No CM de hoje, Eduardo Dâmaso defende o MºPº na sua actuação mediatizada do caso dos "assessores-fantasma", uma óbvia referência ao antigo escândalo das "viagens-fantasma".
O "jornalista" Octávio Ribeiro, no mesmo jornal também defende, indirectamente, assim:
Por seu turno a komentadeira de última página, Ana Sá Lopes, tem opinião bem diversa e aponta mesmo a tecla a "procuradores profundamente ignorantes de como funciona a democracia e o sistema política", indicando até o nome de Helena Almeida como a responsável, com justificação já transitada em julgado sobre os factos que entende serem criminalmente irrelevantes, mostrando um conhecimento cabal e assente sobre os mesmos.
Quais os argumentos da komentadeira? Que afinal partido e grupo parlamentar são uma e a mesma entidade e "nunca passou pela cabeça de quem faz a lei" que fosse de outro modo; que todos os partidos fazem o que o PSD terá feito e ao longo de 40 anos ( pagar a funcionários do partido com subvenção parlamentar para o respectivo grupo) e portanto o aparato de investigação de tais factos criminalmente irrelevantes foi injustificado, devendo-se a ignorância dos procuradores do MºPº, como a indicada Helena Almeida, sobre o funcionamento democrático do regime. Segue ainda a tese rebuscada de conspiração apresentada publicamente por um Assis, terminando com o anátema: "rebaldaria justicialista", igualmente adoptado por um dos komentadores-mor do regime, o inefável Pacheco Pereira.
Como se explica esta divergência de entendimento opinativo entre dois jornalistas? Fácil seria responder que são distintos, porque a komentadeira do Público subsidiado pela Sonae, é apenas uma apaniguado do sistema político, uma assessora desta mentalidade, adestrada na defesa de políticos de facção e totalmente falha de verdadeiro espírito jornalístico de desempenho da respectiva essência: cães de guarda do povo que elege tais políticos, o que exige dedicação e isenção prolongadas além de independência relativamente a cargos, prebendas e honrarias, mesmo pindéricas, como é o caso do jornalismo caseiro.
Tal facilidade, porém, não levaria em conta a profunda ignorância da mesma relativamente ao funcionamento da máquina judiciária e principalmente de quem a montou, do que dá mostras com frequência.
Assim, resta continuar a perguntar se o MºPº actuou com proporcionalidade e adequação num caso como este, tendo em atenção os factos em causa. Só o próprio MºPº poderá responder por agora a tal pergunta- e não respondeu, tendo já perdido a oportunidade pelo timing mediático que não compreende de todo. Aí sim, as críticas deveriam ser contundentes e firmes, ampliadas e divulgadas mediaticamente porque só assim aprendem. E mesmo assim é duvidoso.
Quanto a Eduardo Dâmaso é mais complexa a sua acrisolada defesa do MºPº nesta instância e circunstância, sem questões e sem estados de alma.
Duvido que a defesa ocorra em função do amor a uma legalidade, neste caso amplamente duvidosa e não apenas pela prosaica e cínica defesa de um interesse próprio na continuidade permanente do sensacionalismo jornalístico que corrói quase toda a essência do jornalismo da Cofina. Mas dá lucro e proventos a quem o promove como estilo e por isso a narrativa tem necessidade de continuação, sem interrupções para reflectir um pouco na evidência que já deveria estar espelhada.
Para além do mais, devido a isto que me parece mais grave, mais "criminoso" e eticamente mais censurável que os factos imputados ao PSD sobre os "assessores-fantasma". Isto, a mim, parece-me simplesmente...corrupção! E nem parece difícil perceber a essência da mesma e a denegação do jornalismo que a promove e oculta.
Daqui e que não leio menção de nenhuma espécie, em lado algum da edição de ontem ou de hoje do Correio da Manhã:
Imaginemos por uns segundos a circunstância de uma Helena Almeida qualquer do MºPº ter organizado um inquérito sobre estes factos, entregá-los a investigação a uma qualquer brigada da PJ para investigação de criminalidade económico-financeira, deixar correr o marfim de um, dois ou três anos e elaborar um relatório policial em que se recomenda a realização de buscas à redacção do CM e da CMTV e Cofina em geral; às residências de habitação de Eduardo Dâmaso e Octávio Ribeiro; à apreensão dos seus telemóveis e cópia de discos rígidos dos computadores da empresa, etc. etc. Tudo isto envolveria muito mais que cem agentes e vários dias para realizar e seria obviamente um petisco, um filet mignon de alto gabarito para entrar em directo à hora de almoço de qualquer tv.
Agora imagine-se como seria a reacção destes jornalistas a tal actuação e principalmente o que escreveriam para dizer o que entendessem...para além de se poder questionar se fariam neste caso o mesmo que fizeram no caso dos tais "assessores-fantasma": logo que receberam a dica das buscas que se iriam realizar, mobilizar meios para em "directo" estarem "primeiro" a mostrar ao país e audiências respectivas na sua lógica comercial de chegar ao topo do "share", o espectáculo e esplendor da pinderiquice de um Rui Rio na varanda, a rir-se publicamente das buscas judiciárias, a remexerem papéis, estantes, gavetas, armários e tutti quanti, em curso dentro da sua casa, por causa daquele assunto.
Talvez com este exercício Eduardo Dâmaso perceba que não vale a pena defender tudo e todos em certas circunstâncias, por uma simples razão, além de outras: porque não tem objectividade e isenção para tal e o moralismo que exala não é benéfico para o bom funcionamento de um país. A Itália dos anos noventa não tem comparação com o Portugal de agora, mas se tiver, então é preciso investigar do mesmo modo os factos noticiados pelo Página 1 e totalmente omitidos pela Cofina...et pour cause.
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