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domingo, abril 03, 2022

A ideia caquéctica da censura no Estado Novo

 Pacheco Pereira, na sua habitual avença no Público escreveu ontem estas baboseiras sobre a censura em Portugal:


A ideia é básica: a Censura durou 48 anos, "ininterruptamente" e foi algo insidioso que passou por "fazer" as cabeças, através de tempo, poder, proibições, ameaças, violências diversas, matilhas de vigilância, medo e antocensura". 

Tal como hoje, poderia e deveria acrescentar. Para tal basta ver como, quem e de que modo se exprimem hoje aas opiniões nos media correntes, incluindo e destacando aqueles onde o escriba tem assento avençado, como o Público.  

A prova? Um escrito como este que agora desenvolvo nunca poderia ser publicado ou publicitado aí. Desde logo porque seria entendido como insultuoso, anónimo e carroceiro. E depois, porque não há lugar a pensamento divergente daquele que o referido exprime e que passa por diabolizar o antigo regime através de ignomínias diversificadas e selectivas, com meias verdades factuais para esconder as mentiras habituais. 

Os exemplos dados, sobre as limitações noticiosas de acontecimentos estrangeiros, sem indicação de datas, contexto ou mesmo origem, são significativos. 

O "osso duro de roer dos saudosistas de Salazar e alguns neo-saudosistas (?!) actuais" é por isso um artefacto de plasticina, falsificado e de fancaria. É afinal um petisco que merece ser abocanhado e devolvido ao dono.  

Porquê? Por uma razão simples: uma boa parte dos exemplos, desgarrados e no caso sem contexto, são exemplos vazios uma vez que há contra-exemplos que os contrariam e desmentem. 

Não se dirá que não existia censura, uma vez que tal constitui uma evidência factual e formal. Nem se dirá que não houve cortes censórios de certas matérias, incluindo as elencadas. 

O que se diz é que a censura era moeda corrente nos países democráticos de então, nomeadamente na Inglaterra e França, mesmo sem comissões governamentais para o efeito. E as razões censórias não andavam muito longe das razões pelas quais o arbítrio da Comissão de Censura ou Exame Prévio por aqui se fazia sentir. E a Censura enquanto modo de limitar o conhecimento alheio de certas realidades é fenómeno perene e actual. 

E mais: agora a Censura é ainda mais perversa e insidiosa que antigamente. Porquê? Porque actualmente se censura por medo do patronato, dos que mandam, do medo de atentar contra o politicamente correcto e ser marginalizado, incluindo os avençadores dos escribas que debitam estas pérolas nos media. 

Dantes não havia tanto medo e isso parece-me indiscutível. Paradoxalmente quem se atrevia nas redacções a escrever o que sabia poder ser cortado pela Censura não temia os efeitos sobre a profissão e o ganha-pão. Actualmente, temem e Pacheco Pereira sabe disto muito bem. 

Logo, desvirtuar essas realidades, isolando o país do contexto da época e reflectindo tais idiossincrasias é falsificar e mentir. Fake news, portanto e em que Pacheco Pereira se especializou há muito tempo, apanhando o ridículo dos cortes arbitrários para arquitectar uma teoria geral da Censura em Portugal, separada do mundo civilizado de então. 

Escrever que "O Portugal que aparece nos cortes da censura não era o Portugal que existia. Esse, os portugueses não podiam conhecer" é da mais pura demagogia e mentira. 

Os portugueses  no Estado Novo conheciam e sabiam muito melhor a realidade do poder e adjacências mediáticas, do que hoje, apesar da Censura Prévia ou a posteriori. 

Actualmente é que são comidos com casca e tudo por quem escreve nos jornais, como Pacheco Pereira e isso parece-me indesmentível, pelas razões expostas. 

 Um pequeno exemplo deste antigo maoista que jurava pela roupa nova do imperador como hoje se lambuza com estas ignomínias constantes.

Há 50 anos A China de Mao entrou na ONU. É preciso dizer que na época, Mao e a China eram o paraíso terrestre para quem não acreditava em Deus. Daí os grupúsculos maoistas, como o MRPP e outros de que Pacheco Pereira fazia parte, devido a uma certa mentalidade sectária e irredutível na razoabilidade política que continuam a manter porque lhes é inerente. 

A revista Observador, um órgão informativo que era favorável ao regime de então,  com Marcello Caetano e apesar disso englobado nos "48 anos da longa noite fascista",  dava assim a notícia e 3 de Dezembro de 1971. Segundo a teoria arbitrária esta capa nem seria possível, nesse tempo:




Em Fevereiro de 1972 Nixon e Kissinger visitaram a China e foram recebidos por Mao, com penico ao pé. Aqui num artigo de 13.4.1998, num número especial da revista Time:


Nessa mesma altura de 1972 Pacheco Pereira, ainda imberbe assumia a postura que ficou para sempre: anafada e refastelada num espírito marxista caquéctico, mas sempre com penico aos pés:


No livro de João Céu Silva, de conversas com Vasco Pulido Valente, antes deste morrer, dizia assim sobre a Censura, desmentindo ipso facto aqueles sectários e falsificadores de informaçâo:

VPV é taxativo: "essa coisa de que o regime não deixava ler livros nem comunicar com o mundo é pura mentira". 
Aliás, os pais assinavam o L´Express e o Le Nouvel Observateur e recebiam a Time.  E quanto ao mencionado número da Time que de facto fora proibido, diz assim:
" Proibiu-se aquele número. E depois? E nem foi ele, mas um gajo qualquer: Ah, estão a dizer mal dele, proibe-se. Mas nunca se proibiu a Time que continuou na chegar cá a casa."





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