Um tal Orlando Raimundo há umas semanas atrás foi notícia na revista Tabu, do jornal Sol, a propósito da reedição de um livro sobre Marcello Caetano intitulado "A última dama do Estado Novo", publicado originalmente há cerca de dez anos.
O que escreveu na altura suscitou vários reparos de monta aos familiares de Marcello, designadamente a filha Ana Maria e o filho Miguel que logo na altura lhe fizeram saber coisas do seu desagrado desmentindo-o em factos que apresentou como verdades. Dez anos depois, em vez de corrigir os erros e refazer a obra, insistiu na publicação das mesmas histórias merecendo agora um "direito de resposta" do filho Miguel de Barros Alves Caetano, na mesma revista Tabu, do jornal Sol de hoje.
Conhecendo a obra de Marcello Caetano e sabendo o que o mesmo fez no seu tempo, facilmente acredito na versão dos familiares em detrimento das historietas de pretensos autores que revelam uma dignidade abaixo do standard mínimo nestas coisas.
Marcello Caetano foi um grande governante que Portugal teve, certamente digno de louvores e apreço que o Portugal democrático se recusa a conceder-lhe, continuando a apodá-lo e ao regime anterior de..."fascista", imitando o léxico comunista mais retrógrado e fossilizado, como se fosse a expressão mais pristina da realidade.
A justiça em relação a Marcello Caetano e ao regime de então, tarda já 40 anos. Mas virá um dia.
sexta-feira, outubro 31, 2014
quinta-feira, outubro 30, 2014
Baptista Bastos, despedido e mal pago...
O jornalista João Miguel Tavares, cronista no Público das terças e quintas, desanca hoje por escrito outro jornalista das crónicas habituais em jornais. Motivo? Não se percebe muito bem, mas parece ser pessoalmente político ou de maus costumes entre jornalistas. Não sei bem, mas parece mal. Baptista Bastos é um cromo repetido do jornalismo nacional da esquerda dominante no espaço mediático e talvez seja por isso. O pretexto é o despedimento sumário de que foi alvo o plumitivo que vive com o 25 de Abril na boca e até reportava no Diário de Notícias no tempo de Marcelino, o seu antigo labão.
Na sua última crónica no DN o escriba da nostalgia abrileira parafraseou involuntariamente uns versos de Camões...
Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prémio pretendia.
Os dias, na esperança de um só dia,
Passava, contentando-se com vê-la;
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava Lia.
Vendo o triste pastor que com enganos
Lhe fora assim negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida,
Começa de servir outros sete anos,
Dizendo: — Mais servira, se não fora
Pera tão longo amor tão curta a vida!
Nesse "ponto final" de Baptista Bastos pendura-se tanta amargura quanta melancolia ressabiada e como o mesmo diz, citando Sartre, "Je suis irrécupérable". Bien sûr que é irrecuperável, Baptista Bastos.
A Raquel de BB é a sempiterna esquerda, bela e esbelta na sua utopia e para azar do destino, Jacob BB só tem a Lia de uma esquerda coxa e mirolha, sem a beleza etérea entrevista nos tempos em que escrevia no primeiro Ponto, jornal que ajudou a fundar em Novembro de 1980.
A beleza da raquel que BB jacob entrevia, numa terra de utopia, está aqui espelhada nesta crónica de reportagem que reflecte o que então o jornalismo nacional também via: uma perfeita fantasia.
Tal como o Jacob de Camões, BB tem andado a servir os sete anos repetidos...agora no Correio da Manhã, onde outro labão o vistoria.
BB é a quintessência do jornalismo nacional que serve um patrão por amor a uma raquel de utopia e em vez da dita só lhe dão a lia. É uma tragédia?
Não: é uma loucura.
Na sua última crónica no DN o escriba da nostalgia abrileira parafraseou involuntariamente uns versos de Camões...
Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prémio pretendia.
Os dias, na esperança de um só dia,
Passava, contentando-se com vê-la;
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava Lia.
Vendo o triste pastor que com enganos
Lhe fora assim negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida,
Começa de servir outros sete anos,
Dizendo: — Mais servira, se não fora
Pera tão longo amor tão curta a vida!
Nesse "ponto final" de Baptista Bastos pendura-se tanta amargura quanta melancolia ressabiada e como o mesmo diz, citando Sartre, "Je suis irrécupérable". Bien sûr que é irrecuperável, Baptista Bastos.
A Raquel de BB é a sempiterna esquerda, bela e esbelta na sua utopia e para azar do destino, Jacob BB só tem a Lia de uma esquerda coxa e mirolha, sem a beleza etérea entrevista nos tempos em que escrevia no primeiro Ponto, jornal que ajudou a fundar em Novembro de 1980.
A beleza da raquel que BB jacob entrevia, numa terra de utopia, está aqui espelhada nesta crónica de reportagem que reflecte o que então o jornalismo nacional também via: uma perfeita fantasia.
Tal como o Jacob de Camões, BB tem andado a servir os sete anos repetidos...agora no Correio da Manhã, onde outro labão o vistoria.
BB é a quintessência do jornalismo nacional que serve um patrão por amor a uma raquel de utopia e em vez da dita só lhe dão a lia. É uma tragédia?
Não: é uma loucura.
quarta-feira, outubro 29, 2014
Mário Soares e o socialismo embalsamado
Mário Soares e Almeida Santos não querem que o PS deixe de ser "socialista" porque tal coisa é impensável e seria "uma heresia". Portanto, este PS tem agora uma doutrina socialista ortodoxa.
E qual é a coisa qual é ela que Manuel Valls nem quer falar nela? Em 1 de Abril de 1976 o grande, grande pensador português, desde sempre radicado além Pirinéus, em Vence, argumentava muito simplesmente na Opção que essa tal coisa era nada. Vezes nada.
Ora o mesmo Mário Soares dizia em 9 de Julho desse mesmo ano à revista Século Ilustrado, ( em entrevista de Maria Antónia Palla ) o seguinte que dá para entender que já tinha engaiolado o socialismo, liquidado de morte matada e pedurando-o para inglês ver e a palrar de vez em quando as frases da moda, dando o corpo ao manifesto das vozes ventríloquas dos animadores do sítio. O passaroco afinal nunca foi verdadeiramente metido em qualquer gaveta mas ficou por ali, embalsamado, a adornar o espaço mediático do Rato, debitando em ilusão os estribilhos que fazem ganhar eleições. Assim que desaparecer, acaba a peçonha. Valls quer enterrá-lo porque cheira mal e só debita frases repetidas sem nexo. Soares e Santos que não, que ainda é passaroco para resistir a mais invernos do nosso descontentamento e os ventríloquos têm que ganhar a vidinha. E lá lhe vão dando cascas e alpista para enganar papalvos que votam e julgam que o passaroco embalsamado está vivo e de boa saúde...
Quase dez anos depois, o mesmo Mário Soares, em entrevista à Grande Reportagem de 15 de Março de 1985, pasava já a certidão de óbito ao passaroco, mas recusava enterrá-lo, mantendo-no no bálsamo da utilidade eleiçoeira, até hoje. À pergunta - A sua actuação pretende aumentar ou reduzir a intervenção do Estado?- Soares respondia como grande neo-liberal improvável que enterrara definitivamente o passaroco socialista:
"Obviamente, reduzir e simplificar. O Estado não deve ser empresário. Em toda a parte enm que a livre iniciativa dos agentes económicos se afirma. o papel do Estado deve tornar-se meramente supletivo".Melhor que isto nem a Senhora Thatcher...que aliás estava então no poder, em Inglaterra.
E qual é a coisa qual é ela que Manuel Valls nem quer falar nela? Em 1 de Abril de 1976 o grande, grande pensador português, desde sempre radicado além Pirinéus, em Vence, argumentava muito simplesmente na Opção que essa tal coisa era nada. Vezes nada.
Ora o mesmo Mário Soares dizia em 9 de Julho desse mesmo ano à revista Século Ilustrado, ( em entrevista de Maria Antónia Palla ) o seguinte que dá para entender que já tinha engaiolado o socialismo, liquidado de morte matada e pedurando-o para inglês ver e a palrar de vez em quando as frases da moda, dando o corpo ao manifesto das vozes ventríloquas dos animadores do sítio. O passaroco afinal nunca foi verdadeiramente metido em qualquer gaveta mas ficou por ali, embalsamado, a adornar o espaço mediático do Rato, debitando em ilusão os estribilhos que fazem ganhar eleições. Assim que desaparecer, acaba a peçonha. Valls quer enterrá-lo porque cheira mal e só debita frases repetidas sem nexo. Soares e Santos que não, que ainda é passaroco para resistir a mais invernos do nosso descontentamento e os ventríloquos têm que ganhar a vidinha. E lá lhe vão dando cascas e alpista para enganar papalvos que votam e julgam que o passaroco embalsamado está vivo e de boa saúde...
Quase dez anos depois, o mesmo Mário Soares, em entrevista à Grande Reportagem de 15 de Março de 1985, pasava já a certidão de óbito ao passaroco, mas recusava enterrá-lo, mantendo-no no bálsamo da utilidade eleiçoeira, até hoje. À pergunta - A sua actuação pretende aumentar ou reduzir a intervenção do Estado?- Soares respondia como grande neo-liberal improvável que enterrara definitivamente o passaroco socialista:
"Obviamente, reduzir e simplificar. O Estado não deve ser empresário. Em toda a parte enm que a livre iniciativa dos agentes económicos se afirma. o papel do Estado deve tornar-se meramente supletivo".Melhor que isto nem a Senhora Thatcher...que aliás estava então no poder, em Inglaterra.
terça-feira, outubro 28, 2014
Le Nouvel Observateur agora é L´Obs
A revista francesa Le Nouvel Observateur mudou ( pouco) de formato gráfico, reflectindo necessidades de mudança estética. Agora chama-se simplesmente L´Obs e é uma das minhas revistas preferidas, mesmo sendo de esquerda.
A revista mudou de aparência, tal como o PSF de Manuel Valls também pretende mudar.
O PS de cá não vai em modas e não o quer imitar, largando o socialismo de vez e deitando ao lixo a gaveta onde o puseram nos idos de 1974 ou 75.
Mário Soares e Almeida Santos foram precisamente uns dos autores dessa manobra de recurso táctico que enterrou nas profundezas da tal gaveta sem fundo o marxismo-leninismo que ainda tinha alguns resquícios no PS de 1974, aliás formado pouco tempo antes e herdeiro legítimo do jacobinismo republicano e maçónico.
Desde então, o PS é de esquerda e isso basta. Uma palavrinha e já está tudo dito, para quem vota. Pobres supostos contra pretensos ricos e desta ideia básica nasce o fundamento de todo o discurso do PS, incluindo um José Sócrates, pobre entre os pobres do PS. Quase nada tem de seu ( nem uma medalhita) e tudo lhe aparece dado...e por isso a luta de classes ainda é "chique a valer".
Os pobres, os supostos, são para o PS o mesmo que para o PCP: o alimento essencial da vida politico-partidária.O maná da luta de classes, como conceito abstracto e sempre rentável. Nem percebo como pretendem lutar tanto contra a pobreza quando é ela que os sustenta e lhes garante votos, mas enfim.
Aqui fica a parte da entrevista em que Valls quer deitar fora de vez um socialismo postiço que já nem isso é. O que diz Valls de essencial? Que "é preciso acabar com a esquerda passadista".
Ou seja, a que Mário Soares, Almeida Santos e os jacobinos maçónicos do PS defendem, com o argumento perene da luta de classes em modo de afirmação que é sempre uma mentira, particularmente no caso pessoal desses indivíduos. São eles a burguesia, actualmente. Os ricos. Não os pobres que dizem defender. Quando as pessoas perceberem isso, acaba-se-lhes a mama política.
segunda-feira, outubro 27, 2014
Dêem-lhe a medalha dos feitos inenarráveis!
Diário de Notícias de Sábado:
A foto abaixo do texto pouco terá a ver com o mesmo, embora lhe sirva de legenda. O que Manuel Vals quer fazer ao PS francês, resguardadas todas as distâncias, não será muito diferente do que aqueles dois do lado esquerda da foto fizeram ao PS português logo nos primeiros meses de 1974: "meter o socialismo na gaveta" e governar conforme sopravam os ventos. Resultado? Três bancarrotas com o "socialismo na gaveta". Fora da gaveta seria uma, de caixão à cova...
O da direita é personagem de ficção neste Portugal contemporâneo. Diz-se de esquerda como é de bom tom ( MFM na entrevista ao i chama-lhe "dâmaso salcede", sempre pronto ao "chique a valer) mas vive como um burguês que nem a suposta direita conhece. Sem dinheiro, faz vida de rico. Casa de luxo, mercedes, sempre bons restaurantes, fatiotas tipo bijan, etc etc. Pede empréstimos para "estudar", paga tudo em pouco mais de um ano sem se saber como e continua por aí a viajar para assegurar bons negócios a farmacêuticas para quem agora diz trabalhar. De esquerda, portanto. Socialista por suposto.
Por outro lado falta na foto outra lenda socialista, Manuel Alegre. Hoje veio dizer que o da direita, sendo de esquerda, merece ser medalhado pelo presidente da República e só o não será porque este não gosta dele..."por questões pessoais".
Por mim, o da direita, dizendo-se sempre da esquerda merece ser medalhado, ao modo dos antigos camaradas soviéticos, com uma placa de medalhas a todo o comprimento das largas lapelas. Com as medalhas de outro da capacidade em afundar um país; de prata, da capacidade em tirar cursos superiores ao Domingo e de bronze da habilidade em escapar por entre os pingos da chuva ao destino natural que o deveria esperar...
A foto abaixo do texto pouco terá a ver com o mesmo, embora lhe sirva de legenda. O que Manuel Vals quer fazer ao PS francês, resguardadas todas as distâncias, não será muito diferente do que aqueles dois do lado esquerda da foto fizeram ao PS português logo nos primeiros meses de 1974: "meter o socialismo na gaveta" e governar conforme sopravam os ventos. Resultado? Três bancarrotas com o "socialismo na gaveta". Fora da gaveta seria uma, de caixão à cova...
O da direita é personagem de ficção neste Portugal contemporâneo. Diz-se de esquerda como é de bom tom ( MFM na entrevista ao i chama-lhe "dâmaso salcede", sempre pronto ao "chique a valer) mas vive como um burguês que nem a suposta direita conhece. Sem dinheiro, faz vida de rico. Casa de luxo, mercedes, sempre bons restaurantes, fatiotas tipo bijan, etc etc. Pede empréstimos para "estudar", paga tudo em pouco mais de um ano sem se saber como e continua por aí a viajar para assegurar bons negócios a farmacêuticas para quem agora diz trabalhar. De esquerda, portanto. Socialista por suposto.
Por outro lado falta na foto outra lenda socialista, Manuel Alegre. Hoje veio dizer que o da direita, sendo de esquerda, merece ser medalhado pelo presidente da República e só o não será porque este não gosta dele..."por questões pessoais".
Por mim, o da direita, dizendo-se sempre da esquerda merece ser medalhado, ao modo dos antigos camaradas soviéticos, com uma placa de medalhas a todo o comprimento das largas lapelas. Com as medalhas de outro da capacidade em afundar um país; de prata, da capacidade em tirar cursos superiores ao Domingo e de bronze da habilidade em escapar por entre os pingos da chuva ao destino natural que o deveria esperar...
Loira burra e doutorada em sociologia
Maria Filomena Mónica em entrevista ao i de hoje assume a condição de burra para se doutorar em sociologia e recomenta ao ministro Crato um "cone de burro".
Pronto, de burrices já chega e aqui vai a parte mais interessante da entrevista:
Conforme se lê, temeu que o seu doutoramento em Oxford ficasse em águas de bacalhau por se sentir burra, mas com ajuda de Salazar, porque escreveu sobre esse tema, lá conseguiu o doutoramento per saltum, passando por cima do mestrado que era afinal o que pretendia. Tese? Prái umas centenas de páginas sobre o "regime salazarista, perceber como aquele homem governou tanto tempo e se passou da República para Salazar".
Será que a tese está publicada por aí, ou nem em alfarrabistas se topa? Talvez fosse interessante voltar ao tema e ler o que a então "burra" considerava fino dizer sobre o regime de Salazar.
Desde logo, produz uma afirmação de truz: "acho que Salazar correspondeu àquela fase da sociedade portuguesa em que era muito fácil governar Portugal. Provavelmente até eu governava Portugal com 80% de camponeses a morrer de fome e analfabetos. Quando tem 80% de pessoas no campo não h+a revoluções, as revoluções são feitas pela classe média ou pelos operários da cidade".
Este chorrilho de patetices nem merece grande comentário porque aparentemente a condição primitiva e de intelecto com que chegou apetrechada a Oxford ainda a não abandonou.
Salazar e o Estado Novo foram a maior revolução do século XX em Portugal e se Salazar aguentou tanto tempo proavelmente é porque merecia e o povo deixou. Em 1974 produziu-se a segunda revolução do século que dura já 40 anos. Leva já no currículo três bancarrotas e um nível de vida, relativo, inferior ao que existia em 1974, no regime que Salazar deixou.
Por outro lado, MFM diz uma coisa espantosa para quem se formou em sociologia nos anos sessenta mesmo assumindo aquela triste condição asinina: "Sou formada em Filosofia, onde não aprendi nada, e tinha feito um estágio nas chamadas Ciências da Investigação Pedagógica. Como a sociologia era proibida em Portugal, achei que devia ser uma coisa fascinante, afinal era uma chatice de morte".
Tirando outra vez as tiradas adestras sobre a sua própria competência intelectual, fica a tal afirmação sobre ausência de Sociologia nesse tempo ( anos sessenta) por causa da proibição que Salazar impunha.
Impunha mesmo ou afinal o que era proibido seriam os isctes do tipo actual? É que sobre sociologia desse tempo há provas de que não era disciplina proibida.
Aqui ficam para mostra:
Pronto, de burrices já chega e aqui vai a parte mais interessante da entrevista:
Conforme se lê, temeu que o seu doutoramento em Oxford ficasse em águas de bacalhau por se sentir burra, mas com ajuda de Salazar, porque escreveu sobre esse tema, lá conseguiu o doutoramento per saltum, passando por cima do mestrado que era afinal o que pretendia. Tese? Prái umas centenas de páginas sobre o "regime salazarista, perceber como aquele homem governou tanto tempo e se passou da República para Salazar".
Será que a tese está publicada por aí, ou nem em alfarrabistas se topa? Talvez fosse interessante voltar ao tema e ler o que a então "burra" considerava fino dizer sobre o regime de Salazar.
Desde logo, produz uma afirmação de truz: "acho que Salazar correspondeu àquela fase da sociedade portuguesa em que era muito fácil governar Portugal. Provavelmente até eu governava Portugal com 80% de camponeses a morrer de fome e analfabetos. Quando tem 80% de pessoas no campo não h+a revoluções, as revoluções são feitas pela classe média ou pelos operários da cidade".
Este chorrilho de patetices nem merece grande comentário porque aparentemente a condição primitiva e de intelecto com que chegou apetrechada a Oxford ainda a não abandonou.
Salazar e o Estado Novo foram a maior revolução do século XX em Portugal e se Salazar aguentou tanto tempo proavelmente é porque merecia e o povo deixou. Em 1974 produziu-se a segunda revolução do século que dura já 40 anos. Leva já no currículo três bancarrotas e um nível de vida, relativo, inferior ao que existia em 1974, no regime que Salazar deixou.
Por outro lado, MFM diz uma coisa espantosa para quem se formou em sociologia nos anos sessenta mesmo assumindo aquela triste condição asinina: "Sou formada em Filosofia, onde não aprendi nada, e tinha feito um estágio nas chamadas Ciências da Investigação Pedagógica. Como a sociologia era proibida em Portugal, achei que devia ser uma coisa fascinante, afinal era uma chatice de morte".
Tirando outra vez as tiradas adestras sobre a sua própria competência intelectual, fica a tal afirmação sobre ausência de Sociologia nesse tempo ( anos sessenta) por causa da proibição que Salazar impunha.
Impunha mesmo ou afinal o que era proibido seriam os isctes do tipo actual? É que sobre sociologia desse tempo há provas de que não era disciplina proibida.
Aqui ficam para mostra:
domingo, outubro 26, 2014
A ideologia matrix de uma esquerda utópica nacional
No Público de hoje e na Tabu ( Sol) de ontem aparecem três perfis de personagens simbólicos desta democracia.
A primeira é Maria Antónia Palla, mãe de António Costa que ultimamente tem multiplicado entrevistas a propósito da publicação de um livro que intitulou pomposamente Viver pela liberdade. Uma liberdade antonomásica, por suposto, uma vez que é a liberdade jacobina.
Ontem foi o i a entrevistar e a recensear o livro ( Ana Sá Lopes, imagine-se...) e hoje é o Público a entrevistar, pois claro. Uma entrevista longa com um título jacobino por excelência: ! Não tinha, como não tenho ainda hoje, respeito pelas hiearquias".
Esta Palla evidentemente só é entrevistada profusamente por toda esta troupe mediática de esquerda por ser mãe do almejado primeiro-ministro que lhes irá supostamente curar as maleitas deste "neoliberalismo" empobrecedor.
A entrevista do Público revela o que é semiologicamente evidente: somos dominados mediaticamente de há mais de quarenta anos a esta parte, - porque isto já vem de alguns anos antes do 25 de Abril de 1974, - por esta esquerda difusa que se alia sempre objectivamente à ideologia da aversão genérica aos ricos e à "hieraquia", focando particularmente um sistema que agora se chama "mercados" e que dantes tinha o nome, para essas pessoas, de "capitalismo". O jacobinismo puro é a essência desta esquerda mediática. Daí a profunda aversão ao Salazarismo/Caetanismo e a aceitação desse regime como sendo "fascista", adoptando a designação comunista, corrente, sem qualquer prurido ideológico.
Como é que esta ideologia difusa que não é comunista mas muitas vezes se apresenta como cripto-comunista, aceita complacentemente uma ideologia e um partido profundamente anti-democrático e profundamente repressivo de liberdades? É o mistério deste meio século, para mim.
Por isso mesmo tento descorticar indícios semióticos dessa inclinação à esquerda que me permita entender como é que naufragamos colectivamente nessa aventura utópica, sem destino à vista.
Lendo o que a referida Palla diz, percebemos que essencialmente se pretende feminista, por reacção a uma suposta sociedade repressiva de direitos para as mulheres. Abortista convicta, fez disso bandeira e escreveu agora o livro de justificação de uma coisa tão pessoal que devia ser resguardada no íntimo de quem não quer ser julgado publicamente.
A certa altura da recensão no i, afirmando a amizade que manteve com Maria José Nogueira Pinto, interrogava-se porque é que a mesma seria de direita e ela de esquerda quando eram tão parecidas e tão próximas em algumas coisas...
E parece-me que é neste interstício de personalidades que se deve procurar a essência do mito. Porque é que a tal Maria José Nogueira Pinto seria de direita? Há razões objectivas e concretas para tal, se afinal as afinidades electivas eram mais que a proximidade de pontos de vista e passavam até pela leitura primordial de livros de autores de esquerda?
Que é afinal a Esquerda não comunista? Quanto a mim, é a jacobina. A contestatária de uma tradição católica ou de uma tradição de costumes que vinham de um passado em que a autoridade e a hierarquia social eram respeitadas. Maioritariamente ateísta, contesta essencialmente uma autoridade difusa porque a não detém. Logo que a possua, adquire-lhe os piores vícios e perverte-lhe a essência, justificando-o em inúmeras contradições. É essa a diferenciação? Pode bem ser. M.A. Palla é de esquerda por isso, parece-me. É simplesmente um fenómeno psicológico sem razões explicativas porque foge ao domínio racional.
Outro representante desta ideologia difusa, matrix do espaço mediático e até maioritariamente político que vivemos nos dias de hoje é Joaquim Letria, irmão de José Jorge Letria, o comunista arrepenido que escreveu um livro sobre o dealbar do 25 de Abril no ambiente mediático, militar e político da época, intitulado "E tudo era possível".
Joaqum Letria apareceu ontem na revista Tabu., do Sol, em entrevista extensa. Também foi comunista mas por pouco tempo. Diz que ninguém lhe ligou durante 17 anos, mas antes tinha sido personagem fundamental no panorama mediático nacional pós-25 de Abril. É evidentemente de esquerda e a justificação é na mesma irracional.
Diz que estudou no Passos Manuel e no Colégio Moderno e nessa altura já tinha percebido que "queria ser jornalista".Escreveu um conto para o Diário de Lisboa que foi seleccionado para publicação e meteu uma cunha à filha do director, sua colega de escola, para ir "para lá". E foi.
Conta depois que "entrei no PCP com 16 anos". 16 anos? Portanto, entrou para o PCP no início da década de 60 do século que passou. O que se sabia do PCP nessa época? Que era estalinista puro e duro quando Krutschev denunciou tal coisa meia dúzia de anos antes, com proclamação pública de extenso rol de crimes contra a humanidade, como hoje se diria. Salazar ao pé disso era um anjo de coro e dos mais recatados. Letria, como jornalista não sabia disso? Não se informou? Não comparou mentalmente o regime de Salazar com o soviético que almejava sendo militante do PCP?
Então que razões se encontram para essa filiação comunista e esse esquerdismo militante que nunca mais abandonou? Lá está: não há razões, a não ser psicológicas, com a particularidade de Letria, Joaquim não dar indícios evidentes de jacobinismo militante.
Porém, o papel de Joaquim Letria no panorama nacional é de muito relevo e não parece. Foi um dos fundadores de O Jornal, em Maio de 1975 e quem ler os números que sairam durante esse período rapidamente percebe que o jornal era de esquerda mas não alinhado no comunismo, antes do lado do MFA maçónico e democraticamente burguês. O do "grupo dos Nove" de Melo Antunes e similares.
Mas que não haja qualquer dúvida sobre quem Letria apoiava nessa altura. o PREC, ainda que mitigado, como o demonstra esta capa do jornal ( que tinha um jornalismo magnífico, desse ponto de vista) contra o então "contra-revolucionário" Alpoum Calvão, recentemente falecido e cujos obituários resumem bem o que foi o nosso panorama mediático dos últimos 40 anos, onde se nota a marca matrix dessa esquerda que sociologicamente não nos larga.
De resto, Letria diz no final da entrevista que "sinto-me cada vez mais empurrado para o PCP". Os primeiros amores...pois claro e o tal fenómeno irracional a manifestar-se. Só não se compreende que tenha explicado o afastamento do PCP, ainda antes de 25 de Abril de 1974 porque " não concordava com o alinhamento do partido com a União Soviérica". Mas "respeitava muito o Cunhal", claro e que dá a dimensão dessa crença e dessa fé esquerdista que nunca passa.
Finalmente outro entrevistado hoje pelo Público é Nuno Crato, da geração com menos uma dúzia de anos que aqueles e cujo percurso ideológico é similar a muitos que moldaram o panorama mediático e são agora comentadores habituais de telejornais de uma Lourenço e afins.
Crato é outro ( a par de José Manuel Fernandes que foi seu colega de jornal na Voz do Povo, da UDP, com Henrique Monteiro e outros) que provavelmente não consegue explicar racionalmente porque acreditou no comunismo utópico numa altura em que tinha à disposição de leitura ( uma das actividades preferidas) informação mais que suficiente para se poder concluir que era uma loucura criminosa que iria tornar Portugal num sítio mal frequentado e de miséria colectiva. Crato, tal como outros não viram isso e tinham todos os meios para ver.
Por que não conseguiram ver claramente o que só muitos anos mais tarde vieram a reparar? Crato diz que "passei dos movimentos utópicos e, ao mesmo tempo de ambições totalitárias, para um movimento democrático moderno". Politicamente passou ( passaram), mas mentalmente, teriam mesmo passado?
É esse fenómeno que me interessa perceber ( e por isso comprei o livro de José Manuel Fernandes em que faz um relato autobiográfico desses tempos) porque não entendo mesmo como pessoas inteligentes conseguiram aceitar aquelas patranhas, sem pestanejar, metendo-se a fundo no processo revolucionário que visava alterar o status quo por meios violentos e depois, passados anos, mudam de agulha como se nada fosse. Não acredito nesta mudança psicológica porque suspeito que as razões inconfessáveis ou inescrutáveis para tal mudança não são possíveis de revelar ou descobrir. São razões que a razão desconhece.
Por outro lado tudo isto me parece importante por um simples motivo: todas estas personagens do nosso passado próximo têm um ponto comum de entendimento: o Salazarismo / Caetanismo como sítio ideológico do mal quase absoluto de um "fascismo" inventado a preceiro.
Combateram esse regime como comunistas oiu simplesmente "do contra" e adoptaram o léxico do combate como substituto ( caso dos extremistas de esquerda da segunda geração) . Ficou-lhes de tal modo impregnado no instinto irracional que não conseguem fazer qualquer "reset" no sentido de julgarem aceitável e útil a discussão sobre o regime de Salazar/Caetano que aliás se torna cada vez mais premente e necessária, por causa da nossa identidade e futuro.
Tirando a caricatura é esse fenómeno que ainda hoje se sobrepõe no espaço mediático total e sem excepções, a não pontuais e quase irrelevantes ( O Diabo, por exemplo).
A escola que se formou com essas pessoas antigas e as que lhes sucederam no espaço mediático tem moldado a sociedade portuguesa no sentido lato do esquerdismo suave e que costuma dar vitórias ao PS porque o PCP, no poder, assusta o povo.
Se António Costa ganhar as próximas eleições é por causa deste fenómeno, aliás único nos países da Europa ocidental, mesmo nos vizinhos mais próximos.
PS. os jornalistas mais representativos e mediaticamente poderosos, particularmente os da televisão, são mesmo todos de esquerda. É um facto indesmentível, parece-me e uma desgraça nacional. Uma tragédia grega, literalmente.
Interessante mesmo seria saber as razões e descobrir se serão ainda razões que a razão desconhece, como naqueles casos acima apontados.
Que espécie de maldição se abateu sobre Portugal no final dos anos sessenta do século XX? Virá isto de França? Não me parece porque em França há movimentos ideológicos interessantes a despontar...
A primeira é Maria Antónia Palla, mãe de António Costa que ultimamente tem multiplicado entrevistas a propósito da publicação de um livro que intitulou pomposamente Viver pela liberdade. Uma liberdade antonomásica, por suposto, uma vez que é a liberdade jacobina.
Ontem foi o i a entrevistar e a recensear o livro ( Ana Sá Lopes, imagine-se...) e hoje é o Público a entrevistar, pois claro. Uma entrevista longa com um título jacobino por excelência: ! Não tinha, como não tenho ainda hoje, respeito pelas hiearquias".
Esta Palla evidentemente só é entrevistada profusamente por toda esta troupe mediática de esquerda por ser mãe do almejado primeiro-ministro que lhes irá supostamente curar as maleitas deste "neoliberalismo" empobrecedor.
A entrevista do Público revela o que é semiologicamente evidente: somos dominados mediaticamente de há mais de quarenta anos a esta parte, - porque isto já vem de alguns anos antes do 25 de Abril de 1974, - por esta esquerda difusa que se alia sempre objectivamente à ideologia da aversão genérica aos ricos e à "hieraquia", focando particularmente um sistema que agora se chama "mercados" e que dantes tinha o nome, para essas pessoas, de "capitalismo". O jacobinismo puro é a essência desta esquerda mediática. Daí a profunda aversão ao Salazarismo/Caetanismo e a aceitação desse regime como sendo "fascista", adoptando a designação comunista, corrente, sem qualquer prurido ideológico.
Como é que esta ideologia difusa que não é comunista mas muitas vezes se apresenta como cripto-comunista, aceita complacentemente uma ideologia e um partido profundamente anti-democrático e profundamente repressivo de liberdades? É o mistério deste meio século, para mim.
Por isso mesmo tento descorticar indícios semióticos dessa inclinação à esquerda que me permita entender como é que naufragamos colectivamente nessa aventura utópica, sem destino à vista.
Lendo o que a referida Palla diz, percebemos que essencialmente se pretende feminista, por reacção a uma suposta sociedade repressiva de direitos para as mulheres. Abortista convicta, fez disso bandeira e escreveu agora o livro de justificação de uma coisa tão pessoal que devia ser resguardada no íntimo de quem não quer ser julgado publicamente.
A certa altura da recensão no i, afirmando a amizade que manteve com Maria José Nogueira Pinto, interrogava-se porque é que a mesma seria de direita e ela de esquerda quando eram tão parecidas e tão próximas em algumas coisas...
E parece-me que é neste interstício de personalidades que se deve procurar a essência do mito. Porque é que a tal Maria José Nogueira Pinto seria de direita? Há razões objectivas e concretas para tal, se afinal as afinidades electivas eram mais que a proximidade de pontos de vista e passavam até pela leitura primordial de livros de autores de esquerda?
Que é afinal a Esquerda não comunista? Quanto a mim, é a jacobina. A contestatária de uma tradição católica ou de uma tradição de costumes que vinham de um passado em que a autoridade e a hierarquia social eram respeitadas. Maioritariamente ateísta, contesta essencialmente uma autoridade difusa porque a não detém. Logo que a possua, adquire-lhe os piores vícios e perverte-lhe a essência, justificando-o em inúmeras contradições. É essa a diferenciação? Pode bem ser. M.A. Palla é de esquerda por isso, parece-me. É simplesmente um fenómeno psicológico sem razões explicativas porque foge ao domínio racional.
Outro representante desta ideologia difusa, matrix do espaço mediático e até maioritariamente político que vivemos nos dias de hoje é Joaquim Letria, irmão de José Jorge Letria, o comunista arrepenido que escreveu um livro sobre o dealbar do 25 de Abril no ambiente mediático, militar e político da época, intitulado "E tudo era possível".
Joaqum Letria apareceu ontem na revista Tabu., do Sol, em entrevista extensa. Também foi comunista mas por pouco tempo. Diz que ninguém lhe ligou durante 17 anos, mas antes tinha sido personagem fundamental no panorama mediático nacional pós-25 de Abril. É evidentemente de esquerda e a justificação é na mesma irracional.
Diz que estudou no Passos Manuel e no Colégio Moderno e nessa altura já tinha percebido que "queria ser jornalista".Escreveu um conto para o Diário de Lisboa que foi seleccionado para publicação e meteu uma cunha à filha do director, sua colega de escola, para ir "para lá". E foi.
Conta depois que "entrei no PCP com 16 anos". 16 anos? Portanto, entrou para o PCP no início da década de 60 do século que passou. O que se sabia do PCP nessa época? Que era estalinista puro e duro quando Krutschev denunciou tal coisa meia dúzia de anos antes, com proclamação pública de extenso rol de crimes contra a humanidade, como hoje se diria. Salazar ao pé disso era um anjo de coro e dos mais recatados. Letria, como jornalista não sabia disso? Não se informou? Não comparou mentalmente o regime de Salazar com o soviético que almejava sendo militante do PCP?
Então que razões se encontram para essa filiação comunista e esse esquerdismo militante que nunca mais abandonou? Lá está: não há razões, a não ser psicológicas, com a particularidade de Letria, Joaquim não dar indícios evidentes de jacobinismo militante.
Porém, o papel de Joaquim Letria no panorama nacional é de muito relevo e não parece. Foi um dos fundadores de O Jornal, em Maio de 1975 e quem ler os números que sairam durante esse período rapidamente percebe que o jornal era de esquerda mas não alinhado no comunismo, antes do lado do MFA maçónico e democraticamente burguês. O do "grupo dos Nove" de Melo Antunes e similares.
Mas que não haja qualquer dúvida sobre quem Letria apoiava nessa altura. o PREC, ainda que mitigado, como o demonstra esta capa do jornal ( que tinha um jornalismo magnífico, desse ponto de vista) contra o então "contra-revolucionário" Alpoum Calvão, recentemente falecido e cujos obituários resumem bem o que foi o nosso panorama mediático dos últimos 40 anos, onde se nota a marca matrix dessa esquerda que sociologicamente não nos larga.
De resto, Letria diz no final da entrevista que "sinto-me cada vez mais empurrado para o PCP". Os primeiros amores...pois claro e o tal fenómeno irracional a manifestar-se. Só não se compreende que tenha explicado o afastamento do PCP, ainda antes de 25 de Abril de 1974 porque " não concordava com o alinhamento do partido com a União Soviérica". Mas "respeitava muito o Cunhal", claro e que dá a dimensão dessa crença e dessa fé esquerdista que nunca passa.
Finalmente outro entrevistado hoje pelo Público é Nuno Crato, da geração com menos uma dúzia de anos que aqueles e cujo percurso ideológico é similar a muitos que moldaram o panorama mediático e são agora comentadores habituais de telejornais de uma Lourenço e afins.
Crato é outro ( a par de José Manuel Fernandes que foi seu colega de jornal na Voz do Povo, da UDP, com Henrique Monteiro e outros) que provavelmente não consegue explicar racionalmente porque acreditou no comunismo utópico numa altura em que tinha à disposição de leitura ( uma das actividades preferidas) informação mais que suficiente para se poder concluir que era uma loucura criminosa que iria tornar Portugal num sítio mal frequentado e de miséria colectiva. Crato, tal como outros não viram isso e tinham todos os meios para ver.
Por que não conseguiram ver claramente o que só muitos anos mais tarde vieram a reparar? Crato diz que "passei dos movimentos utópicos e, ao mesmo tempo de ambições totalitárias, para um movimento democrático moderno". Politicamente passou ( passaram), mas mentalmente, teriam mesmo passado?
É esse fenómeno que me interessa perceber ( e por isso comprei o livro de José Manuel Fernandes em que faz um relato autobiográfico desses tempos) porque não entendo mesmo como pessoas inteligentes conseguiram aceitar aquelas patranhas, sem pestanejar, metendo-se a fundo no processo revolucionário que visava alterar o status quo por meios violentos e depois, passados anos, mudam de agulha como se nada fosse. Não acredito nesta mudança psicológica porque suspeito que as razões inconfessáveis ou inescrutáveis para tal mudança não são possíveis de revelar ou descobrir. São razões que a razão desconhece.
Por outro lado tudo isto me parece importante por um simples motivo: todas estas personagens do nosso passado próximo têm um ponto comum de entendimento: o Salazarismo / Caetanismo como sítio ideológico do mal quase absoluto de um "fascismo" inventado a preceiro.
Combateram esse regime como comunistas oiu simplesmente "do contra" e adoptaram o léxico do combate como substituto ( caso dos extremistas de esquerda da segunda geração) . Ficou-lhes de tal modo impregnado no instinto irracional que não conseguem fazer qualquer "reset" no sentido de julgarem aceitável e útil a discussão sobre o regime de Salazar/Caetano que aliás se torna cada vez mais premente e necessária, por causa da nossa identidade e futuro.
Tirando a caricatura é esse fenómeno que ainda hoje se sobrepõe no espaço mediático total e sem excepções, a não pontuais e quase irrelevantes ( O Diabo, por exemplo).
A escola que se formou com essas pessoas antigas e as que lhes sucederam no espaço mediático tem moldado a sociedade portuguesa no sentido lato do esquerdismo suave e que costuma dar vitórias ao PS porque o PCP, no poder, assusta o povo.
Se António Costa ganhar as próximas eleições é por causa deste fenómeno, aliás único nos países da Europa ocidental, mesmo nos vizinhos mais próximos.
PS. os jornalistas mais representativos e mediaticamente poderosos, particularmente os da televisão, são mesmo todos de esquerda. É um facto indesmentível, parece-me e uma desgraça nacional. Uma tragédia grega, literalmente.
Interessante mesmo seria saber as razões e descobrir se serão ainda razões que a razão desconhece, como naqueles casos acima apontados.
Que espécie de maldição se abateu sobre Portugal no final dos anos sessenta do século XX? Virá isto de França? Não me parece porque em França há movimentos ideológicos interessantes a despontar...
sábado, outubro 25, 2014
Pinho quer a reforma do BES...
Observador:
O ex-ministro Manuel Pinho vai avançar com um processo judicial contra o Banco Espírito Santo para receber uma reforma antecipada que lhe terá sido prometida por Ricardo Salgado. Em causa está um valor superior a dois milhões de euros.
O semanário Expresso adianta neste sábado que Manuel Pinho, que deixou de ter funções executivas no BES no início do ano, reclama que lhe sejam pagos os salários a que teria direito entre uma reforma antecipada que Ricardo Salgado lhe teria garantido e o momento em que atingiria a idade legal de reforma. Segundo o jornal, Manuel Pinho tem uma carta do antigo presidente do BES a autorizar a reforma antecipada e a prometer o pagamento dos salários previstos até que Manuel Pinho, na altura com 55 anos de idade, chegasse aos 65 anos.
Quando faltavam cinco anos para Manuel Pinho, em 2013, ano de prejuízos históricos para o BES, o banco promoveu alterações no Regulamento do Regime de Pensões de Reforma dos Administradores. Aí, Manuel Pinho, que recebia um salário mensal bruto de 39 mil euros (14 meses por ano) como administrador de uma “holding” sem atividade, a BES África, questionou o banco sobre a sua situação e tentou receber o valor que faltava. De preferência, à cabeça. Mais de dois milhões de euros. O Expresso diz que Rui Silveira, antigo administrador do BES, recusou.
O antigo ministro da Economia (!) Pinho era, segundo notícias da época, um dos génios da alta finança do BES. Trabalhava para o banco de Ricardo Salgado. Logo que foi a ministro. o BES ainda era o maior e Pinho ajudava José Sócrates na governação.
No final do ano de 2005, Pinho confirmou Mexia, que tinha sido empregado do BESI e ministro de Santana, na EDP. É o que diz o Público do passado Domingo.
Em Fevereiro de 2006, a OPA da Sonae tropeçou em Pinho e Sócrates e estatelou-se. Salgado ficou a ganhar.
Em Abril desse ano, o BCP foi tomado de assalto pelo comendador da Bacalhôa e outras sombras. O BES emprestou dinheiro ( 280 milhões) para a investida.
Em Outubro desse ano Pinho autorizou a TAP a conprar a Poprtugália, do GES, por 140 milhões. Diz o Público que tal foi visto como "um favor do ministro ao ex-patrão".
Em Julho de 2009, o Pinho fez aquelas figuras tristes na AR e só assim foi despedido sumariamente, numa indignação postiça e jacobina que só o PS consegue apresentar como sinal de dignidade democrática.
Em 2010, o mesmíssimo Pinho arranjou um emprego novo, pago por uma EDP que ainda tinha umas shares do Estado. Mexia mexeu-se, com grandes dúvidas de alguns sectores:
A eléctrica portuguesa fez uma doação à School of International and Public Affairs (SIPA), num montante que pediu à Universidade nova-iorquina para não divulgar e que tem como uma das iniciativas o seminário sobre energia renováveis que vai ser leccionado pelo ex-ministro da Economia.
"Manuel Pinho será professor visitante School of International and Public Affairs (SIPA) da Universidade Columbia. A sua posição faz parte de uma série de novas iniciativas que estão a ser apoiadas pela EDP", disse ao Negócios fonte oficial da Universidade e Columbia.
Agora que acabou a subvenção, Pinho quer a reforma. Dourada. Dois milhões. Prometidos por carta escrita de Salgado.
"Num chega", dizia o outro colega de governo. Uma carta de conforto para assegurar uma reforma desse calibre "num chega" e Pinho vai ter que enfileirar na lista de credores reclamantes na insolvência do banco. Para a qual, aliás, poderá ter contribuído...
O ex-ministro Manuel Pinho vai avançar com um processo judicial contra o Banco Espírito Santo para receber uma reforma antecipada que lhe terá sido prometida por Ricardo Salgado. Em causa está um valor superior a dois milhões de euros.
O semanário Expresso adianta neste sábado que Manuel Pinho, que deixou de ter funções executivas no BES no início do ano, reclama que lhe sejam pagos os salários a que teria direito entre uma reforma antecipada que Ricardo Salgado lhe teria garantido e o momento em que atingiria a idade legal de reforma. Segundo o jornal, Manuel Pinho tem uma carta do antigo presidente do BES a autorizar a reforma antecipada e a prometer o pagamento dos salários previstos até que Manuel Pinho, na altura com 55 anos de idade, chegasse aos 65 anos.
Quando faltavam cinco anos para Manuel Pinho, em 2013, ano de prejuízos históricos para o BES, o banco promoveu alterações no Regulamento do Regime de Pensões de Reforma dos Administradores. Aí, Manuel Pinho, que recebia um salário mensal bruto de 39 mil euros (14 meses por ano) como administrador de uma “holding” sem atividade, a BES África, questionou o banco sobre a sua situação e tentou receber o valor que faltava. De preferência, à cabeça. Mais de dois milhões de euros. O Expresso diz que Rui Silveira, antigo administrador do BES, recusou.
O antigo ministro da Economia (!) Pinho era, segundo notícias da época, um dos génios da alta finança do BES. Trabalhava para o banco de Ricardo Salgado. Logo que foi a ministro. o BES ainda era o maior e Pinho ajudava José Sócrates na governação.
No final do ano de 2005, Pinho confirmou Mexia, que tinha sido empregado do BESI e ministro de Santana, na EDP. É o que diz o Público do passado Domingo.
Em Fevereiro de 2006, a OPA da Sonae tropeçou em Pinho e Sócrates e estatelou-se. Salgado ficou a ganhar.
Em Abril desse ano, o BCP foi tomado de assalto pelo comendador da Bacalhôa e outras sombras. O BES emprestou dinheiro ( 280 milhões) para a investida.
Em Outubro desse ano Pinho autorizou a TAP a conprar a Poprtugália, do GES, por 140 milhões. Diz o Público que tal foi visto como "um favor do ministro ao ex-patrão".
Em Julho de 2009, o Pinho fez aquelas figuras tristes na AR e só assim foi despedido sumariamente, numa indignação postiça e jacobina que só o PS consegue apresentar como sinal de dignidade democrática.
Em 2010, o mesmíssimo Pinho arranjou um emprego novo, pago por uma EDP que ainda tinha umas shares do Estado. Mexia mexeu-se, com grandes dúvidas de alguns sectores:
A eléctrica portuguesa fez uma doação à School of International and Public Affairs (SIPA), num montante que pediu à Universidade nova-iorquina para não divulgar e que tem como uma das iniciativas o seminário sobre energia renováveis que vai ser leccionado pelo ex-ministro da Economia.
"Manuel Pinho será professor visitante School of International and Public Affairs (SIPA) da Universidade Columbia. A sua posição faz parte de uma série de novas iniciativas que estão a ser apoiadas pela EDP", disse ao Negócios fonte oficial da Universidade e Columbia.
Agora que acabou a subvenção, Pinho quer a reforma. Dourada. Dois milhões. Prometidos por carta escrita de Salgado.
"Num chega", dizia o outro colega de governo. Uma carta de conforto para assegurar uma reforma desse calibre "num chega" e Pinho vai ter que enfileirar na lista de credores reclamantes na insolvência do banco. Para a qual, aliás, poderá ter contribuído...
O comunismo foi sempre assim, mas o PCP jura que é assado...
O Diário de Notícias de hoje, em reflexo da nova direcção, traz na primeira página uma nota sobre um livro recentemente editado em Portugal, da autoria de um antigo esbirro de Fidel Castro, agora refugiado em Miami.
Em 1975, quando O Nóbél Saramago dirigia o jornal, este livro nunca seria sequer mencionado, porque traduz denúncias que mostram a verdadeira face do comunismo, para os seus dirigentes de topo. Em resumo, o comunismo, para essa gente que se agarra poder, quase absoluto, como lapa fossilizada, é um meio de manutenção de privilégios para uma oligarquia que mantém o povo numa miséria inenarrável a troco de palavras vãs sobre "amanhãs a cantar", com repressão policial a assegurar que cantarão mesmo.
O logro comunista há muito que foi denunciado, demonstrado, exibido em imagens e sons, com testemunhos inequívocos do seu carácter perverso relativamente aos ideias que defendem.
Não obstante tais evidências, em Portugal o PCP continua de vento em popa a proclamar os mesmos princípios, ideias e objectivos de sempre e que aliás não mudaram um milímetro ideológico.
Este gigantesco embuste ( Mário Soares dixit há umas décadas...) continua a embustear sem qualquer obstáculo e nas tv´s aparecem frequentemente os representantes desta hedionda farsa a proclamarem a sua fé numa democracia que nunca praticaram nem quereriam jamais praticar, a não ser numa acepção cuja contradição é tão evidente que só um embotado de espírito não quer entender.
A condescendência mediática para com o PCP, que é o digno representante daquilo que o comunismo tinha de pior, tem sido de tal modo escandalosa que só se compreende por deficiência de raciocínio lógico ou por razões que a razão desconhece, o que aliás deverá ser o caso.
O livro do antigo esbirro, agora editado em Portugal já o tinha sido em França, há meses e foi mencionado aqui, na altura, aquando da notícia do lançamento do livro, em França.
O Diário de Notícias não arranjou melhor título para anunciar o livro do que dizer que "Fidel tem pequenas fábricas onde é feito o seu próprio iogurte"... como se esse privilégio que denega a iguadade propalada, fosse o epíteto do "homem que morde o cão" e não o facto de o regime denunciado ser um modelo que o PCP, ainda hoje gostaria de ver implantado por cá, sem qualquer pejo de o afirmar. Na AR ninguém os questiona sobre esta pretensão quando falam contra o "empobrecimento" que por outro lado promovem activamente por saberem que só vicejam na miséria, como os bichos da merda. O "quanto pior, melhor" foi sempre o lema do PCP, em Portugal.
Em 1986, já em pleno processo de desagregação política, a URSS ainda continuava a propagandear o embuste, tendo a agência de propaganda soviética Novosti ( falam do SNI do "fassismo" mas nunca mencionam esta central de lavagam aos cérebros de então) publicado um pequeno vademecum, com perguntas inconvenientes e respostas certas dirigidas aos curiosos desta Mentira permanente que é o comunismo.
Este elucidário ainda hoje deve ser o manual preferido do Jerónimo e acólitos para se defenderem dos ataques dos "fascistas". Em 1986, proavelmente, Vital Moreira e Pina Moura ainda acreditavam nestas patranhas. Hoje, parece que já não. Terão ganho inteligência depois dos trinta?
Ler a distinção entre democracia ao modo soviético ( o mesmo que o PCP ainda hoje defende) e a "democracia burguesa" é um programa.
E é com estas tretas que continuam a enganar portugueses. Lá fora já não enganam quase ninguém...
sexta-feira, outubro 24, 2014
Quem não tem cão...caça com rato
Daqui a notícia ilustrada com esta imagem:
Parece que este indivíduo acima ataviado recebeu uma distinção de uma universidade da Beira Interior. Um doutoramento honoris causa. Deve ser muito merecido, depois de se saber o que fez à PT...e por isso não se lhe nota um pingo de vergonha sequer. Aliás, vergonha de quê, se anda a receber 150 mil euros por mês, em paga da brilhante gestão que colocou a PT na rua da amargura?
Quem não tem vergonha, todo o mundo é seu, dizia dantes o povo.
Parece que este indivíduo acima ataviado recebeu uma distinção de uma universidade da Beira Interior. Um doutoramento honoris causa. Deve ser muito merecido, depois de se saber o que fez à PT...e por isso não se lhe nota um pingo de vergonha sequer. Aliás, vergonha de quê, se anda a receber 150 mil euros por mês, em paga da brilhante gestão que colocou a PT na rua da amargura?
Quem não tem vergonha, todo o mundo é seu, dizia dantes o povo.
Afinal o senso comum não está com o PS...
SIC:
O presidente do Lloyds Bank, Horta Osório, afirmou hoje que Portugal não tinha outra alternativa à austeridade e que os portugueses têm de deixar de viver acima das possibilidades.
Isto é o que diz Medina Carreira há alguns anos a esta parte. Porém, não é o que diz a Esquerda do PS, sem contar com a do PCP e do BE que são cartas fora deste baralho.
Este Hosório, presidente de um banco à escala europeia é capaz de saber um pouco mais do que o Artur Baptista da Silva ou até o Vieira da Silva...não?
O presidente do Lloyds Bank, Horta Osório, afirmou hoje que Portugal não tinha outra alternativa à austeridade e que os portugueses têm de deixar de viver acima das possibilidades.
Isto é o que diz Medina Carreira há alguns anos a esta parte. Porém, não é o que diz a Esquerda do PS, sem contar com a do PCP e do BE que são cartas fora deste baralho.
Este Hosório, presidente de um banco à escala europeia é capaz de saber um pouco mais do que o Artur Baptista da Silva ou até o Vieira da Silva...não?
Freitas do Amaral, personagem queiroseana
Observador, crónica de José Manuel Fernandes:
Há em Portugal uma categoria de pessoas de gozam de um estatuto muito especial: onde quer que vão são apresentados como senadores. Num país sem Senado, é bizarro. Num país de doutores e engenheiros, é superlativo. É até melhor do que ser o “senhor comendador” das aldeias de outrora. Dispenso-me, por pudor, de tentar elaborar uma lista, mas já não me dispenso de citar um caso paradigmático: Diogo Freitas do Amaral.
É certo que ele já foi quase tudo, mas no quase tudo foi sempre, sobretudo, apenas o quase. Liderou o CDS, mas todos sabiam que era Amaro de Costa a verdadeira alma do partido. Esteve com Sá Carneiro, mas num segundo plano. Na AD não descansou enquanto não a abandonou, com um pretexto fútil. Ia sendo eleito Presidente, mas o fenómeno da sua campanha, o motor do seu êxito, era uma estrela em ascensão, Cavaco Silva. Saiu do CDS e ao CDS regressou, para o logro da “equidistância” e a consagração do “partido do táxi”. Julgou que ia mandar nas Nações Unidas e viu-se no papel de mero mestre de cerimónias. Foi ministro de novo, mas como adereço de José Sócrates, condição que tardou a entender. E depois fez-se “senador”. Não se sabe bem como, mas sabe-se bem para quê: para engrossar o exército de carpideiras que desfila pelas televisões, falando pausadamente e mostrando, sempre, um ar grave, pesado, omnisciente.
Foi lá que esteve de novo esta quarta-feira. Como grande entrevistado da Grande Entrevista da televisão que pagamos com as nossas taxas. Teve uma prestação ao seu melhor nível – o que diz tudo.
Atentemos, primeiro, na pose. Foi, como sempre, pomposa, grave, majestática. Com um tom professoral, catedrático. Freitas do Amaral é daquelas pessoas que fez sempre questão de colocar todo o seu peso, toda a gravitas, em qualquer coisa que diga, mesmo quando está a dizer banalidades ou a falar do que não conhece. Ou seja, a dizer disparates. Como sucedeu nessa entrevista.
Freitas do Amaral está, ficámos a saber, muito preocupado com a situação na PT, que considera “muito grave para o nosso país”. Mas tem uma solução: como as acções da empresa estão “baratas”, o Estado só tem de adquirir 33,4% e assim passar a mandar em tudo. Com aquele ar de quem é um homem informado e, também, de uma enorme abertura, subscreve a posição do PCP e do Bloco, com o detalhe de só não pedir ao Estado que fique com 51% da PT. Um terço chega, sentencia.
Quando alguém fala com a certeza no falar de Freitas do Amaral, esse alguém coloca-se acima de qualquer interrupção, ainda menos de contestação – e por isso passa incólume numa entrevista como a da RTP mesmo quando está a propor o impossível. Na verdade, a empresa que está cotada em Bolsa e que o professor de Direito se propõe comprar é a PT SGPS cujos únicos activos são uma quota na Oi. A PT Portugal, a que nos interessa, é apenas uma subsidiária da operadora brasileira, não está na Bolsa. O que significa que, se o Governo seguisse a sugestão da emérita figura, acabaria sem umas centenas de milhões de euros e com uma participação muito minoritária na Oi que para nada lhe serviria, pois não lhe daria nenhuma capacidade de influir no destino da PT Portugal.
Mas o nosso senador não se ficou por aqui. Sentenciou também que a forma como o Governo (e o Banco de Portugal) trataram o caso do BES reflecte uma enorme “vontade de fugir às responsabilidades” pois o que devia ter feito, no Verão quente do banco de Ricardo Salgado, era ter tido “uma política firme para evitar a falência do BES”. Como? O professor, claro está, tem, tinha, a solução: pegar no dinheiro da troika e emprestá-lo ao BES. Esqueceu-se foi de dizer o que isso representava: essa recapitalização faria com que o Estado ficasse com a maioria do capital e, também, das responsabilidades financeiras do velho banco, mas sem a segurança de ter as contas auditadas, isto é, sem conhecer a dimensão do buraco. Talvez se salvassem os accionistas, gente de bem e de Cascais, como o professor, não se salvariam é os contribuintes, mas isso são detalhes com que não se incomoda. Antes sentencia que “vamos pagar muito mais pela falência do BES do que pelo BPN”, porque o BES era “100 vezes maior”. Naturalmente não sentiu necessidade de dizer como isso vai acontecer, uma vez que o BES não foi nacionalizado, ao contrário do BPN.
Mas como se não fosse suficiente a forma ligeira, tão trapalhona e longe da realidade como pomposa, como abordou temas como o BES e a PT, a sua prestação sobre o Orçamento de Estado de 2015 chegou a ser penosa, tal a dificuldade que mostrou ter ao lidar com os seus números, que trocou, baralhou e confundiu sem nunca se mostrar atrapalhado ou hesitante. Como todos os senadores que desfilam regularmente pelas televisões, o professor também acha que o Governo não sabe como fazer a reforma do Estado (no que até tem razão), mas coloca-se sempre naquele plano superior de quem sabe muito bem como essa reforma devia ser feita apesar de nunca partilhar os detalhes connosco, comuns mortais e vulgares plebeus.
Na verdade não há, nesta entrevista de Freitas do Amaral, nada que a distinga de forma substantiva de muitas outras que deu nos últimos anos, desde que foi promovido ao Olimpo dos “senadores” da República. Na verdade, nem terá sido mais disparatada ou mais pomposa de que muitas outras prestações de outros dos nossos “senadores”. Não mereceria duas linhas de comentário se não fosse altura de dizer “basta!” a este novo tipo de parolice nacional que é o desfile de figuras egrégias pelos nossos espaços mediáticos, todas elas apresentadas como venerandas figuras que pairam acima da nossa vulgaridade de cidadãos, todas ouvidas com uma reverência incompreensível, todas elas com muitas responsabilidades no estado a que o país chegou mas todas elas, também, escutadas como áugures insusceptíveis de contestação, de simples contraditório.
Não deve haver em Portugal um só antigo político com mais de 70 anos que não tenha, nos últimos anos, optado por um discurso apocalíptico. Alguns têm-se mesmo excedido nos seus exercícios de indignação. Nada demais, vivemos em liberdade e democracia. Demais é só tratá-los como se pertencessem a uma casta de iluminados pois, face ao desnorte e desequilíbrio que tantas vezes demonstraram (lembram-se da Aula Magna?). É caso para dizer que, com senadores destes, só nos restam, como sempre, os honrados plebeus para salvarem a República.
Este indivíduo, um gouvarinho, é uma das figuras da falsa aristocracia democrática, surgida com a Revolução. Traiu os ideias marcelistas, salazaristas e tradicionais. Traiu é um modo de dizer porque só trai quem acredita em algo que abandona enganando os que nele confiaram.
Tal como Marcelo Rebelo de Sousa, poderia ter sido "tudo" e pouco foi que se visse. Será um professor sofrível de ideias políticas e pouco mais. Nem sequer conseguiu ser o que um Sérvulo Correia, da mesma geração, conseguiu ser: um advogado com a firma ligada à parecerística do Estado, após um esquema engenhoso montado nos anos noventa, por diversos governos de bloco central, todo legalmente engendrado para passar para as firmas de advocacia o grosso dos pareceres que antes eram da competência das auditorias dos ministérios.
Nem isso foi capaz de fazer. Mas foi capaz de dizer que José Sócrates era um bom primeiro-ministro...mesmo depois do triste episódio na Independente.
Há em Portugal uma categoria de pessoas de gozam de um estatuto muito especial: onde quer que vão são apresentados como senadores. Num país sem Senado, é bizarro. Num país de doutores e engenheiros, é superlativo. É até melhor do que ser o “senhor comendador” das aldeias de outrora. Dispenso-me, por pudor, de tentar elaborar uma lista, mas já não me dispenso de citar um caso paradigmático: Diogo Freitas do Amaral.
É certo que ele já foi quase tudo, mas no quase tudo foi sempre, sobretudo, apenas o quase. Liderou o CDS, mas todos sabiam que era Amaro de Costa a verdadeira alma do partido. Esteve com Sá Carneiro, mas num segundo plano. Na AD não descansou enquanto não a abandonou, com um pretexto fútil. Ia sendo eleito Presidente, mas o fenómeno da sua campanha, o motor do seu êxito, era uma estrela em ascensão, Cavaco Silva. Saiu do CDS e ao CDS regressou, para o logro da “equidistância” e a consagração do “partido do táxi”. Julgou que ia mandar nas Nações Unidas e viu-se no papel de mero mestre de cerimónias. Foi ministro de novo, mas como adereço de José Sócrates, condição que tardou a entender. E depois fez-se “senador”. Não se sabe bem como, mas sabe-se bem para quê: para engrossar o exército de carpideiras que desfila pelas televisões, falando pausadamente e mostrando, sempre, um ar grave, pesado, omnisciente.
Foi lá que esteve de novo esta quarta-feira. Como grande entrevistado da Grande Entrevista da televisão que pagamos com as nossas taxas. Teve uma prestação ao seu melhor nível – o que diz tudo.
Atentemos, primeiro, na pose. Foi, como sempre, pomposa, grave, majestática. Com um tom professoral, catedrático. Freitas do Amaral é daquelas pessoas que fez sempre questão de colocar todo o seu peso, toda a gravitas, em qualquer coisa que diga, mesmo quando está a dizer banalidades ou a falar do que não conhece. Ou seja, a dizer disparates. Como sucedeu nessa entrevista.
Freitas do Amaral está, ficámos a saber, muito preocupado com a situação na PT, que considera “muito grave para o nosso país”. Mas tem uma solução: como as acções da empresa estão “baratas”, o Estado só tem de adquirir 33,4% e assim passar a mandar em tudo. Com aquele ar de quem é um homem informado e, também, de uma enorme abertura, subscreve a posição do PCP e do Bloco, com o detalhe de só não pedir ao Estado que fique com 51% da PT. Um terço chega, sentencia.
Quando alguém fala com a certeza no falar de Freitas do Amaral, esse alguém coloca-se acima de qualquer interrupção, ainda menos de contestação – e por isso passa incólume numa entrevista como a da RTP mesmo quando está a propor o impossível. Na verdade, a empresa que está cotada em Bolsa e que o professor de Direito se propõe comprar é a PT SGPS cujos únicos activos são uma quota na Oi. A PT Portugal, a que nos interessa, é apenas uma subsidiária da operadora brasileira, não está na Bolsa. O que significa que, se o Governo seguisse a sugestão da emérita figura, acabaria sem umas centenas de milhões de euros e com uma participação muito minoritária na Oi que para nada lhe serviria, pois não lhe daria nenhuma capacidade de influir no destino da PT Portugal.
Mas o nosso senador não se ficou por aqui. Sentenciou também que a forma como o Governo (e o Banco de Portugal) trataram o caso do BES reflecte uma enorme “vontade de fugir às responsabilidades” pois o que devia ter feito, no Verão quente do banco de Ricardo Salgado, era ter tido “uma política firme para evitar a falência do BES”. Como? O professor, claro está, tem, tinha, a solução: pegar no dinheiro da troika e emprestá-lo ao BES. Esqueceu-se foi de dizer o que isso representava: essa recapitalização faria com que o Estado ficasse com a maioria do capital e, também, das responsabilidades financeiras do velho banco, mas sem a segurança de ter as contas auditadas, isto é, sem conhecer a dimensão do buraco. Talvez se salvassem os accionistas, gente de bem e de Cascais, como o professor, não se salvariam é os contribuintes, mas isso são detalhes com que não se incomoda. Antes sentencia que “vamos pagar muito mais pela falência do BES do que pelo BPN”, porque o BES era “100 vezes maior”. Naturalmente não sentiu necessidade de dizer como isso vai acontecer, uma vez que o BES não foi nacionalizado, ao contrário do BPN.
Mas como se não fosse suficiente a forma ligeira, tão trapalhona e longe da realidade como pomposa, como abordou temas como o BES e a PT, a sua prestação sobre o Orçamento de Estado de 2015 chegou a ser penosa, tal a dificuldade que mostrou ter ao lidar com os seus números, que trocou, baralhou e confundiu sem nunca se mostrar atrapalhado ou hesitante. Como todos os senadores que desfilam regularmente pelas televisões, o professor também acha que o Governo não sabe como fazer a reforma do Estado (no que até tem razão), mas coloca-se sempre naquele plano superior de quem sabe muito bem como essa reforma devia ser feita apesar de nunca partilhar os detalhes connosco, comuns mortais e vulgares plebeus.
Na verdade não há, nesta entrevista de Freitas do Amaral, nada que a distinga de forma substantiva de muitas outras que deu nos últimos anos, desde que foi promovido ao Olimpo dos “senadores” da República. Na verdade, nem terá sido mais disparatada ou mais pomposa de que muitas outras prestações de outros dos nossos “senadores”. Não mereceria duas linhas de comentário se não fosse altura de dizer “basta!” a este novo tipo de parolice nacional que é o desfile de figuras egrégias pelos nossos espaços mediáticos, todas elas apresentadas como venerandas figuras que pairam acima da nossa vulgaridade de cidadãos, todas ouvidas com uma reverência incompreensível, todas elas com muitas responsabilidades no estado a que o país chegou mas todas elas, também, escutadas como áugures insusceptíveis de contestação, de simples contraditório.
Não deve haver em Portugal um só antigo político com mais de 70 anos que não tenha, nos últimos anos, optado por um discurso apocalíptico. Alguns têm-se mesmo excedido nos seus exercícios de indignação. Nada demais, vivemos em liberdade e democracia. Demais é só tratá-los como se pertencessem a uma casta de iluminados pois, face ao desnorte e desequilíbrio que tantas vezes demonstraram (lembram-se da Aula Magna?). É caso para dizer que, com senadores destes, só nos restam, como sempre, os honrados plebeus para salvarem a República.
Este indivíduo, um gouvarinho, é uma das figuras da falsa aristocracia democrática, surgida com a Revolução. Traiu os ideias marcelistas, salazaristas e tradicionais. Traiu é um modo de dizer porque só trai quem acredita em algo que abandona enganando os que nele confiaram.
Tal como Marcelo Rebelo de Sousa, poderia ter sido "tudo" e pouco foi que se visse. Será um professor sofrível de ideias políticas e pouco mais. Nem sequer conseguiu ser o que um Sérvulo Correia, da mesma geração, conseguiu ser: um advogado com a firma ligada à parecerística do Estado, após um esquema engenhoso montado nos anos noventa, por diversos governos de bloco central, todo legalmente engendrado para passar para as firmas de advocacia o grosso dos pareceres que antes eram da competência das auditorias dos ministérios.
Nem isso foi capaz de fazer. Mas foi capaz de dizer que José Sócrates era um bom primeiro-ministro...mesmo depois do triste episódio na Independente.
quinta-feira, outubro 23, 2014
"Se não sabe, porque pergunta?" Exactamente.
Tenho andado por aqui há anos a citar uma frase - "Se não sabe porque pergunta?"- atribuindo-a a um certo João César Monteiro, cineasta de filmes sem imagem visível e de tonalidade escura. Já morreu e não pode dizer nada. E também nada mais direi sobre isso, a não ser para esclarecer que se calhar a frase não é da sua autoria, mas de um outro Monteiro, ou antes, de um outro João dos Santos que escreveu um livro em tandem com o cineasta.
O assunto já tinha sido esclarecido em tempos, num comentário aqui, mas a frase peregrina continuou a ser repetida em modo apócrifo e agora chegou a altura de entregar o dito ao seu dono.
Segundo fontes autorizadas, "Se não sabe porque é que pergunta ?" é uma citação do psicanalista João de Santos e que também dá título ao livro de conversas suas com João Sousa Monteiro.
A origem da minha confusão pode residir aí, no nome, sendo certo que ouvi tal frase nos anos oitenta num programa de rádio animado por João David Nunes.
Fica o equívoco desfeito. A vergonha toda por minha conta e os agradecimentos a quem me elucidou.
O assunto já tinha sido esclarecido em tempos, num comentário aqui, mas a frase peregrina continuou a ser repetida em modo apócrifo e agora chegou a altura de entregar o dito ao seu dono.
Segundo fontes autorizadas, "Se não sabe porque é que pergunta ?" é uma citação do psicanalista João de Santos e que também dá título ao livro de conversas suas com João Sousa Monteiro.
A origem da minha confusão pode residir aí, no nome, sendo certo que ouvi tal frase nos anos oitenta num programa de rádio animado por João David Nunes.
Fica o equívoco desfeito. A vergonha toda por minha conta e os agradecimentos a quem me elucidou.
O Silva do PS...
« O Partido Socialista defendeu hoje que não existem soluções fáceis para o problema do endividamento do Estado,»
Segundo se diz parece que foi um Silva do PS que produziu esta afirmação. Poderia ter sido Artur Baptista da Silva, mas parece que foi um certo Vieira da Silva.
Para o caso, provavelmente tanto faz.
O PS sempre em boas companhias...
Observador:
Adelino Vera Cruz Pinto, ex-vice-cônsul de Portugal em Porto Alegre, acusado de ter desviado 2,5 milhões de reais (788 mil euros) da Arquidiocese da Igreja Católica da Capital, é notícia no Brasil, depois de ter sido visto ao lado de António Costa nas comemorações da vitória do presidente da Câmara Municipal de Lisboa nas eleições primárias do PS.
As imagens do abraço de Vera-Cruz Pinto ao candidato a primeiro-ministro, captadas pelas câmaras da TVI, foram notícia esta quarta-feira no Brasil: “Foragido no Brasil, em festa em Portugal”, é assim que o jornal brasileiro Zero Hora relata o aparecimento do ex-vice-cônsul em Portalegre, cujo paradeiro permanecia desconhecido até esta quarta-feira.
Apesar de ter um mandado de captura decretado pela justiça brasileira e de ser procurado pela Interpol, Vera-Cruz Pinto “segue vivendo livre em terras além-mar”, depois de ter, alegadamente, desviado fundos da Arquidiocese da Capital, num negócio que envolvia “financiamento do Governo português para restaurar igrejas de origem lusa no Rio Grande do Sul”, segundo explica o jornal brasileiro Zero Hora.
Depois do fantástico Artur Baptista da Silva, foragido à verdadeira identidade, aparece agora um foragido à Justiça. Este PS promete...
Adelino Vera Cruz Pinto, ex-vice-cônsul de Portugal em Porto Alegre, acusado de ter desviado 2,5 milhões de reais (788 mil euros) da Arquidiocese da Igreja Católica da Capital, é notícia no Brasil, depois de ter sido visto ao lado de António Costa nas comemorações da vitória do presidente da Câmara Municipal de Lisboa nas eleições primárias do PS.
As imagens do abraço de Vera-Cruz Pinto ao candidato a primeiro-ministro, captadas pelas câmaras da TVI, foram notícia esta quarta-feira no Brasil: “Foragido no Brasil, em festa em Portugal”, é assim que o jornal brasileiro Zero Hora relata o aparecimento do ex-vice-cônsul em Portalegre, cujo paradeiro permanecia desconhecido até esta quarta-feira.
Apesar de ter um mandado de captura decretado pela justiça brasileira e de ser procurado pela Interpol, Vera-Cruz Pinto “segue vivendo livre em terras além-mar”, depois de ter, alegadamente, desviado fundos da Arquidiocese da Capital, num negócio que envolvia “financiamento do Governo português para restaurar igrejas de origem lusa no Rio Grande do Sul”, segundo explica o jornal brasileiro Zero Hora.
Depois do fantástico Artur Baptista da Silva, foragido à verdadeira identidade, aparece agora um foragido à Justiça. Este PS promete...
Censurar o Correio da Manhã? Porque não?
Correio da Manhã de 20.10.2014:
"Duas pessoas morreram, incluindo uma menor, e outra ficou ferida com gravidade na sequência de um ataque com arma branca por um homem, durante a madrugada deste domingo em Soure, Coimbra, disse à agência Lusa fonte da Proteção Civil.
Segundo a fonte, a agressão teve início no interior de uma habitação na Urbanização Encosta do Sol, e envolveu um homem de 49 anos, a sua mulher de 47 anos, e duas filhas de 16 e 13 anos.
A mulher e filha de 16 anos morreram no local, na sequência dos ferimentos causados por arma branca. Já a filha de 13 anos recebeu assistência no local e foi transportada para o Hospital Pediátrico de Coimbra em estado grave.
"Recebemos às 01h35 uma chamada que dava conta de uma agressão, a qual foi confirmada no local", afirmou à agência Lusa a fonte da Proteção Civil."
Os comentários a esta notícia vão em forma de pergunta:
Se se descobrisse que estas notícias assim mostradas em primeira página e por vezes com fotos ilustrativas dos factos mais crus, eram em si mesmas criminógenas, ou seja, factores objectivos de aparecimento deste género de crimes, deveriam os jornais que isto publicam ser censurados ou apenas deixados ao alto critério das suas direcções cujo interesse é vender o mais que puderem?
Para já fica a censura moral de quem acha que este tipo de notícias assim mostradas mais não pretende do que acicatar um voyeurismo de uma boa parte das pessoas que passam, olham, lêem e não preferem ignorar, por razões obscuras e psicologicamente difíceis de determinar. Nos acidentes de estrada há sempre quem fique a mirar o acontecimento, para além da simples curiosidade passante e nestes casos, o cheiro a sangue ainda há-de ser inventado pelos jornais para atrair esta clientela ávida de sensações.
O jornal Correio da Manhã tem esse público e pelos vistos tem muita chieira nisso... porque é o que lhes dá de comer. Literalmente.
"Duas pessoas morreram, incluindo uma menor, e outra ficou ferida com gravidade na sequência de um ataque com arma branca por um homem, durante a madrugada deste domingo em Soure, Coimbra, disse à agência Lusa fonte da Proteção Civil.
Segundo a fonte, a agressão teve início no interior de uma habitação na Urbanização Encosta do Sol, e envolveu um homem de 49 anos, a sua mulher de 47 anos, e duas filhas de 16 e 13 anos.
A mulher e filha de 16 anos morreram no local, na sequência dos ferimentos causados por arma branca. Já a filha de 13 anos recebeu assistência no local e foi transportada para o Hospital Pediátrico de Coimbra em estado grave.
"Recebemos às 01h35 uma chamada que dava conta de uma agressão, a qual foi confirmada no local", afirmou à agência Lusa a fonte da Proteção Civil."
Os comentários a esta notícia vão em forma de pergunta:
Se se descobrisse que estas notícias assim mostradas em primeira página e por vezes com fotos ilustrativas dos factos mais crus, eram em si mesmas criminógenas, ou seja, factores objectivos de aparecimento deste género de crimes, deveriam os jornais que isto publicam ser censurados ou apenas deixados ao alto critério das suas direcções cujo interesse é vender o mais que puderem?
Para já fica a censura moral de quem acha que este tipo de notícias assim mostradas mais não pretende do que acicatar um voyeurismo de uma boa parte das pessoas que passam, olham, lêem e não preferem ignorar, por razões obscuras e psicologicamente difíceis de determinar. Nos acidentes de estrada há sempre quem fique a mirar o acontecimento, para além da simples curiosidade passante e nestes casos, o cheiro a sangue ainda há-de ser inventado pelos jornais para atrair esta clientela ávida de sensações.
O jornal Correio da Manhã tem esse público e pelos vistos tem muita chieira nisso... porque é o que lhes dá de comer. Literalmente.
segunda-feira, outubro 20, 2014
E o Proença, pá?
Observador:
A Altice, sociedade luxemburguesa controlada pelo multimilionário Patrick Drahi, quer comprar a PT Portugal e contratou o Morgan Stanley para a assessorar. Na sexta-feira, o Morgan Stanley enviou uma nota de análise aos seus clientes em que avaliava a Portugal Telecom em 0,79 euros por ação. O mesmo Morgan Stanley, presidido por James P. Gorman, é um dos acionistas de referência da Portugal Telecom. No início de setembro, a Portugal Telecom comunicou ao mercado que o Morgan Stanley tinha 2,38% do capital social da empresa portuguesa, obtidas através de um empréstimo.
O envolvimento entre a Altice e a Morgan Stanley é antigo. Antes de ingressar na Altice em 2009, Dexter Goei, o presidente executivo, esteve dez anos no Morgan Stanley. Depois de 25 anos também no Morgan Stanley, Scott Matlock reformou-se aos 49 anos e tornou-se administrador não-executivo da Altice.
A Altice, que se encontra cotada em Amesterdão, controla várias participações no setor das telecomunicações. Além de ser dona das portuguesas Cabovisão e da Oni, tem subsidiárias em França, Israel, Bélgica, Suíça e Caraíbas.
O Observador contactou o Morgan Stanley para aferir o risco de conflito de interesses, mas, até ao momento, não obteve resposta.
Às 15h00 de Lisboa, enquanto as ações da Portugal Telecom cotavam a 1,035 euros, menos 14,74% do que no final da sessão bolsista de sexta-feira, os títulos da Altice caiam 0,09% para 43,61 euros. Durante a sessão desta segunda-feira, a PT chegou a valer menos do que o empréstimo que fez à Rioforte. À mesma hora, as ações ordinárias da brasileira Oi, que está num processo de união com a PT, desvalorizava-se 7,63% para 1,21 reais.
A Altice, sociedade luxemburguesa controlada pelo multimilionário Patrick Drahi, quer comprar a PT Portugal e contratou o Morgan Stanley para a assessorar. Na sexta-feira, o Morgan Stanley enviou uma nota de análise aos seus clientes em que avaliava a Portugal Telecom em 0,79 euros por ação. O mesmo Morgan Stanley, presidido por James P. Gorman, é um dos acionistas de referência da Portugal Telecom. No início de setembro, a Portugal Telecom comunicou ao mercado que o Morgan Stanley tinha 2,38% do capital social da empresa portuguesa, obtidas através de um empréstimo.
O envolvimento entre a Altice e a Morgan Stanley é antigo. Antes de ingressar na Altice em 2009, Dexter Goei, o presidente executivo, esteve dez anos no Morgan Stanley. Depois de 25 anos também no Morgan Stanley, Scott Matlock reformou-se aos 49 anos e tornou-se administrador não-executivo da Altice.
A Altice, que se encontra cotada em Amesterdão, controla várias participações no setor das telecomunicações. Além de ser dona das portuguesas Cabovisão e da Oni, tem subsidiárias em França, Israel, Bélgica, Suíça e Caraíbas.
O Observador contactou o Morgan Stanley para aferir o risco de conflito de interesses, mas, até ao momento, não obteve resposta.
Às 15h00 de Lisboa, enquanto as ações da Portugal Telecom cotavam a 1,035 euros, menos 14,74% do que no final da sessão bolsista de sexta-feira, os títulos da Altice caiam 0,09% para 43,61 euros. Durante a sessão desta segunda-feira, a PT chegou a valer menos do que o empréstimo que fez à Rioforte. À mesma hora, as ações ordinárias da brasileira Oi, que está num processo de união com a PT, desvalorizava-se 7,63% para 1,21 reais.
Mas...e o Proença de Carvalho não conta para os conflitos de interesse? É que segundo se diz( foi o próprio a confirmar) representa os interesses da Altice em Portugal...
domingo, outubro 19, 2014
A PJ fora da lei? É inadmissível.
Estas duas páginas da revista Sábado de 2 de Outubro mostram-nos o que se passa na PJ, polícia de investigação e que tem regras que são as das outras polícias. As regras são a legalidade vigente.
A excepção que aqui se configura é criminosa e a PJ não pode funcionar assim, sob pena de se perder o mínimo de moralidade que se exige ao vulgar cidadão e cujo padrão serve para se condenar pessoas em julgamento.
Perante o que aqui está escrito, o senhor que aparece na primeira fotografia e que dirige a instituição já nem devia lá estar.
Porém, com esta ministra da Justiça que estranhamente optou por deixar nos lugares as figuras do passado, no topo das instituições políciais e de segurança, torna-se ainda mais estranho que no pase nada.
A excepção que aqui se configura é criminosa e a PJ não pode funcionar assim, sob pena de se perder o mínimo de moralidade que se exige ao vulgar cidadão e cujo padrão serve para se condenar pessoas em julgamento.
Perante o que aqui está escrito, o senhor que aparece na primeira fotografia e que dirige a instituição já nem devia lá estar.
Porém, com esta ministra da Justiça que estranhamente optou por deixar nos lugares as figuras do passado, no topo das instituições políciais e de segurança, torna-se ainda mais estranho que no pase nada.
Outra bancarrota, já a seguir. Será este o nosso destino?
O Diário de Notícias de hoje conta-nos a mais recente tragédia grega a juntar às míticas, da Antiguidade. A nossa vem a caminho e a galope.
Em Março de 1995, prestes a alcançar o poder que um Cavaco exaurido lhe colocou nas mãos, António Guterres tinha uma equipa de 100 nomes para mudar Portugal, saindo do "neoliberalismo" ou coisa que o valesse e caminhando pela vereda esquerda, muito amiga dos pobrezinhos que votam sempre em promessas vãs e são sempre enganados com papas e bolos de benesses irrealizáveis.
O que deu essa aventura do PS de Guterres, seguida logo de outra do extraodinário Inenarrável que se locupletou fartamente de ideias keynesianas e cujos nomes ainda andam por aí, à solta e prestes a voltar ao poder se ganharem as eleições?
Deu uma bancarrota, em 2011...aliás a terceira em menos de 40 anos.
Guterres, 1 de Dezembro de 2012:
“Todos aqueles que exerceram funções em Portugal têm uma responsabilidade, diz Guterres.
O antigo primeiro-ministro socialista António Guterres afirmou esta noite de sexta-feira que todos os que exerceram cargos públicos têm "uma responsabilidade" no estado actual do país, reconhecendo a sua parte na "incapacidade tradicional [de Portugal] para competir" com a Europa.
"Todos aqueles que exerceram funções em Portugal têm uma responsabilidade no facto de nós, até hoje, ainda não termos sido capazes de ultrapassar esses défices tradicionais, essa incapacidade tradicional para competir em plano de verdadeira igualdade com os nossos parceiros, nomeadamente no quadro europeu", afirmou António Guterres, em entrevista à RTP sexta-feira à noite.
"Ainda não fomos capazes - e eu próprio porventura também o não fui - de re-situar o país por forma a pudermos garantir aos nossos cidadãos melhores níveis de emprego e de bem-estar", reconheceu o Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados.
Actualmente, a perspectiva que se depara ao ouvir os 20 economistas que António Costa reuniu numa sala do Parlamento, para "debater ideias" sobre a economia parece muito fácil de antever: outra bancarrota. Está lá o economista Pedro Lains, bem como o assimétrico Vieira da Silva para assegurar tal destino certo. Estão lá vários fautores da última, de 2011 e da qual ainda estamos a pagar as favas, mas que se julgam isentos de responsabilidade nessa matéria, imputável totalmente ao poder do momento que nos "empobrece". Este discurso obsceno logra aceitação generalizada entre a população.
Não é preciso ser grande adivinho ou profeta para perceber que dali a alguns meses, porque já nem serão anos, os socialistas a governar conduzirão o país a nova bancarrota, como acontece na Grécia.
Então, será mesmo o fim de Portugal tal como o conhecemos e o destino parece traçado. Tal e qual a história de Panurgo cujos carneiros se deitaram a afogar ao som dos balidos do carneiro já perdido.
Parece inútil argumentar com o senso comum, porque a falta de senso já tomou conta do país.
sábado, outubro 18, 2014
O jornalismo luso do saber instantâneo
Nos media nacionais, com destaque para o Público e o Diário
de Notícias e também o Observador, (embora o vírus noticioso pareça ter partido da loca infecta do costume), aparecem hoje notícias sobre um
"acórdão" do STA que diz " a sexualidade aos 50 anos já não tem
a mesma importância".
É esta a frase que foi catada no dito acórdão para permitir
mais uma sindicância jornalística à Justiça, em Portugal.
A frase, capciosa, diz algo que qualquer
jornalista entende: os juízes que subscreveram um acórdão do STA sobre uma
questão jurídica são "conservadores" na visão tradicional do Diário de Notícias ( Carlos R.
Lima) ou simplesmente dos "democratas exaltados" do
Público para quem qualquer divergência em relação ao pensamento
politicamente correcto é sujeita a anátema
jacobino e exterminador. A única coisa que não pega no Público é a vergonha de terem um jornal falido sustentado pela boa vontade de patrão generoso e complacente e que subsidia este jornalismo de jarreta.
Não vou ater-me ao conteúdo do acórdão que nem li para não
desistir liminarmente deste escrito porque tenho quase a certeza que a intenção, em escrito mediaticamente virulento,
imputada aos juízes subscritores do dito aresto não tem correspondência com o teor essencial do mesmo.
O Público ( Ana Henriques e Alexandra Campos) chamam um figo
a essa frase maldita que cobre todo o acórdão de ingnomínia mediática e titula:
" Juízes com mais de 55 anos dizem que sexoperde importância nesta
idade". Não dizem o nome dos juízes
mas lá adiantam no texto que "entre eles há uma mulher"...
Lendo apenas o que aquelas jovens ( com menos de 55 anos provavelmente) jornalistas escrevem, a
ideia que extrairam da leitura do aresto é esta: uma mulher ficou impedida de ter relações
sexuais "com normalidade" depois de ter sido operada há 19 anos num
hospital de Lisboa e por isso foi indemnizada pelos tribunais administrativos
em 171 mil euros, menos de metade do que a demandante queria. O STA, para
reduzir ainda mais o montante do petitório, para 111 mil euros, aduziu razões
jurídicas e de facto. Considerou que afinal a operação maldita "mais não
fez do que agravar uma situação anterior já difícil" e que a mesma já
antes padecia de maleitas como dores insuportáveis e sintomas
depressivos".
Em resumo: tais factos bastariam como justificação para se
baixar o tal pedido indemnizatório e o jornal até explica que os juízes, neste
caso do STA têm ampla margem de discricionariedade para tal, recorrendo a
critérios de equidade ( ou seja, de comparação com outros casos semelhantes)
para fixar o montante. O jornal até refere que a indemnização de 111 mil euros
que o STA decretou como justa é até mais elevada que em casos do género, como
seja o de um indivíduo que ficou impotente na sequência de um acidente de
viação e a mulher recebeu 50 mil euros pela incapacidade de pensar do marido.
Portanto qual é a questão fundamental, aqui? É a decisão
concreta do STA? Não, não é. É apenas aquela frase do acórdão redigido por
um(a) conselheiro(a) e subscrita por mais dois.
A mulher em causa, na altura já tinha 50 anos e para os
referidos conselheiros tal "é uma idade em que a sexualidade não tem a
importância que assume em idades mais jovens, importância essa que vai
diminuindo à medida que a idade avança".
Esta frase entrevada no meio do acórdão e que poderia nem ter sido escrita para justificar o que foi decidido é erigida como declaração urbi et orbi de efeito social devastador para as ideias politicamente correctas.
E que ideias são
essas? Ora, as que foram ouvidas dos "especialistas contactados pelo
Público".
O primeiro especialista é o conceituado radiólogo ( sem
ofensa porque gosto de ouvir os programas na Antena Um) Júlio Machado Vaz. Diz que tal afirmação é
errada do ponto de vista científico. E para cimentar a opinião apresenta o
argumento de que " ainda há poucos meses sairam artigos científicos na
imprensa internacional " que dizem que
a partir dos 50 é que é bom. Enfim, nem comento, porque a roda da
sexualidade tem tanto tempo quanto o tempo humano teme portanto é invenção antiga. Não é preciso artigos
científicos internacioanais para entender uma realidade que é comum às
pessoas.
Outra especialista é uma professora de Direito da
Universidade Católica, Maria da Graça Trigo que lá adianta, como professora
de Direito que esse tal argumento "não tem qualquer base científica".
Antes tinha dito que afinal poderia ser procedente, para se reduzir a indemnização,
"o facto de a cirurgia se ter limitado a agravar uma situação já
existente". O outro argumento,
maldito, é então explorado pelos jornalistas para tentarem a sentença de
condenação catedrática, mas sem sucesso.
Um advogado anónimo, Ricardo Amaral pensa o mesmo: "não faz sentido associar maternidade a
sexualidade" quando o assunto em causa nem era tal.
Uma tal Ana Carvalheira, "investigadora do
ISPA" é de opinião mais radical e
indignada , na sua santa ignorância de assuntos jurídicos: " esta decisão
choca-me". Evidentemente não
percebeu o alcance e sentido da decisão mas ateve-se firme à frase que lhe foi
dita, como motivo de justificaçãoda putativa indignação selectiva.
E foi assim, com estes "especialistas" que aqueles
dois jornalistas fizeram uma notícia de página inteira e com o título
epigrafado para ignominiar juizes.
Brilhante jornalismo este que da ignorância faz trunfo de
causas politicamente correctas. É um jornalismo jarreta, de intuitos causais de
quem se julga aferidor moral de comportamentos e costumes. Esquecem é de se verem ao espelho para
perceberem que a trave que se lhes atravanca não lhes permitiria ver as tristes
figuras que fazem.
No D.N. o tom é diverso e mais tradicional, mas com intuito
semelhante. O meu amigo jornalista
entende esta decisão como um espelho do conservadorismo vigente na magistratura
de certas decisões e nessa medida a notícia é apenas um pretexto para escrever sobre o tema. Pena que sejam sempre os "juízes" os visados com estas prendas sobre o conservadorismo de costumes e a sua horripilação. Porque é que os costumes conservadores são maus? Porque sim? E porque não?
.
O título do DN é "sexo na meia idade revela justiça
conservadora". Ora aqui está um título que nada tem a ver com a decisão
concreta e tem muito a ver com a sociologia
dos tribunais superiores que seria muito interessante investigar mas não apenas numa página de notícia sobre um caso concreto.
E era de facto aqui que se tornava interessante investir
nesta notícia. Partindo da mesma frase meramente simbólica e excrescente ao
acórdão, o jornalista nomeia os autores da mesma ( Maria Fernanda Maçãs,
Alberto da Costa Reis e José Fonseca da Paz)
e acresenta que o juízo implícito naquela frase "acabou por
influenciar a decisão do STA".
Acabou mesmo? Foi isso que sucedeu? Estamos aqui no baba do
jornalismo: o quê?- é a primeira pergunta.
Ou seja, a decisão dependeu ou foi influenciada decisivamente por tal frase? É isso
que não sei nem tenho meios de saber sem ler a decisão e o jornal não me informa devidamente. Ao escrever que tal frase teve influència na decisão isso não chega. O Público, aliás, através da professora de direito diz-me que talvez não e que afinal a
decisão poderia ser a mesma sem tal frase ou conceito expresso. Bastava a circunstância , aduzida de "a
cirurgia se ter limitado a uma situação já existente".
Portanto, com a leitura do DN ou do Público fico sem saber o que
importaria saber em termos estritamente jornalísticos e primordiais: o que
sucedeu, factualmente? Não sei , com exactidão e deveria saber porque é parar isso que leio os jornais.
O que sei é a opinião dos jornalistas sobre os juízes do STA e
sobre as decisões em que são escritas frases como a citada.
O DN aliás convoca outros especialistas para debater a frase
( que não o acórdão). Uma tal Marta Crawford, dita sexóloga, ( é disciplina recente e sem currículo, acho) acha um disparate,
tal frase. A socióloga antiga Maria
Filomena Mónica, formada em Oxford em plena época pós flower power, perante tal frase, sem conhecer o contexto, foi mais
peremptória, como sempre costuma ser: " Os juízes devem estar a falar por
experiência própria. Mas não é a minha".
Pois... sobre estas "experiências próprias" também há estudos
que dizem que as pessoas mentem e mentem e mentem...
Um outro especialista em magistrados, João Paulo Dias, do
CES de Coimbra (uma espécie de parceria
público-privada do grande sociólogo Bonaventura, prestigiadíssimo em países
como a Bolívia) diz que a questão é incontornável e que " por muito que os
juizes digam que apenas decidem de acordo com o bom senso e a sua consciência
jurídica, as suas atitudes e comportamentos ao longo da vida acabam por
influenciar a aplicação do Direito". E conta uma história picante de emoção
contida: " um certo dia viu um juiz com um santinho, a servir de marcador
num código". Pela entrelinha da
frase percebe-se que o santinho não era o Che.
O sociólogo do CES, especialistas em juízes acha ainda que a solução para estes conservadorismos em lata só pode ser desencarcerado com "mais formação contínua". Presumivelmente "dada" pelo dito professor Bonaventura prestigiadíssimo intelectual dos pós dos doutoramentos. Tal formação daria a juizes como a Conselheira Maçãs, o sabor inefável do fruto proibido que eventualmente desconhece e o professor quer dar a provar...
Enfim, duas notícias que espelham bem o estado da arte do
nosso jornalismo: as opinões, principalmente as implícitas e politicamente
correctas são mais importantes que os factos.
Noticiar estes, com a simplicidade antiga parece uma arte perdida.Qual era o facto relevante nesta notícia, afinal? 17 anos para se obter uma decisão transitada em julgado? Não, isso nem lhes interessa por aí além. Saber os factos concretos e perceber o teor real da decisão? Também é secundário. Importante, importante mesmo é aquela frase suicida. Essa é que interessa porque é o homem a morder no cão...
Este jornalismo assenta ainda num fenómeno curioso, recente e finalmente positivo: perante um assunto relativamente complexo, ouvem-se supostos especialistas e escreve-se o que dizem.
O método tem um caveat que é o que o antigo cineasta João César Monteiro mostrava em dito assim: se não sabes, por que perguntas? Ou seja, para se perguntar algo de jeito é preciso saber algo a preceito. Caso contrário, corre-se o risco de não se entender o essencial e se reportar o acessório.
Este jornalismo de saber instantâneo é o mesmo fenómeno que acontece aos juízes perante assuntos da sua ignorância: valem-se de pareceres de especialistas que explicam. E se não explicam? É o mesmo risco deste jornalismo: cairem nas opiniões idiossincráticas que servem de pasto a notícias e comentários.
Quem é que ensinou
isto aos jornalistas jovens que temos?
ADITAMENTO imediato:
Depois de ter escrito isto fui ler o acórdão. Na parte que interessa diz isto:
10. 3. Finalmente, e no que toca aos danos não patrimoniais, importa fixar um valor que indemnize a Autora das dores, perda de sensibilidade e inchaço na zona vaginal e da dificuldade em sentar-se e andar, o que lhe causa mau estar e a impedem de fazer a sua vida normal obrigando-a a usar diariamente pensos para fazer face incontinência urinária e fecal, limitando seriamente a sua actividade sexual, fazendo com que se sinta diminuída como mulher, ao que acresce o facto de saber que do ponto de vista médico inexiste solução que possa resolver os seus problemas. Tudo isso provocou-lhe um quadro depressivo grave com componente ansiosa e acentuada expressão somática que se manifesta na dificuldade que tem em dormir, no profundo desgosto e frustração pela situação em que vive e no ter-se tornado numa pessoa profundamente triste que a inibe no seu relacionamento com os outros e a levou a deixar de visitar família e amigos com regularidade, a ir à praia ou mesmo ao cinema e ao teatro, tendo já equacionado o suicídio.
Recorde-se, no entanto, que o problema do foro ginecológico de que a Autora sofre é antigo (desde, pelo menos, 1993), que já antes tinha feito diversos tratamentos sem resultados aceitáveis e que foi essa ausência de resultados e a impossibilidade daquela patologia ser resolvida de outra forma que motivou a cirurgia. E que já antes dela tinha dores insuportáveis e sintomas depressivos. O que significa que as queixas da Autora já não são novas e que a cirurgia mais não fez do que agravar uma situação anterior já difícil, realidade esta que não pode ser ignorada aquando da fixação do montante indemnizatório.
Por outro lado, importa não esquecer que a Autora na data da operação já tinha 50 anos e dois filhos, isto é, uma idade em que a sexualidade não tem a importância que assume em idades mais jovens, importância essa que vai diminuindo à medida que a idade avança.
Deste modo, e considerando todas aquelas vertentes, julgamos que a indemnização atribuída pelo Tribunal recorrido excedeu o razoável pelo que, corrigindo essa fixação, atribuamos à Autora uma indemnização de 50.000 euros.
Na parte em que se consideram "todas aquelas vertentes" o que se pode chamar ao jornalismo que pega numa vertente que nem é a mais significativa ou importante para a decisão e a toma como a pedra de toque da mesma e a chave da "injustiça"?
Chama-se jornalismo pobre, mal feito, incompetente e jarreta. Há mais adjectivos mas estes chegam porque também chega para dizer porque é que os jornais não se vendem.Não é só por causa da crise, mas também por causa da mediocridade do jornalismo.
Por último e porque isso também é importante, seria interessante saber quem passou este acórdão para o jornalismo luso. Quem topou a frase infeliz e quem a sublinhou para a cacha do homem que anda a morder os cães.
Não sei, mas sei quem tinha interesse em desprestigiar juizes do STA: quem perdeu...
ADITAMENTO 2 (19. 10. 14):
O Público de hoje volta à carga com outra notícia enquadrada na página 16 e assinada pela mesma jornalista da peça inicial, Ana Henriques. O título é assim:
ADITAMENTO imediato:
Depois de ter escrito isto fui ler o acórdão. Na parte que interessa diz isto:
10. 3. Finalmente, e no que toca aos danos não patrimoniais, importa fixar um valor que indemnize a Autora das dores, perda de sensibilidade e inchaço na zona vaginal e da dificuldade em sentar-se e andar, o que lhe causa mau estar e a impedem de fazer a sua vida normal obrigando-a a usar diariamente pensos para fazer face incontinência urinária e fecal, limitando seriamente a sua actividade sexual, fazendo com que se sinta diminuída como mulher, ao que acresce o facto de saber que do ponto de vista médico inexiste solução que possa resolver os seus problemas. Tudo isso provocou-lhe um quadro depressivo grave com componente ansiosa e acentuada expressão somática que se manifesta na dificuldade que tem em dormir, no profundo desgosto e frustração pela situação em que vive e no ter-se tornado numa pessoa profundamente triste que a inibe no seu relacionamento com os outros e a levou a deixar de visitar família e amigos com regularidade, a ir à praia ou mesmo ao cinema e ao teatro, tendo já equacionado o suicídio.
Recorde-se, no entanto, que o problema do foro ginecológico de que a Autora sofre é antigo (desde, pelo menos, 1993), que já antes tinha feito diversos tratamentos sem resultados aceitáveis e que foi essa ausência de resultados e a impossibilidade daquela patologia ser resolvida de outra forma que motivou a cirurgia. E que já antes dela tinha dores insuportáveis e sintomas depressivos. O que significa que as queixas da Autora já não são novas e que a cirurgia mais não fez do que agravar uma situação anterior já difícil, realidade esta que não pode ser ignorada aquando da fixação do montante indemnizatório.
Por outro lado, importa não esquecer que a Autora na data da operação já tinha 50 anos e dois filhos, isto é, uma idade em que a sexualidade não tem a importância que assume em idades mais jovens, importância essa que vai diminuindo à medida que a idade avança.
Deste modo, e considerando todas aquelas vertentes, julgamos que a indemnização atribuída pelo Tribunal recorrido excedeu o razoável pelo que, corrigindo essa fixação, atribuamos à Autora uma indemnização de 50.000 euros.
Na parte em que se consideram "todas aquelas vertentes" o que se pode chamar ao jornalismo que pega numa vertente que nem é a mais significativa ou importante para a decisão e a toma como a pedra de toque da mesma e a chave da "injustiça"?
Chama-se jornalismo pobre, mal feito, incompetente e jarreta. Há mais adjectivos mas estes chegam porque também chega para dizer porque é que os jornais não se vendem.Não é só por causa da crise, mas também por causa da mediocridade do jornalismo.
Por último e porque isso também é importante, seria interessante saber quem passou este acórdão para o jornalismo luso. Quem topou a frase infeliz e quem a sublinhou para a cacha do homem que anda a morder os cães.
Não sei, mas sei quem tinha interesse em desprestigiar juizes do STA: quem perdeu...
ADITAMENTO 2 (19. 10. 14):
O Público de hoje volta à carga com outra notícia enquadrada na página 16 e assinada pela mesma jornalista da peça inicial, Ana Henriques. O título é assim:
Portanto, a notícia é sobre um recurso da "mulher lesada na maternidade". O recurso foi "revelado pelo seu advogado" ( huummm...) e destina-se ao TEDH, por causa da demora de 17 anos na decisão final, 19 anos depois dos factos.
Desde logo resulta, pela leitura do texto que a mulher tem hoje 69 anos e na altura em que os factos ocorreram teria ficado lesada na sua maternidade, aos 50 anos. Há casos destes? Há, raros e um deles até vem na Bíblia, reportado como um milagre: a mulher de Abraão, Sara, foi mãe aos 90 anos! Talvez seja um caso destes...
Desde logo resulta, pela leitura do texto que a mulher tem hoje 69 anos e na altura em que os factos ocorreram teria ficado lesada na sua maternidade, aos 50 anos. Há casos destes? Há, raros e um deles até vem na Bíblia, reportado como um milagre: a mulher de Abraão, Sara, foi mãe aos 90 anos! Talvez seja um caso destes...
Depois volta a insistir-se na frase que suscitou a notícia, desgarrando-a do contexto da decisão e não mencionando o facto de a mesma reflectir outros factores para a redução da indemnização. Lá vem à baila os "especialistas" sexólogos que desancaram a frase até ao tutano da sua inconsistência científica. Jacobinismo puro em modo jornalístico.
Ontem, o DN dava conta do depoimento científico de um "especialista em magistrados", vindo do CES de Coimbra, feudo intocável do célebre professor Bonaventura. Dizia o mesmo, num assomo de jacobinismo inenarrável que para resolver estes problemas com juízes que devem "interpretar a vida em sociedade e a própria evolução das pessoas", só mesmo a "formação contínua", se calhar prestada naturalmente pelo célebre professor Bonaventura e outros do género, vindos do ISCTE, por exemplo. São esses professores quem ensina ao vulgo a "evolução das pessoas e a interpretação da vida em sociedade" porque os juízes tendem a parar no tempo e a cristalizar tradições ultrapassadas, tornando-se conservadores, o que é uma praga para exterminar socialmente.
Curiosamente, não ocorreu ao docente jacobino que um dos juízes é a conselheira Maria Fernanda Maçãs. O percurso de vida desta magistrada do STA talvez elucidasse o lente. Como conselheira do STA é a mais nova em tempo de serviço: ainda nem perfêz três anos de serviço.
Antes disso, esteve noutras paragens. Por exemplo, há dez anos, no Conselho Consultivo da PGR.
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