Páginas

quarta-feira, junho 14, 2023

Retrato naturalista da nossa miséria de esquerda: os bigodes da vida

 Jornal i:











Este artigo, assinado por Eduardo Oliveira e Silva, jornalista maduro, da minha geração, tem este perfil no portal Ciberdúvidas:

Há uma dúzia de anos deu a conhecer as suas canções de vida...e o que resulta do perfil e de tais opções estéticas chegam para mostrar algo muito simples: é do tempo de Regianni, das utopias românticas e aposto que andou pelas veredas do socialismo democrático ou da social-democracia antifassista. Foi responsável por uma informação pública que acabou por formar mediaticamente aqueles que agora acha serem os incompetentes da República, os inúteis da democracia e os embusteiros do progresso postiço. Ou seja, foi certamente um dos soldados mais empenhados no combate para formar a sociedade que temos actualmente. Queixa-se dela...pois tem o resultado do que plantou e semeou, no seu eido da RDP, RTP e Lusa, além de outros lugares. 

Esta geração de Eduardo Oliveira e Silva que é a minha também, é responsável por este estado de coisas de que a mesma se queixa agora amarguradamente mas com toda a razão exposta. 
Fomos educados num sistema radicalmente diferente do que temos e afastamo-lo porque o consideramos fascista, associando-nos depois a ideias estranhas ao nosso viver habitual, vindas do estrangeiro dos intelectuais que lá foram tirar doutoramentos e por cá apareceram como portadores das luzes, para afastar a escuridão do fassismo. 
O sistema democrático que temos falhou redondamente na escolha dos líderes que temos e tivemos nos últimos 50 anos, depois da Revolução. 
Não conseguimos sair da irrelevância geográfica em que estamos acantonados e nem sequer sabemos como melhorar. Para fazermos qualquer coisa que transcenda o corriqueiro plano de gestão, importamos ideias e estudos, mais os pareceres de entidades consultoras que respondem de acordo com o que supostamente julgam ser o nosso interesse. Falam por nós uma mão cheia de pessoas que não deviam falar a não ser para os do meio. Os consultores são os que governam o país há dezenas de anos, praticamente desde o tempo do famigerado Relatório Porter. Os políticos que se elegem democraticamente servem para os contratar e manter o poder para tal. Um democracia sui generis, portanto.  
 
Há um pouco mais de dez anos escrevi isto, sobre o tal indivíduo que veio cá a convite do ministro Mira Amaral que por este não saber o que fazer ao país, encomendando o estudo inaugural de uma moda tornada regra de conduta dos governos sucessivos:

Michal Porter é um académico norte-americano, consultor, conferencista e que nos anos noventa esteve cá em Portugal, a convite de um governo de Cavaco Silva para estudar e apresentar relatório sobre as nossas vantagens competitivas. Parece que o programa PEDIP pagou o estudo e que deu até para outros estudiosos apresentarem estudos universitários.
Ontem li qualquer coisa algures sobre a nossa indústria têxtil ser um exemplo de adaptação e renovação cujo modelo o tal Porter então previu como caminho a seguir.
Hoje no Público deparei com este artigo de um ilustre membro de uma academia de conhecimento, em forma de programa.
Francisco Jaime Quesado cronica no Público, de vez em quando, mas já cronicou o jornal i. Hoje ao ler a crónica lembrei-me de qualquer coisa porque o nome Porter ficou-me desde o tempo da parolice cavaquista.
E o que li deixou-me estupefacto. Os "choques de competitividade" também passam pelos auto-plágios, ou o tempo para escrever coisas originais já não chega? Este tipo de habilidades revela uma desonestidade para com os leitores que não deixo passar sempre que as topo. Sorry.


Acima, a crónica do Público de hoje. Abaixo, a crónica no i, de 24.3.2010, do mesmo autor:

"Quando nos anos 90 o Professor de Harvard Michael Porter elaborou o célebre Relatório, encomendado pelo Governo Português de então, o diagnóstico sobre o que fazer e as áreas estratégicas de actuação foi muito claro – ou se reinventava por completo o Modelo Económico ou então a Economia Portuguesa tenderia a morrer com o tempo. Quase vinte anos depois, o balanço é conhecido – Défice Estrutural Elevado, Desemprego incontrolado, um Tecido empresarial envelhecido e ultrapassado. Urge mudar. Mas haverá solução? O que diria Michael Porter se voltasse hoje a Portugal?

Porter voltaria a dizer – desta vez com muita mais força – que a aposta nos Factores Dinâmicos de Competitividade, numa lógica territorialmente equilibrada e com opções estratégicas claramente assumidas é o único caminho possível para o futuro. Falta por isso em Portugal um verdadeiro Choque Operacional capaz de produzir efeitos sistémicos ao nível do funcionamento das organizações empresariais.

Uma Nova Economia, capaz de garantir uma Economia Nova sustentável, terá que se basear numa lógica de focalização em prioridades claras. Assegurar que o “IDE de Inovação” é vital na atracção de Competências que induzam uma renovação activa estrutural do tecido económico nacional; mobilizar de forma efectiva os “Centros de Competência” para esta abordagem activa no Mercado Global Se Michael Porter voltasse a Portugal, não poderia dizer outra coisa. Por isso, torna-se um imperativo de identidade nacional saber que será sempre possível não desperdiçar esta nova oportunidade."

 Foi com este tipo de especialistas que vivemos nas últimas décadas...e por isso o resultado está à vista.

Por outro lado, este tipo de comentários sobre o nosso infausto destino, lembra-me o retrato de uns bigodudos do tempo dos afonsinhos do sec. XIX que se auto-intitularam "os vencidos da vida", tendo como personagem destacada o escritor Eça de Queirós. 


Imagem tirada daqui.


Diletantes e literatos, como são agora os comentadores, nunca fizeram nada que se visse para alterar o destino e muito menos pegar-lhe pelos cornos e enfrentá-lo, numa metáfora de outro dos tais, o poeta e fingidor que acreditava em utopias e cantava a tourada em modo críptico para atacar o regime que até agora foi o único que fez o que eles nunca fizeram, precisamente pegar o destino pelos cornos e dar uma esperança a Portugal.  
Esse regime durou genericamente 48 anos e agora é vilipendiado como obscurantista, fassista e sei lá que mais! O que está tem 50 anos e o resultado a que chegamos é o exposto, muito semelhante ao dos vencidos da vida: desilusão, atraso continuado e ausência de perspectivas de melhoria a breve trecho. Um falhanço, portanto. 
Para entender as razões de tal falhanço ando aqui a escrever há vinte anos...e a conclusão a que cheguei é simples: não é a democracia que está em causa; é, sim, o sistema dos arautos desta democracia, com destaque especialíssimo para uma esquerda socialista que vive de vilipendiar o regime anterior, com receio de que este lhe mostre que vai nu. Como efectivamente vai. E por isso precisa cada vez mais de mostrar que aquele regime tinha o diabo em pessoa a mandar e era o pior que havia à face da terra. E para tal discurso contribui- e muito- a plétora de jornalistas, apaniguados do sistema e outros politicamente correctos como é o caso do autor do escrito do i de hoje. 

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.