Os argumentos utilizados para a recusa do visto prendem-se com o facto de 30% do valor contratualizado ter sido pago contra a entrega do relatório de metodologia - o qual incluía apenas uma definição genérica do desenrolar dos trabalhos. Por outro lado, o parecer, já publicado em Diário da República, considera que o preço contratual corresponde a um determinado número de horas de prestação de serviços, e que esse valor foi logo pago no início, não se podendo verificar a proporcionalidade entre as horas efectivamente prestadas e pagas. "Foram pagos no total dos quatro contratos 405 480 euros sem contrapartida, em prestações realizadas de igual valor, o que consubstancia uma violação do disposto no artigo 292.o do Código dos Contratos Públicos", lê-se no acórdão publicado em DR.
Deve dizer-se para esclarecimento que a firma Sérvulo & Associados é autora, através de um dos seus sócios mais proeminentes, Rui Medeiros ( da maçonaria também) do Código dos Contratos Públicos, por encomenda do governo. Com assessores. Foi o Orçamento Geral do país que pagou uma conta calada. No instrumento inicial- o despacho conjunto 179/2006 nada se dizia sobre a firma, mas sim sobre o "grupo de trabalho", com membros designados: Rui Medeiros. Lino Torgal e João Amaral, mais três representantes do Estado- Administração. Sobre o tal assessor, nada. Mas no seu currículo consta o título de assessor do Ministério das Obras Públicas ( de Mário Lino) para esse efeito concreto... E ainda há outros colaboradores no mesmo projecto.
Nada sobre honorários, custo, etc. da empreitada com 500 artigos. Uma adjudicação directa.
Um tal Mark Kirby é advogado na firma. Um boy do PS que foi chefe de gabinete de primeiros-ministros.
A propósito disso, alguém escreveu isto:
Enquanto o Estado português for um Estado cuja ética é esta acima mostrada estaremos à mercê do FMI e de mão estendida à pedincha europeia e mundial. Por contra, o escritório da firma em causa, em pleno Chiado e na sede da antiga seguradora Império é um monumento a este modo de fazer política em Portugal. Passem por lá e confirmem.
Como é que cobram balúrdios ao Estado? De modo muito simples e legalíssimo: trabalham à hora. E como o tempo é dinheiro, levam muito tempo ou cobram muito pelo tempo que têm. Simples e eficaz. Imitam os estrangeiros, com uma diferença: lá fora provavelmente não se admitem estes negócios do mesmo modo. Não acredito que os alemães, ou os franceses, mesmo os espanhóis ou até os italianos tenham este úbere à disposição dos seus advogados de regime. Não acredito e por isso, vivemos um escândalo continuado. A que é preciso pôr cobro quanto antes. Não se admite que em período de grandes dificuldades, estas firmas ganhem a vida deste modo. Não é admissível.
O problema da parecerística cobrada ao Estado pelas firmas de advogados já foi aflorada aqui. É um problema sério do Estado português e que os antónios barretos não percebem, para poderem dizer que "a principal nódoa" que temos é a Justiça, como disse em entrevista recente ao DN.
Entretanto, é ver a lista.
Em tempo:
Repare-se como foi preparado esse Código da Contratação Pública. Em lado algum se encontra o indicativo do seu custo, pago ao tal grupo de trabalho. Talvez num diário da República de uma segunda série. Talvez.
Em 21.11.2006 o Ministro das Obras Públicas anunciava assim o novo rebento legislativo. Falava em público e em nome do governo, em "nós". Nunca mencionou o verdadeiro legislador.
E nessa altura, até o próprio Tribunal de Contas participou nas festividades do lançamento do novo rebento que se anunciava promissor.
Como elemento de grande relevo neste código está o fenómeno do "ajuste directo" de empreitadas ou para aquisição de serviços ao Estado. É ler...
O Código foi apresentado ao público pelo Governo em 31 de Janeiro de 2008 e entrou em vigor dali a seis meses. Segundo o mesmo Governo, destinava-se a concretizar três medidas do Programa Simplex, garantindo maior rigor e transparência na gestão dos dinheiros públicos.
Foi uma aldrabice? Provavelmente e o tribunal de Contas disso dá conta com esta decisão.
Ética no Estado, precisa-se!