Miguel Esteves Cardoso, articulista do Público e autor celebrado de alguns livros, quanto a mim anódinos, explica-se no Público de ontem, acerca do reedição do seu livro de críticas da música pop/rock dos anos setenta e oitenta- Escrítica Pop, original de 1982- que aliás reúne as crónicas originais publicadas nesse tempo em diversas publicações ( Sete, O Jornal e Música & Som) e ainda um posfácio, com pouco mais de 100 páginas, à reedição em finais de 1980 do livro Popmusic-Rock da autoria de dois franceses, Philippe Daufouy e Jean-Pierre Sarton, sobre a música pop/rock e cuja edição original, sem tal posfácio, data de 1974 na edição portuguesa e de 1972 na edição original, francesa.
Em pequeno posfácio a esta reedição de 2022, já aqui assinalada, reunindo aquelas duas publicações, MEC explica-se acerca do modo como na época escrevia as suas escríticas, o que já aqui foi analisado, particularmente com a perplexidade de se saber que MEC ouvira os Beatles em 1963, assinalando que " a música boa e nova, para ser apreciada, tem de ser ouvida e vivida no momento em que é feita". A perplexidade surge naturalmente com a circunstância de MEC ouvir deste modo crítico e apreciador a música dos Beatles quando contava uns oito anos de idade! E também pela circunstância de naquele posfácio de 100 páginas compilar praticamente toda a música pop/rock significativa da década de 70-80, com minuciosas apreciações críticas de discos inteiros, às centenas, abrangendo a produção discográfica anglo-saxónica da década, com particulares classificações quanto à qualidade intrínseca dos mesmos, através de atribuições de estrelas ( três a cinco).
Dessas cem páginas gasta as cinquenta iniciais em considerandos críticos sobre o ambiente musical da década que tinha passado com incursões opinativas sobre alguns dos seus representantes musicais, com destaque quase exclusivo para os grupos e intérpretes britânicos, apreciando criticamente e de modo "standard" as respectivas prestações e obras musicais.
Quem leu a imprensa especializada da época, seja a britânica, americana ou francesa, nota que não há nota dissonante ou eminentemente pessoal nessa apreciação crítica que assim assume a forma corriqueira do lugar-comum, destacando-se apenas o estilo, nesse caso nem sequer humorístico ou corrosivo que costumava acompanhar as crónicas pontuais aos discos e grupos, nas públicações referidas.
O compêndio sobre o "ovo e o novo" da década de 70 parece-me um chorrilho de lugares-comuns à crítica mais corriqueira do rock mais corrente na época. Compare-se com o que um Philippe Manoeuvre escreve, mesmo recentemente, num livro-álbum de 2020 ( "Une histoire du rock en 202 vinyles cultes", da editora Hugo Desinge) e a diferença de estilo e verdadeira qualidade e conhecimento transparecem à luz mortiça de qualquer artigo que se procure. Por exemplo, Roxy Music a que MEC nem uma linha dedica nessas primeiras cinquenta páginas, entretendo-se com Joni Mitchell e Leonard Cohen, em 14 páginas dessas 50.
Quando chega ao disco dos Roxy Music, Stranded de 1973 a apreciação é esta, anódina e insípida qb:
Qual a diferença entre este tipo de crítica e a dos críticos de então e depois nos jornais habituais, dos belancios e bonifácios? Nenhuma.
Para se ler o que é uma verdadeira apreciação crítica com qualidade e originalidade, a de Manoeuvre, actual: O que as apreciações críticas de MEC denotam nesse posfácio é uma leitura atenta dos jornais ingleses da especialidade e provavelmente uma ou outra publicação avulsa que lhe serviu para compilar os discos elencados por ano e categoria. A originalidade surgia apenas através das apreciações humorísticas nas crónicas do Jornal ou do Sete e Música & Som, no decurso dos oitentas.
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