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sábado, maio 27, 2023

Guerra no Ultramar: uma memória triturada pela esquerda

 Saiu agora um livrinho de Miguel Cardina, um autor aboletado do CES do inefável professor Buonaventura e adepto do bloquismo, intitulado "O atrito da memória", sobre alguns aspectos da guerra no Ultramar, particularmente a memória desse tempo.

Cardina tritura tal memória, inventando uma História resumida à esquerda, mais particularmente à extrema-esquerda, como se fosse essa a História de Portugal nesse tempo. 

Escreve sobre um tempo que não viveu e apenas conhece de ouvir dizer, particularmente no discurso de extrema-esquerda dos rosas e flunsers avulsos. Um discurso que me parece falsificado porque nenhuma História se quiser ser verdadeira prescinde de ouvir os protagonistas. Todos, de preferência e não apenas os  que agradem. 

E assim escreve pérolas deste calibre:

 





Todo o escrito se centra na censura existente ao tempo em Portugal e que impedia a livre expressão dos grupelhos de extrema-esquerda e esquerda comunista que pretendia fazer a apologia aberta do anticolonialismo militante e a entrega dos territórios ultramarinos às mãos de guerrilheiros instruídos pelo comunismo soviético e chinês, militar e ideologicamente. 
Era esse o único propósito de tais grupelhos de esquerda comunista em Portugal, com o acrescento de lutarem para entregar territórios que tinham sido de Portugal durante séculos, que os descobrira e colonizara e ajudara a desenvolver, a potências que tinham interesses antagónicos e adversos relativamente ao nosso país. Chama-se a isso, em linguagem política corrente, traidores à pátria e era isso que lhes chamavam, nas instâncias de poder político de então. 

Não obstante, tais grupelhos entendiam como legítimo lutarem por tais ideais e livremente, sem peias nem censura, mesmo em tempo de guerra. Com a particularidade de não acreditarem nem sequer aceitarem tal liberdade uma vez que tomassem o poder. Hipócritas, por isso mesmo e ainda hoje. 
É essa denúncia, do controlo censório dessa época que o autor Miguel Cardina, sequaz das mesmíssimas ideias, vem agora fazer no opúsculo quase panfletário. 

As citações recorrentes vão todas parar às mesmas fontes e provêm das mesmas ideias e orientações políticas, como aliás se pode ler. 
Em determinada passagem reconhece o que denega na tese do livro: que havia "um amplo movimento editorial de defesa da política colonialista do regime", o que contrasta com a existência, apesar disso, de um "leque de livros, jornais e outras publicações, muitas delas animadas por activistas de esquerda [ a linguagem é deliciosa pelo que revela do politicamente correcto esquerdista] e por vezes circulando clandestinamente, que divulgaram textos críticos da guerra e do colonialismo!. 
Portanto, neste caso os "bons" são os grupelhos de esquerda e extrema-esquerda e os "maus" naturalmente são os que tomavam parte no referido amplo movimento de apoio ao regime. 

E até refere a existência de "dezenas de editoras políticas" pertencendo a esse grupelho de extremistas, o que obviamente denega o propalado atrito da memória, uma vez que se atrito existe é o que actualmente se verifica na trituração de tudo o que fuja dos cânones de esquerda, tal como apresentados por Miguel Cardina e outros. 

Para contrastar e apresentar o que a esquerda já triturou nessa memória que vai inventando para os devidos fins, fica aqui uma pequena resenha de notícias sobre a guerra, sob um regime de Censura, neste caso em tempos e circunstâncias que todos os regimes controlam para o efeito. 

Em primeiro lugar é preciso dizer que a guerra no Ultramar não era entendida por todos, ou seja pela maioria, do mesmo modo que a extrema-esquerda a via, nas tais publicações, então clandestinas e agora à vista desarmada, com o mesmíssmo teor ideológico.

Por exemplo a revista Observador saída em Fevereiro de 1971, começou a publicar alguns números sobre problemas específicos do país e um deles era o Ultramar, tal como apresentado na edição de 1 de Outubro de 1973. 




Em 5 de Novembro de 1971 tinha já dado um panorama da guerra, ouvindo intervenientes militares. 







E em 19 de Outubro de 1973:







Estes artigos não eram propaganda política do governo, porque a Observador apesar de apoiar algumas políticas do regime, não sendo por isso mesmo de oposição, tinha a atitude de muitos órgãos de informação que noutros países, como a França no tempo da Argélia ou os EUA no tempo do Vietname, tiveram relativamente às políticas assumidas pelos governos desses países. Não eram de extrema-esquerda nem queriam que tais sistemas fossem revolucionados para se transformarem em comunistas, como pretendia a esquerda e extrema-esquerda em Portugal, nessa altura e agora. 

Era esta aliás a posição política da maioria esmagadora do povo português, tal como demonstrada por diversas vezes publicamente, sendo a mais notória, aquando do regresso de Marcello Caetano de uma visita a Londres, no Verão de 1973, altura em que Mário Soares e a esquerda atacaram o então presidente do Conselho por causa da política ultramarina. 

Observador de 27 de Julho de 1973, resumindo tudo na capa de 17 de Agosto de 1973:




 Sobre as notícias avulsas e o desenrolar da guerra a imprensa e os media da época reflectiam o circunstancialismo particular que impunha censura a tais actividades. Não obstante, não havia um único português consciente politicamente que desconhecesse o que sucedia na guerra do Ultramar, particularmente através de relatos dos militares que regressavam e voltavam, alguns, a partir para novas comissões na guerra. 
Por isso os jornais também davam conta de tais factos, embora limitados pela censura. 

Diário de Lisboa de 5 de Fevereiro de 1972:


D.L. de 4.6.1973:


D.L. 2 de Novembro de 1973:

D.L. 27 de Dezembro de 1973:


A Censura aliás, não era exactamente como o revisionista Pacheco Pereira anda por aí a propalar que foi, por exemplo no caso dos suicídios que nem eram noticiados...


 Por outro lado, os mortos no Ultramar eram assinalados regularmente nas páginas dos jornais, sem qualquer destaque sensacionalista à moda do correio da manhã da actualidade e eram comunicados os números pelas entidades oficiais, pelo que ninguém ignorava que existiam mortos e feridos, por vezes em número elevado. 

Comércio do Porto de 28 de Setembro de 1968:


Diário de Notícias de 11 de Setembro de 1966:
 

Diário de Notícias de 2.3.1969:

Esta é que devia ser a perspectiva dos ces de Coimbra e arredores e não apenas a visão maniqueísta e radicalizada à esquerda de uma realidade que não foi o que dizem que era. 
Logo, são falsários, mentirosos e cujo profissionalismo é o que se pode ler. 

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