Na entrevista, o pai, perguntado sobre a falta de uma "grande biografia sobre Salazar" alvitrou que ainda não chegou o tempo para tal. É uma opinião mas talvez fosse preferível fazer romances históricos sobre o tempo dos anos de Salazar, com mais matéria documental e testemunhal do que se aventurar no estudo de alfarrábios antigos já escritos por outros e com maior proximidade histórica ao objecto de estudo. Seria bem mais fácil do ponto de visto do rigor histórico. Ou não.
A propósito da descolonização Freitas do Amaral que é do tempo dela, afirma que Mário Soares teve muito pouca intervenção nesse processo. Diz que foi toda conduzida por militares "que fartos da guerra entregaram em vez de negociar".
Esta aleivosia histórica, este revisionismo bacoco de um catedrático de Direito, antigo governante, não deve passar em claro porque é uma ignomínia, além do mais.
Mário Soares foi um dos principais protagonistas de todo o processo de descolonização e tal começou ainda no tempo da sua oposição ao regime, como o denota esta passagem do Portugal Amordaçado:
Soares defendia então, em 1972 "o fim imediato às guerras coloniais, pela abertura de negociações políticas com os movimentos nacionalistas".
E foi o que fez imediatamente, logo que tomou conta, nos governos em que participou , da pasta da descolonização, da "coordenação inter-territorial", com os seus ajudantes mais próximos, Almeida Santos, Vasco Vieira de Almeida ( o advogado da VdA) e outros.
As suas entrevistas e discursos de 1974 não dizem outra coisa, como o mostram estes recortes do livro de Março de 1975, Mário Soares-Democratização e Descolonização, publicações d. quixote, colecção Participar.
Em entrevista à TV alemã, em Outubro de 1974:
Em entrevista a um jornal tunisino em Dezembro de 1974:
Em entrevista à Capital de 13 de Dezembro de 1974:
Em todas estas declarações públicas Mário Soares é inequívoco: quer descolonizar, entregar os territórios ultramarinos que eram "nossos" aos movimentos nacionalistas e o mais rápido possível e "negociar". Não foram os militares que lideraram tal processo, não foram os militares que conduziram as negociações nem foram os militares que tiveram logo estas ideias brilhantes malgrado o livro de Spínola e eventualmente as ideias de alguns liberais no governo de Marcello Caetano que já para aí apontavam. Tudo se consumou na pressa, no improviso, na falta de sentido de Estado, particularmente de Mário Soares e os seus ajudantes. Mário Soares foi até a figura de proa de toda esta gesta que envergonha os portugueses e fez revirar no túmulo as ossadas dos antepassados que "passaram ainda além da Taprobana". Um medíocre como estadista e um epicurista como pessoa que cativou hordas de apaniguados que agora lhe pagam os fretes pessoais e políticos.
As declarações avulsas de Mário Soares e dos responsáveis pelos governos provisórios, incluindo deslizes verbais de Spínola, conduziram rapidamente a este estado de coisas, como mostra a Flama de Julho de 1974:
O espírito que presidia a Mário Soares, desde há vários anos era efectivamente o da entrega dos territórios, após "negociações com os movimentos nacionalistas".
Como foram essas "negociações". Em Janeiro de 1975 apareceram todos os representantes dos "movimentos nacionalistas" no Algarve e reuniram-se no Alvor. Os negociadores estavam bem identificados:
Quem esteve lá, no final para assinar os acordos? É ver...
O que isto tudo, esta pressa toda em se cumprir o programa da esquerda socialista e comunista ( com a participação dos atoleimados militares do MFA)?
Deu isto que deveria ser previsível para qualquer homem de Estado que o fosse de verdade e soubesse História contemporânea em vez de politiquice para alcançar o poder:
Miséria para todo um povo ao longo de décadas e que ainda não terminou: mortes aos milhares e milhares e retornados em Portugal às centenas de milhar.
É esse o legado da brilhante obra de Mário Soares e dos seus ajudantes de campo nos ministérios da "coordenação inter-territorial".
Uma vergonha inominável, portanto e que este desgraçado Freitas do Amaral que foi apaniguado de Mário Soares, já no socialismo democrático da década de noventa e seguintes ( foi ministro de Sócrates...imagine-se! ) tristemente, agora procura branquear de modo incompreensível.