Quem o dizia era António Victorino de Almeida, numa entrevista à revista R&T de 18 de Agosto de 1973, a propósito do modo de fazer programas de televisão e transmitir mensagens mediáticas. E acrescentava que a tv "servia para estabelecer uma comunicação de pessoa para pessoas, de opinião para opiniões e de sensibilidade para sensibilidades".
António Victorino de Almeida há 50 anos era uma estrela de televisão, em Portugal. E merecidamente, porque tinha começado no ano anterior uma série de programas que se estenderam pelos anos vindouros, sobre a música em geral e a erudita em particular.
O primeiro programa chamava-se Histórias da Música e estreara-se em 1972 e foi um sucesso, tanto mais que António Victorino de Almeida era figura que já era conhecida desde o Festival de Vilar de Mouros de 1971.
O programa de tv era uma pedrada no charco da tv que então havia no capítulo da divulgação cultural, neste caso musical.
Tinha um modo diferente de realização, de produção e era muito apelativo no estilo. Tudo o que o programa "Mythos" de que agora se fala, a meu ver não tem.
Em Junho de 1973 tinha acabado de comprar esta revista no quiosque habitual, uma loja de esquina:
Vi nessa altura o maestro e compositor na rua e interpelei-o para lhe dizer que gostava dos seus programas de televisão, pedindo-lhe um autógrafo ao que o mesmo solicitamente acedeu. E está aqui a prova, numa contracapa da revista e é um dos poucos autógrafos que alguma vez pedi na vida ( o outro é de António Pinho da Banda do Casaco) :
António Victorino de Almeida explicou em tempos ( 2010, na sua autobiografia) como realizou tais programas, cerca de 70 ao longo dos anos e com nomes distintos ( Histórias da Música, Tema e Variações, A Música e o Silêncio).
Essencialmente estava em Viena há alguns anos, tendo uma bolsa da Gulbenkian e chegou a Adido Cultural, na Embaixada e um posto à medida, uma vez que era amigo do embaixador e fazia já divulgação cultural. A RTP veio a seguir. Deste modo:
António Victorino de Almeida foi verdadeiramente um precursor dos programas de tv culturalmente evoluídos e com sucesso de audiências como agora se fiz.
Ainda hoje se poderia aprender com os seus programas como fazer tais coisas, sem se tornarem aborrecidas para quem vê...
ADITAMENTO:
Há 50 anos, no final de 1973 o programa mereceu as maiores referências elogiosas, da crítica de tv em Portugal, praticamente assegurada por pessoas da esquerda, incluindo comunista, como se pode ler na revista R&T de 5.1.1974:
O fenómeno é tanto mais interessante quanto a circunstância de o lugar de Adido Cultural na embaixada de Portugal em Viena ter sido criado para o destinatário, por alguém muito bem relacionado com os sectores da oposição ao regime em Portugal, incluindo o aludido embaixador, Guilherme Castilho, tido pelo autor como "um homem com ideias políticas muito próximas do socialismo" e por isso destacado para Viena, "uma espécie de gaiola dourada para os diplomatas portugueses que decididamente não fossem da confiança do governo de então".
No Governo de então estava Rui Patrício, ministro, primo do autor e pessoa que o próprio assegurava ser sua característica, desde pequeno, "nunca fazer batota".
Assim, por aqui se pode ver como eram as coisas políticas no tempo que passado cerca de um ano passou a ser designado como "fascismo", incluindo pelo autor...
SEGUNDO ADITAMENTO:
A propósito do conhecimento de pessoas do regime e oposição, antes de 25 de Abril de 1974, torna-se curioso mostrar aqui a crítica a um programa de televisão, no início dos anos setenta, feito por um antigo ministro de Salazar e com uma crítica de um comunista, no DL de 2.1.1972:
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