Pelos vistos, hoje é o dia mundial da Rádio, ou do rádio como gosto mais de dizer. Rádio para mim é masculino.
Na apresentação da efeméride dá-se conta de alguns programas de rádio ao longo dos anos. Esquecem-se alguns ou nem se referem, incluindo alguns locutores de grande mérito, como um Carlos Cruz e outros. O rádio, ao longo destas décadas, vindas já de meados do séc. XX era bastante plurar e tinha programas com grande interesse.
Em meados dos tais setenta, havia programas que passavam discos inteiros que podiam ser gravados e assim se ficar a conhecer a música que de outro modo só comprando os discos se conhecia.
Havia divulgadores, como um José Nuno Martins, outra grande figura do meio, aqui esquecida e que deu a conhecer quase tudo da música brasileira que então havia e ia aparecendo.
Uma dupla de uma qualidade acima de tudo, e que era o falecido Jaime Fernandes ( Dois Pontos...) e o João David Nunes que colaborou depois em grandes programas de rádio nos anos oitenta, em parceria com um improvável Miguel Esteves Cardoso, num incrível À sombra de Edison. E outros que agora nem recordo.
Lembro-me da maioria destes programas de rádio porque foi sempre uma coisa que me habituei a ouvir: o rádio, desde os primórdios dos anos setenta que me chamava a atenção e antes disso havia quem ouvisse e eu escutava também por vizinhança sonora.
Ainda hoje ouço rádio, com muita regularidade diária, no carro e em casa. Agora quase sempre a Antena 2 porque o resto é uma mistela de sons desinteressantes que se tornam inaudíveis, para mim. Porém, ao fim de semana ainda escuto programas na Antena Um, da parte de manhã, particularmente os programas de David Ferreira, filho do Mourão Ferreira e indivíduo experiente nessas andanças das músicas de todos os géneros, inclusivé o fado e talvez com excepção do folclore dos ranchos de aldeia. Uma lacuna...
Se me fosse dado escolher o programa de rádio de sempre e da minha preferência, não o encontro naquele breve elenco acima mostrado.
Podia ter sido este que se mostra num artigo da revista Século Ilustrado de 14.1.1967 e se chamava Em Órbita, aliás ali elencado.
Mas a este não cheguei a tempo, porque começou em 1965 e acabou em Maio de 1971, no formato inicial, antes de eu o conhecer:
( estas duas imagens, em arquivo, tirei-as de qualquer sítio que não anotei)
Mais tarde foi retomado apenas com divulgação de música erudita e em 1974 apreciava o indicativo de tal programa, uma peça da Missa Alemã de Schubert, na interpretação de Hellmut Wormsbächer com o coro de câmara de Bergedorf, num disco da Valentim de Carvalho de 1973 e cuja versão durante anos andei à procura até o encontrar por acaso numa loja de discos usados perto do Chiado.
Não foi esse o programa que me impressionou mais durante estas décadas, por essa razão particular. Foi este que se publicitava na revista Flama do início dos anos setenta:
Em 30 de Julho de 1971, como mostra esta publicidade da mesma Flama ( revista que fazia parte do grupo União Gráfica, S.A.R.L. ligada ao Patriarcado de Lisboa) o programa já era até às 21:00:
Nesse mesmo número aparece uma entrevista a Carlos Cruz que mostra bem o que era o rádio e o mercado dos discos nesse tempo:
O programa de música Página Um é que me preenchia os fins de tarde das semanas de final do ano de 1974 até ao Verão de 1975. Nessa altura já acabava às 9 da noite, menos uns minutos. E tinha uma apresentação de luxo, com um tema composto de propósito para o programa por um grupo do Porto, os Pop Five Music Incorporated, que incorporava Miguel Graça Moura, como aqui se mostra com a cabeça recortada...numa imagem da revista Flama de 1971.
O single, precisamente Page One, em inglês porque o português nessa altura era considerado parolo, pode até ser ouvido aqui, neste óptimo blog.
Já contei aqui como era...e durante esses meses anotei em papéis como este todas as músicas, publicidades e intervenção do locutor, Luís Paixão Martins que então se apresentava como Luís Filipe Martins.
Este sim, é que é o programa de rádio de que me lembro melhor e julgo que será por um motivo particular: era nessa altura que saía e se apresentava em tempo real a melhor música popular que foi produzida no séc. XX!
E fui testemunha disso.
Julgo que se fazia num ambiente destes, o estúdio da Rádio Renascença dos anos setenta, com um gira discos que me parece um Garrard 301, e se for, uma belíssima máquina, ainda hoje:
O rádio, esse tinha sido celebrado por um artista italiano, de esquerda, como convinha, chamado Eugenio Finardi que tinha esta canção no álbum Sugo, de 1976:
A letra celebra os "rádios livres".
Para se poder verificar o que era o rádio em 1983 nada melhor que esta página do Sete, de 12 de Outubro desse ano. Isto é que era rádio! E em FM esterio.
Afinal o "À Sombra de Edison" era o "À luz de Edison"...
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