Quando Álvaro Cunhal morreu, há cerca de uma dúzia de anos, o panorama do funeral, segundo o Google ( com as palavras "Álvaro Cunhal funeral") foi este:
Quando Mário Soares morreu, há uns meses atrás, o mesmo panorama, segundo o Google, com as mesmas palavras, foi este:
Quando Salazar morreu, em Julho de 1970, o panorama segundo o Google e as mesmas palavras:
As diferenças são óbvias, mas a maior delas reside na circunstância de o cadáver dos mortos não ser mostrado sequer, no seu leito de morte, no caso daqueles dois defuntos, enquanto o de Salazar não só foi mostrado, como ficou em câmara ardente, velado como dantes se fazia com o ritual do Portugal antigo e que muitos ainda reconhecem.
A revista Século Ilustrado de 1 de Agosto de 1970 mostrava estas imagens que nos dias de 2005 e 2017 são já impossíveis de encontrar em funerais de figuras públicas como a daqueles referidos. A pergunta que resulta gritante é por isso esta: qual a razão verdadeira para se esconder relativamente àquelas duas figuras públicas o que se mostrou antes, em 1970?
Que semiótica para estas imagens? Sabendo que no tempo de 1970 o respeito às figuras do regime, mormente Salazar era obrigatório sob pena de Censura efectiva ( daí os casos apontados no livrinho do docente de Comunicação da Uni.Católica, abaixo mostrados) a publicação destas imagens só pode compreender-se no contexto social, cultural e de costumes de 1970. Era mesmo assim que os mortos se velavam e era assim que o povo português fazia. Salazar era uma pessoa do povo comum e parece-me tal coisa inegável. Os outros dois, simplesmente, não eram. Ou então o povo é outro...
Em menos de duas décadas Portugal modificou-se radicalmente nesse aspecto, mas não tenho a certeza que tenha sido para melhor, quanto a isso.
Porém, o que importa realçar, neste caso é mais simples e prosaico e poucos se dão conta: para interpretar o que se passava em 1970, do modo o faz o tal autor, Rosa, no livrinho apontado e com prefácio do Francisquinho do Expresso,( como dizia Marcello Caetano) é preciso compreender os factos e os fenómenos aferidos ao tempo em que ocorreram e não segundo os costumes, regras ou contextos de hoje.
Esquecer ou ignorar tal método é caminho directo para o erro, a desinformação e a manipulação ideológica. Ensinar do mesmo modo perverso é criminoso porque falsifica a História.