quinta-feira, julho 06, 2023

Neil Young e os sonhos cromados

 Anuncia-se para Agosto o lançamento de um disco mítico de Neil Young que esteve para ser publicado em meados dos anos setenta com o título de Chrome Dreams.



contei aqui a minha história sobre Neill Young e a sua música e agora este disco surge como uma surpresa agradável para quem conhece tal música, centrada essencialmente nos anos setenta. 

Todos os temas são já conhecidos porque já foram entretanto publicados noutros discos embora em versões, algumas delas diversas, das que agora se apresentarão. 

Durante anos a fio especulou-se acerca dos temas que comporiam tal disco apócrifo. Num livro de 2014 ( The Greatest Albuns you´ll never hear, editado por Bruno McDonald) mencionava-se o disco-fantasma deste modo:







Assim, praticamente todas as músicas que fariam parte desse disco que deveria ter surgido durante o ano de 1976, apareceram depois noutros discos do artista.

Em 1976 Neil Young nem publicou qualquer disco, ecoando ainda no ouvido de muitos o som do disco Harvest de 1972, sucedido em 1973 por Times Fades Away; em 1974 por On the Beach; e em 1975 por Tonight´s the Night e Zuma, discos que ouvi na altura em que saíram mas nunca me fizeram esquecer Harvest, apesar de conhecer quase de cor as canções dos mesmos e os apreciar particularmente como os melhores de Neil Young. 

Em nenhum desses discos Neil Young incluiu qualquer tema que faria parte de Chrome Dreams, fazendo-o no entanto em dois discos que saíram em 1977. 

No primeiro, uma colectânea em três lp´s, intitulada Decade, muito apreciada e só escutada anos mais tarde integralmente quando surgiu o cd, no final dos anos oitenta, Neil Young incluiu Star of Bethlehem, a qual faria parte do disco American Stars and Bars que também compilava Hold Back the Tears, Will to Love, Like a Hurricane e Homegrown, todas destinadas a Chrome Dreams.

As demais apareceram posteriormente em discos como Comes a Time de 1978 ( Look out for my love); Rust never sleeps, de 1979 ( Pocahontas, Sedan Delivery e Powderfinger) e Hawks and Doves, de 1980 ( Captain Kennedy). As duas que faltam: Stringman, apareceu num disco ao vivo,  Unplugged de 1993 e na compilação dos Archives Vol. II surgida em 2020, tal como  Too far gone, que apareceu pela primeira vez em Freedom de 1989. 

Toda esta informação aparece aqui, muito melhor documentada e pode ser comparada com as indicações dadas em 2014 no livro acima referido. 

De resto, das doze  canções, só uma pequena parte pode ter algum som inédito e só uma- Hold back the tears- será radicalmente diferente de outras versões já conhecidas, particularmente no disco Hitchhiker, publicado em 2017 e que contém versões de Pocahontas, Powderfinger e Captain Kennedy, gravadas ao vivo em 1976 e cuja versão em estúdio apareceu em Rust Never Sleeps de 1979, um disco que apreciei muito na época.   

A questão que se coloca neste caso será a de saber se vale a pena comprar este disco que deveria ter saído em 1976 e foi reservado para agora. 

A resposta é simples: não vale! Além de se conhecerem já quase todas as canções e respectivas versões, o aspecto mítico que estas coisas sempre apresentam, está muito desvanecido pela circunstância de o disco que saiu em vez deste Chrome Dreams e que foi  American Stars and Bars, de 1977, ter consumido para mim quase todo o mistério da música de Neil Young desse tempo que terminou definitivamente em 1980 com Hawks and Doves. 

Assim, o resto da produção musical de Neil Young nos anos setenta, esgotou para mim todo o interesse que chegou a ter e isso associado a duas colectâncias de "Archives", publicadas em 2009 e 2020, mais uns tantos discos avulsos, como o referido Hitchhiker, tornam absolutamente supérfluo o disco de agora, editado com um intervalo temporal de décadas, quase com 50 anos. 

A ferrugem afinal já está a dormir. 

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