Crónica de João Miguel Tavares com a habitual fuga em frente perante o insustentável desejo de escrutínio de políticos no activo que se confunde com o desejo de saber a marca das meias dos candidatos.
Sendo uma caricatura, integra muito bem a lista de itens que o cronista entende como escrutináveis num político como Montenegro ou Pedro Nuno Santos. Afinal o que o mesmo pretende é saber tudo o que permita construir um "perfil do candidato". E isso inclui tudo o que mereça tal relevância, incluindo o preço da casa e portanto dos materiais e construção, bem como os meios para os pagar, principalmente estes.
Santa ingenuidade e triste voyeurismo, completamente desnecessário para o efeito de se saber se um político presta para o cargo!
Para que um político possa sê-lo, com a legitimidade que lhe confere o voto, basta que se apresente como tal, cumprindo as respectivas obrigações legais. Estas incluem, actualmente, declarações de bens e rendimentos apresentados junto das autoridades oficiais.
Se eventualmente algum dos bens ou rendimentos suscitarem dúvidas ao longo do cargo, por diversas circunstâncias, mormente as denúncias anónimas, que um político deve sempre esperar se tiver rabos de palha, então será nessa altura que tal escrutínio deverá realizar-se de acordo com as regras legais, incluindo a liberdade de informação que permita aos media aceder a elementos sobre os mesmos.
Exigir mais que isso é entrar no caminho escorregadio do voyeurismo que se torna indigno a quem o pratica e vilifica quem é vítima do mesmo, pelo fenómeno inerentemente aviltante.
Ninguém, mesmo um político, tem o dever de expôr toda a sua vida privada, em toda a extensão pessoal ou não, para que se saiba a sua adequação ao exercício de cargos políticos, através de retrato de perfil. Ninguém! E pela simples razão de que tal nunca será possível a contento das exigências expensas.
Para conhecer um político é necessário saber algumas coisas, a primeira delas, a sua capacidade de liderança e de concretização de propostas políticas. Em democracia tudo isso ressalta da actividade política e não assenta exclusivamente no conhecimento do perfil pessoal, embora lhe seja inerente.
A revista Sábado de hoje dedica 13 páginas ao estudo do "perfil" do candidato Pedro Nuno Santos. Nem isso chega para se conhecer bem o candidato, cujas primeiras três páginas começam assim:
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