O Sol de hoje deu em entrevistar um tal Eduardo Paz Ferreira, advogado de profissão a par de professor de Direito na FDUL. Antifassista de sempre, dos Açores e do PS, andou como jornalista do República nos anos de brasa e já disse numa entrevista que ajudou a fundar o PS.
Enfim, já escrevi várias vezes sobre esta personagem muito parda da vida nacional ligada ao PS e casado com a actual ministra da Justiça, ainda mais pardacenta que ele. Portanto, são um casal de quem não gosto, embora os não conheça. Há poucas pessoas de quem instintivamente detesto, como este par.
Por isso me obrigo a explicar por que razão não gosto desta gente que não deveria ocupar os lugares que ocupam e deveriam antes fazer parte do anonimato nacional que só lhes ficaria bem e não incomodariam ninguém a não ser os próximos. Assim, carregamos todos com essas pessoas e com as suas acções públicas porque é por isso que merecem atenção.
A entrevista do Sol é extensa mas apenas uma página interessa porque o resto é o retrato deste conformista do regime que vive à sombra do mesmo, por ser um dos seus apparatchicks. O que diz sobre a economia, o sistema fiscal, o tribunal de Contas e a trapalhada em que os amigos do Governo se meteram interessa para nada de nada. Basta dizer que considera o poeta Costa Silva " que não conhecia" quase um génio e o seu programa "extraordinário" e fica tudo dito.
A página da entrevista do Sol que interessa:
Este Paz Ferreira lamenta-se da sorte de o criticarem e lhe quererem mal, magoando-o, por andar a "trabalhar para o Governo", um eufemismo para significar que andou anos e anos a ganhar milhares e milhares de euros, possivelmente já na ordem dos milhões, com pareceres vendidos a preço de tabela a entidades públicas que se formos a ver poderiam muito bem ser atribuídos a outros da mesma profissão, o que significa que foi favorecido, objectivamente.
Legal e jacobinamente favorecido porque ganhou mais que outros como ele que nem sequer foram chamados a participar no bolo e mereciam tanto como ele porque a democracia é isso mesmo: o regime da igualdade de todos perante a lei. A atribuição de dinheiros públicos a particulares deve sempre acompanhar-se de total transparência legal e ética. A acumulação de contratos com entidades públicas, nestas áreas, é sempre demasiado sensível para que seja completamente inócuo o modo como são atribuídos, principalmente quando dependem apenas de escolhas pessoais e directas, como é o caso em muitos casos.
Por isso não é nada negativo que diga agora que depois de tal "campanha nas redes sociais" "toda a gente começou a ter medo de me procurar e achavam que isso traria riscos".
Esta frase é reveladora e fantástica: então se tudo foi feito de modo legal e irrepreensível de que teriam medo as "entidades"? Das redes sociais? Da publicidade negativa? Para quem? Riscos?! Riscos?!! Enfim, nem adianta comentar muito mais a não ser dizer que tal deveria suceder com inúmeros outros beneficiários do sistema de contactos que "procuram" os causídicos certos para os pareceres de sempre. Coimbra já era uma lição e Lisboa passou a ser também...
Tal já foi escrito aqui e em tempo, para prevenir esta espécie de caramunhas de quem se julgará ungido por méritos superiores aos demais e nada privilegiado por isso:
"são pessoas que se instalaram no sistema de contactos do PS e arredores e vivem disso. Se não tivessem tal sistema de contactos, facilitado pelos cargos e lugares que foram ocupando ( até numa fundação, com dinheiros públicos, com aquela Roseira do PS!) eram pessoas vulgares como muitos professores universitários o são. E certamente não teriam os rendimentos que têm os privilégios que usufruem e denegam ipso facto a "igualdade" que apregoam em ideologia montada a preceito.Podem ter os seus méritos, como de facto os terão, mas há milhares de pessoas por esse país fora que também os têm e não têm isto que é público e já muito notório, para além do mais: em 2018 mais de duzentos mil euros de rendas, perdão, honorários, a troco de pareceres. em 2019 já vai com mais d e 300 mil.
Preside agora a uma comissão qualquer, nomeado por uma tal Vitorino casada com o tal Cabrita, que fez figura de maluco na AR há uns anos, num episódio picaresco com o então governante Paulo Núncio ( tirava, desligava e mexia no microfone do dito) que mexe com muitos milhões, mas é pro bono. Enquanto esteve na CGD na comissão de auditoria nos anos de Vara e Sócrates não viu nada, de nada soube e se ouviu alguma coisa, já esqueceu. Será isto uma honra, para alguém que se tem como gente de bem? Não acho nada."
Também Eduardo Paz Ferreira, marido da ministra da Justiça, já fez negócios públicos na ordem dos 1,4 milhões de euros. Sócio fundador da Eduardo Paz Ferreira e Associados, o advogado tem registados 45 negócios com o Estado desde o início de 2009, de acordo com os registos do Portal Base. O advogado fez contratos com câmaras (o último foi com a de Lisboa), com a Estradas de Portugal, com a Santa Casa da Misericórdia e outros institutos públicos. O próprio Eduardo Paz Ferreira já disse publicamente que não abdica desta área de negócio. “Nenhum cidadão pode ser privado de exercer licitamente a sua profissão pela circunstância de estar casado com um titular de cargo político”, defendeu Paz Ferreira em declarações ao Expresso em abril deste ano.
A questão principal nestes casos todos não tem a ver com a legalidade estrita. Esta gente cumpre os requisitos legais e apresenta-se de peito feito a quem lhe diga o contrário. Esta gente tem outro método que aliás inventou, aos poucos: afoga a ética no jacobinismo.
Simples: a lei permite e por isso a lei é quem manda. E os outros racham lenha.
Para averiguar a ética não há lei processual penal que valha. Não há escutas para se escrutinar como são feitos os "contactos" necessários, para vigiar os encontros convenientes e as amizades espúrias. Nada há a fazer em termos de lei. É essa a essência do jacobinismo: para os amigos, tudo; para os inimigos, simplesmente a lei.
Era essa a filosofia do socialista-mor, padrinho de todos eles, já falecido...
A ética? Que bicho é esse? Será de comer? Se for, vamos a isso porque o pudor já feneceu há muito.
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