segunda-feira, julho 31, 2023

Se fosse com o outro juiz...não era nada disto!

 Observador:




O Ivo Rosa é que sabia! Faltando o Ivo, lá se foi tudo ao ar...
É este o resumo da argumentação do filho de Proença de Carvalho. 
Por estas e por outras razões,  o pai do dito e outros da mesma igualha lutaram anos a fio, para substituir um juiz de instrução que nunca lhes agradou, por outro que quase sempre os alegrava e a quem teceram sempre loas e nunca criticaram. 

O CSM que gere as carreiras dos juízes, com maioria de advogados da mesma estirpe, devidamente acompanhados dos idiotas úteis do costume, alguns até na associação sindical, acolheram as críticas e  contentaram os proenças todos que por aí pululam e retiraram ao juiz maldito a competência exclusiva.

Este panorama bem realista da justiça portuguesa vista pelo lado dos arguidos acusados de corrupção é elucidativo...e deveria ter aberto os olhos a quem decide carreiras e lugares, particularmente no CSM, se outra fosse a sua composição. 

Cada vez se percebe melhor o que foram os últimos vinte anos na justiça criminal de topo, em Portugal, no campo da corrupção que envolve políticos: um cóio de corruptos a tentar passar pelos pingos da chuva, usando esquemas ainda mais corruptos. 
Um deles, o principal pela notoriedade, continua a esbracejar apesar de já não passar de um cão morto, passe a expressão, aliás conhecida. Foi aliás defendido inicialmente pelos mesmos proenças... que conseguiram um feito de tomo: indicar um PGR para um lugar memorável e contar com um presidente do STJ ainda mais memorável!

Estes proenças só tomaram alento de voos mais altos aí por alturas de um poder político à maneira, a partir dos anos dois mil. Antes deles, os afortunados eram estes, como se nota nesta capa de uma revista de 2005:


 Nenhum dos indicados alguma vez disse mal do tal Ivo Rosa. Pelo contrário, julgo que quase todos ( escrevi nenhum, mas corrijo)  falharia nas críticas acerbas a Carlos Alexandre e o último foi o inefável Júdice, ainda na semana passada, como se lê no postal abaixo.

É preciso melhor explicação?! Um desenho, talvez?! Já fiz um ou outro e julgo que não se deve perder tempo com fracos defuntos que fizeram mais pelo descrédito da Justiça penal no TCIC do que os inimigos da mesma. E sempre com as melhores intenções...declaradas. Por baixo, no entanto, subjaz o sentimento feio da última palavra dos Lusíadas. 
Quanto aos proenças, já mostraram vezes de sobra ao que vêm: dinheiro e poder, onde estiverem. Nada mais.

domingo, julho 30, 2023

J.M. Júdice e as mulheres de césar

 O advogado reformado José Miguel Júdice, artífice da PLMJ pós A. M. Pereira, conceceu uma entrevista ao Tal & Qual com um único propósito, manhoso e enviesado: dizer mal do juiz Carlos Alexandre. A entrevista saiu na edição desta semana:

Para Júdice ter um pouco mais de vergonha que aparenta não ter, bastar-lhe-ia pensar que as decisões do "mau juiz" Carlos Alexandre e que contendem, segundo aquele, com a circunstância de se comportar mais como um "super-procurador" do que juiz de instrução, foram sempre confirmadas pelos tribunais superiores. 

Isso bastaria para estar calado a esse propósito e não vilipendiar gratuitamente quem não lhe agrada por motivos ínvios. 

No entanto, para se saber que razões subjazem a tais juízos subjectivos de má índole, seria interessante conhecer o percurso profissional deste advogado que há relativamente poucos anos, no tempo cavaquista, ainda estava "teso" e passado pouco tempo nadava em dinheiro, talvez como nunca o antigo patrono A.Maria Pereira sonhara alguma vez, apesar de ser dono de um Picasso.

Como? Talvez conhecendo melhor a sua história...de sucesso.

 Assim; assim; assim; assim e assim, por exemplo. São casos públicos e que ajudam a perceber. Talvez o antigo bastonário, Marinho e Pinto pudesse ajudar um pouco mais...

Águias caídas

 No outro dia morreu Randy Meisner que foi um águia na guitarra-baixo dos Eagles, de que foi co-fundador,  apesar de ter composto apenas uma canção- Take it to the limit, de 1975- nos primeiros cinco discos do grupo e participado na escrita de mais três ou quatro. No sexto disco, de 1979, The long run, Randy Meisner já tinha saído do grupo, cansado do ambiente que aliás se nota na menor qualidade da gravação em causa. 

Pelo contrário, os cinco primeiros discos são para ouvir todos, para quem gosta do estilo e do género, o country-rock, o ambiente das guitarras acústicas, misturadas com as eléctricas, os banjos, bandolins e guitarras de pedal metálico. Foi esse o som que me encantou no início dos setenta e perdurou até hoje.


Em 1976 os Eagles publicaram o que viria a ser um dos discos mais vendidos de sempre da música popular ( o mais vendido no séc. XX) , o Their Greatest Hits que congrega quase todos os temas do sucesso musical do grupo, com excepção dos que saíram no disco posterior, de final desse ano, Hotel California.
Foi por isso em meados da década nos programas de rádio dessa altura, particularmente no Dois Pontos de Jaime Fernandes que me foi dado ouvir os êxitos anteriores, vindos de 1972, de Take it easy, do primeiro disco e particularmente Lyin eyes, precisamente do disco de 1975, One of these nights, passando pelas baladas Peaceful easy feeling do primeiro e Tequila Sunrise do segundo, intitulado Desperado e que apresenta uma capa com os membros do grupo disfarçados de cóbóis, imitando uma foto de época dos irmãos Dalton.






Imagem da Rolling Stone, edição especial de Agosto de 2016, variação da apresentada na capa da RS de 25.9.1975. Randy Meisner aparece à frente de todos.

Naquela edição da revista Rolling Stone, dava-se sequência à recensão do disco de 1975, One of these nights que tem precisamente a composição Take it to the limit, de Meisner e que foi o primeiro êxito milionário dos Eagles. 

Na edição de 14 de Agosto de 1975 era esta a recensão crítica, na revista:



A edição de 25 de Setembro da revista anunciava o sucesso que já era e iria aumentar exponencialmente nos anos seguintes, até ao final da década.







A Guitar World Acoustic de Junho/Julho de 2005 deu-lhe esta atenção, particularmente no primeiro disco que se evidenciou em 1972 como um modelo do country-rock, como outros que o precederam, particularmente os dos Flying Burrito Brothers e dos The Byrds:


Desse primeiro disco, de 1972, a capa merece história porque era para ser de outro modo, diverso do que foi publicado. Em vez de uma capa dupla, a ideia original estendia por uma quádrupla, em poster desdobrável ( à maneira do disco de Milton Nascimento, Milagre dos Peixes, do ano seguinte, 1973) a foto do grupo, no deserto, tal como conta a Uncut de Maio 2022:



E a RS de Agosto de 2016 mostrava a família alargada do estilo de música do grupo:


Como os Eagles foram seguramente um dos grupos que mais apreciei na segunda metade dos anos setenta, por causa dos cinco primeiros discos e muito por causa da meia dúzia de canções que se integram no chamado country-rock , já aqui escrevi aquando da morte de um dos seus membros principais, Glenn Frey, em 2016 e que aparece nesta imagem juntamente com o agora falecido Randy Meisner, da RS de 2016:

 Em 2016 escrevi este obituário de Glenn Frey:

Morreu ontem um tipo nascido em 1948, criado em Detroit, nos EUA e que  foi para a California, meteu-se em drogas, aprendeu a tocar guitarra e a cantar em harmonia vocal e em 1971, juntamente com três companheiros de músicas, mais tarde alargado a outros,  ajudou a fundar os Eagles, um grupo de música rock com sonoridade que se convencionou depois designar de "country-rock".

Chamava-se Glenn Frey e  nada sabia de tudo isso quando ouvi o grupo pela primeira vez, no rádio de meados dos anos setenta do século que passou.
Também nada sabia que o primeiro disco do grupo, intitulado simplesmente  Eagles, se apresentava com um foto de uma paisagem de cactos sobrevoada por uma águia solitária tirada por um fotógrafo chamado Henry Diltz e que em 2002 documentou a história dessa e de outras fotos para capas de discos de artistas e grupos da California dessa época.
Quanto às músicas desse disco primeiro também não sabia que apenas duas eram da autoria de Glenn Frey ( Chug alll night e Most of us are sad) e uma delas, clássica entre os clássicos, take it easy, era em co-autoria com outra artista maior, Jackson Browne.
De resto esse primeiro disco de 1972 para mim é um clássico da música popular, tal como o são os quatro seguintes, publicados até 1976: Desperado, de 1973, On the Border, de 1974, One of these nights de 1975 e finalmente Hotel California, de finais de 1976 e o grande êxito do grupo.
Precisamente em 1976 os Eagles já tinham um Greatest Hits que se tornou um dos discos mais vendidos da história da música popular.
Desses 10 "hits" aí compilados Glenn Frey co-escreveu seis e são dos mais interessantes e que me captaram para sempre a atenção auditiva: Desperado, One of these nights, Take it to the limit, Best of my love e principalmente Lyin Eyes. Juntando a essas Hollywood Waltz, Is it  true, Saturday night, I wish you peace e duas ou três de Hotel California, com o título tema e New kid in town, tem-se uma obra musical notável na música popular. 

Há quarenta anos nada disso sabia porque só ouvia no rádio as composições e melodias do grupo que me agradavam mais que muitas outras e assim foi até hoje pelo que continuará a ser.
O maior divulgador dessa música, nesse tempo, era sem dúvida o radialista Jaime Fernandes, senhor de um timbre de voz imediatamente reconhecível e que tinha então um programa num dos canais nacionalizados da rádio.
 Esse programa, que se chamaria Dois Pontos e depois se chamaria Country-music, a música da América, passava esses discos e essas músicas, por vezes integralmente pelo que em 1976 o Greatest Hits seria um disco repetido nessas audições.
O papel de Jaime Fernandes, como divulgador desse género musical foi  notável e imprescindível ao conhecimento desses discos e dessa música que de outro modo teriam ficado pelos êxitos mais óbvios dos singles que passavam no que agora se chamam  playlists. O meu agradecimento e reconhecimento a Jaime Fernandes é assim perene e de louvor sem reservas pelo que possibilitou à juventude da altura conhecer a música popular que ainda hoje se ouve, porque aquela época marcou uma geração.
A música dos Eagles é daquelas que não carece de grandes artigos explicativos  e basta a mera contextualização do tempo e lugar em que foi produzida.
A essência é de fusão entre o rock e o country e Glenn Frey era mais do lado rock, apesar das baladas que escreveu, incluindo a solo, em 1984,  com Lover´s moon do lp The Allnighter.

Curiosamente, ao longo dos anos e desde a década de setenta,  os Eagles nunca fizeram grandes capas de revistas musicais.
Sendo um grupo norte-americano de grande sucesso nas vendas, até ao final da década de setenta, talvez fosse de esperar uma maior visibilidade mediática. Errado. Os Eagles fizeram apenas duas capas em dez anos, na revista Rolling Stone. Uma em 1975 e outra em 1979 e nada mais.
Em Abril de 1977 porém, outra revista americana, Crawdaddy, dava-lhe esta capa e um artigo de várias páginas. As fotos são das mais perfeitas que já vi, sobre o grupo. Nem a Leibowitz as fazia assim.


A Rock & Folk nenhuma capa lhes consagrou. Estamos muito longe de David Bowie...

Porém, em Fevereiro de 1978 a mesma revista num artigo de quatro páginas de Benoit Feller resumia criticamente a discografia do grupo até então.
 
Foi a primeira vez que vi mas não cheguei a ler o artigo. Já conhecia a música de cor.



domingo, julho 23, 2023

Como descobrir um disco original e não o deixar fugir

 Os discos de vinil antigos, originais, de música popular dos anos sessenta e setenta, são desde há alguns anos a esta parte, alvo de atenção de amadores e coleccionadores de todo o lado. 

Alguns foram editados aos milhares, centenas de milhar ou mesmo milhões ( o primeiro e mais notório foi o Frampton Comes Alive, em 1976, com seis milhões logo à partida e com a concorrência do Greatest Hits dos Eagles do mesmo ano e que veio a tornar-se um dos mais vendidos de sempre, com dezenas de milhões) e por isso é relativamente fácil encontrá-los à venda em discotecas com usados e na internet, nos sítios mais conspícuos como o ebay e o discogs. 

 O sítio Discogs, particularmente é o meu preferido por diversas razões para escolher e encontrar discos que me interessam e existe há mais de vinte anos. 

Como encontrar um disco em versão original, no emaranhado de referências e edições que foram sendo publicadas ao longo dos anos, tendo por exemplo um disco como o celebrado Dark Side of the moon, dos Pink Floyd, sido editado em quase mil versões, abrangendo diversos anos e países? 

Partindo de um exemplo concreto com dois discos publicados no mesmo ano, 1966- Freak Out dos Mothers of Invention de Frank Zappa e Blonde on Blonde de Bob Dylan-, vou mostrar como escolher a versão original, primitiva e americana de tais discos. 

Em primeiro lugar é necessário entrar no Discogs e escolher a discografia dos Mothers of Invention, marcando depois a entrada no primeiro disco, Freak Out, com uma lista de edições ( no caso pouco mais de cem, o disco nunca foi muito popular...).

Depois de escolher a edição primeira, tal como indicado, em versão US, deve atender-se às referências concretas de tal edição e que o Discogs tem de modo muitíssimo detalhado.

No caso o que nos dizem tais notas acerca desse primeiro disco de Frank Zappa com os Mothers of Invention? Isto:


As primeiras edições soavam em mono e stereo e traziam um encarte com os pontos quentes do sítio ( Laurel Canyon, por suposto) de onde provinham os músicos. 

Quando comprei a minha edição, há uns anos, ainda fui a tempo de a mandar vir directamente dos EUA [na verdade julgo que foi do UK, uma vez que tem capas interiores suplementares com tal origem, para além das americanas originais], por um preço muito conveniente, através do ebay, porque na altura me era mais prático e não se pagavam direitos alfandegários relativamente a mercadorias até 20 euros ou coisa que o valha. Havia então, há 12, 15 anos, milhentos discos a preços inferiores e em estado pristino. Quem mo vendeu assegurou-me que o disco estava em bom estado e que valia o preço, sendo uma primeira edição. A comprovar apresentava uma foto do mesmo, incluindo o rótulo que é muito importante para se perceber a originalidade do produto. 

Comprei assim e nessa altura o grosso da minha colecção de edições originais, a preços acessíveis. Os correios funcionavam melhor que agora e não havia muitas perdas de mercadoria, mesmo sem números de seguimento da mesma ( postal tracking).

E de que modo tal aconteceu? 

No caso concreto comprei a versão em stereo que por isso trazia a menção na capa a V6-5005-2. 

Nas capas interiores ( o disco é duplo, sendo provavelmente o primeiro disco duplo da história do rock, logo seguido pelo Blonde on Blonde, conforme resultado controverso aqui citado) .

A minha versão de Freak Out:


Existindo várias versões dessa primeira edição como é que eu sei que esta é a primeira? Através de um pormenor explicado no discogs, deste modo e relativamente a tal versão devidamente identificada, com fotos das capas, incluindo as interiores e adereços ( a minha versão não contém o encarte aludido...o que diminui o valor):



O disco que eu tenho apresenta precisamente as mesmas inscrições, incluindo as letras e números riscados, na "parte morta" do disco, logo no fim das faixas gravadas e antes do rótulo. Isso para além de ter o tal "deep groove" pressing ring", o sulco um pouco mais cavado no anel do rótulo:



É também através destas inscrições que se descodifica onde é que o disco foi prensado e por vezes quem "cortou" o master a partir das fitas magnéticas para o disco metálico que serviu para imprimir as matrizes macho e fêmea ( "mother" and "father") que estampam o vinil que se espalma na impressora apropriada. 

Estas informações são igualmente fornecidas pelo Discogs, relativamente a cada uma das versões dos discos, tal como se pode ler acima. No caso do disco que tenho,  o pormenor da palavra "Tableaus" no rótulo do disco e na capa aparecer "Tableaux" elucida-me que é essa versão e não outra. 
Fica assim determinado para mim que o disco que tenho é mesmo um original usa em primeira prensagem stereo.

Relativamente ao Blonde on Blonde repete-se o processo. No Discogs a versão que tenho é esta. É a primeira em "mono":


Na parte "morta" a respectiva inscrição é mecanizada, com as letras XLP113761-2B P e tem a referida letra "P" que denuncia ser uma prensagem da casa Pitman. Podia ser outra, por exemplo da casa Terre-Haute ( caso em que apareceria um T) ou Santa Maria, (caso em que teria um S) . Para se saber qual a melhor versão há muitos textos de opinião na internet, até no próprio Discogs, no fim da "ficha técnica" de cada versão. Já contribuí para algumas...

A este propósito, uma das situações mais interessantes revela-se num disco dos Led Zeppelin, cujas primeiras edições americanas são o must para quem aprecia a batida forte do rock em tom metalizado. 

O disco Houses of the Holy, saído há 50 anos, em 1973 apresenta várias versões e os americanos que gostam de discos de vinil consideram que a melhor é versão americana e  que o engenheiro de produção de masters, Robert Ludwig realizou, a partir das fitas gravadas originalmente, nos laboratórios Sterling. Este engenheiro costuma assinar a sua obra na parte morta do disco apondo-lhe as letras manuscritas RL. 

Portanto é fácil de ver quem realizou a matriz de onde foi impresso o vinil, procurando tais letras no próprio disco. 

Não obstante, Robert Ludwig tinha então a concorrência de outros, como era o caso de George Piros ( GP) e esse disco dos Led Zeppelin também teve a sua contribuição, distinta daquele RL. Gerou-se então discussão ( que continua)  acerca dos méritos de um e outro relativamente a tal disco. 

Quando arranjei esse disco, calhou-me porque não escolhi deliberadamente, uma versão americana híbrida: de um lado aparece "sterling RL" e do outro "GP". Dizem até que é a melhor...e por mim não me queixo porque a sonoridade do disco é fenomenal ou "amazing" como dizem eles...




Para complicar um pouco mais, as casas de impressão dos discos também contam, sendo a Monarch, que se identifica com diversos símbolos, uma das mais prestigiadas e procuradas, havendo muitas outras. No caso, este disto é também de marca Monarch ( MO, no rótulo).

Outra questão a ponderar na escolha de um disco original é a atenção ao respectivo rótulo, para além da capa. O primeiro disco dos Steely Dan, Can´t Buy a Thrill, de 1972, tem um aspecto em tudo semelhante à reedição de 1974:

Os rótulos no entanto diferem substancialmente e o Discogs é um bom guia para a distinção entre o original e a reedição:


Assim, quem quiser escolher, basta ir para a versão que pretende e se for a original, neste caso e neste momento tem estas opções, ( uma dúzia delas e todas no continente americano), em diversos países que se referem à respectiva versão e dão indicação precisa sobre o estado do disco que oferecem, desde "mint" a "poor" e preços equivalentes. 

Essencialmente é isto, para além do ( muito) mais...e para rematar fica a imagem de um disco cuja impressão americana original é simplesmente fantástica e imbatível, na qualidade sonora. 

Doobie Brothers do disco The Captain and me, na etiqueta da Warner Brothers, ainda com o rótulo verdinho. Magnífico! Tenho-o em várias versões, incluindo inglesa e americana de outra prensagem e até dvd-audio. Nada bate esta primeira edição.


Com estas indicações qualquer pessoa pode comparar um disco que tenha com a respectiva versão que se pode ver no Discogs. 

sábado, julho 22, 2023

A qualidade superior do som original em vinil

 Entre as sonoridades que fui descobrindo via rádio, durante os anos setenta e na música popular, alguns avultam que determinaram o gosto por determinada reprodução em disco de vinil. 

Em Portugal e nessa época o rádio era muito importante para se descobrirem sonoridades dos discos que iam aparecendo regularmente, alguns nos escaparates e por vezes com longos meses de intervalo entre a publicação nos países de origem, particularmente os EUA e o Reino Unido. 

Há cerca de 40 anos o jornal Sete publicou uma página sobre um desses programas de rádio que davam a conhecer discos inteiros, passados sem interrupção e que permitiam a gravação em cassete se alguém o quisesse fazer. 

O Dois Pontos que passava no Rádio Comercial existia desde o final dos anos sessenta e em 1973, em FM começou a ser dirigido por Jaime Fernandes, até 1980. 

Nessa meia dúzia de anos surgiram alguns dos mais importantes discos da música popular e Jaime Fernandes, acompanhado por outros em programas nocturnos na mesma estação de rádio e ainda no Página Um da Rádio Renascença, davam-nos a conhecer. 

Nesse tempo em que só havia registos analógicos da música gravada os estúdios de rádio estavam equipados com o que havia de melhor na respectiva tecnologia, como se pode ver nesta imagem dos anos oitenta mas que não difere muito do que existia antes. O gira-discos é um EMT, de origem alemã, tal como o mostrado na imagem do Sete e o locutor, Luís Pinheiro de Almeida que conhecia a música dos Beatles como poucos. 

Devido a isso a qualidade sonora das emissões em FM era superior e quem tinha um bom aparelho de recepção podia escutar em fidelidade muito elevada a música de tais discos. 

A mim, tal experiência foi marcante porque me deu a memória de sons que ficaram para sempre, até hoje, constituindo uma referência da própria tonalidade de algumas músicas em certos discos. 

Um deles foi este que foi publicado no Outono de 1974 e se ouviu por cá logo no final desse ano. 


A sonoridade deste disco parecia-me desconcertante porque nunca tinha ouvido nada semelhante ( apesar de já haver alguns outros do género e até do mesmo grupo) pois misturava guitarras eléctricas em ritmo rock com cordas de orquestra sinfónica em toada clássica e de um modo que me surpreendia, em pequenos trechos melódicos e com harmonias que me pareciam complexas. 
A novidade surgiu precisamente quando comecei a interessar-me pelas publicações discográficas variadas que iam aparecendo, publicitadas em revistas como a francesa Rock & Folk que então começara a comprar e a ler. 

Na verdade e na mesma altura apareceram alguns discos que me chamavam mais depressa a atenção: os de Kevin Ayers ou de Roy Harper, por exemplo e por causa daquele Jaime Fernandes ou mesmo os dos Rolling Stones e Jethro Tull e até Jackson Browne. 

Lembro-me que no Natal desse ano passou insistentemente no rádio um single de John Lennon com Elton John, Whatever gets you through the night, tirado do disco Walls and Bridges.  Tal como passou outro single dos Jethro Tull, War Child, tirado do álbum com o mesmo nome. E foi igualmente nessa altura que passou um disco de Ian Matthews, Sometimes you eat the beer [bear e não beer, descobri agora, passados quase 50 anos]  and sometimes the beer eats you que me levou a considerar tal álbum "fabuloso", em apontamentos de época. 

Não obstante toda essa onda sonora, nova para mim, nenhum desses discos ou músicas tiveram o impacto de novidade do Eldorado dos ELO que aliás nem sequer foi recenseado nas revistas que então lia. Certamente porque os críticos já conheciam o estilo musical dos ELO e de Jeff Lynn dos três discos anteriores e particularmente no tema Roll over Beethoven de 1973 onde isso já se evidenciava em modo resumido. No Eldorado é todo o disco que reflecte tal ambiente sonoro que me impressionou. 

Como o disco desapareceu dos escaparates antes de eu ter um gira-discos decente ( um Dual, acoplado a um combo da Grundig) só no início dos anos oitenta o voltei a ouvir, mas a decepção da qualidade sonora do registo fonográfico nem se esvaneceu com a melhoria da aparelhagem que o reproduzia na versão nacional de prensagem de tal disco, em edição de 1974 que tinha sobrado nas discotecas da ocasião, no caso a Sonolar de Braga.

O que então ouvia na reprodução desse disco de vinil era um som abafado e sem a definição cristalina e pesada das frequências baixas que me tinham ficado na memória auditiva de alguns anos antes. 

Por isso ao longo dos anos procurei a edição certa, em busca desse graal sonoro que se atinge quando se experimenta uma única vez, para sempre. 

As edição que se mostram são a prova dessa tentativa que durou anos e só terminou com a escolha da versão original que saíra no país de origem, o Reino Unido.


Só ao fim de sete tentativas e de ouvir sucessivamente as edições de prensagem nacional; de prensagem inglesa em primeira reprensagem e as sucessivas de 1983 e de 1986,  mais a edição americana original,  dei com o graal procurado: a inglesa que tem a referência WB K 56090 TLM-M, na parte morta do vinil. 

É esta versão que tem o som esperado, desejado e ouvido:


E o que é que isto importa a quem não se preocupa com estas coisas de som aprimorado e do vinil original e até prefere ouvir em cd ou mesmo ficheiro digitalizado na internet, com resolução inferior e nem distingue as particularidades sonoras das várias versões? 

Pouco certamente, mas a mim interessa-me e por isso vou dar mais alguns exemplos desse graal que se atinge quando se ouve a edição certa, normalmente a original e com prensagem local e preferência para as primeiras.

Um outro disco que teve grande importância na época em que saiu e em que o ouvi pela primeira vez, em 1972 é o Harvest, de Neil Young, uma obra com sonoridades acústicas, com harmónica misturada no som da guitarra Martin e com uma vez timbrada de juventude, do artista cujos discos fui coleccionando até aos anos oitenta. 

Tal como o Eldorado, este disco de Neil Young apreciei-o desde logo pelas músicas que passavam num rádio de pilhas e em fm mono. "Out on a weekend" que começa o disco foi assim ouvido e nunca mais esquecido. Só alguns anos depois despertou o interesse em ouvir o som melhorado do vinil original.

Quando nos anos oitenta saiu uma reprensagem do album, na série "nice price" e de origem alemã, tal como dezenas ou centenas de outras na época da nossa entrada na CEE e no autêntico dumping que nos atingiu comercialmente, ouvi esse disco integralmente em vinil e na aparelhagem já de maior qualidade ( Thorens TD 166 MkII, com cabeça da Audio-Technica, moving coil AF F-5). O disco pareceu-me bem gravado, com sonoridade muito superior à que me lembrava de ouvir muitos anos antes. Durante algum tempo foi essa a versão que escutei, a par de edições em cd e até em dvd-audio, um quantum leap na qualidade de reprodução digital. 

Não obstante, logo que encontrei uma versão diversa em vinil, nesse caso inglesa e original, experimentei e pareceu-me um pouco melhor. Algum tempo depois tentei a versão original americana, com referência MS 2032, Sterling LH, o máximo que se pode esperar na reprodução desse disco em vinil. 

Porém, arranjei duas versões da mesma época. Uma delas prensada pela casa Pitman e outra pela Terre Haute. A diferença não é irrelevante porque a da Terre Haute bate aos pontos a outra. Tal como bate a recente reedição dos 50 anos desse mesmo disco, tida como aperfeiçoada e vendida como tal. 


Os discos são todos iguais? Não são nem soam todos da mesma maneira, como fui descobrindo ao longo dos anos, ouvindo esta e aquela versão. Quem quiser a melhor de cada um deve escolher a primeira. Com algumas excepções como é por exemplo esta:


Esta edição do disco dos Beach Boys, Holland, publicado  no início de 1973 e que se ouvia em Portugal há 50 anos, é inferior, em modo sonoro,  à reedição recente  que inclui ainda o disco do ano anterior, Carl and the Passions-So Tough. A diferença é imediatamente perceptível pela maior clareza e abertura dinâmica do som que pode ouvir. 

É neste disco que aparece uma das composições que mais me marcou em 1973- a sequência California Saga, uma das músicas que mais gostava de ouvir há 50 anos e que nunca tinha ouvido nessa altura em disco, mas apenas no rádio. Porém, nem sequer é uma música cuja sonoridade técnica se distinga particularmente pela qualidade intrínseca. É apenas uma belíssima composição que faz agora 50 anos.

Outros discos surgiram que se destacam pelo primor técnico das gravações em vinil e alguns exemplos podem ser estes:

O primeiro é um disco dos King Crimson, In the Court of the Crimson King, editado em 1969 pela Island Records,  uma etiqueta discográfica de qualidade insofismável e que publicou obras primas da música popular. 

 


Esta edição original, com o rótulo cor de rosa, saído em 1969, distingue-se de todas as posteriores, pela autêntica qualidade primitiva e superior da respectiva sonoridade. Tenho outra versão do mesmo disco, em prensagem alemã de 1981, da Polydor, considerada também de qualidade, mas é flagrante a diferença sonora, atestando a qualidade da primeira edição inglesa. 

A Island Records, surgida no fim dos anos cinquenta, com música das ilhas que tinham sido britânicas e de onde apareceu o "reggae", transformou-se nos anos sessenta numa etiqueta de qualidade superior, particularmente nos discos editados no final de tal década e início da seguinte, os anos setenta. 

Alguns discos o atestam como por exemplo estes:

Este primeiro disco dos Jethro Tull, de 1968 e aqui na versão stereo é um dos que serve de referência à qualidade de som, superior, das primeiras prensagens, com um rótulo designado "pink label", neste caso em primeira versão e muito procurado nos discos editados pela etiqueta, como sejam por exemplo as primeiras edições dos discos de Cat Stevens ou dos Traffic.

Este primeiro [ quer dizer, quarto]  disco dos Free, de 1970 apresenta a segunda versão do rótulo cor de rosa, com o "i" em branco. A sonoridade deste disco, nesta versão, é simplesmente espantosa e sem paralelo. 

O primeiro disco dos Roxy Music, de 1972 e com o rótulo já modificado, desde 1970,  apresenta várias versões, incluindo as primeiras com distintas matrizes. A busca da melhor versão continua a ser um caminho que percorro até encontrar o graal sonoro. 

Por agora, esta primeira versão com a matriz, A-2U; B-2U confunde-se com a versão, também de primeira prensagem com a matriz C 86259 A-1 e não é claro qual delas soa melhor. 


Esta versão primeira do disco dos Cream, Disraeli Gears parece-me inultrapassável e vem de 1967, com uma sonoridade cheia de dinâmica esfuziante. É difícil encontrar melhor som dos sessenta, no rock, do que este, com este disco nesta versão:


Entre os discos com origem americana também há alguns que merecem destaque pela alta qualidade sonora que exalam nas espiras de vinil. 

Este primeiro dos Creedence Clearwater Revival, de 1968 e da etiqueta Fantasy em primeira prensagem é um deles e mostra porque é que o grupo ultrapassou os Beatles, em vendas, até 1970. A qualidade sonora aproxima-se daquela do Disraeli Gears, com uma dinâmica e uma potência sonora assinalável. 


Este dos Grateful Dead, American Beauty, de 1970 é da etiqueta verde da Warner Brothers e que até 1973 publicou mais uns tantos de outros tantos grupos, como os Little Feat, Doobie Brothers ou Van Morrrison, com a etiqueta nessa cor particular de verde azeitona.

Este disco é daqueles que se ouve nesta versão e se nota que não há melhor. E a foto mostra a textura do cartão americano, mais espesso que o europeu de então:


Por último um disco cuja versão particular é distinta e com um relevo assinalável é este, de Rod Stewart, Never a Dull Moment, de 1972. 

A única versão que faz justiça à excelente sonoridade do disco nem é sequer a original britânica, mas esta com proveniência americana e cuja matriz foi cortada por Gilbert Kong para a etiqueta Mercury, com rótulo encarnado e a sequência de vinhetas à volta. Foi preciso escutar várias versões para chegar a tal conclusão.

Portanto, para se ouvir tudo o que um disco pode dar em sonoridade especial, em vinil,  é preciso escolher, depois de saber e procurar. Escusado será dizer que estes discos, nestas versões, são os mais procurados e valiosos, havendo alguns, como é o caso do King Crimson que já atingem centenas de euros no Discogs. 


25 de Abril: a alegria desolada