O Público faz 27 anos hoje e para comemorar convidou Miguel Esteves Cardoso para dirigir um suplemento consagrado à efeméride.
Não tem grande originalidade. Já em 5 de Março de 2008, o então director José Manuel Fernandes tinha feito quase a mesma coisa ao encarregar o mesmo autor de escrever as razões pelas quais não gostasse do jornal ( "o que odeia no Público").
Desta vez o suplemento trata de "Portugal- o lado bom", com histórias de sucesso e assuntos déjà vu, como a aldeia de Monsanto, os emigrantes portugueses, os que regressaram, um ou outro empreendedor de nicho ( Pedro Costa de uma pequeníssima empresa de discos de jazz, padeiros gourmet ou agricultores biológicos) e também alguns sectores tradicionais da pequeníssima indústria portuguesa que sobrevive apesar de tudo e de todos, principalmente os que orientam mediaticamente as notícias.
O editorial do impagável Dinis é assim:
O Público quando começou em 1990 foi logo estupendo, com a direcção do "nosso Vicente" que escreve hoje na última página, assim:
Segundo conta o director Dinis, "o Miguel lembra-se" que a ambição do "nosso Vicente" era fazer um jornal "tão bom como o La Repubblica" . E ele, o "nosso Vicente", fê-lo, segundo o Miguel.
Não fez nada, claro. Esta propensão do Miguel para a distensão encomiástica só encontra paralelo no seu oposto, na retorsão diminutiva e arrasadora quando encontra motivo para tal ( por exemplo na degustação de andouillettes).
O Público do nosso Vicente, tal como o do nosso Dinis é um jornal parolo, coisa que o La Repubblica nunca foi.
Vejamos: quem dirigia o La Repubblica em 1990? Eugenio Scalfari. Scalfari fundou o La Repubblica, em 1976, depois de ter ajudado a fundar o L´Espresso, em 1955. O nosso Vicente foi director do Público, depois de ser jornalista no Expresso.
Scalfari, como esquerdista moderado, nunca escreveria uma crónica semi-idiota como a que hoje o nosso Vicente escreve no Público que compendia os lugares-comuns do jornalismo caseiro, incluindo a vituperação do juiz Carlos Alexandre por motivos que envergonham qualquer cidadão bem formado.
O La Repubblica de Scalfari, a propósito de magistrados teve esta posição editorial e de princípio no início dos anos noventa, com a luta da magistratura contra a Mafia. O mesmo sucedeu, pouco tempo depois com a luta da mesma magistratura contra a corrupção italiana das mãos limpas.
Aqui, o nosso Vicente tem medo da "república dos juízes", como aliás a maioria dos jornalistas.
O Público dos anos noventa, de semelhança com o La Repubblica tinha uma coisa: era um diário de notícias e comentários.
O primeiro número do Público do nosso Vicente tinha esta capa:
Lá dentro, a propósito do assunto principal- o atestado de fossilização do PCP- o nosso Vicente escrevia que "Se o comunismo é, já, um anacronismo histórico, não é possível negar uma dignidade trágica à teimosia irredutível de Álvaro Cunhal."
Pois é este um dos melhores exemplos do nosso Vicente: considerando o comunismo uma curiosidade histórida, dá a mão ao PCP para manter a sua dignidade histórica. Fabuloso!
Eugenio Scalfari teria comentado, eventualmente: poverino...
Em 1992 a capa do La Repubblica a propósito do assunto do momento era assim:
Corta Fitas
ResponderEliminarA verdade, verdadinha, é que as previsões do governo da gerinçonça foram as únicas que falharam:
por Vasco Lobo Xavier, em 05.03.17
António Costa resolveu atacar o Conselho de Finanças Públicas e Teodora Cardoso, dizendo que as suas previsões teriam sido um “monumental falhanço” e deixando cair ainda que as previsões da Comissão Europeia teriam falhado também, que só as do governo estavam certas. Depois vieram os habituais cães de fila dizer o mesmo. A coisa, para lá de ser mentira, é de uma imbecilidade total.
A verdade, verdadinha, é que as previsões do governo da gerinçonça foram as únicas que falharam pois não foram concretizadas na execução orçamental.
Quando o Conselho de Finanças Públicas passou o ano a dizer que o Orçamento de Estado para 2016 era irrealizável estava cheio de razão e acertou no que disse pois a execução orçamental não tem nada a ver com as previsões do governo no OE para 2016. O governo fez coisa completamente diferente do que tinha previsto no orçamento, pelo que não pode gabar-se das suas previsões.
É uma pena que neste país não se discuta com seriedade a execução orçamental para que todos pudessem ver desmontado mais este embuste que a gerinçonça, apoiada pelo PR e defendida pela generalidade da comunicação social, tenta impingir aos portugueses.»
mrs continua acompanhando a comxuxial com dignidade
commedia dell'arte
Quem haveria de dizer que este Dinis passou do Sol para o Observador e para a TSF e o Público!
ResponderEliminarAs toupeiras estão por todo a parte.
O Público alimentado pelos dinheiros das mercearias dos Belmiros e que vende 13000 exemplares merece desaparecer.É um jornal bota abaixo e desmoralizador dos Portugueses sempre fustigados e traídos pelos activistas de o Mundo agora é um só e que não vêm limites aos impostos de quem os paga nem à dívida.Tudo para que o planeta fique contentinho e não andem orgulhosamente sós...
ResponderEliminar"poverino"
ResponderEliminarehehehehehe
Delito de Opinião
ResponderEliminarPensamento da semana
por Rui Rocha, em 05.03.17
Temos de ajudar o Presidente Marcelo a não acabar com a dignidade durante o mandato.»
este também merece a expressão 'poverino'
agora chamam-lhe 'o feirante'
dizem que o belmiro paga a tranquilidade do negócio com o jornal
Zazie, ia comentar igualzinho. Hehe. Também adorei.
ResponderEliminarVou abusar um pouco aqui do lugar, para perguntar se sabe o nome do seguinte na arte: Imagens que têm continuidade umas com as outras independentemente da sua ordem. Por exemplo, 10 estampas formam uma imagem grande, mas trocando de ordem as estampas, forma outra imagem com continuidade. Isto tem um nome e já sou, mas esqueci-me! :)
ah, não sei, JRF. Tipo um cavalo que virado ao contrário dá outra figura?
ResponderEliminarTem um nome, tem, mas também não me lembro. O José, se sabe, há-de lembar-se.
Olhe, até precisava de saber porque me esqueci do nome daquele ilustrador de BD que foi o primeiro a usar um boneco que tanto era um rato com um chapéu grande, como uma bonequinha com saia, se virado ao contrário.
Tinha isso arrumado e perdi. é uma dissemelhança e foi por causa disso que guardei
eehhehe
A ver quem se lembra primeiro. Eu tenho cá guardado, falta saber onde.
O Gustave Verbeek
ResponderEliminardeceptology
É isto que procura?
ResponderEliminarGuardei por causa da patafísica. Estou patarata
ResponderEliminarehehehehe
Serão os ambigramas?
ResponderEliminarMas há outras que são as que serviram para os testes da Gestalt. O gestaltismo usa essas leis visuais de completar a "boa forma".
ResponderEliminarOra cá está um assunto que me ultrapassa e que por isso sinto curiosidade em saber mais.
ResponderEliminarpensei que este tema de Verbeek estava esquecido até verificar aspectos desconhecidos no Pinterest
ResponderEliminartal como Arcimboldo
ou ilusões de óptica por questões de perspectiva
e erros de paralaxe
No caso do Arcimboldo segue uma tradição oriental mas são imagens compósitas que não se podem alterar.
ResponderEliminarEu não sei bem a que se referia o JRF.
No início dos setenta a revista Tintin, na edição original, belga inaugurou uma historieta sem fim: começou com alguns desenhadores a publicarem umas tantas vinhetas, cada um na sua semana e sem conexão aparente entre eles. A historieta desenvolvia-se assim, sem guião pré-definido.
ResponderEliminarDurou uns meses e acho que se chamava a maior banda desenhada do mundo.
Ah, não me lembrava nada.
ResponderEliminarMelhor dizendo:
ResponderEliminarEm Janeiro de 1973 e durante um ano, a revista belga Tintin publicou em cada número semanal uma imagem de página com continuação na semana seguinte, sendo de juntar umas às outras. Ao fim dos 52 números daria para aí uns 15 metros. A ideia, escrita na revista, seria os leitores recortarem e colarem na parede de modo a dar volta ao quarto...ao longo dessas semanas.
Os desenhos e historieta que se desenvolvia eram de Bob De Groot e Philippe Turk, flamengos e celebrado autores da série Clifton. Afinal era uma historieta de continuação, humorística, à base de gags.
A revista chamou-lhe "A maior imagem do mundo". Era patrocinada pela Kellog´s, dos corn flakes...
Tudo em Portugal depende do BCE, até a verdade
ResponderEliminarRui Ramos
3/3/2017
Só quando a política do BCE de juros baixos e financiamento de défices acabar, redescobriremos a verdade em Portugal, para além de todas as mistificações facciosas.
Como seria de esperar, uma semana depois continuamos na mesma no caso das transferências para offshores entre 2011 e 2014. É verdade: descobrimos que não havia apenas um problema de publicação, mas de inspecção, que poderá não ter a ver com o primeiro. Mas ainda ninguém sabe se o Estado cobrou ou não o que devia. Era isso que mais importava saber, porque é o que tem permitido mais insinuações e acusações, mas acontece que é isso precisamente que não sabemos. Vamos saber? Provavelmente, já não será necessário. Todos os objectivos do caso foram entretanto atingidos: o tema da CGD saiu das primeiras páginas, as oposições passaram à defensiva, e a maioria governamental, dividida há uma semana, refez a sua unidade num banho termal de demagogia. O pano pode cair.
Nunca saberemos o que se passou com as transferências, tal como nunca saberemos o que se passou entre o ministro das finanças e António Domingues, nem o que aconteceu na Caixa Geral de Depósitos, o banco que o Estado não podia privatizar, porque era fundamental para compensar as aventuras e os riscos dos banqueiros privados, e que afinal acabou tão falido como os outros e a precisar de tanto ou mais dinheiro. Azar, má gestão, corrupção?
Não sabemos, tal como também não sabemos, ao certo, como atingimos o défice de 2,1%, a que Teodora Cardoso, presidente do Conselho de Finanças Públicas, chamou “milagre”, para escândalo do presidente da república. Como foi? Encontrámos mesmo o Salazar da democracia, o ministro das Finanças que provou que afinal a via para o equilíbrio orçamental é gastar mais com os funcionários? Ou houve apenas uma série de expedientes de última hora — perdões fiscais, cortes de investimentos — forçados no Verão passado pelas autoridades europeias, como condição para o país conservar o financiamento do BCE?
Não sabemos, tal como também não sabemos, ao certo, como chegámos ao ponto onde estamos. Em 2011, o Estado português deixou de se conseguir financiar nos mercados de capitais e teve de apelar à caridade internacional para pagar salários e pensões. No ano anterior, a despesa do Estado chegara aos 51,8% do PIB, o défice orçamental a 11,2% e a dívida pública, que duplicou em dez anos, a 111,4%. A economia portuguesa, entretanto, deixara de acompanhar o crescimento europeu e mundial desde 2001, e iniciara o mais longo processo de divergência em relação à Europa desde os anos 1930. Que se passou? Políticas erradas, má governação, estruturas desajustadas? Ou tudo resultou simplesmente da votação do PEC 4 em Março de 2011, como não se cansa de insistir o arguido da Operação Marquês?
Sim, é verdade que há muitos livros, artigos e relatórios. Cada um de nós até pode pensar que sabe tudo, ou quase. Mas o regime, no seu conjunto, não sabe, porque ao mesmo tempo que o Estado faliu, faliram os consensos e os compromissos, e tudo se reduziu a tema de discórdia e de confronto, mesmo os factos a que, em tempos de optimismo, chamávamos “objectivos”. Num cenário destes, qualquer assunto, por mais grave, serve apenas de mote para intriga e especulação.
Nunca, nesse sentido, saberemos o que se passou. Mas sabemos o que se passa: é o BCE, com a sua política de juros baixos e compras de dívida pública, que vai permitindo esta feira de “erros de percepção”, lapsos informáticos, demagogias vaidosas e operações clientelares. Mas com a inflação na zona euro nos 2%, a pressão sobre as “políticas de estímulo” tenderá a agravar-se. O que quer dizer que um dia, quando o véu de fantasia monetária do BCE deixar de cobrir a nudez forte da verdade portuguesa, descobriremos talvez, não o que se passou com as transferências ou com a CGD, mas o que se vai passar com todos nós, para além de todas as mistificações facciosas. Tudo em Portugal depende do BCE, até a verdade.
E os carneirinhos licenciados que andam no vamos ver como é e que descontaram durante toda a sua rica vidinha vão receber a sua pensão no Totta...porque a Dona Branca vai abrir falência...
ResponderEliminarO público está de parabéns. Excelentes audiências no online, mesmo sem pornografias para ajudar; bons colunistas e assuntos mais interessantes do que a generalidade dos jornais concorrentes. Um jornal isento e livre das amarras dos proenças e dos sobrinhos e dos balsemoes que definem as respectivas estratégias grupais, editoriais e de interesses nos seus jornais.
ResponderEliminar.
Rb
AHAHAHAHAHA
ResponderEliminarPoverino abrantino
O Público só tem uma amarra: a geringonça. E é bem suficiente e mais determinante que todas as demais.
ResponderEliminarÉ uma espécie de Diário de Notícias da sombra.
Curiosamente, os apoiantes da geringonça não o compram. O Público vende 13 mil exemplares. Contando com os que vende à CP para se ler no Alfa, de borla.
Estado Sentido
ResponderEliminarA censura do politicamente correcto também já chegou a Portugal
por Samuel de Paiva Pires, em 06.03.17
É absolutamente inacreditável que a ameaça de violência por parte de um grupelho de estudantes de extrema-esquerda da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa leve ao cancelamento de uma conferência de Jaime Nogueira Pinto subordinada ao tema ‘Populismo ou Democracia: O Brexit, Trump e Le Pen’. Parece que a praga do politicamente correcto que censura o pensamento que não seja de esquerda também já está entre nós, até no seio daquela instituição, a academia, que tem o dever de promover a liberdade de pensamento, a liberdade de expressão e o verdadeiro debate de ideias.»
anche
ResponderEliminarpoveràccio s. m. (f. -a) [pegg. di povero] (pl. f. -ce).
– Persona sventurata, misera, che si trova in tristi o cattive condizioni; per lo più adoperato come espressione (anche generica) di commiserazione: è un p., come può pagare un affitto simile?; che colpa ne ha lui, p.?; poveracci, non si meritavano una simile disgrazia!»
tchau
Não é isso Zazie… São imagens que se encadeiam umas nas outras, mesmo mudando a ordem. Imagine uma paisagem — constituída por 10 imagens. Todas encaixam umas nas outras, portanto a ordem pode ser qualquer que continua a fazer sentido visualmente. Não sei como me esqueci do nome disto… e procurando no google de todas as formas que me lembro, não me aparece. É quase como se fosse um anagrama, mas com imagens — não são as letras que formam imagens.
ResponderEliminarBrutto poverino!
ResponderEliminarEssa história da U Nova é de bradar aos céus. Inacreditável mesmo.
ResponderEliminarBem lembrado a do Alfa… e a TAP também deve ficar com alguns, por caridade. Eu nem de borla o quero.
ResponderEliminarMas qual crise de qual jornalismo qual quê
ResponderEliminarConsidero que a propalada crise do jornalismo não é real. Como pode estar em crise algo que não existe? Hum? É como dizer: “ – Olha, aquele dinossauro está co’ a gripe.”
O jornalismo não existe quando o jornalista d-existe. O jornalismo não existe quando o jornalista não r-existe. De quê e a quem? Do aturado esforço e ao fedelho economês que o patrão nomeou director, por exemplo. Hoje em dia, parasitam as redacções os servis sicários que mataram as notícias para parir os conteúdos. É a praga das sinergias, a maleita dos empreiteiros/merceeiros donos de jornais. Por todo o lado, são analfabetos funcionais a mandar em quem escreve. Gagos mentais a editar o que se diz. Cegos voluntários a dar que ver. Com isto, jornais, rádios e televisões involuíram para monturos de lixo auto-reciclável que, todo o santo dia, esvaziam de qualquer préstimo todo o amanhã que, hoje, tresanda a ontem.
Ter sido ou não ter sido penalty esmaga ou não esmaga, em presença & relevo, o desemprego real? Esmaga. A última do presidente-da-bola é ou não é mais premente do que o esvaziamento curricular do ensino? É. O sufoco fiscal de trabalhadores & empresas vale alguma coisa face aos debates quadrangulares da recente jornada da Liga? Vale nada.
Reitero: a crise do jornalismo não é real porque o jornalismo é irreal e porque a crise é decalcada da financeira de 2008. O cavador deixa de ser jornaleiro no dia em que for tão dono da enxada como do chão em que a crava. Jornalistas, hoje em dia? Bah, jornaleiros! Acomodados a soldo de caciques (nacionais como multinacionais, de Lisboa como regionais – note-se bem), o escrevente verga o espinhaço gelatinoso ao frete – conseguindo do autarca parlapatão a publicidadezinha nojenta capaz de pagar a água do autoclismo. E aí vai ele de cuspinhar em Microsoft Word o marketing da promoção pessoalizada do fabricante de torneiras local. É vê-lo de microfone a louvaminhar por todo o lado “aqueles que se amamentam da Pátria”, meu bom Jacques Prévert.
Foi felizmente breve a minha incursão pelo jornalismo remunerado. Todavia, não foi por ignorância minha que (re)conheci pouquíssimos jornalistas – foi porque eram e continuam a ser poucos os que merecem esse título profissional. Lisboa era um nojo: campeavam os génios esquecidos, as luminárias do croquete, os amásios da fonte-inventada; grassava a cáfila dos romancistas embrionários tipo Nobel-para-a-semana, dos poetas desiquilibristas, dos guionistas de têvênovela. Coimbra? Jesus Senhor, Coimbra! Mais doutores por metro (como eles) quadrado do que honestas pulgas em cão solto. O Porto? Não sei, passei por lá a caminho de Braga mas retornei de barco até à Figueira da Foz. Aveiro & Viseu? Mas isso existe? Leiria? Não queirais que Vos fale de Leiria. Invoco razões higiénicas. Onde o jornalismo sério for embondeiro, Leiria é logradouro de erva rala. Daninha, naturalmente.
Não, não reconheço nem crise nem jornalismo. O que por aí se faz – é lama da digestão. Restos-zero à esquerda & à direita. Sabujices de obra-nada. Coisas de meter em saco plástico a caminho do contentor mais perto de si. Rácio de dez opinadores bêbedos por cada jornalista sóbrio. Terraplenadores da democracia, papagaios da cotação-em-bolsa que estão para os mercados como os freudianos para as mamas da própria mãe.
Ná! Crise nenhuma, jornalismo quase nenhum. Que me resta? Resta-me O RIBATEJO. Resta-me O RIBATEJO porque aqui a enxada é minha. A enxada é minha e o chão é nosso. Sim, o mesmo chão por onde ontem o dinossauro e hoje a gripe.
Daniel Abrunheiro
Mas qual crise de qual jornalismo qual quê
ResponderEliminarConsidero que a propalada crise do jornalismo não é real. Como pode estar em crise algo que não existe? Hum? É como dizer: “ – Olha, aquele dinossauro está co’ a gripe.”
O jornalismo não existe quando o jornalista d-existe. O jornalismo não existe quando o jornalista não r-existe. De quê e a quem? Do aturado esforço e ao fedelho economês que o patrão nomeou director, por exemplo. Hoje em dia, parasitam as redacções os servis sicários que mataram as notícias para parir os conteúdos. É a praga das sinergias, a maleita dos empreiteiros/merceeiros donos de jornais. Por todo o lado, são analfabetos funcionais a mandar em quem escreve. Gagos mentais a editar o que se diz. Cegos voluntários a dar que ver. Com isto, jornais, rádios e televisões involuíram para monturos de lixo auto-reciclável que, todo o santo dia, esvaziam de qualquer préstimo todo o amanhã que, hoje, tresanda a ontem.
Ter sido ou não ter sido penalty esmaga ou não esmaga, em presença & relevo, o desemprego real? Esmaga. A última do presidente-da-bola é ou não é mais premente do que o esvaziamento curricular do ensino? É. O sufoco fiscal de trabalhadores & empresas vale alguma coisa face aos debates quadrangulares da recente jornada da Liga? Vale nada.
Reitero: a crise do jornalismo não é real porque o jornalismo é irreal e porque a crise é decalcada da financeira de 2008. O cavador deixa de ser jornaleiro no dia em que for tão dono da enxada como do chão em que a crava. Jornalistas, hoje em dia? Bah, jornaleiros! Acomodados a soldo de caciques (nacionais como multinacionais, de Lisboa como regionais – note-se bem), o escrevente verga o espinhaço gelatinoso ao frete – conseguindo do autarca parlapatão a publicidadezinha nojenta capaz de pagar a água do autoclismo. E aí vai ele de cuspinhar em Microsoft Word o marketing da promoção pessoalizada do fabricante de torneiras local. É vê-lo de microfone a louvaminhar por todo o lado “aqueles que se amamentam da Pátria”, meu bom Jacques Prévert.
Foi felizmente breve a minha incursão pelo jornalismo remunerado. Todavia, não foi por ignorância minha que (re)conheci pouquíssimos jornalistas – foi porque eram e continuam a ser poucos os que merecem esse título profissional. Lisboa era um nojo: campeavam os génios esquecidos, as luminárias do croquete, os amásios da fonte-inventada; grassava a cáfila dos romancistas embrionários tipo Nobel-para-a-semana, dos poetas desiquilibristas, dos guionistas de têvênovela. Coimbra? Jesus Senhor, Coimbra! Mais doutores por metro (como eles) quadrado do que honestas pulgas em cão solto. O Porto? Não sei, passei por lá a caminho de Braga mas retornei de barco até à Figueira da Foz. Aveiro & Viseu? Mas isso existe? Leiria? Não queirais que Vos fale de Leiria. Invoco razões higiénicas. Onde o jornalismo sério for embondeiro, Leiria é logradouro de erva rala. Daninha, naturalmente.
Não, não reconheço nem crise nem jornalismo. O que por aí se faz – é lama da digestão. Restos-zero à esquerda & à direita. Sabujices de obra-nada. Coisas de meter em saco plástico a caminho do contentor mais perto de si. Rácio de dez opinadores bêbedos por cada jornalista sóbrio. Terraplenadores da democracia, papagaios da cotação-em-bolsa que estão para os mercados como os freudianos para as mamas da própria mãe.
Ná! Crise nenhuma, jornalismo quase nenhum. Que me resta? Resta-me O RIBATEJO. Resta-me O RIBATEJO porque aqui a enxada é minha. A enxada é minha e o chão é nosso. Sim, o mesmo chão por onde ontem o dinossauro e hoje a gripe.
Daniel Abrunheiro
Não sei, JRF. Tem algum exemplo ou memória dele?
ResponderEliminarCaleidoscópio?
ResponderEliminarMas são imagens abstractas ou geométricas?
ResponderEliminarUm tangrama chinês?
ResponderEliminareheheheh
O que eu vi não era geométrico nem abstrato, mas suponho que possa ser… eram desenhos encadeados feitos de tal forma que podiam trocar de lugar e continuavam a encaixar e fazer sentido… Não é coisa recente, já vem de longe.
ResponderEliminarIrrita-me já não saber o que já soube :) . Estou a lembrar-me que enviei por mail um exemplo e o nome a um tipo com quem já não me dou muito… a ver se isso aparece.
Os desenhos de Escher?
ResponderEliminarTambém não.
ResponderEliminarehehe
ResponderEliminarFiquei curiosa com o que poderá ser.