Enquanto jovem filho de migrantes portugueses para Angola nos anos 50, para lá foi também e por lá viveu o tempo suficiente para só falar agora em crioulos e negros mais os brancos. É um antiracista que só fala em raças, o que não deixa de ser curioso. Quando as pessoas passam verdadeiramente a serem todas iguais na essência do que são, desaparecem as raças...
Quando era ainda adolescente testemunhou violências inauditas contra pretos que para si são sempre negros, praticadas por brancos e negros.
Numa encruzilhada qualquer dessa vida virou à esquerda, desencaminhou-se para a extrema até encontrar a tropa que o acolheu e que depois o expulsou por causa de descaminho ideológico e malfeitorias tecidas de deslealdades.
Num atalho qualquer meteu-se na guerrilha do MPLA e tornou-se angolano dessa gema de pátria contra aquela que o viu nascer. Traidor à pátria? Sem dúvida, na lógica dos conceitos e palavras. Desertor? Assumido e pelos vistos "com muita honra", como o do anúncio bimbo.
Enquanto traidor, desertor e com a honra incólume de extremado esquerdista, meteu-se num grupelho para arruinar um país e uma nação que o viu nascer e aos pais e onde agora vive, por conta de ideias peregrinas. Eram as fantásticas teorias de um tal Trotski, de nome LCI, da qual fazia parte um tal Louçã, também ele filho de militar de uma pátria que entendia madrasta e de cujo Estado o filho agora faz parte como conselheiro. Imagine-se!
Não satisfeito com o feito, em 1975, já com idade para ter juízo, este filho adoptivo de Angola, remeteu-se a uma organização bandalha dentro das forças armadas nacionais, as quais aliás tinha jurado servir com lealdade, para as "destruir por dentro", criando os risíveis SUV.
Desiludido com a derrota em Novembro de 1975 repartiu outra vez para Angola onde se juntou a "fraccionistas" -os "Van Dunem"- que foram assassinados e por sorte escapou ao mesmo destino, tendo regressado a penates. Tal como outros ( a actual ministra da Justiça), se a sorte tivesse corrido de feição lá teriam ficado nos governos e destinos que depois tiveram os eduardos zedús e quejandos kopelipas e dinos. Não seriam eles quem faria diferente do que é, certamente.
Até a uma idade bem adulta foi esse o percurso de uma vida aventureira. Agora, em ditos avulsos renega a radicalização mas não muito. Apenas o suficiente para ser brindado com a tradicional prenda oferecida por uma roma que não paga a traidores.
Filosofa com artigos de um jornal francês que então lia, o Le Monde que classifica como sendo "conservador de esquerda", seja lá isso o que for que pouco ou nada é.
Não sendo formado academicamente em nada, "aprendeu jornalismo a ler jornais" e por isso cita um cronista albanês, Escarpit, refugiado em França, como modelo de escrita resumida a 500 caracteres na primeira página do Monde.
Como tenho por cá um exemplar dessa época, do tempo da crise do petróleo e da inflação, em 15 de Novembro de 1973, passo a mostrar como eram as crónicas Au jour le jour, de Robert Escarpit, no fim da primeira página.
Curiosamente a crónica é acerca das pessoas cuja existência nem se menciona, na senda do conceito de Orwell. A teoria era então seguida pela extrema-esquerda de modo primoroso, aplicando-se hoje em dia ao fenómeno A. Ventura...
Portanto esta introdução à figura do jornalista e cronista Ferreira Fernandes, justifica-se por causa de uma entrevista extensa que o mesmo concedeu à revista Ler, edição de Primavera/Outono de 2020. A revista tira um pouco mais de seis mil exemplares, o que é uma vergonha num país de esquerdistas letrados nas leituras, como Ferreira Fernandes.
Sobre a personagem já dei aqui várias vezes para o peditório da sua notoriedade, mas faço-o sempre com agrado porque afinal é escriba que gosto de ler, geralmente. Pelo estilo próprio, pelos temas por vezes impróprios e até pelas obsessões nada apropriadas, como seja a do racismo que seria bem melhor ficar um pouco mais órfã para ver se resiste à ideologia do cancelamento de ideias adversas.
Ferreira Fernandes é dos cronistas que podem escrever como o tal Escarpit, porque viveu experiências suficientes para saber alguma coisa que a generalidade dos que escrevem em jornais não sabe. Paradoxalmente é pena que tenha esquecido pouco daquelas "estranhas ideias" que tanto nos fizeram mal como país e nem se arrependa disso. Antes pelo contrário.
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