Há 50 anos, no início de 1972 comecei a comprar o Tintin e logo no primeiro número, de 19 de Fevereiro desse ano, aprendia-se que a banda desenhada podia ser educativa, o que era um óptimo álibi para ler sem complexos revistas de quadradinhos.
Não era no entanto esse o objectivo que me fez comprar a revista, mas simplesmente a vontade de evasão, de ler aventuras, neste caso desenhadas pelos melhores artistas da escola franco-belga que ainda nem conhecia.
Talvez a historieta que me fez comprar a revista que então custava 7$50 foi a de Tanguy e Laverdure, desenhadas por Jijé, um mestre já veterano que influenciou novos artistas dessa geração de 70, como um certo Jean Giraud ou um Hermann e cujos episódios também passavam na tv a preto e branco como Os Cavaleiros do Céu, aventuras em aviões de caça e actores reais.
Não obstante, logo nas primeiras páginas outras aventuras me suscitaram curiosidade e atenção, de tal modo que na semana seguinte voltei a comprar a revista para seguir as séries que já me impressionavam e eram estas:
O Cavaleiro Ardent, com o tempo tornou-se uma das séries que mais apreciava. Desenhada por François Craenhals dedicava-se a glosar temas medievais, do tempo da mítica Távola redonda.
De igual modo as aventuras de Tintin na América, um dos primeiros álbuns da dupla binómio homem-cão, ia já adiantada e a versão era já diferente da original, mais trabalhada graficamente e mais aperfeiçoada, como outras dessa época e redesenhada por colaboradores de Hergé, como Jacques Martin e Bob De Moor. Originalmente tinha já sido publicada em Portugal em 1956, no Cavaleiro Andante de Adolfo Simões Müller e era então Tintin na América do Norte.
Nesse primeiro número outra série que me captou imediatamente a atenção era a de Bruno Brazil, no episódio Olhos sem rosto, publicada originalmente entre os finais de 1969 e os início dos anos setenta.
Bruno Brazil passou a ser uma das minhas séries preferidas, de aventuras. As melhores ainda estavam para vir, já nesse ano. O desenho rigoroso de William Vance permanece até hoje como fantástico e noutras séries a que o mesmo deu traço.
A revista nesse primeiro número prometia já outras séries que me ficaram na memória e no apreço, até hoje.
Uma das historietas que aparecia e que estava prestes a terminar, por ser curta mas mesmo assim excelente, era A Passageira, desenhada por Hermann, da série Bernard Prince, aliás uma das que me foi dado apreciar mais, nessa altura e nos anos a seguir.
Nas semanas e meses seguintes de 1972 apareceram algumas séries de aventuras memoráveis e que ficaram para sempre como referência da excelência em banda desenhada.
Em 5 de Março de 1972 apareceu a história publicada durante semanas numa das primeiras páginas da revista, glosando o tema da colonização inglesa das terras indianas. O exotismo dos cenários e da própria historieta tornavam a sua leitura indispensável.
Na edição de 1 de Abril de 1972 surgiu então a melhor historieta, para mim e na época: As aventuras de Lefranc, o jornalista tornado investigador ad hoc de acontecimentos extraordinários numa localidade do interior da França. A mochila e as imagens de alpinismo tornavam-se irresistíveis para sonhar aventuras.
O desenho, realista, de Jacques Martin ( que viria a desenhar Alix, também aparecido nesse ano no Tintin, mas com menos interesse para mim) era também fantástico e é pena que tenha desenhado poucas historietas da série. Contudo, A Toca do Lobo é uma das melhores, a par da Grande Ameaça,também publicada na revista.As outras séries, também novas, eram Cobalt, com a personagem que usava um casaco safari de quatro bolsos que viriam a ser modo dali a pouco.
Outra o já conhecido Martin Milan, com uma historieta de cores vibrantes e mais brilhantes do que na edição nacional.
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