Em 14 de Abril de 1984 o Expresso então dirigido por Vicente Jorge Silva publicou um extenso artigo de José Paulo Fafe sobre a "Primavera Marcelista" aproveitando a circunstância do aparecimento de várias cartas trocadas entre Marcelo e Jorge Tavares Rodrigues, datadas da segunda metade dos anos setenta do século que passou, altura em que Marcelo Caetano se encontrava no exílio.
As sete páginas que se publicam do artigo integral desse número da revista do Expresso, são elucidativas de um período histórico da vida portuguesa que muitos tendem a esquecer, relegando-o para uma nebulosa a que apelidam de fassismo, fachismo ou fascismo, consoante a pronúncia regional. Interessa a essa gente amalgamar o Estado Novo num período elíptico em que os anos quarenta servem para caracterizar e os seguintes para fazer de conta que era tudo igual.
O período marcelista que afinal durou de 1968 a 1974 é pura e simplesmente omitido como algo obscuro e indistinto do tal "fassismo" que a todos convém lembrar como uma época de obscurantismo, de um Porugal habitado por campónios e com uma taxa de analfabetismo próxima da indigência, a qual no entanto, não impediu os mesmos de se formarem em escolas superiores e debitarem ideologia esquerdista em tudo o que era meio de comunicação social, mesmo com a temível Censura Prévia.
Para se aquilatar um pouco sobre o que foi e significou esse período, ( que não se ensina nas escolas e se esconde às pessoas em geral) aqui ficam as sete páginas do Expresso e mais um bónus...
As imagens podem ver-se melhor abrindo outra janela ( carregando com o botão direito do rato) e ampliando as mesmas a partir daí.
O bónus é esta brincadeira muito marota que envolve o Prof. Marcelo que esteve quase a ser afilhado de baptismo daqueloutro Marcelo ( na primeira imagem, atrás de Marcelo, aparece Baltazar , o pai do professor de agora) e que todos os Domingos diz coisas na TVI. É uma brincadeira mesmo mázinha...numa altura em que Marcelo dirigia já o Semanário e deixara de fazer partidas na Gente daqueloutro jornal.
Sobre as cartas uma delas assume um relevo de curiosidade acrescida: a que se refere às "direitas": " da boa fé e inteligência das chamadas direitas dá testemunho o grunhido daquele cevado que, arrastando arrobas de banha, anda pelas ruas a refocilar uns restos de ideologia integracionista. Lambia-me as botas dantes. Agora é aquele jasmins que se vê. Pobre diabo!"
De quem se tratará?
ADITAMENTO:
Em 1971, a revista Vida Mundial no número de 24 de Setembro publicou um artigo extenso sobre as nossas constituições, incluindo a de 1933 com a reforma constitucional de 1971, em que o Estado Novo passou a designar-se...Estado Social. A União Nacional, por seu lado, passou a chamar-se...Acção Nacional Popular.
Aqui fica uma página sobre as mudanças, após o terceiro ano de governo de Marcelo Caetano e um apontamento sobre a lei de imprensa...a promulgar, com a justificação da Censura. Curiosamente, é a mesma justificação que na Inglaterra se usou para se proibir, nos anos oitenta, a difusão na BBC da canção Shippbuilding, de Elvis Costello, cantada pelo comunista Robert Wyatt...
Aliás, a matéria da Lei de Imprensa em discussão na Assembleia Nacional fora alvo de atenção da mesma revista num número de 6 de Agosto de 1971. Atente-se na qualidade da discussão.
os campónios ditos sociais-fascistas ou comunas queixavam-se de interrogatórios prologados e de arrancar de unhas.
ResponderEliminarnada que se pudesse comparar as acções criminosas que se realizavam na urss (fome até à morte, fuzilamentos em massa).
o que se passava não era nenhuma maravilha, mas era de longe muito melhor que esta republiqueta de esterco político e social.
se fui prejudicado na II república tenho sido muitíssimo mais na III (espero que seja a última).
Marcelo era bem melhor que o boxexas. teria sido uma boa transição, mas Marcelo não interessava nem aos comunas nem aos xuxas.
estes dois agrupamentos fascistas tiveram conversações em Paris em 72 para estudarem a melhor maneira de impor uma ditadura no rectângulo.
agora existe uma nova forma de censura, 'exame prévio das imagens a que pomposamente chamam editar'
em 1963 passei casualmente a pé em frente da Basílica da Estrla à saída da missa e estive ao lado da família RS
O seu arquivo é notável, José.
ResponderEliminarO meu também o era metade foi para um armazém com chuva, da outra metade deram cabo em 2009 :-(
Fiquei sem nada.
Que maravilha. E a rapidez com que encontra tudo isto e faz os posts
ResponderEliminarSerá o Freitas do Amaral?
ResponderEliminarTem toda a razão, zazie!
ResponderEliminarFreitas? Hummm...não me parece. Em primeiro lugar Freitas na época estava situado "rigorosamente ao centro", como não se cansava de dizer que o CDS era o partido do centro. Logo, direita nem pensar!
ResponderEliminarA Direita em Portugal nunca foi bem vista por ninguém. Ainda hoje é assim porque ninguém se reclama de direita e têm que ser a Esquerda a designar.
Evidentemente que o Freitas era considerado como tal e até os do PPD, depois PSD o foram.
Até o PS fazia e faz "políticas de direita" que os comunistas querem mudar. Sempre quiseram mudar.
Dantes diziam como e que políticas queriam que se aplicassem. Agora limitam-se a dizer que é preciso mudar e acabar com a desgraça e generalidades desse tipo.
Não se atrevem a enunciar publicamente que políticas concretas aplicariam nessa tal mudança. Seriam corridos do mapa eleitoral, se o fizessem. Assim vão enganando os papalvos, com o ponta de lança Arménio.
Em segundo lugar Freitas na época não podeia ser designado cevado que arrastava arrobas de banha pela rua.
ResponderEliminarNão era assim tão gordo...
E como o integrista que me ocorre é um tal Pacheco de Amorim resta saber se tinha perfil para tal.
Quanto à tal "rapidez":
ResponderEliminarTenho os jornais e revistas catalogados diacronicamente, por décadas.
Basta pegar num número de 1971 para aparecer isso que aí fica.
Comecei a comprar a Vida Mundial provavelmente neste mesmo número de Agosto de 1971 e de certeza por causa da capa. Não por causa da tal "Lei de Imprensa" que na altura não me interessava por aí além, porque tinha 14 anos. Mas a imprensa estrangeira interessava-me já. A Triunfo espanhola, o L´´Express e a Newsweek eram publicações que já espreitava de vez em quando nas livrarias ( era nas livrarias que havia bancas para se poder ler, particularmente na Bertrand).
Fascinava-me esse mundo e só não fui para jornalista porque além do mais não vivia em Lisboa e o meu avô conhecia um do Porto que lhe disse para o neto não se meter na profissão que era mal paga.
Mas nunca me desliguei da imprensa nacional e principalmente internacional.
Logo que pude comecei a comprar revistas estrangeiras particularmente francesas e também americanas, cujos anúncios me fascinavam graficamente.
É que gosto ainda mais de desenho do que de jornalismo...
Portanto, recolhendo o material, o que faço geralmente à tardinha-noite, resta-me fazer os scanners e a composição com o Irfanview. E isso é rápido.
E a publicação ainda mais porque escrevo de rajada e volto frequentemente atrás para emendar...depois de ter publicado.
Depois de comprar esse número de Agosto de 1971 arranjei alguns outros de anos anteriores ( julgo que afinal comprei o primeiro número da Vida Mundial quando trouxe na capa o caso do assalto ao banco da Figueira Foz. Tinha esse número mas perdeu-se com as mudanças).
ResponderEliminaros números dos anos sessenta dessa revista que ainda tenho foram comprados a alfarrabistas, onde entrava nesse tempo ( 1972,73, 74) e ficava fascinado com o cheiro da papel velho. Ainda hoje fico porque me lembra antigas descobertas do Século Ilustrado com suplementos sobre a música pop.
A par da Vida Mundial comprava já o Observador desde o primeiro número.
E já que estou a falar disto vou logo mais historiar a minha descoberta deste mundo fascinante das revistas, nos anos setenta.
Mas não neste blog...
ResponderEliminarQue engraçado. Já tinha pensado que o José gostava de jornalismo.
ResponderEliminarE este blogue é jornalismo de alto nível como não existe em mais parte alguma.
Mas aos 14 anos é muito cedo. Incrível.
ResponderEliminarDe facto não sei porquê. O meu irmão não se interessa nada por isso. As minhas irmãs idem.
ResponderEliminarA minha filha mais velha já se interessa.
O meu pai guardava velhas revistas Stadium e coleccionava o Mundo Motorizado. Foi nessas revistas que comecei a escrever as primeiras letras aí pelo ano de 1961-62. Ainda tenho as revistas e os sarrabiscos.
Mas já não tenho as Stadium que nunca foram minhas porque o meu pai um belo dia, ainda nos anos sessenta, resolveu queimá-las. Lembro-me bem desse dia e nem sei se protestei mas tenho uma vaha reminiscência que sim.
Porque tinham fotos incríveis a preto e branco ( melhor dizendo em ocre e cinzento claro) das jogadas de futebol da época. O meu pai era do Sporting e as revistas traziam os cinco violinos. Lembra-me muito bem das fotos. Pena que tenham desaparecido.
O Mundo Motorizado esse, não desapareceu porque o guardei. Alguns números.
Por outro lado o meu pai não tinha muitos livros em casa mas os que tinha fascinavam-me. Particularmente uma edição dos Lusíadas encadernada em capa dura e com uma imagem do poeta impressa em papel couché, protegida por uma folha de papel de arroz ou coisa que o valha.
ResponderEliminarLembra-me de tal coisa porque me lembro do cheiro desse livro que perdi. Um cheiro antigo e muito agradável.
E lembra-me de um livro de Americo Vespucio. E outro de gramática.
Lembro-me de ser muito pequenino, antes de ir para a escola primária e admirar já esses livros.
Porque é que estas coisas acontecem?
Ando a tentar descobrir...
É por isso que escrevo isto aqui.
ResponderEliminarO fascínio com a imprensa ia ao ponto de fazer isto
ResponderEliminarOs desenhos são copiados do Diário Popular e da autoria de José de Lemos.
Quanto ao Marcello Caetano, penso que lhe faltou coragem para correr com o Américo Tomás da PR em 1972 - que era de facto o maior obstáculo a uma transição pacífica para a liberdade (necessária, para discutir o problema colonial o motivo pelo qual o regime terminou).
ResponderEliminarImpondo-se a si próprio como novo Presidente da República e nomeando um Primeiro-Ministro da sua confiança que preparasse eleições livres em 73, abolisse a censura (já enfraquecida) e extinguisse a PIDE, não teria havido o PREC e a economia portuguesa continuaria no rumo certo, apesar da perda das colónias.
Caetano sobrestimou a força dos 'ultras', como de resto se viu no 25/4/1974. Aliás, o próprio Kaúlza tentou fazer um golpe no final de 1973, mas não encontrou apoiantes.
É verdade tudo isso, mas...Marcelo, como disse salvo o erro Ortega Y Gasset, era ele próprio e as suas qualidades e ainda a sua circunstância.
ResponderEliminarResta saber o que pesou mais para a inconsequência...
O medo, que veio da trauma da I República. Ele fala abundantemente disso no seu livro "Depoimento". Ironicamente acabou por ser ele um dos responsáveis indirectos do que se seguiu a 25/4. Ele e a falta de tacto de Spínola, o sucessor por ele escolhido (irónico, um golpe de estado em que o deposto escolhe o sucessor). Mas isso é outra história...
ResponderEliminarCaro Amigo
ResponderEliminarnão tenho muito interesse sobre o meu passado e procuro ignorar o que escrevi nos 7 volumes de diários temáticos que sobraram das mudanças.
aprendi a interessar-me por história a ler o DN a partir de 1939; assim como na Ilustração Portuguesa do final da I GG. lia a revista Stadium do meu primo Álvaro (mas esta interessava-me pouco).
nos anos 40-50 as revistas que o meu primo Joaquim mandava de SUM PAULO e o El Ruedo que os contrabandistas traziam para um familiar.
depois acabou-se com o início da peregrinação
admiro a sua fabulosa colecção
e conte-nos coisas porque é um prazer
Que giro. O josé tem muito jeito para desenho.
ResponderEliminarMas hoje em dia, aos 14 anos são criancinhas.
Engraçado que as minhas memórias mais antigas também são da Ilustração Portuguesa que gostava de ver (ainda antes de saber ler) em casa dos meus avós.
ResponderEliminarPois são. Os desenhos animados das tv´s, japoneses e standardizados desviam a curiosidade que dantes se fixava na palavra e imagem impressas.
ResponderEliminarDantes, as crianças tinham acesso a uma cultura mais sólida desde muito cedo porque as alternativas mais populares não eram tão evidentes e acessíveis como hoje.
As leituras mais difíceis dantes eram mais precoces porque as alternativas mais populares eram mais difíceis de encontrar.Paradoxalmente.
Havia as revistinhas de cóbóis da Agência Portuguesa de Revistas mas os livros clássicos de aventuras eram mais interessantes porque havia menos edições variadas, como hoje e por outro lado a oferta cultural era mais limitada que hoje.
Assim, a meu ver, era mais imediato o contacto com algumas leituras que hoje em dia os jovens consideram "seca".
Paradoxalmente hoje em dia há maiores facilidades de acesso a cultura geral de qualidade e ao mesmo tempo tal é menos consumida.
É o facilitismo com as suas regras naturais. A lei do menor esforço a impor-se e que dantes não tinha tanto espaço para vicejar.
É esta a minha explicação.
A tv só abria à noite e com programas que os jovens raramente viam depois das 20:00.
ResponderEliminarLembro-me de em 1972 haver um programa de desenhos animados à Segunda-Feira, com os pequenos filmes americanos da Warner Brothers. Era programa de culto para nós, nessa altura e discutido no dia seguinte na escola.
Hoje em dia os desenhos animados podem ser visto a toda a hora em vários programas...
Deve ser isso. E a escola também infantiliza.
ResponderEliminarMas são criancinhas não só aos 14 como aos vinte e muitos.
Acho que é impensável encontrar-se alguém com 14 anos com os interesses que o José tinha nessa idade.
E, muito menos a guardar tudo.
Nós não tínhamos tv (por pancada do meu pai) mas era uma aventura ir vê-la a casa de amigos e nas férias.
ResponderEliminarE lia-se muito. Depois, na adolescência, havia o gosto por debates nos cafés.
A hora da tv nas termas era um caso.
ResponderEliminarAté se aproveitava para namoriscar a ver os desenhos animados
ahahahaha
No meu caso, com 14 anos já tinha sido exposto a assuntos que hoje os jovens nem querem saber.
ResponderEliminarPor exemplo, ouvir música clássica, de Beethoven e Dvorak antes de ouvir os Beatles. Isso por efeito educativo.
Ouvir discursos sobre a superioridade dessa música antes de se ter a liberdade em escolher e poder fazê-lo implica depois que há um choque fatal.
Depois de ouvir uma música que um jovem de 12, 13 ou 14 anos não pode apreciar plenamente por causa da ausência de elementos de conhecimento, como era por exemplo o caso da Sinfonia do Novo Mundo, suscitava dois géneros de reacção: a de rejeição pura e simples, uma vez que a opção pela facilidade é a mais evidente. Ou então ficava lá o bichinho da curiosidade por qualquer motivo, até por pedantismo muito vulgar nos jovens para se diferenciarem.
Durante tempo só jurava pela qualidade dessa música sem a compreender, mas o meu gosto mais claro era a musica pop, o que não admitia...
Ouvir My Sweet Lord de George Harrison ou Yellow Submarine dos Beatles não tinha concorrência com as obras mais clássicas que eram mais difíceis de ouvir.
Contudo essa exposição dava um panorama cultural mais intenso do que hoje apesar de a música ser de acesso imediato e total no You Yube.
Só de imaginar nos anos sessenta a oferta que hoje é possível no You Tube até dói e é tema de ficção científica.
ResponderEliminarSe eu pudessse aceder ao filme Yellow Submarine nessa altura como hoje qualquer jovem pode até dá vontade de sonhar.
ResponderEliminarE quem diz isso diz a fonte de informação imediata que é a Wiki e os sites temáticos e qualquer forum sobre qualquer tema.
E no entanto continuam os livros ainda a ser a melhor fonte de informação mais concentrad e melhor.
José e zazie
ResponderEliminarA culpa da falta de cultura dos jovens de hoje é, dos pais!
(não tem nada a ver com "falta de cultura)
ResponderEliminarUm exemplo de que a escassez estimulava a procura, encontra-se em quem viva "na província" ahahaha e passava o tempo a requisitar livros na biblioteca.
Hoje em dia esses "jovenzinhos adolescentes só vão em excursão às bibliotecas.
Já dei com essas invasões a dar para o mongo na biblioteca da Gulbenkian, acompanhadas de profs igualmente mongas.
Tudo num chavascal, a comer pipocas, como se estivessem no Jardim Zoológico.
Agora um filme no cinema é um acontecimento que o vídeo mata.
ResponderEliminarEstranhamente há quem já nem note a diferença.
Culpa dos pais, zazie!
ResponderEliminarOs meus viviam e vivem na cidade e nunca fizeram figuras dessas.
Estamos a falar de hábitos que o dito progresso retirou e as consequências disso.
ResponderEliminarzazie
ResponderEliminarOs meus rapazes nasceram na época do dito progresso.
Os hábitos antigos eram isso mesmo: antigos. A evolução social encarregou-se de modificar os hábitos. Tal como nos anos setenta já eram diferentes dos de dez anos antes.
ResponderEliminarO que lamento hoje em dia não é a evolução desses hábitos; é o desaproveitamento das oportunidades que existem hoje em dia.
Nos anos setenta houve uma série de discos que não tive porque não tinha oportunidade de os ter.
Hoje em dia, tenho-os todos. Aqueles que então queria ter arranjei-os agora e na versão original, melhor do que os que havia por cá uma vez que eram edições locais com qualidade mais fraca que os originais.
O mesmo acontece com livros, revistas etc etc.
Hoje em dia há uma revista francesa -Philosophie- que é um must. Nos anos sessenta e setenta não havia disso. Havia os livros clássicos que se liam com porventura maior proveito.
O mesmo se passa em todos os bens de consumo: a qualidade aumentou, intrínseca e indiscutível; o acesso melhorou tornando-se quase universal e apesar disso o interesse específico diminuiu.
Se calhar por causa disso mesmo: da abundância. Do excesso.
Tal fenómeno leva à perda do interesse, se calhar.
É um fenómeno da modernidade.
Claro que nos anos sessenta, só para falar nas revistas, também havia de filosofia ( e só refiro este tema porque me lembrei agora) e francesas que é o sítio de onde vinham e vêm.
ResponderEliminarEsprit, por exemplo.
Só que até este exemplo serve para o que pretendo dizer: hoje não há Esprit, mas há Philisophie. E a comparação dá-nos precisamente a diferença do ar dos dois tempos. Com a tal subtileza que queria referir.
Amigas e Amigo
ResponderEliminarconversa interessante para examinar o presente.
quando andava na primária no inicio da II GG o meu materno lia nos serões de inverno à lareira romances do editor Romano Torres vendidos em fascículos. eu lia-os com um de atraso. ainda possuo o candeeiro de azeite de 3 bicos que dependuravam-mos dum arame. entreguei ao meu filho um ou 2 desses romances.
depois li J. Dinis, J. Verne, Camões, etc. tudo edições antigas que se perderam porque eram de diversos familiares. tinha alguma dificuldade em compreender muita situação e o vocabulário.
aos 12 interessaram-me pela música clássica: Verdi, Leoncavallo, Bizet.
num consegui saber que compôs o Carnaval de Veneza de que ouvi 'chapéu de 3 bicos' aos 12.
há dias reencontrei o caderno de física (physica) do meu pai quando fequentou a 4ª classe com a data de 18 de fevereiro (por sinal um dos sobrenomes de meu Pai) de 1907.
'em 25.iv escorreguei numa casca de banana chamada prec e fiquei com as pernas partidas'.
Nesse tempo mais antigo as crianças eram expostas a fenómenos culturais muito mais cedo do que agora. E nem se chamava a tal coisa "cultura", mas outra coisa. Música, literatura, ciência, etc.
ResponderEliminarPor isso era relativamente vulgar que as crianças nascidas em meios com alguma formação tivessem acesso a tais manifestações muito mais cedo do que agora.
Por não haver muitas alternativas e porque os mais velhos assim entendiam a educação.
Tal paradigma mudou.
Eu fiz isso aos meus, José!
ResponderEliminarAqui há tempos coloquei neste blog umas páginas de um livro antigo, do séc XIX- o Manual Encyclopedico de Achilles de Monteverde
ResponderEliminarNesse manual para os alunos do ensino básico verifica-se que o ensino era mais exigente do que agora em idades idênticas.
A minha interrogação é portanto a mesma: porque não aproveitar as oportunidades de hoje para tornar ainda mais exigente o que dantes já o era? Ou seja, porque é que a educação nas escolas primárias não deve regressar a patamares de exigência mais aguda ainda do que já eram os tais?
Afinal, actualmente há mais meios para se saber mais...
Uma pergunta para ser feita a quem governa, José!
ResponderEliminarNa minha opinião é, mais fácil manipular pessoas incultas.
É muito mais complicado que isso.
ResponderEliminarA cultura é coisa muito vasta e detesto a designação da coisa. "cultura" é um modo de simplificar e reduzir o problema.
Amigo
ResponderEliminartem toda a razão sobre o que se chama cultura.
concordo igualmente com o laxismo em que se caiu.
como tudo é diferente da minha infância e juventude.
se queria ler os clássico nas férias grandes ia a aldeias próximas a casa deprimos mais velhos.
só havia à venda livros do Salgari, do Mota, do Amicis.
o jornais infantis 'sr doutor' e 'mosquito'.
tínhamos de percorrer 40 km de camioneta para Portalegre. velha a cair. ficava em frente da cemitério e ao lado da casa Régio.
quando o 'machimbombo' se encravava eu gritava 'saia o ghado' para ouvir o coro gritar 'têja calado menino'. depois de empurrar para pegar dizia 'e nter o gado' e ouvia 'sujou as manitas?'
Está bem, como quer que lhe chame , José?
ResponderEliminarCulto já percebi que não quer.
Caro Amigo
ResponderEliminartenho horror visceral à palavra cultura em parte por os títulos de intelectual serem passados pelo pcp e ps.
gostei da 'agri-cultura'
por mim verifico que sei umas 'coisas' no meio duma imensidade de que sou completamente ignorante.
prefiro o termo conhecimentos.
ontem referi aspectos da minha longínqua infância e juventude para observar as diferenças.
na minha 3ª classe o Prof ensinou o pessoal a fazer uso do dicionário e a colocar os significados num caderno.
ainda possuo um dicionário s/d que a Porto Editora publicou no final da II GG.
o meu interesse pelo latim vem das tentativas de leitura que fazia duns livros que nos foram legados por um tio-bisavô que foi Padre e cujo nome ignoro.
interessei-me pela origem da minha família, mas desisti, para saber como se formou uma família de rendeiros da Casa do Infantado numa vila acastelada.
Não devia ter desistido...
ResponderEliminarDa minha perspectiva, o problema é um, sobretudo, de exigência.
ResponderEliminarNa escola, sem dúvida. Mas mais do que isso, em casa.
Desde muito cedo que me apercebi que tinha noção de muitas mais coisas que os meus colegas. Nem era coisa que se pudesse precisar, olhando para trás. Mas dava-me muita mais facilidade em aprender o que me ensinavam na escola. Às vezes corrigia professores (como é de calcular isso trazia-me mais problemas que vantagens, mas nunca fiz de propósito, via algo que não correspondia ao que sabia e levantava a questão).
Se na escola era olhado, nesses momentos em que me evidenciava, às vezes com admiração, outras com, suponho, inveja ou coisa que o valha (não recordo nada de particular), mas sempre com surpresa, em casa era o contrário. Sempre me foi dado a entender que não fazia mais que a minha obrigação. Nunca recebi presentes por passar de ano (passei sempre, até à universidade), ou ter boas notas, como muitos colegas meus. Apenas me era exigido o que eu fosse capaz de fazer, mas nunca menos.
Isto para dizer o quê? Para dizer que, por um lado, o que me parecia uma falta de conhecimento escandalosa, era para os meus colegas absolutamente normal. Por outro, o que a eles lhes parecia uma coisa extraordinária de se saber, era para mim apenas um facto que fazia parte do que havia para aprender.
Naturalmente a dúvida instalou-se quando comecei a ter cabecinha para pensar nisso: era eu extraordinário, ou eles "subordinários"? Não tardei muito a perceber que era a segunda hipótese.
Estudei nas mesmas escolas que eles, tive os mesmos professores. Tive explicações de matemática durante um ano apenas. Em nada tive tratamento extraordinário. Simplesmente tive em casa quem nunca tolerou, muito menos glorificou, a ignorância despropositada, como se faz hoje em dia. Estava sujeito a uma exigência mínima e também à noção de que não era nada de especial só porque fazia, tão bem quanto podia, aquilo que me competia fazer.
A escola devia ser mais exigente de facto. Hoje olho para trás e apercebo-me que podia ter aprendido muito mais do que o que aprendi, sem esforço sobrehumano, se exigissem mais. Mas isso não chega. É a mentalidade em casa que define as coisas. É em casa que se faz a diferença entre ter doze anos de instrução ou doze de infantário.