terça-feira, dezembro 15, 2020

John Le Carré para consumo mediático

 Morreu John Le Carré, romancista de histórias policiais com agentes secretos e serviços a condizer. 

Hoje fui ler os obituários impressos e fiquei impressionado pela impessoalidade dos registos, tirando uma breve referência que aliás pouco revela ( a de Francisco José Viegas que se declara marcado pela arte do escritor). 

Começando pela de MEC, habilidosa e que me faz lembrar os registos de centenas de discos supostamente ouvidos e apreciados, na década de setenta e elencados no posfácio do livro Pop Music/ Rock 2ª edição e com data de 1980. Uma missão impossível...

Afinal tem tudo a ver com um artista de cinema...e os livros serão outra coisa. 


O CM na croniqueta de Francisco José Viegas:


O Público é ainda mais impressionante no obituário na secção "Cultura": para ler isto qualquer pessoa pode ler no Google. E mais: a menção ao segundo livro da trilogia e série "Smiley" como tendo o título de "O ilustre colegial" fez-me comichão no ouvido interno e fui procurar.



Foi exactamente esse o primeiro livro que li de John Le Carré, com o título original The Honourable schoolboy e que foi publicado por cá, pela Europa-América em data incerta mas posterior a 1977 data original de publicação. 
Por mim li-o em 1984 e tinha esta capa: 



Não há nenhum "colegial " por aqui e nesta altura. Então de onde virá a menção escolar ao dito? Parece que virá da edição da d. quixote de 2014.
Porém, aquela capa não engana ninguém e por isso esta entrada na wiki merece reparo. 

E agora pergunto: será que algum dos que mencionam o título deste modo o leram mesmo?  Isto lembra-me um outro livro também interessante, publicado em 2007 pela verso da Kapa e que tem esta capa:


O autor defende que pode falar-se de livros que nunca se leram para "desmascarar a cultura como teatro de dissimulação da ignorância individual e da fragmentação do saber, anulando a culpabilização social ( e não só em ambiente universitário...) por não ter lido, visto ou ouvido isto ou aquilo. " ( citação tirada da recensão crítica ao livro, feita por Francisco Belard na revista Actual do Expresso de 18 Agosto de 2007. 

Portanto, deve ser isso...

Quanto ao mais, em Março de 1983 a Newsweek tinha esta capa que me atraiu a atenção: 


E lá dentro várias páginas a propósito do livro que então publicara: The little drummer girl. 




Porque é que o jornalismo caseiro, mesmo a "cultura" não faz isto que eu fiz agora? Não tem tempo? Não tem gosto? Não se divertem com isto? 

Epá! Tudo isto mesmo com a busca de iconografia demorou, sei lá, uma hora. E com muito gosto. 

Para quê ir ao google ou a sítios da internet que podem ser visitados por quem queira, copiar as informações, sem sequer dizer água vai, ou seja de onde foram tiradas e depois publicar esta miséria intelectual que se lê nos jornais de agora? 

Como é que isto se tornou assim tão insípido e medíocre? Não leram os livros? Não escrevam sobre eles. Não sabem nada sobre o autor que não possa ser copiado? Digam que copiaram. Não conseguem ser originais? Dediquem-se a pescar outras coisas.

Sem comentários:

Megaprocessos...quem os quer?