Um comentador no postal anterior, escreveu isto sobre o viracasaquismo, associando Sá-Carneiro ao fenómeno execrando:
Hum... por falar em conversões e reconversoes de 24 para 25 de Abril, por acaso Sá Carneiro não passou de deputado da União Nacional para um "social democrata unido no caminho para o socialismo"?
tenho a ligeira impressão que sim.E que ao contrário do que tenta apregoar não houve apenas anti democratas de esquerda a passarem por democratas, o mesmo se passou com anti democratas de direita que passaram a apoiantes do caminho para o socialismo de um dia para o outro...
E que isto de metamorfoses houve-as a esquerda e a direita mas das metamorfoses da malta da direita voce não escreve.
Como tal me parece injusto, para além de incorrecto, vejamos se foi realmente assim, com Sá-Carneiro.
E sempre para reafirmar o que me parece óbvio:
Sá Carneiro poderia ser o verdadeiro liberal, na acepção pragmática da ala liberal, com base na social-democracia e que teve alguns laivos de expressão na organização económica imediatamente anterior a 25 de Abril de 1974, em que o Estado interventor dava muito maior margem de manobra à sociedade civil do que o PS alguma vez deu ou quer dar.
Como o assunto versa o viracasaquismo, fica outro cartoon de João Abel Manta, o livrinho de recolha dos cartoons 1969-75, feio pelas edições O Jornal em 1975:
Como o assunto versa o viracasaquismo, fica outro cartoon de João Abel Manta, o livrinho de recolha dos cartoons 1969-75, feio pelas edições O Jornal em 1975:
Sobre Sá Carneiro é conhecido o seu percurso pessoal e político de modo a nem sequer suscitar dúvidas acerca da verticalidade de pensamento e ideias políticas, antes e depois de 25 de Abril de 1974.
Em 1970, o regime que já era de Estado Social, de Marcello Caetano, estava em vias de abertura relativa aos "ventos da História" democrática, embora ainda nuns primeiros passos balbuciantes, feitos de avanços e recuos.
Sá Carneiro fazia parte de um grupo de deputados que em 1969 foram chamados por Marcello Caetano para integrar a Assembleia Nacional e que foram logo apelidados de Ala Liberal do regime. Tinham como propósito manifesto ajudar à abertura democrática, embora lenta e sem precipitações de maior.
Em 1970 apresentaram um projecto de lei de Imprensa que então deu que falar uma vez que havia Censura oficial instituída e vinda do tempo de Salazar, com um controlo apertado dos media em geral.
A Vida Mundial de 20.10.1971 dava a conhecer o que eram tais esforços:
Sá Carneiro era um desses deputados que esperavam a abertura do regime, mais depressa do que o modo lento que se adivinhava e por isso rejubilou com o 25 de Abril de 1974, embora em modo contido, como disse numa entrevista em Novembro de 1974 ao Expresso e publicada em 1975, no livro da d.quixote dedicado Francisco Sá-Carneiro, Participar Por uma social-democracia portuguesa.
Aliás quem melhor poderia dizer se Sá-Carneiro foi um vira-casaca, seria o antigo presidente do Conselho, Marcello Caetano, o qual depois de estar no exílio escreveu um Depoimento em que dizia a propósito das mudanças operadas em 1970:
E no livro Confidências no Exílio, prestadas a Joaquim Veríssimo Serrão, no Brasil, no final dos anos setenta e publicadas em 1984, após a morte daquele, esclarecem ainda mais porque até tem um elogio rasgado a Sá Carneiro, o que desmente ipso facto a faceta do vira-casaquismo que quiserem enfiar ao dito.
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