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segunda-feira, outubro 31, 2022

Os Beatles e o Revolver de luxo

 Já saiu a reedição do disco dos Beatles, Revolver, originalmente publicado no Verão de 1966. A nova reedição segue-se a outras, de outros discos dos Beatles e que começaram a surgir em publicações cuidadas, em caixinhas com vários discos, em vários formatos ( LP, cd, bluray e streaming digital)) e documentação de época.

Esta leva de reedições começou em 2017 com o disco Sgt.Pepper´s Lonely Hearts Club Band; em 2018, com o White Album; em 2019 com o Abbey Road e em 2021 com Let it Be/Get Back. Todos em caixinhas variadas e preços a condizer, mas também em reedição singela. 

Agora saiu o Revolver daquele longínquo ano de 1966, a seguir a outro grande disco do grupo, Rubber Soul, do ano anterior e que também contém algumas das melhores canções dos Beatles. Há até quem considere este ou aquele como o melhor disco da banda.

Por mim não tenho opinião definitiva e tendo em conta que os Beatles produziram cerca de 10 horas de música original na sua carreira, a meia hora de Revolver representa uma fracção de tal obra. 

Este disco, tal como o Pet Sounds, dos Beach Boys, lançado meses antes,  foi produzido originalmente em gravação monofónica, também acompanhada da versão em estéreo. O disco dos Rolling Stones da mesma altura, Aftermath, de que tenho uma cópia original, gravado em estéreo não apresenta grande sonoridade comparada com as gravações actuais e é nesse contexto que tais gravações devem ser apreciadas. Eram outros tempos e outras técnicas, ainda não muito desenvolvidas como mais tarde sucedeu, dali a poucos anos. 

Em Portugal, na época, o disco passou despercebido, pela certa, tirando os ep´s, particularmente com o Yellow Submarine, um êxito que me lembro de ouvir e que se repetiu mais tarde com o filme do mesmo nome, alguns anos depois. Quanto a críticas ao disco nunca vi nenhuma publicada porque nem existia na época imprensa dedicada e especializada, como apareceria dali a algum tempo, com o Mundo da Canção. 

Em meados da década de sessenta a sonoridade mono tinha maior procura do que em estéreo, algo ainda experimental e por isso todo o cuidado foi colocado na preparação da gravação nessa forma de apresentação da música misturada como um todo e sem separação de instrumentos ou vozes pelos dois canais do estéreo, não obstante as gravações poderem ocorrer em várias pistas das diversas fitas "reel-to-reel", bobines, em processos completamente analógicos. 

As fitas originais de tais gravações, no caso dos Beatles ficaram guardadas em latinhas metálicas durante estas décadas e poucas vezes saíram do sítio onde estavam para servirem novas reedições. 

Uma das vezes em que tal ocorreu foi em 2009, com a reedição numa caixa grande de todos os discos dos Beatles com a sua publicação em mono, mas em cd,  para além de servirem para serem gravados digitalmente e com vista a reedições posteriores, em estéreo, com remisturas dos temas e rematrizações das fitas originais para prensagens de novos discos.

Essa caixa de 2009,  considerada hoje uma raridade e por isso com elevado valor acrescentado foi reeditada em Setembro de 2014, recolhendo então as versões em vinil, dos lp´s, atingindo esta também um valor muito elevado no mercado da especialidade porque era considerada até agora,  como a melhor reprodução dos discos originais, incluindo os das caixinhas publicadas desde 2017 até agora, ao Revolver.

Em Agosto de 2014 a revista Hi-Fi World anunciava a novidade e como foi produzida essa caixa já mítica pela raridade e valor acrescentado pela procura: todos os discos tirados das fitas originais, com indicação do autor da obra de transcrição das fitas originais ( Sean Magee, o que agora também realizou a transposição de Revolver, na versão mono em lp) e do método ( um gravador original Studer A80 para tocar as fitas originais e um gravador de prensagem do artefacto lacado, VMS 80, de feitura recente). 


Nesta página da Hi-Fi World de Outubro de 2014 apresentava-se a escolha de caixas com a música dos Beatles então disponíveis.


Antes disto havia as reedições que durante as últimas décadas, dos setentas até agora, acompanharam toda a obra dos Beatles, com destaque para a reedição nacional em LP, da discografia do grupo em 1982, e depois disso em cd, no final dos anos oitenta. 


Assim, a última reedição do disco Revolver em vinil, em mono, foi em 2014 e é essa a versão que tinha até agora, uma vez que não tenho o original de 1966, ao contrário de Rubber Soul. 

Tenho porém uma compilação de 1973 que traz algumas canções do disco de 1966, como Yellow Submarine e permite por isso comparar as sonoridades dos diversos discos em formato lp. O formato cd, neste caso é quase coisa espúria, digital e sem termo de comparação válido para o efeito. 

Assim, tudo isto me permitiu comparar o novo Revolver, gravado também das fitas originais, com prensagem do artefacto lacado, pelo dito Magee, na sua versão mono e arranjado e remisturado de novo, na versão estéreo por Giles Martin, filho do produtor original do disco e dos Beatles, George Martin.

Ouvi cuidadosamente, mesmo com auscultadores,  as versões em estéreo e mono do disco Revolver agora reeditado numa caixa com quatro lp´s e ainda um ep. Comparei essas versões com o disco gravado em mono de 2014 e a canção Yellow Submarine contida na compilação de 1973, gravada em estéreo e a conclusão a que cheguei, depois de dormir sobre o assunto é definitiva, para mim: esta versão em estéreo, de 2022, remisturada, do disco Revolver, por Giles Martin, é melhor que a original, no que se refere por exemplo ao Yellow Submarine

Quanto à versão em mono, de 2022, é também melhor do que a de 2014 tida como o nec plus ultra até agora. Possivelmente, a versão original, em mono, de 1966, leva a palma, mas não posso afirmar porque não ouvi. 

De resto, prefiro a versão em estéreo, agora remisturada, à versão mono, mesmo esta de 2022. É mais aperfeiçoada, para mim. Mais interessante na remistura dos sons e vozes e na clareza da reprodução sonora, não se assemelhando, nesse aspecto às versões anteriores dos discos referidos, de 2017, 2018, 2019 e 2021, sensivelmente inferiores aos originais, todos eles. Esta não guarda resquício de digitalite. 

É um facto que a remistura da sonoridade original das fitas de Revolver, com vista à versão estéreo do LP, foi realizada a partir de uma cópia com elementos digitalizados em alta resolução e técnica recente, atribuída a Peter Jackson (o de Get Back) , mas o trabalho de recomposição dos temas não altera a essência musical e a forma de tocar e cantar dos elementos dos Beatles, como acontecera em 2008 com a publicação do disco Love, também remisturado e modificado nos temas originais do grupo, aperfeiçoado no som mas artificial na apresentação, demasiado composto e limpo de subtilezas, coisa que o vinil original não padece. 

É um regalo ouvir esta nova versão remisturada do álbum, em estéreo e vale por isso o dinheiro que custou. 

Quanto à apreciação crítica do disco e da sua reedição a melhor exposição é da revista Mojo de Novembro deste ano. Assim:














E da Record Collector de Setembro de 2009:


Dito isto, quem é que hoje ouve a música dos Beatles, designadamente este disco de 1966, gravado ainda segundo técnicas pouco evoluídas e destinado a ser escutado em rádios de onda média e aparelhagens sofríveis, em mono? 

Quem é que ainda aprecia ouvir a primeira música, Taxman, do modo que se ouviria em 1966 ou Here, There and Everywhere do mesmo modo?
Não sei e segundo julgo pouquíssima gente. E em LP, ou exclusivamente nesse formato ainda menos. E com vontade de comparar o que houve ao longo destas décadas de modo a escolher a melhor versão, então nem se fala! É coisa para apaixonados pelo som e pela qualidade inerente que alguns lp´s comportam, através das gravações que então se fizeram. Portanto, coisa para o que se designa vulgarmente por audiófilos, os gloriosos malucos das máquinas de girar discos e da aparelhagem que lhes amplificam a sonoridade e a reproduzem nas melhores circunstâncias possíveis de obter. Uma imensa minoria de pessoas que sabem o segredo que tal comporta e o prazer imenso que tal provoca. 

E no entanto, há nos canais you tube uma série de comentadores de gabarito mais que provado e que se  entretêm nesses afazeres de comparar e dizerem o que pensam das várias versões de um disco com mais de 50 anos em cima. 
Nem todos concordam e há quem seja simplesmente iconoclasta. Porém, há quem compre as caixas, embora em quantidade muito menor do que se compravam os discos na altura em que saíram. Daqui a uns anos valerão pequenas fortunas...

Ainda sobre o Revolver e para ficar registado, dois artigos. Um da revista Mojo de Julho de 2006, aquando do 40º aniversário do álbum, sobre o modo de captar o som em estúdio.




Outro sobre o modo de recuperação da sonoridade gravada nas pistas das fitas originais, para a reedição de 2022:




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