Este escrito no Público de hoje de Maria José Fernandes que assina como "Procuradora-Geral Adjunta", juntando inexplicavelmente a profissão para dar relevo a um escrito ou se calhar para atestar idoneidade ou crédito que inexistiria sem tal, é, na ausência de outros epítetos mais adequados, vergonhoso, no meu entender e passo a explicar porquê depois de o mostrar.
Em primeiro lugar o artigo é mistificador. O que se passou "sob o manto de poder da Igreja Católica por alguns membros do seu clero e ordens religiosas" no capítulo de abusos sexuais de crianças é algo que merece esclarecimento para não se identificar imediatamente o "poder da Igreja Católica" com tais práticas sexuais abusivas e criminosas.
É necessário entender, explicar e não mistificar o contexto em que tais práticas podem ter ocorrido e qual a relação com o "poder da Igreja Católica".
Talvez um estudo de wiki, para não ir mais longe, poderá contextualizar o problema. Essencialmente o contexto dos abusos ocorreu no âmbito de instituições de ensino religiosas, neste caso da Igreja Católica. O número de abusos relatado e elencado, relativamente ao número e quantidade de estabelecimentos de ensino do género em todo o mundo é o que é. Quem quiser que leia e faça a correlação e o seu juízo. Como sabemos desde o caso Casa Pia, os abusos sexuais de menores em estabelecimentos de ensino não são exclusivo dos colégios católicos. Cadê os outros, por isso mesmo?
A hierarquia da Igreja Católica, perante a denúncia dos escândalos e abusos sexuais, nos anos mais recentes dos últimos vinte anos, época em que surgiram e sempre associados ao "poder da Igreja Católica" reagiu timidamente e depois assumiu que deveria enfrentar o problema, actuando como sempre actuou a hierarquia da Igreja Católica, ao longo de dois milénios: se não os podes vencer, junta-te a eles.
Mero instinto de sobrevivência, parece-me. A hipocrisia suave é a forma de governo e regeneração da Igreja Católica. Aliás é no próprio Evangelho (de S. Mateus) que encontra acolhimento tal ideia violenta e tal encontra-se facilmente na NET:
Se o teu irmão te ofender, repreende-o; e, se ele se arrepender, perdoa-lhe. Se te ofender sete vezes ao dia e sete vezes te vier dizer: 'Arrependo-me', perdoa-lhe.»
Até aparecerem os escândalos, a Igreja Católica não reage e actua como sempre soube fazer: com o senso comum e a ideia de caridade que é real e é o que me faz gostar da Igreja Católica, porque é a virtude que mais aprecio das que são chamadas Teologais. A Caridade, para mim, é a essência da Igreja Católica e por isso não preciso do socialismo jacobino e maçónico para aprender o amor aos outros. É a ideia central do catolicismo e o "mandamento novo" de Jesus Cristo: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos, por amor de Deus.
Aliás, tenho para mim que a cruzada recente, contra a Igreja Católica por causa destes escândalos reais tem a mãozinha desta gente que da Caridade entende apenas o justicialismo interessado em minar a Fé que é outra virtude teologal. Para um católico isto é a mão do Diabo, simplesmente.
Por uma razão singela: sempre que estes escândalos atingem outras instituições, mormente a Família que é exactamente onde os mesmos são mais frequentes, horrorosos, perenes e mortais, como pecados, ou noutras instituições, mesmo do Estado, a indignação e o escândalo esbatem-se como contexto e abafam-se as responsabilidades, passando a individuais, em vez de colectivas, como é o caso que as pessoas que escrevem artigos como o supra pretendem: colectivizar uma responsabilidade, corporizando-a numa instituição, em modo abertamente jacobino.
A hierarquia católica, perante os "ventos da História" que se manifestam em forma de ideia de violência, não hostiliza com qualquer violência de ideias porque prefere aquele modo de actuar, adaptando-se e deixando passar a maré. É o que o papa Francisco, muito celebrado por jacobinos e maçónicos, anda a fazer: tentar aplacar tais ventos com medidas que tentam conciliar a Caridade com a Justiça terrena e movida pelo jacobinismo.
É nesse contexto que se compreende o que vem escrito aqui, na Wiki, sobre o assunto:
Face às crescentes denúncias e aos escândalos descobertos, o cardeal português José Saraiva Martins, a propósito do caso do padre norte-americano Lawrence Murphy, afirmou que "não devemos estar muito escandalizados se alguns bispos sabiam dos casos, mas mantiveram segredo. É isso que acontece em qualquer família, não se lava roupa suja em público", acrescentando que, na sua opinião, as denúncias que vêm ocorrendo derivam de interesse financeiro e que são parte de um complô contra a Igreja.[89][90] O jornalista Ferreira Fernandes comenta que "a questão não é a casa da Igreja ter pedófilos - é um pecado de que nenhuma família está livre. O problema é eles, conhecidos, não terem sido expulsos." [91]
Contrariando o tom do cardeal Saraiva Martins, o Papa Bento XVI (J. Ratzinger) escreveu, em Março de 2010, uma carta pastoral condenando mais uma vez a pedofilia, que já era condenada pela doutrina católica. Nesta carta, o Papa Bento XVI, que foi acusado de encobrir vários casos de padres pedófilos, expressou a sua profunda "vergonha" pelos crimes de pedofilia cometidos pelos clérigos católicos, "pediu desculpa às vítimas" e disse ainda "que os culpados devem responder “diante de Deus e dos tribunais”". O Papa ainda "“assinalou erros graves de julgamento e falhas de liderança”" dentro da Igreja e pediu a continuação dos "“esforços para remediar os erros passados e prevenir situações idênticas através do direito canónico e da cooperação com as autoridades civis”".[92][93]
O cardeal Saraiva Martins mostra o que é a verdadeira Igreja Católica ao dizer: "não devemos estar muito escandalizados se alguns bispos sabiam dos casos, mas mantiveram segredo. É isso que acontece em qualquer família, não se lava roupa suja em público", acrescentando que, na sua opinião, as denúncias que vêm ocorrendo derivam de interesse financeiro e que são parte de um complô contra a Igreja."
A reacção da hierarquia da Igreja, já no tempo de Bento XVI mostra o que a Igreja faz sempre nestes casos: adaptar-se e sobreviver como tem acontecido de há dois milénios para cá. E vai continuar a ser, enquanto o poder jacobino e anti-clerical for dominante, como é e se revela em escritos como o apontado, mesmo sem intenção deliberada.
Portanto, em conclusão: perante os números, factos e escândalos, mesmo os agora relatados em Portugal a quem estas considerações também se aplicam, não há nenhuma submersão de manhã alguma. Há uma regeneração da Igreja Católica, actuando como sempre actuou a hierarquia: com uma sabedoria de suavidade hipócrita.
Quanto a mim, prefiro mesmo o entendimento do Cardeal Saraiva Martins, porque também no Evangelho há palavras sobre os hipócritas: "sepulcros caiados", é assim que aparece a definição que deles faz Jesus Cristo. Fariseus, também. A mim enojam-me mais do que qualquer outra coisa e nas hierarquias de todos os quadrantes é o que mais há, precisamente por causa do instinto de sobrevivência e da cobardia. De resto há quem não compreenda isto e escreva da maneira que se lê.
Quanto ao resto do escrito, sobre o fenómeno literário que procurou mostrar o ambiente dos seminários e também colégios jesuitas, ainda é mais lamentável.
Trazer à liça o caso dos seminários tais como descritos por Vergílio Ferreira ou Eça de Queirós é incorrer noutra pecha muito comum: falar de assuntos que não se conhecem a não ser de cor e por via literária.
Falar dos seminários da primeira metade do século XX, apontando-os como sítios de horror e lugares de "domínio psicológico" reclamando fogueira psicológica e inquisição nova para que se faça "o historial desta forma de violência" ou mesmo a revisitação desse passado, para "promover um módico de reparação às vítimas, pedindo-lhes desculpa" é o mesmo que assumir uma filosofia "woke", nada mais para dizer o menos que me apetecia dizer e só uma amizade profissional me impede de o fazer.
Não entender a educação ou mesmo o funcionamento da sociedade da primeira metade do século XX em Portugal que evidentemente se reflectia na educação e disciplina ministrada nesses estabelecimentos de ensino e formação religiosa é grave e denota uma carência séria de entendimento de realidades que espanta vindo de quem vem.
Não perceber como é que se educava nessa altura que durou até uns bem entrados anos oitenta, em Portugal, na família, na escola e na igreja é a meu ver mais grave do que reclamar medidas "woke" ao som da moda do momento.
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