No Público de hoje, pela enésima vez, surgem quatro páginas sobre o que era o ambiente social anterior ao 25 de Abril de 1974, neste caso a propósito das "escolas à descoberta de Abril", um projecto da "sociedade civil" entregue a 4 antigos estudantes do IST, com o patrocínio do Conselho Nacional de Educação.
O texto é a lenga-lenga habitual do antifassismo, recitado pelos protagonistas de sempre, elementos de uma esquerda que herdaram os tiques de linguagem antiga dos opositores ao regime anterior e que definem agora a linguagem comum e corrente para lidar com a realidade passada e os acontecimentos históricos.
Tal linguagem define o regime anterior absolutamente do ponto de vista de tal oposição e sem qualquer concessão a uma visão pluralista e consensual acerca da própria realidade do tempo vivido, nem oportunidade de qualquer contraditório.
Quem descreve uma realidade partindo de um ponto de vista eivado de ideologia, apresentando factos e acontecimentos interpretados de acordo com tais critérios, incorre necessariamente em anacronismos e falsificação da própria realidade que evidentemente não é vista nem sequer percepcionada por toda a gente e de tal modo.
O que este artigo apresenta não é História, mas propaganda ideológica do antifassismo mais primário e associado ao comunismo esquerdista e ao socialismo maçónico, apenas.
O autor, Nuno Ribeiro, formado no tempo antigo do Diário de Lisboa, um órgão informativo de tal esquerda, escreve como sempre escreveu: com o partis-pris esquerdista e enviesado, sem qualquer noção de equilíbrio informativo ou qualquer objectividade que saia do estreito prisma do esquerdismo habitual.
Assim, foi ouvir alguns alunos a uma escola do Fundão e outra do Estoril, jovens "comprometidos" com a mesma ideologia já instilada a mascoto escolar e apoiados em projectos idênticos de reescrita histórica. Os alunos em causa organizaram já um estudo sobre o tema e portanto têm já ideias feitas sobre o assunto que exprimem ao repórter, tendo destinado o seu estudo aos mais novos, para doutrinarem do mesmo modo que foram doutrinados, nesta falsificação repetida do passado.
Uma das alunas, Lara de 15 anos até inventou a frase do artigo do Público " O que proibiam era o que dava alegria ao mundo", cujo sentido o jornalista descobre como sendo "poético" e evidentemente concorda com o mesmo porque acrescenta mais tarde que havia "impossibilidade de haver felicidade sem liberdade", o que é truísmo poético difícil de rebater, com a liberdade de expressão inerente.
Ao encontro aparecem dois maduros do tempo antigo, um deles ex-emigrante em França nos anos sessenta, que surge aconselhado pelo filho, professor e cujo depoimento é notoriamente ressentido. Acha que o seu "país natal lhe é devedor", lembrando-se que "nos combóios éramos acompanhados pela PIDE". Diz ainda que na altura em que regressou, em 1981, o "país tinha algumas melhoras", mesmo que não se recorde da bancarrota de 1976 e da que viria dali a dois ou três anos; "tinha algumas melhoras" diz o indivíduo e fica assim. A entrevistadora, uma jovem de 16 anos fica admirada em saber que o indivíduo começara a trabalhar aos 14 anos, como se isso fosse algo típico do regime e por exemplo em 1981 as tais melhorias já tivessem acabado com tal fenómeno. Ou que noutros países fosse diferente e a natureza do regime de cá fosse assim perversa, julgando-o pelo tempo de hoje.
Sobre o ensino, a jovem Maria João, de 16 anos já sabe que "então, era mais difícil ser aluno e professor". Gostaria bem de saber quem lhe ensinou tal asneira, que até aflige ler, mas foi escrita pelo jornalista, que certamente concorda com a mesma. Deveria perguntar a quem sabe... se tal é assim.
O tom do artigo é no sentido de demonstrar que os jovens se mostram interessados nestas temáticas e assumem o ponto de vista correcto, ou seja o da esquerda militante, sem qualquer contraditório ou crivo de análise crítica. Fazem exactamente o que criticam ao regime anterior, com o aspecto perverso de se apresentarem como democratas e portanto pluralistas na expressão de opiniões alheias.
Assim, a jovem Bárbara de 14 anos, diz que lê jornais ( deve ser o Público...) e gosta de dar "pontos de vista", sabendo já que "antes de 25 de Abril não o podia fazer, seria um poucochinho oprimida", o que tem sido o ensinamento permanente do Público, sem o "poucochinho" das bárbarasreis desta vida democraticamente desgraçada, filhas de comunistas que lutavam encarniçadamente pela liberdade de nos associar aos regimes totalitários de Leste.
Curiosamente, quase 50 anos depois do tal tempo obscuro, todas as alunas entrevistadas querem sair do Fundão e "só voltar para a reforma", o que nem sequer suscita a interrogação do jornalista para saber as razões.
Um dos seniores entrevistados é o director do Jornal do Fundão, um bastião antifassista que por isso tem pleno direito de participação no debate, porque obviamente acrescenta colorido democrático ao tema. "Foi uma dura caminhada para chegarmos à democracia", diz o dito cujo.
Em Cascais as personagens variam: são dois alunos do 12º ano, os encarregados da reportagem sobre a "as escolas à descoberta do 25 de Abril". Foram buscar um antifassista encartado no PCP, do tempo da Constituinte de 1976 e ninguém lhe pergunta como é que foi aquilo do PREC. Foi pastor de ovelhas, esteve preso até 1974 por ir muitas vezes à missa e é a sua opinião que conta no depoimento transcrito. Como já conhecemos de ginjeira, passo à frente. De resto informou os jovens que foi torturado, o que impressiona, sempre. Os alunos de Cascais realizaram um video para mostrar tais barbaridades, desconhecidas até hoje, começando no forte de S. João da Barra, com amplas referências aos comunistas, a Álvaro Cunhal, aos congressos dos comunistas e a tudo o que a mitologia do PCP já integrou como saber recomendado.
É assim que se ensina aos jovens o que foi o 25 de Abril de 1974 e se explica o que era a sociedade anterior a tal evento e é destes jornalistas que o Público dispõe para o explicar.
Ninguém perguntou aos jovens como é que a sociedade portuguesa evoluiu para termos um jornal de esquerdistas militantes financiado pelo capitalismo mais típico da SONAE e que dá prejuízo assinalável de há anos a esta parte, sendo por isso mesmo um jornal subsidiado integralmente por tal estrutura, com jornalistas completamente instruídos no antifassismo militante que nem sequer observam o mínimo de objectividade que um jornalista decente deveria ter.
Para elucidar um pouco o que os jovens não entenderão por causa destas manipulações sistemáticas da realidade passada, mais uma vez vou colocar alguns recortes de jornais e revistas do tempo do fassismo que desmentem ipso facto o que aprenderam destes ideológos da falsificação histórica, com jornalistas formados nessa escola.
Para contrastar a limitação à liberdade de expressão anterior ao 25 de Abril de 1974 e a que se lhe seguiu, bastaria que fosse mostrada esta imagem aos alunos jovens em causa, perguntando-lhes o que pensam da mesma e dos factos que mostram, de Setembro de 1974, já de um tempo de liberdade. Poderia perguntar-se-lhes também se os jornais de direita têm direito a expressão livre, para se poder saber o que pensam, uma vez que se exprimem de um modo duvidoso e pleno de desconhecimento de realidades passadas :
No Diário Popular de 31 de Dezembro de 1971 apareceu um pequeno inquérito a jovens acerca das suas condições de vida na época. Começa com "os maiores de 1971":
Sobre a liberdade de expressão e sem esquecer a Censura que existia é necessário também referir estes factos publicados na edição do Expresso de 14.7.1973:
E também isto que mostra como surgiu o fenómeno SONAE, anos depois...e já tinha começado em 1973, o que denota que o tempo não pode ser descrito como o faz o Público neste tipo de artigos absolutamente odiosos:
De resto a sociedade portuguesa urbana do tempo do final dos anos sessenta, apresenta-se melhor assim descrito, através de pequenos fenómenos como este publicado na revista Mundo Moderno de 1 de Dezembro de 1969:
Ou este artigo da mesma revista, edição de 15.9.1969, sobre um disco proibido...
Quanto aos emigrantes o panorama era assim, em 1970, numa reportagem do Século Ilustrado. Mas era assim na Espanha, na Itália, pelo menos. Apontar os regime anterior ao 25 de Abril de 1974 como o responsável pela emigração maciça ocorrida nesse tempo em virtude de melhores condições de trabalho remunerado, em França e na Alemanha é esquecer que a emigração por tais motivos não desapareceu nos dias de hoje, antes pelo contrário. Até os jovens do Fundão, nos dias de hoje querem de lá sair...
O ambiente social nos bairros clandestinos de Paris e arredores até foi objecto de reportagem na edição de 28.12.1968:
Na mesma edição da revista mostrava-se a cidade de Lisboa, nos seus pontos de venda de livrinhos e revistas populares:
E o "fosso de gerações" era assim apresentado por Augusto de Carvalho que seria mais tarde director do Expresso, de esquerda e já esclarecido, como se nota no artigo que vale a pena ler para se notar a diferença abissal entre um artigo cozinhado ao modo de hoje no Público e o que se escrevia na altura. Com uma qualidade, profundidade e saber que hoje são apenas miragem.
Começa logo pela referência prévia ao assunto delicado de entrevistar jovens, neste caso já universitários, para falarem da geração que os precede, a dos pais. E nota-se que o jornalista tem bem a noção do "terreno movediço", e o "perigo de falsear a verdadeira situação espreita-nos e mete-se em todas as conversas, já que há muitos elementos a perturbar a expressão clara daquilo que se vive ou sente". Esta preocupação do jornalista é a antítese do escrito do jornalista Nuno Ribeiro:
Ainda acalento a esperança que estes jovens de agora aprendam alguma coisa no sentido de perceberem a tremenda mentira, o enorme embuste que lhes impingem estes jornalistas, ao mitificar figuras que defendiam regimes totalitários, como Álvaro Cunhal e os apresentem como heróis do nosso tempo e precisem para isso de falsificar uma realidade que não foi a que apresentam.
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