terça-feira, dezembro 29, 2020

Anos setenta: o começo do espectáculo

 Até ao final dos anos sessenta a música, incluindo a popular e espectáculos em geral, em Portugal,  tinham uma divulgação restrita e circunscrita a algumas publicações generalistas, como a Plateia, a Rádio&Televisão, Antena e uma ou outra publicação específica como a Estúdio. Quase tudo em monocromia com capas coloridas.

Quando apareceu o espectáculo pop-rock  com os seus artistas e grupos, ainda por cima com o colorido caleidoscópico do final dos anos setenta psicadélicos não havia por cá publicação nacional para o mostrar com as cores desejadas.  


Quanto à cor e sensação gráfica aparecia por cá uma revistinha alemã que aparecera naquele país em meados da década de sessenta, chamada simplesmente Pop e que supria as necessidades de quem gostaria de ver imagens dos artistas do momento. 

        (imagem da internet já com alguns anos)

O truque principal da revista era a publicação de um poster gigante, um farb super poster de 57 por 83 cm e em todas as edições semanais com cerca de trinta páginas profusamente ilustradas em papel acetinado como só os alemães sabem fazer.   

                            ( imagem tirada da internet já com alguns anos)

Em Março de 1971 a capa era esta, com um artista que dera início em Inglaterra à onda de revivalismo dos blues americanos :



Para além do farb super poster em formato riesen, gigante, havia ainda os seiten poster, os de página que nesta edição eram  de Jimi Hendrix, Roger  Daltrey, Jackie Stewart, Colin Earl ( do grupo Mungo Jerry na crista da onda com In the Summer time)  e Dave Clempson ( do grupo Colosseum) e ainda na contra-capa, James Taylor





Para além dessa revistinha alemã que mostrava as imagens que por cá não se viam de outro modo, porque a tv era a preto e branco e não costumava passar deste tipo de espectáculos e porque o rádio era o que era, apesar de haver programas muito bons, como o Em órbita ou o Página Um que divulgavam a música que lá for se produzia na melhor qualidade da época.

Este assunto já foi tratado por aqui, mas agora talvez valha a pena recordar como foi a transição para o início dos anos setenta. 

Nos últimos meses de 1970, há cinquenta anos, fiquei impressionado com esta capa da revistinha Mundo da Canção, a primeira a cores ( e também das poucas que a revista assim publicou. Só teve cor no número de Dezembro de 1971, tendo José Mário Branco na capa e dois meses depois com Adriano Correia de Oliveira a ter a mesma distinção) e que vi no quiosque de Braga, na Senhora-a-Branca e nunca mais esqueci a impressão.  


Este é verdadeiramente um número de Natal desse ano, apesar de ser de Novembro.  No número de Dezembro apareceu este artigo de José Cid a mostrar o panorama da "pop em Portugal.

Cid refere a "formação musical do povo português" e da importância do rádio, em que se discutia a inclusão de percentagem significativa de música portuguesa nos programas de rádio,  considerando o músico que os aludidos 75% seriam um exagero por não termos tanta qualidade para tal quota...

Para além disso mencionava a revista Mundo Moderno, dedicada aos espectáculos em geral e dirigida à gente jovem da época. 
Esta revistinha já foi por aqui historiada, tinha aparecido no final de 1968  e no Natal de 1970 trazia esta capa : 



Como se pode ler no artigo de José Cid, há cinquenta anos o conhecimento em Portugal da música publicada no estrangeiro era razoável, mesmo sem publicação nacional dedicada a tal, exclusivamente e com conhecimento de causa, o que não seria de estranhar sendo a música estrangeira. 

Então, para se conhecer tal panorama também havia por cá, à venda,  publicações estrangeiras mais qualificadas e que se tornaram referência na década que se iniciava: 


Era aqui, a estas fontes primárias, ainda na ausência de qualquer internet salvífica e google para plagiar que os críticos iam ler o que depois publicavam nas revistinhas nacionais para ilustração dos indígenas que não se davam ao cuidado de ler as fontes:


Em 15 de Janeiro de 1971 o jornal Diário Popular publicou este desenho caricatural ( do Melody Maker inglês) dos maiores nomes da pop/rock da época e na ausência de informação competente tentei adivinhar de quem se tratava...


Uns meses antes tinha visto na edição brasileira da revista Seleções do Reader´s Digest este artigo que escapou do postal sobre Beethoven e que representa talvez a primeira vez que li em artigo de revista algo sobre o compositor, a par de outro sobre Bob "Dilan". 

O artigo original saíra no New York Times Magazine em Outubro de 1969:   








Na época era em artigos destes que se inspiravam os "críticos" de música nacionais nos jornais que havia. Tal como hoje, aliás. Basta ler o artigo, aliás condensado do original, para se entender como se escreve actualmente sobre música e músicos: copiando-se uns aos outros.

E já me esquecia de outra revistinha que dava para ver imagens a cor de alguns artistas mais importantes da pop: a francesinha Salut les Copains que via muitas vezes em destaque policromático nos quiosques, ainda nos anos setenta. 
A revistinha apareceu no início dos sessenta e não passou de meados dos setenta porque era de facto algo que vinha de um passado que se transformou, mesmo em França. 

Em 1966 conseguiram reunir numa foto quase todos os artistas franceses que interessavam ao público da época, incluindo na revista um certo Luís Rego, emigrado de cá. 
As fotos são de um livro de 1980, sobre a revista e o seu fotógrafo principal, Jean-Marie Périer.
A grande artista da época e que não logrou o mesmo sucesso na década seguinte era a belíssima Françoise Hardy, uma estampa de mulher e que curiosamente a revista nunca apanhou numa capa que  fizesse justiça a tal beleza etérea.



No dealbar dos setenta, a revista dedicava-se quase exclusivamente a fenómenos locais de música francesa que por cá nunca tiveram grande sucesso.


Talvez por isso nunca comprei a revista e as imagens supra mostradas são de alguns exemplares à venda no ebay.

Em Espanha também havia revistinhas sobre música pop/rock nessa época embora não me lembre de nenhuma que se destacasse em quiosques, por cá. Nem sequer a Vibraciones que aliás não se vendia por aqui.

As imagens são de um livro dedicado aos Beatles e que mostram exemplos das publicações espanholas sobre o tema no início dos setenta.





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