Foi republicado agora, num único volume, pela Bertrand, o livro Escrítica pop, de Miguel Esteves Cardoso e que junta um posfácio com um pouco mais de 100 páginas, publicado na 2ª edição, de 1981, do livro Pop Music/Rock, de Philippe Daufouy e Jean-Pierra Sarton, originalmente publicado cá em 1974.
Tal posfácio intitulado O Ovo e o Novo ( Uma discografia duma década de rock: 1970-1980) tornava-se um dos principais motivos para comprar aquele livro, em 1981. E por isso o comprei, mas já tinha comprado a edição de 1974, que aliás trazia cerca de 20 páginas com uma "discografia selectiva" dos anos antecedentes e que nada tinha a ver com o MEC.
A capa do livro actual é esta:
E esta é a explicação para a reedição:
Há afirmações de MEC que me causam perplexidade. Uma delas é a de ler agora que ouviu os Beatles em 1963, afiançando o feito. Com sete ou oito anos de idade! E apreciou tanto que é esse o melhor som dos Beatles, de sempre! É precocidade a mais, pensei. E vai daí, tirei-me dos cuidados necessários e coligi por aqui algumas referências guardadas.
Começo já pelos Beatles. Há dias comprei o último livro de um coleccionador de Beatles que já publicou vários livros com referências esparsas a capas de discos e artigos de jornais e revistas da época. Já falei aqui e chama-se Abel Soares da Rosa, um amigo que deu a conhecer recentemente este livro que melhora os anteriores sobre o mesmo tema:
O que agora tem interesse é saber que disco dos Beatles apareceu por cá, em 1963 pronto a ser ouvido pelos interessados, eventualmente pela geração que precedeu a que nasceu na segunda metade dos anos cinquenta, neste caso a de MEC ( e a minha, já agora).
Disse então- e repito com gosto- que [citando-me] "A escrita arreveza um pouco em trocadalhos do carilho e era de facto algo inovadora no panorama nacional da escrita de imprensa da época. Talvez o Assis Pacheco escrevesse coisas assim, sobre outras temáticas, embora menos rebarbativo na prosa.
Desde então habituei-me a ler as crónicas de Miguel Esteves Cardoso sem fazer a mínima ideia de quem fosse porque não havia informação. Muito tempo depois, já em 1981 ou 82 um amigo meu descobriu que era um "puto" como nós, com fama de pequeno génio por causa da tal "inteligência". Enfim, por mim apreciava o modo de escrever descontraído e de palavras escolhidas e novas, com neologismos se necessários.
Quanto à temática, era supérflua. As músicas, os discos e as referências culturais inglesas, pop, já as tinha visto antes, por vezes meses antes, nas revistas de especialidade. E já havia programas de rádio que as passavam, como aliás o autor se dava conta numa dessas crónicas:
Em 1979, um ano antes, já lera sobre a aventura de moda musical dos dois tons e sobre a "descoberta" dos Joy Division já era pólvora seca. O que me interessava era a genuína habilidade musical que descobria em outros artistas. Não era por aí que lia as crónicas de MEC, por causa disto: tudo o que lá vinha já tinha sido tratado antes, no original."
O que me admirava então nos artigos de MEC era o estilo, tal como agora. Mas...o estilo sem conteúdo solidificado em referências originais ou pelo menos recheadas de alusões de conhecimento próprio e interessante torna-se rapidamente estéril. Raramente MEC se excedia nessa aurea mediocritas reduzida ao estilo e quanto o fazia era geralmente pela via humorística e esgotava-se nessa dependência acessória.
Tomo um exemplo, neste caso proveniente do tal posfácio ou complemente ao livro sobre a Pop Music/Rock na edição de 1981. Nessas dezenas de páginas MEC desenvolve uma escrítica cronológica à produção musical dos anos setenta e numa nota acerca de Tim Buckley escreve assim:
Agora compare-se a apreciação crítica exarada com uma nota de um livro publicado em 1976, aqui na edição de 1982, a Illustrated Encyclopedia of Rock.
Não se trata de plágio, mas apenas de similitude na apreciação crítica, sem originalidade distintiva.
Nota: o título do postal é uma paráfrase a um disco de 1976 dos alemães Triumvirat que ando a escutar: Old loves die hard. Uma obra menor mas agradável de ouvir porque me recorda essa época em que passava no rádio, à noite nos programas do Rádio Clube-Espaço 3P, de Jorge Lopes e Fernando Balsinha.
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