terça-feira, abril 06, 2021

A Censura no Estado Novo não era como se diz por aí

No DN de hoje:


 A história contada neste texto tem a ver com um livro agora publicado da autoria de um tal Rui Correia, sobre...Salazar, com foto na capa e chamariz adequado da editora Guerra & Paz que procura fazer render um peixe que já me parece podre.

Salazar tem sido usado pelos media, particularmente editoras, a fim de vilipendiar o seu nome e regime ao mesmo tempo que se procura mostrar algo que supostamente é novidade. 

No caso, o texto deste DN trata-se de uma aldrabice porque o autor foi buscar a história de um jornal que se publicava em português, nos EUA, que durou até 1974 e acompanhou a realidade da emigração portuguesa naquele país, durante mais de metade do século XX, desde 1919. 

O que terá espoletado o interesse do tal Rui Correia, apresentado como professor, foi uma cópia de um artigo desse jornal, publicado em New Bedford que se referia a um artigo da Time de 22 de Julho de 1946 e no qual um tal Percy Knaught vilipendiava o regime de Salazar apodando-o de corrupto e ditatorial, inspirado pelo fascismo de Mussolini e ainda se reprovava a neutralidade de Portugal durante a II GG. 

O jornal pegava naquilo e ainda carregava nas tintas. O "professor" ao ler aquilo achou que era impossível um artigo daqueles sair no Portugal de 1946, um ano depois do fim da guerra, tanto mais que o correspondente da Time em Portugal tinha sido corrido de cá por indecente e má figura, pelo regime.

Isto traz à colação a questão da Censura em Portugal ( e noutros países, incluindo os EUA da época em relação ao comunismo, é bom que se diga e que começoulogo nesse ano de 1946 e veio a dar no McCarthysmo dos anos 50) 

Qual foi o número da Time que tal efeito provocou no "professor" leitor do diário de notícias de New Bedford com cheiro a papel velho?  

Este,  no qual o MUD, uma  organização para efeitos eleitorais que integrava comunistas, é apresentada como uma associação democrática, sem mais:












O tal MUD que pretendia concorrer às eleições de 1946 foi proibido por Salazar por integrar comunistas ( Mário Soares era então um deles, tal como Piteira Santos, Cândida Ventura ou Octávio Pato. O PS só apareceu como tal nos anos setenta). 
A história do MUD nessa altura é contada por VPV no livro abaixo mencionado. 




E quanto à Censura da época a história também é outra, segundo VPV: toda a gente que queria ler um livro que poderia ser proibido, lia. Bastava encomendar no sítio habitual, a Barata. 






VPV é taxativo: "essa coisa de que o regime não deixava ler livros nem comunicar com o mundo é pura mentira". 
Aliás, os pais assinavam o L´Express e o Le Nouvel Observateur e recebiam a Time.  E quanto ao mencionado número da Time que de facto fora proibido, diz assim:
" Proibiu-se aquele número. E depois? E nem foi ele, mas um gajo qualquer: Ah, estão a dizer mal dele, proibe-se. Mas nunca se proibiu a Time que continuou na chegar cá a casa."

Ora o que é que este professor Rui Correia diz no texto do actual DN?  Diz que por causa desse número a revista Time "foi então proibida em Portugal". Falso, segundo VPV que viveu esse tempo.

E o "professor" ficou tão entusiasmado com esse artigo a vilipendiar Salazar, do jornal da comunidade portuguesa de New Bedford, dos anos quarenta e logo a seguir à guerra que decidiu escrever o livro que a Guerra & Paz patrocina editorialmente, mesmo com falsidades. 

Por mim, seria talvez mais interessante perscrutar como é que esse jornalito local se deu com o McCarthysmo que surgiu logo depois...e comparar a democracia americana desse tempo com a "feroz ditadura" de Salazar dessa mesma altura. E saber como é que esse tal jornal se dava com isso...porque afinal segundo o mesmo " na América, um fervilhante activismo político ganhava corpo através de jornalistas, políticos e mesmo ministros que ali escapavam à polícia política portuguesa". supostamente o horror dos horrores. 

Enfim, VPV mais uma vez sobre tal polícia horrorosa. VPV viveu na pela tal coisa porque chegou a estar preso por ter dado um safanão a um deles...




A PIDE aparece retratada de modo diferente do que aquele "professor" pretende mostrar...enfim, é preciso perguntar onde é que este professor aprendeu e se formou e quem foram os seus professores que não lhe ensinaram o básico dos básicos para escrever um livro de história: ser verdadeiro com os factos conhecidos, mas para tal torna-se necessário saber e conhecê-los. 

É não será certamente o jornal de New Bedford animado por alguém que se opunha a Salazar do outro lado do Atlântico que o iria elucidar sobre tais fenómenos. 

Uma tristeza. Mais uma. 

Portugal nos anos 50, nesse período tinha quiosques assim, em Lisboa ( livro de Joaquim Vieira): A Time não aparece, com visibilidade, mas estão lá muitas americanas...



Sem comentários:

25 de Abril: a alegria desolada