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domingo, dezembro 09, 2012

A primavera marcelista

Em 14 de Abril de 1984 o Expresso então dirigido por Vicente Jorge Silva publicou um extenso artigo de José Paulo Fafe sobre a "Primavera Marcelista" aproveitando a circunstância do aparecimento de várias cartas trocadas entre Marcelo e Jorge Tavares Rodrigues, datadas da segunda metade dos anos setenta do século que passou, altura em que Marcelo Caetano se encontrava no exílio.

As sete páginas que se publicam do artigo integral desse número da revista do Expresso, são elucidativas de um período histórico da vida portuguesa que muitos tendem a esquecer, relegando-o para uma nebulosa a que apelidam de fassismo, fachismo ou fascismo, consoante a pronúncia regional. Interessa a essa gente amalgamar o Estado Novo num período elíptico em que os anos quarenta servem para caracterizar e os seguintes para fazer de conta que era tudo igual.
O período marcelista que afinal durou de 1968 a 1974 é pura e simplesmente omitido como algo obscuro e indistinto do tal "fassismo" que a todos convém lembrar como uma época de obscurantismo, de um Porugal habitado por campónios e com uma taxa de analfabetismo próxima da indigência, a qual no entanto, não impediu os mesmos de se formarem em escolas superiores e debitarem ideologia esquerdista em tudo o que era meio de comunicação social, mesmo com a temível Censura Prévia.

Para se aquilatar um pouco sobre o que foi e significou esse período, ( que não se ensina nas escolas e se esconde às pessoas em geral)  aqui ficam as sete páginas do Expresso e mais um bónus...

As imagens podem ver-se melhor abrindo outra janela ( carregando com o botão direito do rato) e ampliando as mesmas a partir daí.

O bónus é esta brincadeira muito marota que envolve o Prof. Marcelo que esteve quase a ser afilhado de baptismo daqueloutro Marcelo ( na primeira imagem, atrás de Marcelo, aparece Baltazar , o pai do professor de agora)  e que todos os Domingos diz coisas na TVI. É  uma brincadeira mesmo mázinha...numa altura em que Marcelo dirigia já o Semanário e deixara de fazer partidas na Gente daqueloutro jornal.

Sobre as cartas uma delas assume um relevo de curiosidade acrescida:  a que se refere às "direitas": " da boa fé e inteligência das chamadas direitas dá testemunho o grunhido daquele cevado que, arrastando arrobas de banha, anda pelas ruas a refocilar uns restos de ideologia integracionista. Lambia-me as botas dantes. Agora é aquele jasmins que se vê. Pobre diabo!"

De quem se tratará?

 ADITAMENTO:

Em 1971, a revista Vida Mundial no número de 24 de Setembro publicou um artigo extenso sobre as nossas constituições, incluindo a de 1933 com a  reforma constitucional de 1971, em que o Estado Novo passou a designar-se...Estado Social. A União Nacional, por seu lado, passou a chamar-se...Acção Nacional Popular.
Aqui fica uma página sobre as mudanças, após o terceiro ano de governo de Marcelo Caetano e um apontamento sobre a lei de imprensa...a promulgar, com  a justificação da Censura. Curiosamente,  é a mesma justificação que na Inglaterra se usou para se proibir, nos anos oitenta, a difusão na BBC da canção Shippbuilding, de Elvis Costello, cantada pelo comunista Robert Wyatt...


Aliás, a matéria da Lei de Imprensa em discussão na Assembleia Nacional fora alvo de atenção da mesma revista num número de 6 de Agosto de 1971. Atente-se na qualidade da discussão.