A revista Sábado tem hoje um editorial do seu director, Eduardo Dâmaso, pessoa que respeito e que se lamenta do estado do nosso jornalismo nas vendas que apresenta e portanto nos resultados económicos que o sustenta.
Eduardo Dâmaso apresenta os exemplos do jornalismo no New York Times, The Times e Le Monde como casos de sucesso nos tempos que correm e contrastam com outros, como é a situação dos media impressos, em Portugal. E menciona os esforços da revista Sábado para fugir à condenação da falência, económica e jornalística, afirmando que a revista é líder no sector. Também não admira, pois como concorrente tem apenas a Visão, eivada politicamente de um esquerdismo acéfalo e politicamente correcto que afasta potenciais clientes de outras áreas. A Visão é actualmente um rebento jornalístico nascido da incapacidade económica da Impresa de Balsemão o continuar a suportar e tem como dono com testa de ferro, desde 2018, um certo Delgado, subitamente enriquecido em confiança nas notícias ( TrustinNews). Vai acabar mal.
A empresa dona da Sábado é a Cofina que detém o Correio da Manhã que ainda hoje anuncia que é "líder no mercado nacional" e o maior nas vendas em "banca", termo brasileiro apropriado há décadas pelo jornalismo nacional.
A Cofina e os seus jornalistas descobriram uma fórmula, também vinda do Brasil, sobre um modo de fazer jornalismo com sucesso popular, traduzido em vendas: o sensacionalismo nas notícias. A publicitação, para além do desejável e até admissível, das tragédias humanas e dramas caseiros, sempre em primeira página com letras gordas a vermelho vivo de sangue, suor e lágrimas. A receita revelou-se tão prazenteira que outros media televisivos já a copiam desavergonhadamente, mormente a televisão do Mário Ferreira, TVI. A Sic segue já dentro de momentos.
A Sábado procura todas as semanas encontrar os temas de capa mais apelativos para levar os passantes a comprar e a ler. Esta semana é o Tony Carreira, coitado que tem...nada para dizer mas é entrevistado para captar o interesse de quem o gosta de ver e ouvir. Muitos milhares de pessoas, claro. Na semana passada foi o empresário Nabeiro que escapou ao PREC por um triz e por ser um pobre da terra tornado rico pela capacidade empreendedora. De vez em quando lá surge o Salazar para dar o picante antifassista da praxe e assim julga a Sábado manter-se à tona desta irrelevância noticiosa.
A Sábado transformou-se assim numa revista de variedades com conteúdo informativo híbrido, frequentemente nulo, destacando-se por vezes na informação de conteúdo judiciário com a participação dos jornalistas António José Vilela e o director Eduardo Dâmaso. E mesmo neste campo não se afasta do tom sensacionalista e quase sempre resultado de pesquisa em fontes judiciárias originais ou derivadas. Para se perceber a diferença entre este estilo e o que deveria ser, basta ler o último número da revista francesa Valeurs Actuelles sobre o caso Fillon e reparar que há todo um mundo de diferença entre o que é a reflexão séria e articulada sobre assuntos desse género e o estilo da Sábado. Tal diferença é resultado da formação intelectual de quem trata o assunto, obviamente. E a prova até aparece num artigo desta semana acerca de um caso anódino, relacionado com um processo crime de ofensas à integridade física, vindo de 2013, e que envolve "agentes desportivos" do Porto e do Benfica. Num camarote do estádio do Estoral terá havido uma agressão física, leve e reveladora de ânimos exaltados entre rivais. A notícia releva por um dos protagonistas ser um tal Adelino Caldeira, do Porto e que tentou escapar à condenação ( em multa...) através do costume: negar o facto e esperar que as testemunhas o ajudassem. Enfim, nada de especial, mas que é notícia para insinuar que no Porto há pessoas influentes que tentam minar o curso da justiça, influenciando e condicionando testemunhas. O artigo é de António José Vilela e é um dos exemplos deste jornalismo. No caso, do género Tal&Qual, de meia bola e força.
O Tal&Qual, aliás é jornal que compro actualmente por diversos motivos: tem notícias com interesse de sensação e sem o condimento trash da Cofina, (muito, aliás demasiado tributário do jornalismo perverso de uma Tânia Laranjo) e traz diversas informações sobre vários meandros da vida nacional que não aparecem em nenhum outro lado. É um jornal que merece ter sucesso, sendo despretensioso e leve. O Tal & Qual é o jornal que o Correio da Manhã imitou, para pior.
O Público, como jornal, é um caso à parte: tornou-se um projecto falhado desde praticamente o início, com prejuízos permanentes e sustentado pelo activismo estranho da SONAE, dirigida pelos filhos de um Belmiro que anunciou várias vezes que os prejuízos sistemáticos eram insustentáveis. Os filhos herdeiros do império da distribuição alimentar, fazem de conta que os lucros do Continente cobrem tudo porque os prejuízos do jornal são gota de água suportável pelo resto. O jornal é o ponta de lança do wokismo nacional, do politicamente correcto à esquerda e tal não incomoda e até convém aos tais filhos de um Belmiro que deve dar voltas na tumba.
Por outro lado, temos um empresário avulso noutras áreas, Marco Galinha, como proprietário da empresa Global Media, que engloba o Jornal de Notícias, a TSF e o Diário de Notícias, com resultados catastróficos em Setembro deste ano:
Para além desses há outro parvenu que agora reina no mercado televisivo enquanto durarem os dólares e é taxativo sobre o assunto:
Portanto quem manda na Media Capital é o Ferreira; quem manda na GlobalMedia é o Galinha e quem manda na Trustin News é alguém que domina a TrustinNews, ou seja quem lá pôs o dinheiro, os milhões. Quem é? O Delgado?! Balha-nos o deus dos pobrezinhos...
A Trustin News tem este "staff" aqui mostrado no sítio da empresa e com depoimentos de fé e esperança em "querer fazer mais e querer fazer melhor". Sim...e para quem? Para a sociedade portuguesa que ajudaram a "construir" deste os anos setenta, porque são os herdeiros do esquerdismo de O Jornal e associados? Pois terão o resultado do que fizeram e deitar-se-ão na cama que prepararam.
O decano é um velho advogado da Póvoa que ainda ajudou a antiga empresa Projornal a recolher a penates de uma falência inevitável antes do novo século: José Carlos Vasconcelos.
Perante este panorama, o que fazer? Dou a minha opinião, singela e despretensiosa num blog que também o procura ser, mas para isso tenho que escrever um postal separado, para contar como cheguei até aqui, ao ponto de ter pouca fé e quase nenhuma esperança nos media nacionais. Caridade, procuro ter, porque sei que há centenas ou milhares de pessoas no negócio dos media e que a maioria são apenas empregados, jornalistas que vêem com apreensão um futuro que não é radioso.
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