domingo, julho 07, 2013

Sá Carneiro, nemesis da Esquerda comunista

Sá Carneiro representava para o PCP o verdadeiro adversário político-ideológico, capaz de mudar o paradigma de Esquerda que vicejava em Portugal desde os primeiros dias do 25 de Abril de 1974, como se pode ver pelos recortes de imprensa que por aqui tenho publicado. Em 1979, na altura da AD, os comunistas andavam em pânico eleitoral e desfaziam-se em comícios, reuniões e sessões de esclarecimento para obstar à onda "contra-revolucionária", "reaccionária" e no final de contas "fascista" que aquele representava. E sem grande sucesso, atento o resultado eleitoral.  Em 12 de Março de 1976, Álvaro Cunhal dava uma entrevista extensa ( duas páginas) ao O Jornal em que dizia claramente " Nós, os comunistas. não consideramos [o PPD] nem "popular" nem "democrático". Ficava assim claramente dito o que o PCP pensava da democracia...

Na altura, o problema principal era económico e o que os comunistas e esquerda em geral fizeram ao país e que nos conduzia directamente para uma bancarrota anunciada e apenas evitada in extremis, pela intervenção do FMI, em 1977. Isto é tão claro que não entendo como hoje se continua a dar crédito à troika Avoila, Jerónimo e Arménio, com o albardeiro Silva a dar-lhes apoio grevista. E ainda me espanta mais como é que o jornalismo caseiro dá cobertura mediática imediata e permanente a esta desgraça colectiva que se anuncia novamente, depois da experiência do passado. Este jornalismo é do pior que pode existir porque comunga causas perdias como se fossem a salvação do país. Exactamente como dantes e basta ler o artigo sobre o "entendimento" entre o PS e o PSD, de José Manuel Barroso, para perceber como era o tom geral nos jornais: de Esquerda, sempre, sempre. Arre!

Em 6 de Fevereiro de 1976, Sá Carneiro dava uma entrevista ao O Jornal. Assim.

Em 11 de Março de 1977, o PS já estava no Governo ( e o FMI por cá) e houve uma primeira tentativa de alterar a constitucional irreversibilidade das nacionalizações, através de um acordo bi-partidário entre o PS e o PSD, arrancado a ferros e com Sá Carneiro a dizer publicamente que havia possibilidade de entendimento com o PS ( o PS entende-se sempre com a dita "direita" quando está no poder...para grande desespero do PCP e em Portugal sempre assim foi.)


No mesmo número de O Jornal, a par da entrevista, vinha um artigo sobre as bases de entendimento entre os dois partidos e que "ressuscita actividade da banca privada", embora uma ressuscitação anémica cuja recuperação de cor ainda demorou uma boa meia dúzia de anos. A explicação para o entendimento dava-a o próprio Jornal: "Mercado Comum tem um preço: interno e externo". Exactamente e tal como hoje...embora o PS só o reconheça quando está no poder a rapar o pote. Como hoje quer  outra vez.

E na entrevista, Sá Carneiro explicava melhor porque o PCP o considerava "anti-democrático" (!)



9 comentários:

Floribundus disse...

actualmente o ps é bem pior que o pcp porque se candidata a 4ª bancarrota.
SÃO OS CANIBAIS DOS CONTRIBUINTES

ontem metia dó a concentração da cgtp em Belém
nem o bigodes da ugt-ml apareceu

parece que o 'núcleo duro' do cds empalou o pp

Miguel Dias disse...

Convêm também assinalar, a bem da verdade, que uma certa Direita nunca aceitou Sá Carneiro como líder político que enfrentava a esquerda comunista, nunca o viu como o seu líder e como figura política a apoiar. Esses sectores de Direita tentaram "sabotar" ou bloquear - mesmo no interior do então PPD - o trabalho e papel político de Sá Carneiro.

josé disse...

Balsemão. Eis a palavra.

Miguel Dias disse...

José,

correctíssimo.

Anónimo disse...

Agradeço-lhe ter colocado a entrevista completa e já agora o post em si mesmo, José. Obrigado

Vivendi disse...

"Sabotar" é o termo certo.

Basta relembrar a forma como ele morreu.



muja disse...

É impressionante é ver a mudança de linguagem. Noventa por cento daquilo é palha democrática... por muito acertados que sejam os restantes dez.

O José não tem nada pré-25A de Sá Carneiro (ou de outro qualquer)? Acho que era interessante comparar os dois discursos, pós e pré. Idealmente, diriam até a mesma coisa ou procurariam passar as mesmas ideias. Assim poder-se-ia comparar bem a linguagem em si.

josé disse...

Do Sá Carneiro? Tenho um pequeno artigo sobre a lei de imprensa, salvo o erro. Publicado no Diário Popular.

Até nem sei se já o scaneei.

Amanhã verei.

muja disse...

Digo do Sá Carneiro para a gente também não estar sempre a ver desgraças...

Mais a sério, queria ver até que ponto a mudança do regime provocou a mudança da linguagem em alguém que já tivesse responsabilidade política antes do golpe e que viesse a tê-la depois - como é o caso de Sá Carneiro.
Não (apenas) no sentido da novilíngua, mas também na perda de claridade e objectividade do discursos - obviamente por motivos eleitorais. Mas acho que seria interessante observar a diferença.

O Público activista e relapso