segunda-feira, abril 12, 2021

Morreu o Professor Soares Martinez

 Pedro Soares Martinez, professor de Direito na FDUL morreu, segundo se anuncia, aos 95 anos. Era uma pessoa de direita, conservador, católico e durante décadas foi professor de Direito em Lisboa e também governante no tempo de Salazar. 

Nos últimos anos escrevia artigos no jornal O Diabo que me levavam frequentemente a comprar o jornal, só por causa disso.

No passado dia 26 de Março, certamente adivinhando o desfecho que agora se anuncia, o jornal tinha prestado a homenagem devida, assim:


Era obviamente anti-comunista e um dos artigos que guardei é este de 3 de Julho de 2007, sobre Marx e o marxismo: 



Enquanto professor de Direito, Soares Martinez tinha fama de muito exigente, de tal modo que o cronista Sousa Tavares, há muitos anos escreveu um artigo ignominioso contra o mesmo professor chamando-lhe "professor Chumbinho" e outros mimos ( fascista, naturalmente, "pide Martinez", também) , o qual mereceu resposta desenvolvida do mesmo, numa página inteira e em letra miudinha que tenho por aqui mas não encontrei para este efeito.
[ E procurando melhor acabei por encontrar. Vinha no Independente de 28 de Abril de 1995...e é da autoria de Laurinda Alves, segundo julgo, então  mulher de Sousa Tavares, embora não tenha o artigo de que este é a resposta, mas infere-se o sentido]:



Em 1984 Soares Martinez deu a sua visão do fim do regime anterior numa edição do Semanário,  por ocasião dos dez anos do 25 de Abril. Assim:


Mais recentemente Soares Martinez tentava explicar diversos fenómenos da vida portuguesa, tais como a crise do certos bancos, como o BES sobre o que escrevi aqui o seguinte: Soares Martinez não menciona o BES nem é preciso. Toda a gente entende quando escreve que " quando os governantes são de mãos limpas, também os banqueiros têm dificuldade em sujar as deles".

Também escreveu sobre a escravatura a propósito da histeria dos novos historiadores revisionistas do descolonialismo. 

Também sobre o sistema das leis e a Justiça, particularmente sobre este aspecto: 


 E sobre a "direita" portuguesa que deixou de existir...depois de nunca ter existido. 


Soares Martinez era uma pessoa que tinha valores ancorados num passado que nos faz falta lembrar. Mais não seja para sabermos como era...

ADITAMENTO:
No Público de 13.4.2021 há este artigo de página, obituário, assinado por jornalista: 


No artigo repetem-se alguns pretensos factos que compõem o florilégio mitológico do professor Martínez, designadamente do modo como "chumbava" alunos. 
A autora do artigo cita depoimentos de "antigos alunos" sem os identificar ficando assim por saber se as informações correspondem à verdade factual, mesmo a inventada. 

Sobre alguns desses "factos", mormente o relativo à responsabilidade do professor " o salazarista, o homem que deixou entrar os gorilas na FDUL", com a palavra gorilas sem quaisquer aspas,  pressupondo que se está a falar de primatas, símios, já o professor Martínez tinha respondido no artigo do Independente de 28.4.1995 a invectivas semelhantes, com uma pequena frase: " Enquanto dirigi a FDUL nunca a polícia lá entrou". Pressupondo que os símios em causa, primatas, serão da polícia, ficou respondido embora a palavra de uma ou de outro tenha valor diverso. Por isso será necessário apurar factualmente e com documentação ou testemunhos credíveis o que realmente aconteceu. Escrever que foi o professor a deixar entrar os tais gorilas na FDUL é próprio de quê? De escrita de galinha depenada, é o que é.

Sobre o afastamento da universidade do referido professor a autora do artigo também escreve que o mesmo " a 25 de Abril de 1974 o director Soares Martinez é imediatamente saneado" e só regressa depois de uma comissão de Reestruturação ter decidido reintegrar todos os professores afastados naquelas circunstâncias.  
O que diz o professor sobre isto? Que fora afastado com "despacho de demissão", sem mais. De facto foi mesmo "imediatamente" e portanto sem qualquer resquício de legalidade a não ser a revolucionária que a autora do artigo deve entender como suficiente para afastar um "salazarista".  E mais: o professor confiou então que em Lisboa também haveria juízes de Berlim, como houve e por isso foi reintegrado. A alusão é simples e a autora deveria saber do que se trata. 
Finalmente sobre o "terror" da FDUL, o professor apresentou estatísticas: só chumbou até 3 de Março de 1995, 38 alunos de um universo de várias centenas e aprovou 163. 
Enfim, para este jornalismo de algibeira os factos são como as cerejas, vêm sempre uns atrás dos outros só que muitos estão murchos ou podres...

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