sexta-feira, julho 05, 2013

A década prodigiosa da nossa estupidez colectiva

Em 1974 Sá Carneiro tinha um projecto para o país. E até ideias concretas que não conseguiu fazer valer politicamente, ficando rapidamente para trás na voragem revolucionária do PREC que se iniciara a todo o vapor.


O Jornal de 6 de Fevereiro de 1976 publicou uma entrevista com o mesmo em que este se explica sobre o que pensava que deveria ter sido feito logo a seguir ao 25 de Abril, mormente quanto à presença dos comunistas no Governo ( que no seu entender foi imposta pelo PS) e quanto ao 1º de Maio, etc etc. opiniões que não foram seguidas por ninguém e assim se fez a História.
Nessa mesma entrevista diz algo contra a corrente da época em que a Constituição acabara de ser aprovada: passado  um ano sobre as nacionalizações era preciso...desnacionalizar. O que aliás Mário Soares admitira na mesma altura numa entrevista já por aqui publicada.  Ainda assim, o mesmo Soares, em vez da coerência natural, preferiu a conveniência eleitoral e  na Constituição, com os aplausos do PS e a apatia do PPD, ficou a famigerada expressão "irreversibilidade das nacionalizações". Durante anos a fio tivemos economia capitalista de Estado com o PCP e o PS a aplaudirem e a colocar os seus gestores de grande gabarito que nos levaram duas vezes à beira da bancarrota.

Em 11 de Fevereiro de 1977 o mesmo O Jornal publicou um artigo extenso em que dava conta de um pretenso "golpe" de Sá Carneiro, associado a Palma Carlos,  em Julho de 1974 para contrariar a orientação já dominante no seio do poder político, designadamente do MFA a tender para o esquerdismo,  no sentido de se adiarem as eleições designadas para dali a um ano. O tal "golpe" mais não era do que uma tentativa legítima de alterar o curso dos acontecimentos a fim de evitar o PREC comunista que se tornou realidade. Sá Carneiro tinha razão. Como tinha em 1975, altura em que alguns dos seus colegas de partido abandonaram o barco. Como tinha em 1977 ao defender outra solução económica, o que era evidente perante a bancarrota.  Ninguém ligou de modo a tal se alterar e a força política que sempre fez barragem em associação de interesses com o PCP foi o PS. Por isso Sá Carneiro foi durante muito tempo associado ao "fascismo", aos "reaccionários" etc etc.


Em 1982 foi tentada uma revisão constitucional que equilibrasse a balança do poder e expurgasse o texto constitucional das aberrações políticas que continha, mormente o preâmbulo ( está lá a palavra "fascismo" enxertada pelos comunistas com o apoio de Jorge Miranda) ou a orientação programática de raiz comunista.
Foi uma revisão falhada, muito por culpa do PS que continuou a dar o braço ao PCP, para o "socialismo".

Como relata o Expresso de  9 de Abril de 1982, na opinião de António Barreto,  a AD e o PS tinham "perdido" a revisão constitucional. Nada se alterada de substancial e a revisão foi quase cosmética, para além de algumas medidas de carácter político, relativamente ao Conselho da Revolução e que foi substituído pelo Tribunal Constitucional com o sucesso que agora vemos.  
Quem perdera de facto foram todos os que entendiam que não era sustentável o sistema económico que tínhamos e que Sá Carneiro tinha alertado anos antes. Foi o povo português in totum que continuou mais pobre que a média europeia, mas orgulhosamente de Esquerda.
Não obstante, não seria um Balsemão asmático no ambiente mediático ou um Cavaco economista de escola comercial com doutoramento em York que tinham peso político e social suficientes para contrariar os intelectuais do MFA ou da esquerda em geral que predominava nos media, mesmo no Expresso, como hoje, aliás.

Dois anos depois estávamos na mesma ou pior porque o FMI espreitava em cartas de intenções que Cavaco se recusava a elaborar como técnico.

Um antigo primeiro ministro de iniciativa presidencial, Nobre da Costa, em depoimento público mostrado no O Jornal de 6 de Abril de 1984 já mostrava que o rumo da economia estava errado desde há vários anos e que tinham sido esses erros que nos tinham afundado. Estas explicações, para a Esquerda, mesmo do PS, eram música de ouvido. E continuaram a ser durante vários anos.


Nada adiantava virem explicar coisas simples e de senso comum à Esquerda porque o sentimento era sempre o mesmo. O cúmulo da cegueira política, como hoje, era atingido em depoimentos de pretensos especialistas, tipo Nicolau Santos ou Ricardos Costas, na época no mesmo número do Jornal, a propósito da possibilidade de abertura da Banca à iniciativa privada, dez anos depois das nacionalizações.

É ler este Nicolau Santos da época para entender toda a filosofia da esquerda dita democrática...

E portanto, em 1984 mesmo antes da extinção da "irreversibilidade das nacionalizações", na Constituição, já se entendia que a Banca poderia ser o novo motor revolucionário da economia. Viu-se, depois com os casos Totta, os casos particulares de Champallimaud, os futuros BCP e BPN etc etc etc.

Quem nos estuporou a economia em 1975 jamais foi capaz de remendar o mal feito. E jamais foi possível remendar as asneiras gigantescas e criminosas de 1975. E no entanto, os autores directos de tais crimes continuam aí, na troika Avoila, Arménio e Jerónimo a prometer-nos novamente futuros radiosos com as suas "políticas patrióticas e de esquerda."



E em que é que resultaram essas tais "políticas patrióticas e de esquerda" da época de 1975 e anos seguintes, com apoio do PS, sempre sempre? Isto, para além do mais, como conta o Jornal de 15 de Junho de 1984:




E quem é que governou mais tempo durante essa década prodigiosa da nossa estupidez colectiva imputável directamente à Esquerda? Ei-los, como apresentados no Semanário de 28 de Abril de 1984. O campeão? Almeida Santos, o Sombra do regime.
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Perante este panorama, actualmente a perspectiva é a de regressarmos ao passado para repetirmos os mesmíssmos erros. A Esquerda já aposta nisso com grande manifestações e greves gerais...

Questuber! Mais um escândalo!