segunda-feira, outubro 31, 2022

Os Beatles e o Revolver de luxo

 Já saiu a reedição do disco dos Beatles, Revolver, originalmente publicado no Verão de 1966. A nova reedição segue-se a outras, de outros discos dos Beatles e que começaram a surgir em publicações cuidadas, em caixinhas com vários discos, em vários formatos ( LP, cd, bluray e streaming digital)) e documentação de época.

Esta leva de reedições começou em 2017 com o disco Sgt.Pepper´s Lonely Hearts Club Band; em 2018, com o White Album; em 2019 com o Abbey Road e em 2021 com Let it Be/Get Back. Todos em caixinhas variadas e preços a condizer, mas também em reedição singela. 

Agora saiu o Revolver daquele longínquo ano de 1966, a seguir a outro grande disco do grupo, Rubber Soul, do ano anterior e que também contém algumas das melhores canções dos Beatles. Há até quem considere este ou aquele como o melhor disco da banda.

Por mim não tenho opinião definitiva e tendo em conta que os Beatles produziram cerca de 10 horas de música original na sua carreira, a meia hora de Revolver representa uma fracção de tal obra. 

Este disco, tal como o Pet Sounds, dos Beach Boys, lançado meses antes,  foi produzido originalmente em gravação monofónica, também acompanhada da versão em estéreo. O disco dos Rolling Stones da mesma altura, Aftermath, de que tenho uma cópia original, gravado em estéreo não apresenta grande sonoridade comparada com as gravações actuais e é nesse contexto que tais gravações devem ser apreciadas. Eram outros tempos e outras técnicas, ainda não muito desenvolvidas como mais tarde sucedeu, dali a poucos anos. 

Em Portugal, na época, o disco passou despercebido, pela certa, tirando os ep´s, particularmente com o Yellow Submarine, um êxito que me lembro de ouvir e que se repetiu mais tarde com o filme do mesmo nome, alguns anos depois. Quanto a críticas ao disco nunca vi nenhuma publicada porque nem existia na época imprensa dedicada e especializada, como apareceria dali a algum tempo, com o Mundo da Canção. 

Em meados da década de sessenta a sonoridade mono tinha maior procura do que em estéreo, algo ainda experimental e por isso todo o cuidado foi colocado na preparação da gravação nessa forma de apresentação da música misturada como um todo e sem separação de instrumentos ou vozes pelos dois canais do estéreo, não obstante as gravações poderem ocorrer em várias pistas das diversas fitas "reel-to-reel", bobines, em processos completamente analógicos. 

As fitas originais de tais gravações, no caso dos Beatles ficaram guardadas em latinhas metálicas durante estas décadas e poucas vezes saíram do sítio onde estavam para servirem novas reedições. 

Uma das vezes em que tal ocorreu foi em 2009, com a reedição numa caixa grande de todos os discos dos Beatles com a sua publicação em mono, mas em cd,  para além de servirem para serem gravados digitalmente e com vista a reedições posteriores, em estéreo, com remisturas dos temas e rematrizações das fitas originais para prensagens de novos discos.

Essa caixa de 2009,  considerada hoje uma raridade e por isso com elevado valor acrescentado foi reeditada em Setembro de 2014, recolhendo então as versões em vinil, dos lp´s, atingindo esta também um valor muito elevado no mercado da especialidade porque era considerada até agora,  como a melhor reprodução dos discos originais, incluindo os das caixinhas publicadas desde 2017 até agora, ao Revolver.

Em Agosto de 2014 a revista Hi-Fi World anunciava a novidade e como foi produzida essa caixa já mítica pela raridade e valor acrescentado pela procura: todos os discos tirados das fitas originais, com indicação do autor da obra de transcrição das fitas originais ( Sean Magee, o que agora também realizou a transposição de Revolver, na versão mono em lp) e do método ( um gravador original Studer A80 para tocar as fitas originais e um gravador de prensagem do artefacto lacado, VMS 80, de feitura recente). 


Nesta página da Hi-Fi World de Outubro de 2014 apresentava-se a escolha de caixas com a música dos Beatles então disponíveis.


Antes disto havia as reedições que durante as últimas décadas, dos setentas até agora, acompanharam toda a obra dos Beatles, com destaque para a reedição nacional em LP, da discografia do grupo em 1982, e depois disso em cd, no final dos anos oitenta. 


Assim, a última reedição do disco Revolver em vinil, em mono, foi em 2014 e é essa a versão que tinha até agora, uma vez que não tenho o original de 1966, ao contrário de Rubber Soul. 

Tenho porém uma compilação de 1973 que traz algumas canções do disco de 1966, como Yellow Submarine e permite por isso comparar as sonoridades dos diversos discos em formato lp. O formato cd, neste caso é quase coisa espúria, digital e sem termo de comparação válido para o efeito. 

Assim, tudo isto me permitiu comparar o novo Revolver, gravado também das fitas originais, com prensagem do artefacto lacado, pelo dito Magee, na sua versão mono e arranjado e remisturado de novo, na versão estéreo por Giles Martin, filho do produtor original do disco e dos Beatles, George Martin.

Ouvi cuidadosamente, mesmo com auscultadores,  as versões em estéreo e mono do disco Revolver agora reeditado numa caixa com quatro lp´s e ainda um ep. Comparei essas versões com o disco gravado em mono de 2014 e a canção Yellow Submarine contida na compilação de 1973, gravada em estéreo e a conclusão a que cheguei, depois de dormir sobre o assunto é definitiva, para mim: esta versão em estéreo, de 2022, remisturada, do disco Revolver, por Giles Martin, é melhor que a original, no que se refere por exemplo ao Yellow Submarine

Quanto à versão em mono, de 2022, é também melhor do que a de 2014 tida como o nec plus ultra até agora. Possivelmente, a versão original, em mono, de 1966, leva a palma, mas não posso afirmar porque não ouvi. 

De resto, prefiro a versão em estéreo, agora remisturada, à versão mono, mesmo esta de 2022. É mais aperfeiçoada, para mim. Mais interessante na remistura dos sons e vozes e na clareza da reprodução sonora, não se assemelhando, nesse aspecto às versões anteriores dos discos referidos, de 2017, 2018, 2019 e 2021, sensivelmente inferiores aos originais, todos eles. Esta não guarda resquício de digitalite. 

É um facto que a remistura da sonoridade original das fitas de Revolver, com vista à versão estéreo do LP, foi realizada a partir de uma cópia com elementos digitalizados em alta resolução e técnica recente, atribuída a Peter Jackson (o de Get Back) , mas o trabalho de recomposição dos temas não altera a essência musical e a forma de tocar e cantar dos elementos dos Beatles, como acontecera em 2008 com a publicação do disco Love, também remisturado e modificado nos temas originais do grupo, aperfeiçoado no som mas artificial na apresentação, demasiado composto e limpo de subtilezas, coisa que o vinil original não padece. 

É um regalo ouvir esta nova versão remisturada do álbum, em estéreo e vale por isso o dinheiro que custou. 

Quanto à apreciação crítica do disco e da sua reedição a melhor exposição é da revista Mojo de Novembro deste ano. Assim:














E da Record Collector de Setembro de 2009:


Dito isto, quem é que hoje ouve a música dos Beatles, designadamente este disco de 1966, gravado ainda segundo técnicas pouco evoluídas e destinado a ser escutado em rádios de onda média e aparelhagens sofríveis, em mono? 

Quem é que ainda aprecia ouvir a primeira música, Taxman, do modo que se ouviria em 1966 ou Here, There and Everywhere do mesmo modo?
Não sei e segundo julgo pouquíssima gente. E em LP, ou exclusivamente nesse formato ainda menos. E com vontade de comparar o que houve ao longo destas décadas de modo a escolher a melhor versão, então nem se fala! É coisa para apaixonados pelo som e pela qualidade inerente que alguns lp´s comportam, através das gravações que então se fizeram. Portanto, coisa para o que se designa vulgarmente por audiófilos, os gloriosos malucos das máquinas de girar discos e da aparelhagem que lhes amplificam a sonoridade e a reproduzem nas melhores circunstâncias possíveis de obter. Uma imensa minoria de pessoas que sabem o segredo que tal comporta e o prazer imenso que tal provoca. 

E no entanto, há nos canais you tube uma série de comentadores de gabarito mais que provado e que se  entretêm nesses afazeres de comparar e dizerem o que pensam das várias versões de um disco com mais de 50 anos em cima. 
Nem todos concordam e há quem seja simplesmente iconoclasta. Porém, há quem compre as caixas, embora em quantidade muito menor do que se compravam os discos na altura em que saíram. Daqui a uns anos valerão pequenas fortunas...

Ainda sobre o Revolver e para ficar registado, dois artigos. Um da revista Mojo de Julho de 2006, aquando do 40º aniversário do álbum, sobre o modo de captar o som em estúdio.




Outro sobre o modo de recuperação da sonoridade gravada nas pistas das fitas originais, para a reedição de 2022:




A informação desinformada da inteligência artificial tributária

 CM de hoje, uma notícia sobre o sistema fiscal português, aplicado ao cidadão contribuinte.


Um cidadão cumpre uma obrigação fiscal, no caso o pagamento de um imposto municipal e engana-se na referência de pagamento bancário ( em multibanco, presumivelmente) atribuindo o pagamento a uma prestação posterior à devida.

O sistema informático fiscal valida tal pagamento da prestação futura e assim fica por pagar a actual, devido a lapso do contribuinte. O que faz o sistema informático fiscal? Passado o prazo de pagamento da dívida actual,  instaura automáticamente um processo de contra-ordenação, porque objectivamente o pagamento efectuado não se reporta ao que estava em dívida. Tal sistema gera um procedimento de execução, com a importância em dívida, acrescida da coima pelo atraso, juros de mora e de custas processuais da máquina fiscal, fixas e regulamentadas. 

O cidadão, confrontado com tal situação indigna-se porque julgou ter pago a  prestação em causa e se houve lapso da sua parte os serviços fiscais deveriam corrigir, o que evidentemente  implica a anulação por extinção, do processo executivo, o que não sucede porque...já foi instaurado gerando os custos associados.

O CM percebe isto, claramente, mas faz de conta que o sistema fiscal tem meios de detectar tais lapsos e de os corrigir a tempo e horas, a fim de não prejudicar o cidadão.

Porém, o sistema fiscal não tem tais possibilidades de analisar e corrigir em tempo esse género de lapsos, porque o sistema informático não foi montado com tais subtilezas. E assim a máquina e a inteligência natural se confundem e optam pela inteligência artificial. 

A pergunta retórica "O Estado nunca se engana?" pode ser respondida com...a lei. o Estado engana-se, ,claro,  mas também não resolve as situações de acordo com a inteligência natural, mas sim a artificial, percorrendo as mesmas veredas burocráticas dos sistemas informáticos gizados pela inteligência natural de quem os fez e do modo que se pode ver. 

Assim, a inteligência artificial das máquinas é que mandam nos funcionários, sem apelo nem agravo. E os tribunais sancionam...porque também assim funcionam. Ou quase...
Aliás, quem é que vai para tribunal tributário discutir a legalidade de uma dívida fiscal relativa a uma coima de 20 euros? Só quem quiser afrontar a inteligência artificial de quem criou esta chico-espertice natural e se está a borrifar para o cidadão. Ou seja, só quem quiser afrontar quem governa, através do funcionalismo burocratizado de quem cumpre as directivas regulamentadas nas leis iníquas. 

Este é o tal Admirável Mundo Novo, já mencionado há décadas por um escritor célebre. A par de outro, mais tremendo, escrito por alguém que serviu para dar o nome a estas situações: kafkianas.

Na raiz deste absurdo está o poder político: foi quem gizou a regulamentação tributária da Lei Geral Tributária e diplomas adjacentes, como o respectivo código de procedimento; foi quem contratou e adjudicou a inteligentes naturais a criação deste sistema ridículo de inteligência artificial. E depois quem pactuou durante décadas com tudo isto. E continua a pactuar. 

sexta-feira, outubro 28, 2022

O paradigma do político actual?

 O Expresso de hoje escreve sobre o caso do autarca de Caminha que foi para Secretário de Estado ( e logo adjunto do primeiro-ministro) por causa do sistema de contactos. 

O artigo é um exemplo para o Público, porque está bem escrito, percebe-se por ser claro e sem ambiguidades no objectivo da escrita, ao contrário daquele.


O que se mostra no artigo é o caso singular de um político que nunca o devia ser porque dá mau nome à política. Toda a gente percebe que há aqui gato escondido com um rabo felpudíssimo de fora. Mesmo que formalmente esteja tudo na legalidade possível a verdade é que este negócio cheira mal. 

E temos o do Isaltino, agora também noticiado e do mesmo género, no caso indiciando prevaricação grave. 

Enfim, é o que temos na política actual? É isto que podemos esperar de quem governa? 

quinta-feira, outubro 27, 2022

Da Califa ao PS passando pela FEC(ml) e UDP

 Esta história contada na revista Visão de hoje é um estudo sociológico bem melhor do que algumas teses do ISCTE.

É a história resumida da vida de Américo Santos, "ateu, do PS e de esquerda", de S. João da Madeira e que em pequenino ( e pobre) já dizia que iria ter um Jaguar.  Como tem uma "paixão relativa" por automóveis, tem agora um Maseratti Quattropuorte porque deixou de ser pobre mas "gostava de ter um Rolls-Royce". Bota, chico!

A revista conta o modo como tal aconteceu, mas em termos sintéticos, em pinceladas breves e pitorescas que forçosamente não espelham a realidade comezinha deste género de pessoas, muito mais tintadas a sombrias de personalidade do que parece. 

Até chegar à condição material de não pobre, continuou porém na pobreza de espírito, segundo se pode ler, permanecendo um "patrão de esquerda" que define de modo fácil e também sintético: "basta ser solidário. Estar sempre pronto a ajudar, Sentir e chorar ao lado de quem tem problemas. Desejar permanentemente um País ( sic)  melhor para todos, com melhores condições de vida, e ir contribuindo para isso"

É isto, portanto, um "patrão de esquerda"! Como é fácil de entender,  haverá patrões de direita que não são nada disto que o Américo diz ser. 

Filho de um pai pobre, camionista, e de uma "doméstica", cujos pais tinham uma "fabriqueta", queixa-se das condições de vida do pai que se levantava às cinco da manhã e chegava a casa- que era uma "casa que não era casa, miserável, sem luz nem nada"- às 11 da noite,  com condições de trabalho em "exploração total, uma escravatura" e que passavam por carregar coisas no camião. O repórter - Miguel Carvalho que já escreveu sobre a extrema-direita nos tempos do PREC-  não escreve como seriam as condições na "fabriqueta" dos avós maternos, nem como estes viviam e por isso imagina-se, apenas, para não destoar na jeremíade do Américo contra o patrão do pai, um ingrato como se pode ler e que deixou um ressentimento assolapado na alma do Américo, até hoje.  

Com mais quatro irmãos, mais velhos,  começou a trabalhar artesanalmente, a fazer colares, logo aos oito anos e aos 14 foi trabalhar para a Califa, como "aprendiz de mecânico". O repórter não diz mas era assim que sucedia nessa época. Quem não estudava de dia, trabalhava e se quisesse estudava à noite, como o Américo fez. Milhares e milhares de Américos fizeram assim. Alguns, tal como o Américo, nos intervalos aprendiam a tocar guitarra em bandas de rock português que nessa altura eram como moscas, com nomes exóticos como Tártaros, Álamos, Sheiks ou Chinchilas. Os do Américo eram mais prosaicos: Secretos e Ídolos. As guitarradas do Américo não deviam ser nada de especial porque também se dedicava a trabalhar em casa- a tal casa que não era casa mas dava para trabalhar em casa-e por isso foi no galinheiro que montou uma pequena oficina de reparação de maquinaria ligeira. E quanto a curso, na "escola industrial" nem completou o de electricista mas deu para perceber a diferença entre as correntes alternada e contínua e buscar polos, principalmente isso. 

Quando  chegou a altura da tropa lá foi para a Guiné, como muitos outros, até 1974, sem se rebelar contra a "guerra colonial", apesar de ter ganho consciência política por lá e tendo conhecido o Spínola e o Marcelino da Mata de quem contou cobras e lagartos impublicáveis pelo repórter.  Imagina-se!

Logo a seguir o Américo que tinha sido furriel e já teria um Fiat 126 com o prè que amealhou durante a guerra, entra no vórtice maoísta, da FEC( ml), um partido que acolheu também outros esquerdistas de renome, agora situados no PS, como o Américo que confessadamente gosta é do BE. Oportunidades que surgem, voilá! Uma delas, na época foi ocupar casas devolutas e sem devolução algumas delas, expropriadas aos américos santos da época que não eram ateus, de esquerda e do ps.  

Assim conta o Américo esta gesta gloriosa: "os jovens que estavam próximos de se formar é que foram os obreiros do 25 de Abril. Em cada terra, foram os primeiros a assumir a luta e arrastar os operários, trabalhadores". Nem mais, ó Américo! E na altura, com o ideário da FEC(ml) nem os américos santos se safariam, mesmo sendo patrões de esquerda, embora o Américo na altura ainda não fosse patrão, mesmo de esquerda e a pagar salários e recolher mais valias de direita. Estava do lado dos operários e camponeses, contra os "fascistas e reaccionários". 

Do lado destes fascistas estava o Quim Mineiro que lhes queria limpar o sebo, por causa das ameaças contra a integridade física, propaladas pelos revolucionários de papelão e esteve quase a chegar a vias de facto nesse Verão de 1975. 

O Américo valentão da FEC( ml) todo borradinho de medo, claudicou, amochou e assinou a rendição, até hoje, embora não tenha assinado a extinção do ressentimento e da inveja. Ainda hoje não pode com o Quim Mineiro que foi assassinado há um ror de anos [talvez não; confundi com o Joaquim Ferreira Torres...e fica a rectificação]. Tudo porque eram arrogantes e "olhavam para os pobres com um desdém que se notava, que exibiam".  

 E como é que um personagem deste calibre chega a patrão de esquerda, apaniguado do PS se preciso for? 

Primeiro passou-lhe a febre revolucionária, como a muitos outros que se chegaram ao aconchego de um PS abrangente. Foi essencial tal manobra. Sem ela, não haveria patrões de esquerda. Só de direita. 

O Américo, com o curso incompleto de electricista da escola industrial chegou-se à UDP e depois ao PS. O repórter não explica bem quando nem onde, porquê e muito menos como começou a aventura da Tecmacal que aliás era o que interessava saber. 

Só diz que foi fundada em 1975, ou seja, na altura do PREC e quando o Américo era da FEC(ml) e que agora tem 130 trabalhadores com um patrão de esquerda, solidário e que colhe as mais-valias de modo parcimonioso, pagando salários mínimos que certamente dão para os operários irem almoçar muitas vezes ao Pedra Bela, em Maseratis Quattroruote. 

Hipocrisia, será a palavra adequada, ou haverá outras? Inveja aplicar-se-á? Fica ao critério de quem ler. 

É muito estranho, não é?! A gente fica a pensar se o repórter Miguel Carvalho lhe perguntou alguma coisa sobre isso ou se fica no rol das coisas "impublicáveis" e que por isso não se podem reproduzir. 

O resto é isto, com um relato misturado e confuso em que o pai de um se confunde com os pais de outro e coisas assim:









quarta-feira, outubro 26, 2022

O modelismo autárquico

 Público de hoje:



Como é habitual no jornalismo de José António Cerejo, o escrito aparece embrulhado, com pontas soltas puxadas de trás para a frente e vice-versa e sem uma linha clara de definição de objectivo. Não se adivinha pelo escrito qual é verdadeiramente o leit-motiv do artigo: se é para denunciar uma situação de opacidade na contratação que sendo autárquica é pública; ou se pretende insinuar algo que tenha a ver com a corrupção latente e imanente. 
Os factos aparecem relatados com a objectividade subjectivada, com um título capcioso mas curioso ao mesmo tempo: "Secretário de Estado fez pagamento duvidoso, quando era autarca", mencionando o nome do indivíduo, o melífluo Miguel Alves, indicando o valor de 300 mil euros relativo a rendas "adiantadas" 25 anos relativamente a um projecto "nebuloso" porque "não se sabe se vai ser construído". 

Quantos governantes e autarcas não fizeram pagamentos mais que duvidosos e até com valores muitíssimo mais elevados que os 300 mil euros em jogo? E quantos não estão metidos em contratos que acabam por serem incumpridos com grande prejuízo para o Estado? Quantos milhões e milhões não se perderam já com estas negociatas sem ética ou senso comum e sem consequências, sequer políticas?
Este é bem um retrato do modelismo autárquico de certos indivíduos como é o caso do político em causa, segundo o Público. 

Enfim, o Observador pegou no assunto e titulou assim: 



Diz que o autarca fez o contrato "sem garantias". Ora, ora. Isso é que de certeza não sucedeu. O que não se sabe ainda é que garantias foram dadas e a quem...

O que me causa alguma perplexidade, neste caso concreto, é a segurança excepcional que este indivíduo exala relativamente ao assunto. Não fala, não explica nada e nem se dá ao cuidado de mostrar que não há razão para duvidar da seriedade da coisa. 

É muito mau sinal mas é o sinal deste indivíduo, parece-me. Vai acabar mal? Veremos. A arrogância traz consigo a negligência e isso às vezes é fatal, para quem tem carradas desse estrume democrático amazenado.

Em matéria social, não há ciência...

Era isso que dizia Fernando Pessoa, num opúsculo publicado originalmente na Revista de Comércio e Contabilidade de Fevereiro de 1926, intitulado "A essência do comércio". E diz mais: " a sociologia é uma pseudociência, ou pelo menos, uma protociência". E termina tal consideração, afirmando que "Desconhecemos por completo que leis regem as sociedades, ignoramos por inteiro, o que seja, em sua essência, uma sociedade, porquê e como nasce, segundo que leis se desenvolve, porquê e de que modo se definha e morre"

Ufa! Lá vai todo o ISCTE para o caixote do lixo das inutilidades perversas. 

E depois  de escrever sobre tal essência, apresenta outros pontos de vista, ou seja, opiniões sobre o comércio e sobre o capitalismo, os monopólios, etc. Até sobre a escravatura, citando Aristóteles que dizia ser a escravatura um dos fundamentos da vida social. Lá se vai toda a filosofia grega pelo cano abaixo do wokismo...assim como todo o marxismo "científico". 

E no entanto são as ideias de um tempo anterior a Fernando Pessoa, que continuam alimentar a filosofia actual e a sociologia vigente. 

São ideias do século XIX e dos que o precederam, das filosofias germâncias e greco-latinas que continuam a influenciar os nossos pensadores da actualidade, nenhum deles capaz de elaborar teoricamente algo como o que se vai ler...e se o fosse seria engolido mediaticamente pela avalanche de vitupérios e desvalorizações habituais. 

Todo o esquerdismo é deitado borda fora com estas considerações que seguem...e por outro lado a escrita é tão clara, perfeita e sintéctica que em meia dúzia de páginas fica tudo dito. Até parece alguém a escrever assim ( pois, é o tal...o que discursava por escrito e que tem reunidos os seus ditos em vários volumes cuja publicação é relegada para iniciativas individuais de quem ainda aprecia tais escritos esquecidos).

Fernando Pessoa, o autor de Mensagem e de outras obras consideradas mestras na nossa literatura, o maior iconoclasta social e que pode ser lido deste modo.

Um Fernando Pessoa esquecido que apesar de ter uma casa em seu nome, alimentando uns burocratas à custa do erário público tem pelo menos a vantagem de se poderem ler os seus livros e escritos avulsos. 

Como este, publicado em 2009 pela Guimarães Editores, numa edição da Ática, patrocinada pela Câmara Municipal de Lisboa, pejada de "pensadores" do género que Pessoa aponta, da Casa Fernando Pessoa, ainda mais pejada e o INum instante tudo muda.  

 

















Ao ler frases como " como os incidentes e contingências económicos são, como os fenómenos sociais, complexos e compostos de elementos vários, um conjunto inorgânico e instabilizado imediatamente pelo embate neles, e os elementos incoordenados, que compõem esse conjunto, agitados em sentidos diferentes pelas forças diferentes de que cada incidente ou contingência se compõe", temos um retrato aperfeiçoado da complexidade da vida social que torna utópica a ideia de sociologia como ciência e as consequências daí advenientes. 
Foi sempre isto que pensei acerca dos fenómenos sociais: que são demasiado complexos para se entenderem perfeitamente e algumas tentativas para resolver problemas acabam por ter efeito contrário ao desejado. 
Dois exemplos: o marxismo aplicado à economia, com o leninismo e o poder do Estado totalitário e num aspecto mais prosaico e particular a actual tentativa de resolver a "violência doméstica" pelo lado repressivo aumentado e desejado por alguns próceres da sociologia caseira. 

terça-feira, outubro 25, 2022

A essência do comércio contada em três páginas.

 Fica aqui um excerto de um opúsculo da autoria de alguém que agora não identifico...



 

O segredo do espadão medieval coberto a papel de arroz

 Público de hoje, notícia de uma descoberta do tempo dos afonsinhos. Nada menos que o espadão de D. Dinis, enterrado com ele no seu túmulo do Mosteiro de Odivelas. 



O Público lá foi, chegou tarde e só fotografou o espadão já coberto com "papel japonês", gomado. Segundo conta o jornal o túmulo já tinha sido "violado" e estudado antes, em 1938 e até lá estava um papel de jornal, o que não obsta a que os intrépidos exploradores dos túmulos já violados se vistam a preceito com fatos-macacos brancos e máscaras a condizer. 

Esperemos que o novíssimo estudo nos traga novidades da nossa primeira dinastia e que os historiadores já contaram, segundo o que leram de cronistas do nosso tempo medieval. Parece que era um tempo em que os monarcas mandavam embora com respeito genuíno pela vontade popular. Uma democracia moderna?

Domingos Mascarenhas, no seu Portugalidade:










domingo, outubro 23, 2022

Os manhosos do poder judiciário e a "loucura inimaginável" da corrupção em Portugal

 Nas edições de ontem e de hoje do CM há quatro páginas que explicam a quem souber ler o que são e quem são os manhosos do poder judiciário que temos, associado aos poderes políticos do bloco central que temos em Portugal. 

Estão aqui algumas das razões pelas quais tudo fizeram para correr com o juiz Carlos Alexandre do centro do TCIC. 

Como escreve Eduardo Dâmaso, primeiro "aumentaram o tribunal"; como isso não foi suficiente, depois "diminuíram o tribunal"; como ainda não chegou "extinguiram o tribunal"; como parecia mal, "integraram o tribunal"; como não era viável, pois as integrantes metiam muitas "baixas" e não tinham a competência exigível para lidar com milhares e milhares de páginas e centenas e centenas de volumes, "questionaram a distribuição"; depois as acumulações de serviço e por fim e sempre a par, o "estilo do juiz". 

O mesmo juiz foi sempre questionado, incomodado, perseguido disciplinarmente, através dos mesmos protagonistas que foram o Ministério da Justiça com a inacreditável e sonsa Van Dunem; o CSM com a sua maioria confortável de políticos de bloco central e escritórios de advocacia convenientes e os komentadeiros da SIC, RTP e TVI e das lusas todas que andam por aí a comer as migalhas desta corrupção.  A CMTV ficou-se pelo aproveitamento sensacional das audiências por causa do "superjuiz", epíteto ridículo que pegou de estaca e estampam na primeira página da edição de hoje, ou não fosse a jornalista Tânia Laranjo e os seus eflúvios relatos de um jornalismo de investigação da sensação a toda a hora e que "dá primeiro" e foge depois. 

 Então, sendo assim como efectivamente é, que se dê o nome aos boys e apareçam as caras que assim quiseram e conseguiram alcançar o objectivo que há uns anos se propuseram. Neste blog está tudo contado sobre tal fenómeno e basta ler.  Até aquela parte em que um juiz sindicalista acha que esta visão do problema é uma "loucura inimaginável" e portanto participou activamente nesta manobra de autêntico golpe de Estado político-judiciário na Justiça portuguesa.  Na sombra e a rir-se baixinho, sempre o mesmo Manhoso, o que detém o poder do PS neste momento e que conseguiu não ser ouvido presencialmente pelo mesmo juiz, no caso de Tancos, por ter exigido que tal não acontecesse. E fizeram-lhe a vontade, quem de direito. 

Onde? Como? Está por aqui contado. Porquê? Não está à vista mas é visível e quem ficou na sombra e contente com a decisão do DCIAP, ou seja da PGR, foi o CSM e o poder do STJ. Como? É caso de intriga e por isso fica para outra ocasião, mas tem uma ponta solta: a autonomia económico-financeira do CSM e dos juízes. Carros, deslocações, atribuições, etc, estava tudo em jogo e ficou tudo perfeito. O Manhoso concedeu, agradado, como se o país e o orçamento lhe pertencessem, o que aliás se entende porque quem parte e reparte e não fica com a melhor parte ou é burro ou não tem arte. E um Manhoso tem arte de sete raposas. 

Este é por isso um retrato actual da corrupção em Portugal, uma "loucura inimaginável", de facto.

Tanto que o presidente da República já defende, actual e recentemente a composição do CSM com uma maioria de juízes, para evitar o efeito previsível: a corrupção do CSM pelos políticos que representam estes interesses e que foram no fim de contas quem actuou em concreto para escorraçar o juiz em causa. Parece demasiada conspiração? Pois é porque é mesmo! As coisas em Portugal acontecem assim e basta ver os factos as circunstâncias e ligar o que sucedeu com o que está a suceder. 

Há um problema grave na democracia portuguesa: é o PS, este PS deste Manhoso e dos que o precederam, com destaque para o inenarrável que anda por aí a aproveitar os efeitos deste ambiente deletério. 








O Público activista e relapso