O O Jornal de 24.4.1981 mostra bem como era o ambiente político-social em Portugal escassos meses depois do desaparecimento de Sá Carneiro que pretendia expressamente afastar os militares da vida política activa, contando para tal com o contributo do candidato a PR, Soares Carneiro.
Ontem, na SIC-N Santana Lopes revelou uma conversa a dois com Sá Carneiro em que este lhe disse que não conseguiria sozinho, apenas com o PSD, resolver tal questão importante da vida política nacional. E daí a necessidade de coligações, tentando primeiro o PS que recusou e depois com a AD.
Em poucas páginas o ambiente que se seguiu era este:
Os militares que Sá Carneiro queria correr da política estavam já dispostos a sair do palco para as "associações cívicas". Ou seja, Sá Carneiro não deveria ter-se sentido apressado porque afinal não demoraria muito a mudança.
A tropa era um pequeno mundo, então. A análise é de um jornalista de esquerda, dos primeiros que "historiou" os acontecimentos do 25 de Abril de 1974 ( O Movimento dos Capitães e o 25 de Abril, editado em Novembro de 1974 pela Moraes editores e assinado também por Avelino Rodrigues e Mário Cardoso).
Depois uma cereja no topo deste bolinho. Um artigo de Fernando Dacosta a fustigar o que seria a direita e a extrema-direita da época, os chegas que então havia para vituperar. Fernando Dacosta foi um jornalista que depois se notabilizou em ganhar dinheiro à custa de Salazar, tendo publicado dois ou três livros sobre a figura ( As máscaras de Salazar e Nascido no Estado Novo, publicados em 1997 e 2001).
Na altura eram os "vampiros", os visados. Depois foi a vampirização de Salazar...nada de novo nestas coerências.
Este jornalismo ainda era tributário de certas ideias que alguns jornalistas ainda praticavam quando já tinham idade para ter mais juízo. Por exemplo este que ainda andava atrás do "Grito do Povo" e precisava de ajuda para gritar mais alto, no mesmo número do jornal:
Quanto às causas e raiz das bancarrotas, o militar Melo Antunes que tinha combatido o PCP no MFA, mostrava o desalento de tal ingenuidade, numa entrevista ao Público de 14 de Dezembro de 1992, onde explica que as nacionalizações de 11 de Março de 1975 foram obra do PCP e do PS e por sua vontade não teriam ocorrido do modo como foi. Seriam nacionalizações, sim, mas com indemnizações tempestivas aos expropriados e manutenção da gestão privada das empresas. Enfim, uma solução social-democrata, à moda da TAP...e que deu no que deu.
Resta dizer que Melo Antunes o "intelectual" do MFA que elaborou documentos e o programa do movimento, era "marxista" mas tido como "moderado". Adiantou-lhe muito...afinal acabou afastado por Vasco Gonçalves e nem o seu "documento dos Nove" serviu para muita coisa. O PCP dominou-o sempre, através do alienado primeiro-ministro da primeira fase do PREC.
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