Esta crónica de José Milhazes no Observador de hoje dá-nos uma imagem do que era o socialismo real nos países comunistas que o PCP ainda hoje lamenta terem desaparecido.
Esta crónica, com os factos nela contidos deveria ser suficiente para afastar o PCP de quaisquer veleidades de participar num governo democrático porque o PCP não é um partido democrático como a Europa concebe a democracia. Este sofisma tem mais de 40 anos e continua a alimentar as lourenças e redactores de todos os telejornais porque o jornalismo que aprenderam foi o "antifascista"...
Para o PCP, José Milhazes não conta para nada porque são imunes a este tipo de relatos factuais sobre o que era a liberdade na antiga URSS.
Já é assim desde praticamente a seu aparecimento em Portugal. Em 1935 um herói comunista que esteve no Tarrafal e até escreveu sobre a experiência, esteve igualmente em Moscovo precisamente no tempo dos famigerados "processos de Moscovo" durante os quais Estaline aproveitou para se desfazer de adversários políticos, liquidando-os fisicamente. Assassinando-os, sem mais. Tais crimes foram denunciados nos anos cinquenta, após a morte desse comunista "pai dos povos". O relatório Krutchev foi debatido amplamente em países como a França ajudando a formar a opinião pública. Por cá nunca o foi e por isso há militantes do PCP que nem sabem o que foi um gulag...
O caso passou-se no dia 27 de Junho de 1989 num encontro entre os
secretários-gerais dos partido comunistas português e soviético, sendo
relatado por Leonid Kravtchenko, então director da Rádio e Televisão da
URSS, nas suas memórias: “O Canto do Cisne do Comité de Estado para
Situações de Emergência” (Este comité foi constituído por comunistas
ortodoxos para derrubar o Presidente Gorbatchov na URSS a 19 de Agosto
de 1991).
O programa “Vremia”, que começava religiosamente às 21 horas, abria
sempre com informações vindas do Bureau Político do Comité Central do
Partido Comunista da União Soviética e, nesse dia, uma das notícias
dizia respeito ao encontro, em Moscovo, entre o dirigente soviético e
Álvaro Cunhal, secretário-geral do Partido Comunista Português.
Porém, nesse dia, às 20 horas e 50 minutos, Kravtchenko recebeu um
telefonema urgente de Iegor Ligatchov, então o Nº 2 da hierarquia
soviética, para que ele retirasse do comunicado do Bureau Político
qualquer referência ao encontro com Cunhal.
“Nós enviámos-vos o texto do comunicado do Bureau Político, onde há
uma parte relativa ao encontro com Cunhal. Ele acabou de ser enviado por
fax para o programa “Vremia”. Peço-te, Leonid Petrovitch [Kravtchenko]
que tires do comunicado as considerações sobre as conversações com
Cunhal. Ele está categoricamente contra essas avaliações e ameaça
convocar para amanhã uma conferência de imprensa escandalosa”.
Segundo Kravtchenko, “as conversações estavam a decorrer com grande
dificuldade. Cunhal tinha acusado abertamente a nossa direcção do
partido de deslizamento para o oportunismo”.
A julgar pelos documentos publicados dos arquivos soviéticos, nunca o
dirigente comunista ousara falar assim com um líder soviético.
Porém, as divergências entre Gorbatchov e Cunhal teriam começado logo
a seguir à eleição do primeiro para a chefia do PCUS, em 1985.
Nomeadamente, eles divergiam no que dizia respeito à convocação de uma
conferência internacional de partidos comunistas e operários da Europa
Ocidental.
Na sua obra “Vida e reformas”, o dirigente soviético escreve: “Eu
prestei atenção a isso já em 1985, quando do encontro com Álvaro Cunhal,
secretário-geral do Partido Comunista Português. Ele queixou-se de que
não era possível reunir os partidos comunistas da Europa Ocidental. Cada
partido, então, provava afincadamente a sua independência. Por detrás
disso estava o desejo não só de se livrarem da protecção imposta pelo
PCUS, mas também de desmentir a tese de que os comunistas eram “agentes
de Moscovo”. Tornava-se evidente que uma reunião de partidos comunistas
do velho tipo, que aprovava documentos obrigatórios para todos,
pertencia ao passado. E o aumento da variedade de condições da
actividade dos partidos, que exigia uma diferenciação de posições,
privou de perspectivas a elaboração daquilo a que se chamava uma
“política comum””.
À medida que as reformas de Gorbatchov avançavam, as divergências
dele com dirigentes comunistas ortodoxos aumentavam. A política de
desanuviamento no campo externo e de liberalização do sistema comunista
no plano interno irritava seriamente líderes comunistas como Álvaro
Cunhal. Porém, pouco ou nada transparecia para o mundo externo. Por
exemplo, embora, em 1989, a União Soviética vivesse a época da
“glasnost” (transparência), este conceito ainda estava longe da
liberdade de expressão e a direcção soviética também não queria deixar
passar para fora a imagem das contradições existentes no movimento
comunista internacional a propósito do rumo tomado pela URSS.
Depois da conversa entre Ligatchov e Kravtchenko, restavam apenas
três minutos para o início do programa televisivo mais visto na União
Soviética. Kravtchenko conseguiu telefonar para o redactor-chefe, que,
por sua vez, teve de ir a correr para os estúdios que ficavam noutro
andar. A 3 segundos das 21 horas, quando nos ecrãs surgia de detrás de
um globo terrestre uma das estrelas vermelhas do Kremlin, ele apenas
teve tempo de dizer ao apresentador que “no texto do Bureau Político
nada lesse sobre o Cunhal”. Mas como as alterações dos textos eram
gravemente castigadas, constituíam um crime político, o apresentador
ainda teve tempo de perguntar: “Quem é o responsável?” e o
redactor-chefe de responder: “É o Kravtchenko!”.
“Comecei a ver o programa aterrorizado. Notava-se nervosismo nos
olhos de Suslov (apresentador), que normalmente era imperturbável.
Quando começou a ler a notícia “No Bureau Político do CC do PCUS”, era
notório que ele procurava com o olhar o apelido de Cunhal! Conseguiu!
Ele não leu nada sobre Cunhal. Eu exultei de alegria”, recorda
Kravtchenko.
Pouco tempo depois, Gorbatchov telefonou-lhe para agradecer: “Sabes,
Leonid, estava a preparar-se um grande escândalo, vocês ajudaram-nos.
Obrigado!”.
Mais tarde, segundo reconheceu Kravtchenko, viu-se que, além das
frases sobre Cunhal, o pivot cortou mais duas com uma notícia de grande
importância, mas não foi castigado por isso.
Um ano antes, em 1988, não obstante as graves divergências entre
Cunhal e Gorbatchov, o primeiro aceitou das mãos do líder soviético, que
dentro do PCP já era considerado um “traidor”, a Ordem de Lénine. Os
comunistas portugueses só ousaram condenar publicamente a política do
reformador soviético no dia 19 de Agosto de 1991, quando o Comité de
Estado para Situações de Emergência o prendeu e tentou tomar, através da
força, o poder na União Soviética.
Pelos vistos, Cunhal esperava que o resultado fosse o mesmo que em
1964, quando um golpe palaciano no Kremlin derrubou Nikita Khrutschov do
cargo de secretário-geral do PCUS, mas enganou-se, pois milhares de
pessoas saíram para as ruas de grandes cidades soviéticas como Moscovo,
Leninegrado, Tallinn, Riga, etc. e travaram o restabelecimento da
ditadura comunista.
A URSS deslizou para o seu fim.
com brejnev a urss parecia um escorrega para crianças
ResponderEliminarbarreirinhas ria-se sempre dos outros com todo o seu poder de mofa e mofo
deixou digna descendência que o monhé deseja aproveitar porque anda aos caídos
Surpreende mais, ainda que com a certeza de ser verdade, que haja muito comunista que desconheça o que realmente o comunismo é. O exemplo que deu do gulag é certeiro.
ResponderEliminarO resto sobre o Cunhal é óbvio.
Este fim de semana ouvi "o BE é o braço político do Chapitô. Ri-me muito.
Porque será que os comunas quando renegam a origem se vão aliar á extrema direita?
ResponderEliminarSerá vergonha farsância!
Pela mesma razao que a dita direita extremada convive bem com comunistas e estes nunca a incomodam. Quem incomoda mais essa direita é a democracia parlamentar.
ResponderEliminarTêm conhecimento deste lançamento?
ResponderEliminarhttp://mailings.vidaeconomica.pt//files/2015/livros/novembro/Index_LX.html
no DN, uma página de publicidade do Correio da Manhã sobre a proibição de noticiar o caso Sócrates foi mandada tirar pela administração liderada por Proença de Carvalho.
ResponderEliminarE onde é que essa informação se confirma?
ResponderEliminarPedro Santos Guerreiro do Expresso dixit:
ResponderEliminarhttp://expresso.sapo.pt/newsletters/expressodiario/2015-11-04-Sete-coisas-que-mudam-com-o-acordo-a-esquerda
A coligação de esq prepara-se para uma série de medidas populistas. Sempre foi assim. Ainda não aprenderam com 3 bancarrotas. Cá estaremos para pagar.
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