domingo, maio 24, 2009

Advogados de classe

José Miguel Júdice, enquanto bastonário da Ordem dos Advogados, chegou a falar em gangsters na advocacia, para enunciar podres na profissão.
Marinho Pinto ( toda a gente escreve sem o "e" copulativo e por isso passo também a fazê-lo) disse há dias, precisamente no dia do advogado, que havia advogados envolvidos em corrupção e até que "alguns escritórios são quase especialistas em ajudar certos clientes a praticar determinado tipo de delitos, sobretudo na área do delito económico”."

Entre esses dois tipos de declarações sobre advogados nenhuma diferença existe a não ser semiótica e de contexto. As declarações de Júdice, aliás, são bem mais graves do que as do seu sucessor na Ordem e ninguém se escandalizou como agora.

Aliás, Marinho Pinto juntou essas afirmações a um entrevista no dia anterior, ao 24 Horas, em que mencionava o facto de no Governo anterior a este ( Durão e Santana )haver quatro membros que eram advogados do mesmo escritório, referindo-se obviamente à PLMJ de Júdice e aos advogados Morais Sarmento, Mota de Campos e Paes Antunes, os mais conhecidos.

No Expresso de ontem, referia expressamente o nome do advogado Magalhães e Silva, seu rival na OA, como tendo obtido um contrato de assessoria com o Governo, no caso RAV, o projecto de alta velocidade em Portugal.

Na guerra institucional que lhe fazem enquanto bastonário, Marinho Pinto defende-se atacando os advogados que querem continuar a ser deputados e os que fazem parte da grande advocacia dos grandes nogócios.
A prova? Alguns advogados, segundo o Expresso, estão a "preparar" uma queixa ( mais uma, para entrar na Ordem) contra Marinho Pinto. Nomes? Júdice & Associados, Morais Leitão, Galvão Teles & Associados, João Nabais, Paulo de Sá e Cunha, Raul Soares Veiga. "O documento está aberto " à participação de outros advogados.

Então, surge a pergunta: tirando o lado histriónico, pouco diplomata, ostensivamente agressivo na fala e nos modos de exposição verbalmente explanadora, qual é a essência do discurso de Marinho Pinto que tanto incomoda certos colegas? Será uma luta institucional contra os advogados que cometem delitos avulsos e que até estão fugidos, como Marinho Pinto referiu na entrevista ao Jornal Nacional da TVI de Sexta?
Não, não são estes os alvos de Marinho Pinto, como se conclui da leitura das suas entrevistas e intervenções escritas. O alvo são outros seus colegas de grande gabarito institucional e que interferem na vida pública através de contratos com o Estado. Só esses o incomodam verdadeiramente.

A sua atitude frontal em querer retirar poder de intervenção aos grandes escritórios de advocacia, nos negócios com o Estado é uma constante. Fá-lo através de um instrumento fundamental que é a incompatibilidade entre ser deputado e advogado e fá-lo ainda exigindo concursos públicos ( até internacionais) nos contratos de assessoria ou avença com o Estado-Administração. Refere precisamente isso, no caso do seu rival na OA Magalhães e Silva.

Esta atitude de Marinho Pinto é, quer se queira ou não, um desassombro notável e como se está a ver, quase suicidário. Os grandes escritorios que dominam a informação mediática em termos de influência comunicacional, nunca lho perdoarão e nisso, Marinho Pinto tem razão.

A opinião pública, acolitada pelos media da situação e pelos indiferentes, acolhem mais depressa as vozes críticas a Marinho Pinto, supostamente mais sensatas e cordatas do que as propostas destemperadas deste último. Porquê?

Tomemos o caso de Júdice. Ao Expresso, Marinho Pinto refere assim o seu relacionamento com o antigo bastonário:

" As minhas relações pessoais com Júdice são óptimas e mando-lhe um abraço. A minha relação profissional com o antigo bastonário nunca poderá voltar a ser cordial. Os meus objectivos são outros. Conheço-o há 40 anos. Preferia o velho Júdice, coimbrão, de exrema-direita, algo trauliteuro, mas corajoso.
Este Júdice fafarrão, o dos negócios, o que é capaz de soltar gargalhadas estridentes daquilo que não tem piada nenhuma, que é capaz de abraçar quem detesta e de aplaudir o que não presta. Este Júdice é o dos negócios. Há sempre qualquer coisa por trás daquilo que ele diz."

Pois, sobre Marinho Pinto, amigo de ( e defendido por) Rodrigo Santiago, advogado de Coimbra e que foi da Casa Pia, poder-se-ia dizer o mesmo.

Por trás daquilo que Marinho Pinto diz sobre o Freeport e sobre o processo da Casa Pia, há sempre qualquer coisa. E que não conhecemos bem.
É por isso que a guerra de Marinho Pinto é uma guerra de trincheiras tipo Solnado. A fazer de conta.

É uma guerra de classe contra certa classe, apenas.

Questuber! Mais um escândalo!