Morreu ontem um tipo nascido em 1948, criado em Detroit, nos EUA e que foi para a California, meteu-se em drogas, aprendeu a tocar guitarra e a cantar em harmonia vocal e em 1971, juntamente com três companheiros de músicas, mais tarde alargado a outros, ajudou a fundar os Eagles, um grupo de música rock com sonoridade que se convencionou depois designar de "country-rock".
Chamava-se Glenn Frey e nada sabia de tudo isso quando ouvi o grupo pela primeira vez, no rádio de meados dos anos setenta do século que passou.
Também nada sabia que o primeiro disco do grupo, intitulado simplesmente Eagles, se apresentava com um foto de uma paisagem de cactos sobrevoada por uma águia solitária tirada por um fotógrafo chamado Henry Diltz e que em 2002 documentou a história dessa e de outras fotos para capas de discos de artistas e grupos da California dessa época.
Quanto às músicas desse disco primeiro também não sabia que apenas duas eram da autoria de Glenn Frey ( Chug alll night e Most of us are sad) e uma delas, clássica entre os clássicos, take it easy, era em co-autoria com outra artista maior, Jackson Browne.
De resto esse primeiro disco de 1972 para mim é um clássico da música popular, tal como o são os quatro seguintes, publicados até 1976: Desperado, de 1973, On the Border, de 1974, One of these nights de 1975 e finalmente Hotel California, de finais de 1976 e o grande êxito do grupo.
Precisamente em 1976 os Eagles já tinham um Greatest Hits que se tornou um dos discos mais vendidos da história da música popular.
Desses 10 "hits" aí compilados Glenn Frey co-escreveu seis e são dos mais interessantes e que me captaram para sempre a atenção auditiva: Desperado, One of these nights, Take it to the limit, Best of my love e principalmente Lyin Eyes. Juntando a essas Hollywood Waltz, Is it true, Saturday night, I wish you peace e duas ou três de Hotel California, com o título tema e New kid in town, tem-se uma obra musical notável na música popular.
Há quarenta anos nada disso sabia porque só ouvia no rádio as composições e melodias do grupo que me agradavam mais que muitas outras e assim foi até hoje pelo que continuará a ser.
O maior divulgador dessa música, nesse tempo, era sem dúvida o radialista Jaime Fernandes, senhor de um timbre de voz imediatamente reconhecível e que tinha então um programa num dos canais nacionalizados da rádio.
Esse programa, que se chamaria Dois Pontos e depois se chamaria Country-music, a música da América, passava esses discos e essas músicas, por vezes integralmente pelo que em 1976 o Greatest Hits seria um disco repetido nessas audições.
O papel de Jaime Fernandes, como divulgador desse género musical foi notável e imprescindível ao conhecimento desses discos e dessa música que de outro modo teriam ficado pelos êxitos mais óbvios dos singles que passavam no que agora se chamam playlists. O meu agradecimento e reconhecimento a Jaime Fernandes é assim perene e de louvor sem reservas pelo que possibilitou à juventude da altura conhecer a música popular que ainda hoje se ouve, porque aquela época marcou uma geração.
A música dos Eagles é daquelas que não carece de grandes artigos explicativos e basta a mera contextualização do tempo e lugar em que foi produzida.
A essência é de fusão entre o rock e o country e Glenn Frey era mais do lado rock, apesar das baladas que escreveu, incluindo a solo, em 1984, com Lover´s moon do lp The Allnighter.
Curiosamente, ao longo dos anos e desde a década de setenta, os Eagles nunca fizeram grandes capas de revistas musicais.
Sendo um grupo norte-americano de grande sucesso nas vendas, até ao final da década de setenta, talvez fosse de esperar uma maior visibilidade mediática. Errado. Os Eagles fizeram apenas duas capas em dez anos, na revista Rolling Stone. Uma em 1975 e outra em 1979 e nada mais.
Em Abril de 1977 porém, outra revista americana, Crawdaddy, dava-lhe esta capa e um artigo de várias páginas. As fotos são das mais perfeitas que já vi, sobre o grupo. Nem a Leibowitz as fazia assim.
A Rock & Folk nenhuma capa lhes consagrou. Estamos muito longe de David Bowie...
Porém, em Fevereiro de 1978 a mesma revista num artigo de quatro páginas de Benoit Feller resumia criticamente a discografia do grupo até então.
Foi a primeira vez que vi mas não cheguei a ler o artigo. Já conhecia a música de cor.
7 comentários:
gostei tanto do Hotel California que a melodia me acompanha por vezes
R.I.P
Caro José, quando recebíamos a revista Circulo de Leitores de 3 em 3 meses o acordado era num trimestre 1 livro no outro 1 disco, recordo-me da discussão com o meu irmão para a escolha do disco entre o hotel california e o led zepelin II, ganhou Jimmy page.
Sinceramente já nem me recordava do circulo de leitores, e constatar a importância que foi par muitos lares, longe de Lisboa e do Porto.
E ganhou bem porque esse disco dos Zeppelin é um portento, embora de um estilo que se torna mais cansativo de ouvir do que as melodias sincréticas do Hotel California.
Gosto de ambos os discos e o II dos Zeppelin tem Whola lotta love, com o som estrondoso das caixas da bateria de John Bonham que costumava gravar separado dos outros e em vãos de escada de modo a aproveitar o efeito acústico especial.
É disso que se ouve no IV disco, no tema final, When the levee breaks.
Hotel California tem a melodia ( que é copiada de um tema de Jethro Tull...) e os solos de guitarra de Joe Walsh que tinha acabado de entrar para o grupo misturados com a mestria de Don Felder, outro portento a solo, na guitarra.
No You Tube aparece a demonstração numa actuação ao vivo em 1977, desse tema e que é fenomenal na inter-actuação de guitarra desses dois elementos dos Eagles.
Quem gosta do som de guitarra eléctrica tem aí uma das mais belas demonstrações do que é possível fazer no rock.
O Círculo de Leitores nunca me fez falta pelo motivo de que tinha livrarias disponíveis ao pé da porta. E por outro lado, quiosques onde podia comprar publicações estrangeiras o que faço com assiduidade desde 1969.
A primeira que comprei com esses espírito foi a Flama, com uma imagem da princesa Ana de Inglaterra na capa. E as Seleções do Reader´s Digest em versão brasileira encantavam-me todos os meses porque trazia artigos de outras publicações americanas e livros "condensados" que me apetecia ler.
Foi esse o caldo de cultura primitivo para este meu gosto pelas publicações em papel.
"De que tinha" escrevi, mas queria antes ter escrito "de ter"...
http://read.tidal.com/article/glenn-frey-1948-2016?utm_source=TIDAL+Editorial+Newsletter&utm_campaign=4766e7b362-TIDAL_Newsletter_2201161_22_2016&utm_medium=email&utm_term=0_d9281c93dc-4766e7b362-196383789
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