O Público de ontem trazia esta capa bizarra, com um cineasta suíço, afrancesado e que anos 60-70 encantou uma certa intelligentsia nacional da "cultura". O Belmiro falecido deve dar voltas e voltas na tumba, por causa destas capas e assuntos, mas enfim, a família herdeira gasta o dinheiro como bem entende.
As razões para esta capa do Público? Inconfessáveis, dado os artigos e obituários, copiados essencialmente da wikipedia ou similares e medíocres por natureza no que interessava: mostrar a razão pela qual Godard ainda poderia interessar actualmente.
Digo já a razão, a meu ver, por que o Público dá tamanha importância a este cineasta: o jornal transformou-se num cóio de esquerdismo radical...quer ser o Libération nacional sem a qualidade mínima para tal.
No ano de 1973 surgiu nos escaparates uma revista com um título antigo- Cinéfilo- que por isso mesmo dava grande importância a tal arte. Afinal o seu director, Fernando Lopes e redactor principal, António-Pedro Vasconcelos, também queriam ser cineastas e até chegaram a fazer filmes. Enfim, ainda havia algum dinheiro para estourar com estes cineastas...imitarem os dos Cahiers du Cinéma, revista francesa que liam avidamente e copiavam quanto podiam.
Tal como quase todos os críticos, uns frustrados da arte respectiva, dedicaram muitos números da efémera revista que durou até pouco depois do 25 de Abril de 1974, em ritmo semanal, ao assunto dos filmes, particularmente da escola francesas, os que liam regularmente nos
Cahiers du Cinéma que aliás
ainda existe e que
deu guarida a Godard antes deste se tornar cineasta.
A foto é daqui.
Conforme se informa nos artigos supra, a revista no final dos anos sessenta e início dos setenta teve uma vertente que a meu ver, justifica a capa do Público de ontem: o esquerdismo radical.
O Cinéfilo que começou a publicar-se em Outubro de 1973, retomando o título do início do século, era assim, já entusiasmadíssimos com a tal "Nouvelle Vague", publicitada pelos Cahiers de antanho:
Cinéfilo nº 2, 17 de Outubro de 1973, com os nomes "consagrados" e Godard em evidência:
Para ver como já iam atrasadíssimos para apanhar o sonhado combóio, é ler uma entrevista na Cinéfilo de 1.11.1973 a um dos conhecedores mais importantes da cinematografia francesa e não só,
Cinéfilo de 3 de Janeiro de 1974 com uma das figuras mais celebradas por estes nostálgicos da Nouvelle Vague que também fizeram filmes por cá ( vi o A Matança do Porco de Fernando Lopes, em tempos já muito recuadas a décadas, na televisão e até gostei...). Bergman era o supra-sumo para estas pessoas. Fartava-me de ler encómios a eito sobre os filmes deste indivíduo, com as fotos dos cartazes enigmáticas, como Máscara ou Lágrimas e Suspiros e quando os vi, fiquei com um misto de curiosidade e perplexidade acerca dos motivos dos encómios:
Truffaut era outro dos endeusados e quando vi A Noite Americana fiquei igualmente com tal impressão: afinal é isto?! Calei-me para não dar parte de ignorante, mas não me passou a perplexidade.
Em 16 de Fevereiro de 1974 continuava a perplexidade com estas indicações " a não perder!"
Não sei quem ainda hoje aprecia os filmes de Godard como obras-primas. Sei que o MEC escreveu isto ontem no Público, fazendo-me lembrar imediatamente os tempos heróicos em que lia o NME com cinco anos de idade e apreciava illico a música dos Beatles que ouvia na época...
Quanto ao Público e razões que só coração conhece, parecem-me estas, tiradas da Wikipedia onde foram beber informações para escreverem os artigos no jornal de ontem:
E depois há
este artigo do papa negro da extrema-esquerda portuguesa e que pela certa lia os cinéfilos todos do tempo da outra senhora:
É por aqui que se ficam a conhecer as razões da capa do Público porque ficam claríssimas...
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