Páginas

segunda-feira, outubro 03, 2011

Morra o Público, pim!

" O fundamental do jornalismo é aquilo que só o jornalismo faz. Podemos chamar-lhe factor de diferenciação, vantagem comparativa, activos únicos, unique selling proposition, mas a questão resume-se a querer informação rigorosa e credível, autores responsáveis, investigação independente, fiscalização dos poderes, boas histórias, boas reportagens, boas fotos, boas análises."

Este parece ser o credo do jornalista José Vítor Malheiros e que o escreve na edição de hoje do Público, em duas páginas dedicadas ao futuro do negócio jornalístico.

Vejamos. O que o jornalismo faz, particularmente o Público, anda muitas vezes longe disso. Frequentemente e em modo lamentável, poderia dizer-se e até na edição de hoje isso se nota em algumas notícias e principalmente no destaque desproporcionado que revela idiossincrasias e tendências ideológicas.
Mas...tomemos o recente caso Isaltino e o modo como o Público on line o noticiou.
Então, em primeiro lugar, os factos, não é? No caso do Público, em vez disso, serviram-nos logo no primeiro parágrafo, a opinião dos advogados de defesa:

“Ficámos em estado de choque”, disse ao PÚBLICO o advogado Rui Elói, mandatário do autarca. “Trata-se de um erro grosseiro e muito grave”, afirmou, garantindo que o juiz deu como transitada em julgado uma condenação que está suspensa até que o Tribunal Constitucional (TC) decida um dos dois recursos interpostos pela defesa na primavera deste ano.

Só depois os factos apareciam:

A detenção aconteceu durante a tarde, na residência do autarca, por elementos da PSP à paisana, e o preso foi conduzido ao estabelecimento prisional anexo à sede da Polícia Judiciária, em Lisboa.

A acompanhar os agentes seguia um mandado de condução à cadeia emitido pelo juiz do 2.º Juízo Criminal de Oeiras. Fundamento: o acórdão do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) que confirmou, em Maio, a pena de dois anos de prisão efectiva aplicada pelo Tribunal da Relação de Lisboa, em 2010, ao ex-ministro do Ambiente do PSD, transitou em julgado no dia 19 deste mês.

Esta técnica, primeiro a opinião, parcial, subjectiva e determinante para a leitura que se segue e a seguir os factos, está errada, é o contrário do que o jornalismo deve ser e contraria toda a lógica que JVM enuncia. Quem foi o jornalista que a colocou on-line? Alguém sabe? Ninguém, como diria o Romeiro da peça. É " a redacção" e por isso é o jornal in totum.
Mas o mais importante nem é a técnica de manipulação da opinião. É a adulteração de factos por desconhecimento ou má-fé sorrateira. Qualquer jornalista que preze uma informação "rigorosa e credível " não se fia na opinião de um advogado de defesa de um arguido para apresentar um relato que se pretende objectivo ou imparcial, de factos que o envolvem. Isso é tão básico que só um ingénuo o pode aceitar e é o que o Público faz com frequência: toma partido. É incapaz de se interrogar sobre a veracidade, credibilidade e objectividade de um facto que lhe é transmitido por alguém que à partida tem de ser testado nesses parâmetros.
Logo a seguir na tal notícia, o exemplo fatal da falta de rigor: "Ao Tribunal Constitucional chegaram entretanto dois recursos do autarca, ambos com efeitos suspensivos da execução da pena: um deles punha em causa uma alegada “omissão de pronúncia” do STJ sobre um recurso anterior em que era defendida a nulidade da condenação inicial, por não ter sido feita uma “perícia sobre a personalidade” do arguido; o outro alegava a nulidade do acórdão condenatório por o julgamento não ter sido efectuado por um tribunal de júri, tal como a defesa requerera ao Tribunal de Oeiras em 2008."

A questão, aqui, era efectivamente o facto de o efeito suspensivo não ser um dado adquirido, pacífico e rigorosamente exacto. Em qualquer jornal de referência americano esse facto é sujeito a fact checking, é escrutinado quanto ao seu rigor científico. Como se escrutina tal coisa? Perguntando a quem sabe ou consultando informação disponível, até na Net. O Público obviamente não o fez ou não deu conta disso.
Pode dizer-se que era em cima da hora e coisa e tal. Era nada, uma consulta na NEt demora segundos e tal coisa só ocorre a quem sabe, porque quem não sabe não pergunta, aceita o que lhe dão...e no caso tudo foi dado pelo advogado de Isaltino, como se pode ler para vergonha do jornalismo de referência não assinado. Não sei porquê, cheira-me a Miguel Gaspar, um émulo de um outro cretino do jornalismo português.

JVM acaba o artigo de hoje com a seguinte frase: " O jornalismo só sobreviverá, so o for realmente. E, se não for, que morra. Alguma coisa aparecerá."

Morra o Público, pim!

PS: um outro exemplo do que significa o tal jornalismo que JVM evoca pode ser dado por uma não notícia do Público. Ontem, numa assembleia de delegados sindicais em Monsaraz, os magistrados do MºPº denunciaram o "projecto pessoal " do PGR Pinto Monteiro relativamente ao MºPº e de tal ser incompatível com um MºPº democrático.
Isto não é notícia em qualquer país do mundo ocidental e civilizado? Ou pelo menos a merecer tanto destaque como da da Ordem dos Médicos querer "dispensar gripes nos atestados", como foi dado destaque na primeira página do jornal?
A direcção do jornal não achou nada disso e que os seus leitores, portanto, não tinham que saber tal notícia. Meteu-a por isso na gaveta. Censurou, objectivamente e em termos simples e directos.
A notícia não é agradável para o PGR Pinto Monteiro. E o Público nesse aspecto, como dizia o outro, já fez a sua "opção de classe". Portanto, a censura, porque é disso que se trata quando se escondem noticias dos leitores, tem vários rostos. A omissão de notícias é um deles. Muito feio porque é a negação do jornalismo.

4 comentários:

  1. o soviet do que resta das noticias em papel anda socretinamente muito activo.

    as tvs ainda anda pior.
    há notícias que nunca aparecem.
    só existe o buraco do Jardim

    ps in seguro

    ResponderEliminar
  2. Fogo sobre o "colectivo" internacionalista do Público que anda a trair a classe operária e camponesa nacional!
    (Nem é preciso andar a fazer "células", a ter casa clandestinas para guardar as máquinas de fazer propaganda.Nestes tempos modernos qualquer um pode ser revolucionário e deixar para trás a vanguarda....)

    ResponderEliminar
  3. O único inconveniente dos revolucionários patriotas é a ausência daquelas fraternas militantes boazonas sempre prontas a manter o moral dos revolucionários em alta...

    ResponderEliminar
  4. Desta vez, o José tem carradas de razão. Ao Público calharia bem a canção do "Quem te viu, quem te vê"!

    ResponderEliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.