segunda-feira, fevereiro 27, 2023

Vrruuummm...carros nos anos setenta

 Gosto de carros e aprecio a tecnologia que os faz evoluir ao longo dos anos e os alemães são os que inventaram os carros que gosto mais. Este, particularmente, suscitou a minha admiração até hoje: 



O Porsche 911, modelo Targa é o que aprecio mais, pelas linhas desportivas que permanecem basicamente as mesmas desde meados dos anos sessenta, em que foi construído o primeiro. 

Em finais de 1973, no número de Natal,  a revista Tintin publicou estas duas páginas que mostravam o carro que me fascinava, numa aventura de Bruno Brazil, desenhada por William Vance, em 1971 e publicada no Tintin belga nesse ano:



E na visão graficamente mais cuidada dos álbuns, neste caso uma edição de 1998:




O modelo de 1971 de tal carro, tal como agora é apresentado em exposições:



Em 1973, numa imagem da revista alemã Auto Motor und Sport, com o designa muito melhorado. A imagem original do 911 deve-se ao fundador Ferdinand Porsche e ao sucessor, o filho Ferry e principalmente a um natural de Riga, Anatole Lapine, conforme aqui se conta. Uma obra de arte tecnológica e artística:


Em Portugal, nesse início dos anos setenta havia duas publicações dedicadas aos carros, o Volante, como jornal e o Motor já quase como revista. 
O Volante vendia muito mais quando surgia por esta altura do ano um acontecimento de vulto no automobilismo nacional: o rallye que fora "do vinho do Porto" e em  1974 já era da TAP e internacional. Era anunciado assim:


O Motor também se dedicava ao assunto e em modo um pouco mais elaborado, como revista:, neste caso na edição de 3 de Maio de 1974, com uma imagem do famoso Renault Alpine que suscitava a curiosidade e admiração dos inúmeros frequentadores das várias etapas do "Rallye", postados em sítios estratégicos para ver a evolução endiabrada do pequeno carro francês que parecia voar em determinados percursos. 



O Rallye, no início da primavera e a corrida das 24 Horas de Le Mans, em meados de Junho, anualmente, eram os acontecimentos do desporto automóvel mais mediatizados, já pela televisão e com grande interesse do público, para além das corridas de fórmula Um, embora me pareça que aqueles eventos eram mais populares. 
O Século Ilustrado de 14 de Junho de 1969 mostrava a programação da semana e no Domingo a transmissão em directo de uma parte da corrida das 24 Horas de Le Mans. 
 

No início dos anos setenta, em Portugal havia menos de meio milhão de automóveis ligeiros e a maioria com mais de 5 anos,  conforme estatísticas de que o S.I. de 24 de Abril de 1971 dava conta: 
 

O panorama nas cidades e estradas portuguesas, nessa altura era muito diferente do que passou a ser algumas décadas depois.
Em 29 de Maio de 1971 uma publicidade a auto-rádios, na revista S.I. mostrava um dos actuais IC´s, em Lisboa, ou um dos poucos troços de auto-estrada então existentes no país:



E em cidades do país, actualmente pejadas de carros, o panorama era muito diferente dos dias de hoje. Na Vida Mundial de 9 de Abril de 1970, uma reportagem sobre Vila Real mostrava o centro da cidade: 

E a mesma cidade em Outubro desse ano, na mesma revista:


Viana do Castelo, centro da cidade em 29 de Maio de 1970, numa altura em que era possível circular e estacionar na Praça da República, com o pavimento em paralelo, ao contrário de hoje que está tudo lajeado com placas de granito que partem com frequência, à semelhança do que acontece nas restantes cidades do país, sujeitas a urbanizações e arranjos similares, com identidade normalizada pelo gosto da moda urbanística, certamente copiada doutras latitudes:




Os carros na paisagem urbana da época era quase todos de proveniência europeia, da França, Itália e Alemanha, com alguns da Inglaterra, como se vê pelas imagens. 
As principais marcas publicitadas nas revistas eram relativamente escassas. 

A referência na gama superior eram os carros alemães, tal como mostrado no SI de 13 de Junho de 1970, publicitando a Mercedes como um carro de guerra:


E no SI de 28.12.1968, a BMW era a marca do prestígio, "sem concorrência":


Em 1969 a revista Paris Match publicava um exemplo do luxo alemão, neste caso da Audi:



Em 25 de Abril de 1970 o SI publicava os resultados sobre o "carro do ano":



Os melhores foram carros europeus, respectivamente o RO80, um modelo de linhas pouco usuais e que  tinha esta publicidade na Vida Mundial de 23.10.1970:


O modelo Fiat 124 S era montado em Portugal mas o modelo que se tornou popular, pouco depois,  foi este publicitado em 30.5.1970. Foi o VWGolf dos anos setenta:


A concorrência era esta, conforme a Vida Mundial de 31.10.1969:


Esta, conforme S.I. de 6.6.1970:


Esta também, aqui numa publicidade de 22.5.1971:


Com o modelo-farol, o "carro do povo", feito neste caso para jovens:


Porém, o verdadeiro carro que de algum modo revolucionou o tal carro para jovens, foi este que veio de França, aqui no S.I. .de 13.6.1970. Um verdadeiro "carro do povo" que se juntava ao alemão:



Para além desta no sector de "prestígio", conforme publicidade de 9.5.1970, com um modelo que aguentou esteticamente até à década seguinte:


E este também, aqui numa publicidade do Observador de 21.10.1971:


Os carros franceses tinham-se tornado também muito procurados, desde que apareceu este, o Citroën DS 20 e 21:


Um carro com alavanca de mudanças ainda "à antiga": 


E aqui em recortes da revista alemã Auto-Motor und Sport, do meu amigo de escola, os franceses dos anos setenta, a começar pelo luxo do modelo SM da Citroën, um Renault 16 e o Peugeot 504: 



Em 1971, o salão automóvel de Paris, segundo a Observador de 12.10.1971 e a imagem do aparecimento do Fiat 127, outro "carro do povo":



E não só, porque em 27 de Maio de 1973 o Diário de Lisboa mostrava outra faceta do mesmo carro:


Em 1974,  com a primeira crise do petróleo, o argumento era o consumo e a Fiat fazia assim, numa revista francesa, também de recorte com a mesma proveniência:



Em 1972 surge em França outro pequeno utilitário com grande história pela frente. Este, Renault 5:



Foi então que apareceram os verdadeiros concorrentes destes, vindos do Sol nascente. Os japoneses da Toyota, Datsun e Honda. 
As publicidades a estes carros são muito escassas, particularmente da Honda, quase inexistente, nesse início dos setenta. 
A Toyota tinha vindo para Portugal em Fevereiro de 1968, sob a responsabilidade de um importador que concorria no sector de carroçarias para veículos pesados, a Salvador Caetano. A história está contada aqui e a produção de carros, montados em Portugal começou em 1971. A Toyota jurava que veio para ficar. E ficou mesmo, como diziam na publicidade. 
Aqui em 31.12.1971 na revista Observador, "com as credenciais da indústria japonesa":



E num suplemento do Volante de 1974, já com uma imagem da crise do petróleo:




A Datsun, importada por Entreposto, tinha outra estratégia publicitária: entregar carros para concursos de publicações. Como se mostra nesta publicidade da Vida Mundial de 11.7.1969:


E também não falhavam no apelo ao consumo poupado de combustível, na publicidade de 1.12.1973, com modelos comparativos e que permitiam perceber que um VW carocha gastava mais de 9l/100, enquanto o pequeno Datsun se ficava abaixo dos 7l/100. Imbatível!


E para concorrer com os alemães nos táxis, ou seja, nos carros de longa duração tinham este, mostrado na Observador de 27.8.1971:



A Honda, a única publicidade que encontrei foi esta, sumida num fundo de página do Diário de Lisboa de 10.9.1973, julgo que ao modelo 600, um verdadeiro sucesso no sector dos carros económicos. Era "bom na estrada, óptimo na cidade" e tinha o nome de "economia":


 Em 1973, os alemães atacavam de novo, com modelos melhorados, design aprimorado e foi o que se viu, como a Auto Motor und Sport mostrava em 12.5.1973:


E o catálogo de 1974 deixava entrever:



Foi então que comprei a primeira revista estrangeira dedicada a carros. Esta, em Junho de 1974 e pensando bem, ao longo dos anos,  não comprei muitas mais revistas de carros:


 
Assim, permanece como imagem mitológica aquele Porsche 911, vindo do passado e actualmente "rematrizado" com a tecnologia e design actual. Uma obra de arte, quanto a mim!

A obscenidade do jornalismo televisivo