CM de anteontem, ontem e hoje, a propósito das alterações na composição do TCIC:
Como começou esta fronda contra um juiz singular no poder judicial em Portugal? Só quem quiser ser ingénuo não entenderá o que se torna evidente a agora já se revela como insidioso e atentatório do Estado de Direito.
Como se lê acima, o juiz em causa, teve intervenção processual em vários casos mediáticos e que envolveram figuras públicas de relevo, em Portugal, praticamente abrangendo todo o leque de partidos políticos ditos do "arco de governação", ou seja o CDS, PSD e PS, principalmente este último porque tem estado no poder mais tempo e com uma dose de pouca vergonha que é já gargantuesca.
Devido ao papel de intervenção processual em vários casos mediáticos, o CM promoveu-o no final de 2009 a figura do ano, com uma entrevista que vale a pena ler:
A parte da entrevista mais interessante é esta em que explica a sua função, quando ainda não era qualificado pela jornalista do "pente fino" e de outras pérolas de escrita, como "super juiz":
(...) Eu não mando nos processos, os senhores magistrados do MP não mandam nos processos, a PJ ou os restantes órgãos de polícia criminal não mandam nos processos. O Código de processo Penal fixa em cada fase processual que é a entidade responsável: o MP no inquérito; o juiz na instrução; e outro juiz no julgamento. Os processos são um trabalho quotidiano de investigação, de recolha de prova, de actos sequenciais destinados a conseguir obter conclusões e não são propriedade de ninguém. Não são uma quinta de qualquer dos magistrados neles intervenientes. Não os vou buscar e os que me apresentam e eu decido são so que resultam da legislação vigente. Aliás, o actual estado das coisas, nesta III República, o exercício da magistratura ou da actividade policial na vertente investigatória é um exercício arrojado e de grande tenacidade perante os condicionalismos presentes. Por isso, a visibilidade, por definição, é má. Concita um conjunto de atenções as mais das vezes não benévolas...Por isso é que esta entrevista é um acto de excepcionalidade absoluta."
Nesta altura o juiz em causa estava sozinho no TCIC e não se queixava de ter muito trabalho, tendo-o em dia.
Contudo, deve ter sido mais ou menos por esta altura que muitos entalados futuros começaram a congeminar o que hoje é claro: fazer a cama de pregos ao juiz em causa que os incomodava como poucos. A visibilidade do TCIC iria tornar-se maior com o aparecimento dos pindéricos do regime, dos quais são expoente máximo os varas e sócrates, parceiros de desventuras futuras, corruptos de vão de escada moral e que no entanto deram, com decisões avulsas, milhões a ganhar a muitos que agora os desprezam publicamente.
Não obstante, a fronda, a insídia, desenvolveu-se com maior acinte a partir de 2011, altura em que o processo Face Oculta, envolvendo figuras gradas do PS, particularmente Armando Vara e José Sócrates, então no vértice máximo do poder político executivo, tornou mais visível a intervenção do juiz, por força das suas funções em instrução criminal.
Antes disso tinha sido o juiz de instrução de Aveiro, o visado na insídia e despautério promovidos por certos advogados, como este, sempre presente em todos, mas mesmo todos os processos mediáticos que determinaram esta fronda contra o juiz: Proença de Carvalho que ao longo da sua vida profissional, praticamente desde 1975 teve intervenção social, profissional e política que lhe assegurou um estatuto de "inoxidável" do regime, com estas benesesses conhecidas e muitas mais desconhecidas, já em 28.1.2015 quando era advogado de...José Sócrates, de quem entretanto se desligou por motivos curiosos e típícos destas pessoas inoxidáveis: tem carradas de kriptonite corrosiva que só os delilles aguentam...
Portanto, se houve juiz que foi fustigado com violência verbal por este advogado de empresas cotadas nas bancarrotas do país, foi Carlos Alexandre. Proença de Carvalho esteve em todas, com se costuma dizer. Mesmo em todas as que mais importam, segundo Paulo de Azevedo. Ele e respectiva família.
Em 2014, particularmente, logo depois da eclosão do processo Marquês, o advogado percebendo o potencial explosivo de tal processo para os interesses inerentes a todo o sistema político-empresarial que o escolheu para porteiro e vigilante permanente, atacou com toda a pouca-vergonha o juiz Carlos Alexandre como o tinha feito anteriormente em diversos processos, a vários magistrados que não lhe foram comer à mão de porteiro e vigilante.
Assim em 26.11.2014:
Depois disto, destes ataques insidiosos por gente de poder de facto e que domina o de direito, como agora se vê, qual era a questão maior perante este estado de coisas? Já o escrevi na altura, em 2009:
O que não lhes convém mesmo nada é a existência de juizes, mesmo de instrução, independentes. E o medo que estes têm do CSM que lhes apara as carreiras e os classifica, depois de inspeccionar, é demasiado evidente para não ser um factor que tolhe de modo inadmissível essa liberdade mínima que a independência precisa para se afirmar. E cujo exemplo mais flagrante de pressão foi o caso do juiz Rui Teixeira no mesmo CSM, recentemente. Um caso que deveria fazer reflectir quem tem o dever de o fazer, mas que passou ao lado e aparentemente de modo displicente ou mesmo condescendente.E se isto acontece com os juízes- e parece-me um facto indesmentível- muito mais acontece com os magistrados do MP. Num instantinho, qualquer magistrado do MP isolado e que se proponha prestar algum esclarecimento não solicitado hierarquicamente, vê um requerimento no CSMP para apreciação da sua conduta processual e não só, pelo colectivo que gere de igual modo a carreira e os estatuto disciplinar.
Neste contexto, mesmo em dessintonia aparente, apetece citar Brecht: toda a gente fala na violência do rio tempestuoso, mas ninguém repara na violência das margens que o comprimem.
Estes assuntos lidam com a essência da democracia que temos, do valor que lhe queremos atribuir e da qualidade da vida democrática que andam por aí a apregoar, em discursos de circunstância, por vezes.
No entanto, o essencial é muito mais prosaico e simples: os magistrados têm medo do poder político que está. E os respectivos conselhos superiores pouco ou nada fazem para lhes assegurar as condições de independência que lhes retire esse medo atávico. Não lhes convém, provavelmente. E obviamente não convém mesmo nada ao poder político e principalmente aos poderes de facto. Mesmo os ocultos.
O Conselho Superior de Magistratura (CSM) instaurou um processo disciplinar contra o juiz Carlos Alexandre porque considera que este pode ter violado o dever de reserva em declarações à RTP. A notícia, avançada pelo Expresso, foi confirmada pelo Observador.
A 17 outubro, o magistrado disse à televisão pública que “há uma aleatoriedade que pode ser maior ou menor consoante o número de processos que existem entre mais do que um juiz”, o que foi interpretado como se o juiz estivesse a por em causa o sorteio para a fase de instrução da Operação Marquês. Agora, pode ter como pena uma advertência ou suspensão do Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC).
Para além disto, que é muito, ainda se mostrava o verdadeiro objectivo: acabar com o TCIC, tal como funcionava. Argumento? O guião foi fornecido pelo mesmo motoqueiro destas ideias feitas algures e que entretanto entrou para o governo deste mesmo PS, acompanhado por outro juiz que foi dirigente do SIS e da ministra da Justiça que foi procuradora-geral distrital, casada com um dos advogados da parecerística de encomenda e ajuste directo. Público de 22.10. 2019.
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