domingo, julho 23, 2023

Como descobrir um disco original e não o deixar fugir

 Os discos de vinil antigos, originais, de música popular dos anos sessenta e setenta, são desde há alguns anos a esta parte, alvo de atenção de amadores e coleccionadores de todo o lado. 

Alguns foram editados aos milhares, centenas de milhar ou mesmo milhões ( o primeiro e mais notório foi o Frampton Comes Alive, em 1976, com seis milhões logo à partida e com a concorrência do Greatest Hits dos Eagles do mesmo ano e que veio a tornar-se um dos mais vendidos de sempre, com dezenas de milhões) e por isso é relativamente fácil encontrá-los à venda em discotecas com usados e na internet, nos sítios mais conspícuos como o ebay e o discogs. 

 O sítio Discogs, particularmente é o meu preferido por diversas razões para escolher e encontrar discos que me interessam e existe há mais de vinte anos. 

Como encontrar um disco em versão original, no emaranhado de referências e edições que foram sendo publicadas ao longo dos anos, tendo por exemplo um disco como o celebrado Dark Side of the moon, dos Pink Floyd, sido editado em quase mil versões, abrangendo diversos anos e países? 

Partindo de um exemplo concreto com dois discos publicados no mesmo ano, 1966- Freak Out dos Mothers of Invention de Frank Zappa e Blonde on Blonde de Bob Dylan-, vou mostrar como escolher a versão original, primitiva e americana de tais discos. 

Em primeiro lugar é necessário entrar no Discogs e escolher a discografia dos Mothers of Invention, marcando depois a entrada no primeiro disco, Freak Out, com uma lista de edições ( no caso pouco mais de cem, o disco nunca foi muito popular...).

Depois de escolher a edição primeira, tal como indicado, em versão US, deve atender-se às referências concretas de tal edição e que o Discogs tem de modo muitíssimo detalhado.

No caso o que nos dizem tais notas acerca desse primeiro disco de Frank Zappa com os Mothers of Invention? Isto:


As primeiras edições soavam em mono e stereo e traziam um encarte com os pontos quentes do sítio ( Laurel Canyon, por suposto) de onde provinham os músicos. 

Quando comprei a minha edição, há uns anos, ainda fui a tempo de a mandar vir directamente dos EUA [na verdade julgo que foi do UK, uma vez que tem capas interiores suplementares com tal origem, para além das americanas originais], por um preço muito conveniente, através do ebay, porque na altura me era mais prático e não se pagavam direitos alfandegários relativamente a mercadorias até 20 euros ou coisa que o valha. Havia então, há 12, 15 anos, milhentos discos a preços inferiores e em estado pristino. Quem mo vendeu assegurou-me que o disco estava em bom estado e que valia o preço, sendo uma primeira edição. A comprovar apresentava uma foto do mesmo, incluindo o rótulo que é muito importante para se perceber a originalidade do produto. 

Comprei assim e nessa altura o grosso da minha colecção de edições originais, a preços acessíveis. Os correios funcionavam melhor que agora e não havia muitas perdas de mercadoria, mesmo sem números de seguimento da mesma ( postal tracking).

E de que modo tal aconteceu? 

No caso concreto comprei a versão em stereo que por isso trazia a menção na capa a V6-5005-2. 

Nas capas interiores ( o disco é duplo, sendo provavelmente o primeiro disco duplo da história do rock, logo seguido pelo Blonde on Blonde, conforme resultado controverso aqui citado) .

A minha versão de Freak Out:


Existindo várias versões dessa primeira edição como é que eu sei que esta é a primeira? Através de um pormenor explicado no discogs, deste modo e relativamente a tal versão devidamente identificada, com fotos das capas, incluindo as interiores e adereços ( a minha versão não contém o encarte aludido...o que diminui o valor):



O disco que eu tenho apresenta precisamente as mesmas inscrições, incluindo as letras e números riscados, na "parte morta" do disco, logo no fim das faixas gravadas e antes do rótulo. Isso para além de ter o tal "deep groove" pressing ring", o sulco um pouco mais cavado no anel do rótulo:



É também através destas inscrições que se descodifica onde é que o disco foi prensado e por vezes quem "cortou" o master a partir das fitas magnéticas para o disco metálico que serviu para imprimir as matrizes macho e fêmea ( "mother" and "father") que estampam o vinil que se espalma na impressora apropriada. 

Estas informações são igualmente fornecidas pelo Discogs, relativamente a cada uma das versões dos discos, tal como se pode ler acima. No caso do disco que tenho,  o pormenor da palavra "Tableaus" no rótulo do disco e na capa aparecer "Tableaux" elucida-me que é essa versão e não outra. 
Fica assim determinado para mim que o disco que tenho é mesmo um original usa em primeira prensagem stereo.

Relativamente ao Blonde on Blonde repete-se o processo. No Discogs a versão que tenho é esta. É a primeira em "mono":


Na parte "morta" a respectiva inscrição é mecanizada, com as letras XLP113761-2B P e tem a referida letra "P" que denuncia ser uma prensagem da casa Pitman. Podia ser outra, por exemplo da casa Terre-Haute ( caso em que apareceria um T) ou Santa Maria, (caso em que teria um S) . Para se saber qual a melhor versão há muitos textos de opinião na internet, até no próprio Discogs, no fim da "ficha técnica" de cada versão. Já contribuí para algumas...

A este propósito, uma das situações mais interessantes revela-se num disco dos Led Zeppelin, cujas primeiras edições americanas são o must para quem aprecia a batida forte do rock em tom metalizado. 

O disco Houses of the Holy, saído há 50 anos, em 1973 apresenta várias versões e os americanos que gostam de discos de vinil consideram que a melhor é versão americana e  que o engenheiro de produção de masters, Robert Ludwig realizou, a partir das fitas gravadas originalmente, nos laboratórios Sterling. Este engenheiro costuma assinar a sua obra na parte morta do disco apondo-lhe as letras manuscritas RL. 

Portanto é fácil de ver quem realizou a matriz de onde foi impresso o vinil, procurando tais letras no próprio disco. 

Não obstante, Robert Ludwig tinha então a concorrência de outros, como era o caso de George Piros ( GP) e esse disco dos Led Zeppelin também teve a sua contribuição, distinta daquele RL. Gerou-se então discussão ( que continua)  acerca dos méritos de um e outro relativamente a tal disco. 

Quando arranjei esse disco, calhou-me porque não escolhi deliberadamente, uma versão americana híbrida: de um lado aparece "sterling RL" e do outro "GP". Dizem até que é a melhor...e por mim não me queixo porque a sonoridade do disco é fenomenal ou "amazing" como dizem eles...




Para complicar um pouco mais, as casas de impressão dos discos também contam, sendo a Monarch, que se identifica com diversos símbolos, uma das mais prestigiadas e procuradas, havendo muitas outras. No caso, este disto é também de marca Monarch ( MO, no rótulo).

Outra questão a ponderar na escolha de um disco original é a atenção ao respectivo rótulo, para além da capa. O primeiro disco dos Steely Dan, Can´t Buy a Thrill, de 1972, tem um aspecto em tudo semelhante à reedição de 1974:

Os rótulos no entanto diferem substancialmente e o Discogs é um bom guia para a distinção entre o original e a reedição:


Assim, quem quiser escolher, basta ir para a versão que pretende e se for a original, neste caso e neste momento tem estas opções, ( uma dúzia delas e todas no continente americano), em diversos países que se referem à respectiva versão e dão indicação precisa sobre o estado do disco que oferecem, desde "mint" a "poor" e preços equivalentes. 

Essencialmente é isto, para além do ( muito) mais...e para rematar fica a imagem de um disco cuja impressão americana original é simplesmente fantástica e imbatível, na qualidade sonora. 

Doobie Brothers do disco The Captain and me, na etiqueta da Warner Brothers, ainda com o rótulo verdinho. Magnífico! Tenho-o em várias versões, incluindo inglesa e americana de outra prensagem e até dvd-audio. Nada bate esta primeira edição.


Com estas indicações qualquer pessoa pode comparar um disco que tenha com a respectiva versão que se pode ver no Discogs. 

Sem comentários:

O Público activista e relapso