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quinta-feira, abril 20, 2023

João Abel Manta, o comunista talentoso

 João Abel Manta é figura artística que por aqui foi já glosada e amparada em elogios sem reservas, algumas vezes. Antes de figura artística foi artista engagé no comunismo soviético, estalinista e monolítico. 

Sem remédio e apenas remediado no aproveitamento de um imenso talento artístico aplicado a zurzir o inimigo feito figura de gente no salazarismo e com ódio de estimação centrado na sua figura principal, ligeiramente transformado depois em associações livres ao "fassismo" e outras correntes que foram sempre inimigas do comunismo. 

Pouco ou nada há na obra artística dos cartoons de João Abel Manta, para além de tal temática, mostrando bem o grau de sectarismo ideológico que o animou durante décadas. 

Nos respectivos cartoons e desenhos avulsos perpassa todo o catálogo da ideologia marxista, da luta de classes e do ódio a uma burguesia estilizada, a par de uma sacralização mitificadora de uma classe trabalhadora imaginada e despojada da realidade mais comezinha. 

Ideologicamente a obra de João Abel Manta é uma fraude porque é o retrato do sectarismo e da intolerância totalitária. Artisticamente é  simplesmente genial porque representa um domínio do traço só comparável aos melhores cartoonistas mundiais, americanos em particular. 

 Vale a pena por isso mostrar uma reedição recentíssima de alguns desenhos e cartoons publicados originalmente numa obra editada pelo O Jornal, em finais de 1975 e que se intitulava simplesmente João Abel Manta Cartoons 1969- 1975

A obra agora publicada pela Tinta da China contém um arranjo diverso daquela obra original e acrescenta muitos outros desenhos e cartoons posteriores a tal data porque se estende até 1992. 

A obra original era esta:




Foi anunciada assim no O Jornal de 5 de Dezembro de 1975, preparando os eventuais compradores para a quadra de Natal. Lembro-me de o ver exposto no escaparate das livrarias e achar demasiado caro ( 250$00, cinco vezes o valor de uma Rock & Folk).


Tinha um prefácio do escritor José Cardoso Pires, um compagnon de route do comunismo, associado à oposição como "frente unida", aliás como eram os que editavam O Jornal, em 1975. 
No postal anterior em artigo da revista Observador de Abril de 1973 dava-se conta das contradições desta "frente unida" contra o regime anterior e que aliás nunca se entenderam entre si, desabando fragorosamente no PREC de 1975, mas continuando a ilusão mitificadora da luta contra o fassismo, a burguesia ou o raio que os parta e que acabou por nos partir a todos por causa da mesma desgraçada utopia de sempre, vinda do antepassado comum, Jean-Jacques Rousseau. 




A reedição actual tem esta capa, com uma cor ligeiramente desafinada e um "pano" um pouco maior, em altura ( mais 4 cm do que o original). O papel é idêntico, talvez com uma pequeníssima diferença de gramagem, para melhor na reedição:


O prefácio explica a mudança:


As diferenças fundamentais também se notam e na verdade, como uma boa reedição, para melhor, como é o caso deste cartoon, publicado primeiro na versão original e depois na reedição:



Em Maio de 1975 o autor aparece a desenhar na rua um dos símbolos da luta contra o capitalismo e a burguesia...figurando assim na capa do O Jornal, primeira edição de 2 de Maio desse ano:


Quanto a cartoons que mostram a mistificação, é fácil de evidenciar porque são tantos que até dói a ver...








ADITAMENTO a tempo:

A reedição agora publicada pela Tinta da China é da autoria de Pedro Piedade Marques que em 2016 já tinha efectuado uma contribuição para o Público, numa pequena colecção de livrinhos dedicados aos designers portugueses, neste caso com uma pequena amostra em 95 páginas da vida e obra de J.A.Manta, incluindo algumas imagens que não constam do livro agora editado ( por exemplo grafismos para capas de livros):


 Por outro lado, em 1978 as mesmas edições do O Jornal tinham também publicado outro volume com dimensões e aspecto semelhante ao de 1975, um pouco mais luxuoso na apresentação "encadernada" numa embalagem de cartão grosso.


Alguns dos cartoons aí publicados merecem destaque pelas mesmas razões dos anteriores: são compêndios de sectarismo e intolerância que nem democrática pode chamar-se porque JAM nunca foi democrata ao modo ocidental. 
Ainda assim avulta em alguns casos, algo que transcende tal defeito, na edição de 1978:




Como desenhos preparatórios desta sequência a nova edição da Tinta da China publica isto que merece destaque:





A visão do mundo de JAM resume-se a isto, publicado em poster no primeiro número de O Jornal, de 2 de Maio de 1975. Está aqui toda a sua filosofia:


Quem quiser que a compre...pois adquirirá a miséria correspondente. 
Quanto ao livro reeditado e acrescentado vale a pena comprar, a mais não ser para se compreender isto e o mal que nos fez, a todos os portugueses durante estas décadas. Sempre em nome de um idealismo, uma ideia salvífica que vem dos temos de Jean-Jacques Rousseau e que se resume a uma coisa simples: a igualdade a todo o preço que redunda na maior desigualdade possível e nas maiores atrocidades sociais imagináveis. Um paradoxo que nunca entendem porque, dá-se de barato, julgam-se bem intencionados. 

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