias de Viageiros, começa aliás com um tema da Peregrinação de Fernão Mendes Pinto, continuado no tema A Nau Catrineta, esta do Cancioneiro de Garret. O tema Roupa Velha é um hit e a balada Eu tenho um fraquinho por ti é insuperável. 

Depois desses nem me apetece cronicar o Por este rio acima, mas mostro-os aqui a todos


Os obituários reflectem uma carência de informação e conhecimento para não dizer sabedoria ou amor pela música. Aposto que os obituaristas nunca ouviram o primeiro disco de Fausto ou sequer o segundo ou o terceiro, já dos anos setenta. Assim replicam-se uns aos outros, num fenómeno que também se replica noutros assuntos, ressumando internet em todos os parágrafos, sem digestão cultural ou compreensão de contexto.  
O que ainda escapa é o artigo de Nuno Pacheco no Público, uma página a acrescer às duas, mais  vulgares. O resto é uma tristeza e um sinal de decadência cultural.

Jornal de Notícias:


Correio da Manhã:




Diário de Notícias:



 Público:





segunda-feira, julho 01, 2024

Na morte de Fausto lembro discos antigos

 Republico um postal de 22 de Maio de 2022 sobre Fausto cuja notícia de falecimento li agora.

Fausto, para mim, foi o cantor de Ó pastor que choras, ouvido já alguns anos depois de ter ouvido o disco de 1974, um panfleto revolucionário com uma música deliciosa, intitulado Pró que der e vier e  principalmente Rosalinda ( se tu fores ver o mar), uma canção ecológica dos anos setenta do LP Madrugada dos Trapeiros de 1977. E de muitas outras dos lp´s dos anos setenta, particularmente. 

Republico o postal porque provavelmente ninguém vai mencionar estes discos esquecidos que aqui ficam lembrados...

 Fausto, o autor-cantor e artista da música popular portuguesa que publicou vários discos de música de protesto e de intervenção durante as décadas que se seguiram a 1970, tem o seu primeiro disco, em formato LP, completamente esquecido e para muitos totalmente desconhecido. 

O disco é este e saiu na primeira metade do ano de 1970, tendo sido publicado na Holanda ( terra da Philips). Até hoje nunca foi reeditado, seja em que formato for e por isso é uma perfeita raridade discográfica. Aliás, nunca vi sequer em publicações portuguesas da época imagem da capa ou publicidade ao mesmo. 

Até há pouco tempo, só um ou outro blog tinham fotos da capa do disco e sempre em resolução fraca que nem sequer dava para observar em pormenor os detalhes das cores vivas, do vermelho-verde e as indicações da contra-capa. 

No Discogs, no dia de hoje, há dois exemplares disponíveis para venda, qualquer um com preço acima das duas centenas de euros:


Para mim é sem dúvida um dos grandes discos da música popular portuguesa, dos anos setenta e de sempre. É um disco algo melancólico, como o primeiro de Jackson Browne, para ir um bocado longe, mas de uma beleza segura e intemporal. 

É uma pena que esteja assim esquecido, porque tem pelo menos duas canções que merecem figurar entre as melhores de sempre, na música popular portuguesa: Chora, Amigo, Chora Ó Pastor que choras. E tem o tema Denúncia involuntária da atracção, da autora de A. Pinho/L. Linhares, os responsáveis pela Filarmónica Fraude e no caso de A. Pinho, também da Banda do Casaco. 

O tema Ó Pastor que choras, juntamente com África,  foram  aliás publicados em single, no ano de 1970, em "mono", o que destoa da versão em lp que é em "stereo":



Quanto ao som destes temas, na versão em Lp e single, as diferenças são notórias, devido ao registo mono/stereo, com vantagem para a versão em LP, mais definido e espacial, talvez resultante da prensagem ser estrangeira, no caso holandesa ( a matriz impressa no disco, no lado 1, tem a referência AA 6330 001 1 Y 1 P 1970).  Melhor, em suma, se bem que o tema África tenha a mesma percussão bem batida e arejada, em mono e prensagem nacional, no single. 
O som do LP é excelente, segundo o meu critério com exigência qb. Bem gravado e produzido de modo satisfatório e com audição sonora muito agradável, nada ficando atrás dos melhores discos da Island, da mesma altura ( Jethro Tull, de Stand Up, por exemplo), com aquele "ar" de som que paira no estúdio e é transportado para o suporte em vinil, particularmente nas percussões, o que o cd ou gravações digitais mesmo em alta resolução ( DVD-Audio ou SACD)  não conseguem transmitir do mesmo modo.  

Para além desta versão de dois temas do Lp, em Março de 1970 ainda foi publicada no LP " Disco Comemorativo da Inauguração do Novo Edifício Philips" ( Nas Amoreiras, onde ainda funciona nos dias de hoje) o tema "Chora, Amigo Chora". Porém, esta versão não é a do primeiro LP; é sim a do primeiro EP de Fausto, do ano anterior, ainda incipiente. É uma versão em balada, menos ritmada do que a do LP, que tem percussão em barda para animar o tema choroso.


É muito difícil encontrar informação sobre a música de Fausto desse tempo, não havendo registos que sejam do meu conhecimento, impressos em jornais ou revistas da época que dêem conta da saída do primeiro LP.
Apenas do single, na revista  Mundo Moderno de 1 de Maio de 1970:


E a Mundo da Canção de Junho e Julho de 1970 publicou as letras do single, nunca tendo feito nesse ano ( e seguintes) menção a esse primeiro Lp ou sequer ao seu autor, Fausto, o que é no mínimo estranho. 



Dá a impressão que a música de Fausto, com aquelas excepções, foi simplesmente "cancelada", omitida, censurada na imprensa portuguesa da época. 
Tal mistério nunca foi devidamente esclarecido e há uns tempos a apresentadora de tv, Fátima Campos Ferreira entrevistou Fausto na primeira pessoa e organizou um programa televisivo sobre a vida do mesmo, no qual este refere ter sido censurado, atribuindo ao "lápis azul" tal responsabilidade. 
Falta saber é a quem pertencia tal lápis azul ( ver desde os minutos 14 a 17) . Ou vermelho...porque diz que a Antena Um é que lhe ofereceu esse primeiro disco, com riscos azuis. 
Aliás, a intelectualidade jovem da época que produzia o Em Órbita e os que o escutavam ligaram nada de nada ao disco. Em 1967 tinham escolhido o disco A Lenda d´El rei d. Sebastião do Quarteto 1111 como algo importante e fundamental na música popular portuguesa. Três anos depois, este disco mereceu-lhes...nenhuma referência. Zero. 

De resto, na internet, há quem tenha escrito sobre Fausto, mas são poucos e parca é a informação. Sobre este primeiro disco quase nada...




Assim, resta dizer que este primeiro disco de Fausto, de longa duração, é efectivamente um grande disco e que ouvido em vinil revela toda a sua beleza intrínseca, inclusivé sonora e própria do vinil. 
Quem quiser ouvir um sucedânio pode sempre procurar no You Tube porque há pelo menos um aficionado que se deu ao trabalho de transpor o som do vinil para a resolução ( baixa) do digital do youtube. Mas a procura de todos os temas carece de trabalho de pesquisa aturada. 
Vale a pena, no entanto.