No tempo do fassismo, às vezes, era preciso ler coisas na imprensa estrangeira para saber novas de Portugal e do mundo em geral, mormente sobre o Leste comunista. A razão prática era a Censura em duplicado. A do regime que era Prévia e a do sistema mediático da imprensa da época quase toda enfeudada à esquerda, alguma dela comunista, como se viu logo nos dias a seguir ao 25 de Abril de 1974. Essas duas censuras cortaram muita informação que devia estar disponível. Uma acabou em 25 de Abril de 1974. A outra continua viva e actuante como se confirma por uma notícia de hoje e que abaixo se dá conta.
Dou um exemplo que vivi de perto: em Novembro de 1973 vi esta capa nos quiosques e como ansiava em arranjar um pretexto para comprar a Time que me parecia um luxo gráfico comparado com o que havia por cá ( Observador e Vida Mundial, eram as únicas que se lhe comparavam) esportulei 17$50 na Bertrand do Porto ( rua de Santo António, quem sobe para a Batalha) e trouxe o exemplar que ainda guardo. Este:
O pretexto foi a capa com Nixon e as suas desventuras no caso Watergate que terminariam no Verão do ano seguinte com o "impeachment", antecipado por uma demissão oportuna mas já em Novembro de 73 se falava nisso.
O arranjo gráfico, o papel lustroso e os temas davam gozo folhear. A páginas tantas aparece isto que não era anunciado:
A surpresa foi grande mas não evitou que pensasse que alguém nos queria mal e neste caso os americanos da Time e alguns patriotas lusos estavam apostados em denegrir o nosso país.
Os factos relatados e mais importantes ( sublinhados no texto) acompanhavam comentários do fundador do Expresso ( nesse ano, em Janeiro) e eram conhecidos e divulgados pela Oposição Democrática, nomeadamente no Congresso que efectuaram livremente em Aveiro.
A guerra no Ultramar consumia 35 a 40% do Orçamento de Estado, a emigração era elevada e "estávamos no fundo de qualquer indicador económico conhecido". Até países do Leste Europeu nos teriam ultrapassado, dizia Balsemão, o tal grande patriota do bolso fundo, não se dando conta do logro que o comunismo lhe impingira e ele engolira de bom grado, como muitos.
Não obstante estes factos conhecidos e divulgados em modo restrito ( não se fazia muito alarde nos jornais da nossa condição de pobres na Europa) eram do domínio público e quem queria saber, sabia. A oposição Democrática sabia e dizia-o, embora os jornais onde se exprimia ( quase todos, incluindo o tal Expresso) fossem submetidos a Censura que podava certas veleidades propagandísticas dos Regos do República ou dos Ruella Ramos do Diário de Lisboa.
A revista Observador, por seu turno mostrava um panorama diferente e mais consentâneo com a nossa realidade vivida no dia a dia. Em 1973 havia sinais de evolução económica muito positiva e que asseguradamente nos teria conduzido a um nível económico melhor e muito diferente da bancarrota de 1976, dali a meros três anos e já em Democracia ( et pour cause).
Em 25 de Fevereiro de 1974 voltei a comprar a Time por causa de uma capa: Soljenitsine foi o pretexto e já tinha ouvido falar por cá do escritor russo, perseguido pelos soviéticos comunistas. Porém, o que aqui se escrevia sobre a dissidência do mesmo e a propósito dos seus livros era muito suave e filtrado pelos censores da imprensa esquerdizante nacional, na época.
A Time contava a história a que por cá nem se dava assim tanta atenção ( o Expresso passou sobre o assunto como gata em telhado de zinco quente) e em 1975 o livro O Arquipélado Gulag teve divulgação quase nula e pelo contrário houve uma apreensão da edição do segundo volume, saído na Bertrand em 1977, às portas da tipografia, feita pelos trabalhadores comunistas da empresa e afins. O facto diz tudo dessa gente e da democracia que apregoam...
Tudo isto para introduzir o seguinte que é motivo de preocupação.
O jornal espanhol El Mundo publicou agora esta história sobre os incêndios do fim de semana passado, particularmente o ocorrido no Sábado à tardinha:
La mesa estaba puesta y así se quedó. El humo era lejanía. El sábado 17 de junio por la tarde los Lopes da Costa hablaban de lo cotidiano...
De lo precoz que era el pequeño Antonio, de seis años, jugador de rugby
en el equipo sub-8 de los Belenenses en Lisboa. Era el orgullo del
abuelo, el ingeniero Fausto. Como lo había sido antes su hijo Miguel,
hoy reputado abogado. Al pater familias le perdía también cada
jugueteo del chiquitín Joaquín, cuatro años, su otro nieto. Se llevaba
bien con Mafalda, la madre, una pujante arquitecta. Fausto estaba
pletórico tras reunir a buena parte de sus familias.
De rato en
rato, el septuagenario salía al jardín de rosas e invitaba a todo el
pueblo a venir a casa. Era día de fiesta. En la velada también estaba su
segunda esposa Lucília da Costa Simões. Con ella habían promovido la
integración de dos ramas familiares. Acudió también Fernando Rui, hijo
de Lucília, fruto de una unión previa, con su mujer y Luis Fernando, su
primogénito de cinco años. Los chiquitines corrían frenéticos, imparables, en plenitud.
Se preparaban para una opípara velada en el palacete, ubicado en la
calle que tiene el nombre del abuelo, el profesor Antonio Lopes da
Costa. Sonó el teléfono. Respondió Miguel. Y decidieron huir de Várzeas con lo puesto.
Era una llamada de Protección Civil. Le recomendaban que cogieran sus coches y desalojaran el área. Cogieron los tres vehículos que tenían en el garaje y se fueron raudos.
Los abuelos en uno. En otro, Miguel, Mafalda, Antonio y Joaquín. En el
tercero, Fernando con los suyos. Fueron en dirección a la carretera EN236.
El punto de encuentro adonde huyeron los pobladores de Pobrais, Várzeas
y Nodeirinho, equidistantes en ese orden. Como la residencia de los
Lopes da Costa quedaba cerca de la carretera, llegaron prestos al
infierno. Quedaron encerrados en una trampa de troncos quemados, de hojas que caían como luciérnagas mortales..
Eduardo,
su vecino, conoce a Fausto desde el colegio. Tiene la punta de la nariz
quemada, la camiseta manchada de tierra, está encorvado de cansancio.
Le enseñamos la foto familiar del hijo de Miguel, de unos amigos que le
buscaban por Facebook. Comprueba que es él, que estaba en la reunión.
"No sé qué más decir". Y desde su porche dirige la vista en dirección a
la casa de su ex compañero de clases. "Era mi amigo de toda la vida.
Siempre le gustó vivir aquí", dice. Don Fausto era querido en el pueblo.
Su familia había sido influyente desde que tienen memoria en la zona de
Pedrógão Grande, la villa matriz donde todo aconteció.
Este pormenor da notícia carece de explicação dos que mandam na Protecção Civil e que o Ministério Público pode e deve indagar:
Sonó el teléfono. Respondió Miguel. Y decidieron huir de Várzeas con lo puesto.
Era una llamada de Protección Civil. Le recomendaban que cogieran sus coches y desalojaran el área. Cogieron los tres vehículos que tenían en el garaje y se fueron raudos.
Los abuelos en uno. En otro, Miguel, Mafalda, Antonio y Joaquín. En el
tercero, Fernando con los suyos. Fueron en dirección a la carretera EN236.
El punto de encuentro adonde huyeron los pobladores de Pobrais, Várzeas
y Nodeirinho, equidistantes en ese orden. Como la residencia de los
Lopes da Costa quedaba cerca de la carretera, llegaron prestos al
infierno. Quedaron encerrados en una trampa de troncos quemados, de hojas que caían como luciérnagas mortales.
Até agora e que se saiba ninguém mencionou este facto que a ser verdadeiro é mesmo grave: foi a Protecção Civil quem enviou aquelas pessoas para a morte. Não foi a GNR na IC8 que cortou, ainda não se sabe a mando de quem e exactamente quando e porquê.
Tal como no passado distante, estas notícias e factos são conhecidos mas não de todos e têm que ser os jornais estrangeiros a contá-los...se não ficamos sem os conhecer.
O El Mundo vai ser o coveiro político do Costa? Assim seja, se for caso disso.