domingo, julho 14, 2013

A Censura do Expresso, em 1973, e Balsemão, o seu principal beneficiário

A propósito do número de 14 de Julho de 1973, do Expresso, o livro de José Pedro Castanheira, O que a Censura Cortou ( edições Expresso, 2009) mostra em três páginas o que diferenciou a notícia publicada da que poderia ter sido.
Assim, tirado do livro:

Há uma parte que é apresentada como tendo sido cortada pela Censura e que respeita ao "Visto" que Balsemão costumava escrever. E é assim:

"Para conservar, sem provocar sobressaltos sociais, mas prevendo uma inevitável evolução, é preciso controlar essa evolução. Controlar, neste caso, significa tomar posse dos meios de informação de modo a que eles só digam o que se queira ( e não digam o que possa criar ideias ou intenções que alterem a ordem estabelecida). Significa, também, só conceder acesso a quem presta vassalagem e escorraçar quem tenha opinião diferente ( mesmo que muito ligeiramente diferente). "

Tal conversa de chacha, embora relatando evidências maquiavélicas, Balsemão esperava não ser cortada pela Censura que na prática era exercida por um grupo de pessoas que o mesmo conhecia pessoalmente e com quem lidava até pelo telefone, ou por mensageiros tipo Marcelo Rebelo de Sousa ( que um dia queimou o cachecol no fogão de sala do censor...). E era isto o "fascismo" que depois foi considerado como uma coisa horrenda, inominável e que ainda hoje continua a ser, mesmo para os balsemões que andam por aí. O Rosas&Pereira, claro que sabem bem que isto era assim. Mas fazem de conta que não, farsantes como são. O Rosas até era sobrinho de um ministro de Salazar, embora tal coisa não o afectasse minimamente para continuar a cuspir na sopa da família.
 Balsemão esperava atacar de frente o poder que estava, mesmo sabendo que tal não lhe era permitido. Mas tentava, e depois queixava-se amargamente de não lho permitirem. Por isso aceitou o termo "fascismo" em ápodo ao regime anterior; aceitou o que se passou em 74 e 75 com pouca luta democrática e tentando passar entre os pingos da chuva revolucionária e tentou assentar no centro do espectro político que é o que rende. Política, pessoal e institucionalmente. Apostou e ganhou. Saiu-lhe por isso o totobola, depois o totoloto e agora o euromilhões, no caso com a OnGoing. Veremos quando a sorte vira...
Por outro lado, este texto não poderia ser publicado no Expresso de hoje, com o significado preciso que então tinha e aplicado aos tempos que correm, mormente aos próprio Balsemão e à sua SIC e Expresso, e grupo Impresa. As coisas mudaram e a reversão do escrito até arrepia aplicado aos tempos de hoje e ao jornalismo que esse grupo pratica, com destaque para certos jornalistas tipo ana lourenço.
É ler...esta parte do prefácio de Balsemão ao referido livro.


Portanto, o problema da Censura e o Expresso é muito simples de entender: o jornal e o seu director e jornalistas sabiam perfeitamente até onde poderiam ir e todas as semanas tentavam ir um pouco mais além, provocando a Censura e tal como no escrito de Balsemão para ser publicado em 14 de Julho de 1973, tentando fazer dos mesmos um bando de parvos.

Por isso mesmo, depois do 25 de Abril de 74, na edição de 14 de Dezembro de 1974, quando o responsável máximo pela Censura ( César Moreira Baptista) se encontrava preso, por crimes que nunca conseguiram imputar em concreto, a não ser a pertença ao "fascismo" e de que o Expresso se regozijou indisfarçavelmente, o jornal publicou uma espécie de vingança sob a forma de uma carta aberta cínica qb, dirigida àquele preso político que assim ficou meses sem que alguém lhe dissesse qual o crime que cometera- nem o Expresso o fez alguma vez, tendo passado sobre este assunto como gato por cima de brasas bem a arder, uma vez que as despesas da reflexão legal sobre a prisão dos "fascistas" ficou a expensas de luminárias de cachimbo, tipo Carlos Candal e pouco mais, no O Jornal porque o Expresso não tinha liberdade para tal. E não havia Censura...

Esta passagem do jornal é sintomática da promiscuidade entre pessoas da capital que se conheciam e que procuravam cada uma levar uma água a um moinho diferente.O moinho da legalidade vigente tinha mais farinha. O farelo foi-se amontoando e gerou o Expresso e os balsemões...


Balsemão foi um indivíduo que tudo ficou a dever ao 25 de Abril, em primeiro lugar. É o próprio quem diz que se não fosse tal acontecimento o jornal teria fechado. Ainda que tal não sucedesse não é provável que surgisse uma Impresa como existe.

Balsemão ganhou ainda o jackpot logo que Sá Carneiro morreu. Foi nomeado primeiro-ministro e por lá ficou mais de um ano a governar.
Em 20 de Dezembro de 1980, nem um mês passado da morte daquele, logo que Balsemão assumiu o cargo, o jornal fazia-lhe o panegírico. A Balsemão...entenda-se.



Não admira que Balsemão seja quem é; a SIC e o Expresso sejam como são e Portugal esteja como está, com órgãos de informação como estes.

Tal como Balsemão escrevia no Visto censurado em 1973...controlar o poder significa "tomar posse dos meios de informação de modo a que eles só digam o que se queira ( e não digam o que possa criar ideias ou intenções que alterem a ordem estabelecida). Significa, também, só conceder acesso a quem presta vassalagem e escorraçar quem tenha opinião diferente ( mesmo que muito ligeiramente diferente). "

Exactamente, Balsemão já sabia como era e não precisou por isso de aprender nada. Pôs apenas em prática. Com uma diferença: em Portugal, no tempo de Marcello Caetano havia recta intenção em quem mandava. Agora não. É essa a diferença que nos atirou para a bancarrota. O Expresso, esse, agora não conta esta História porque não lhe convém que se saiba...como se consegue ser rico, poderoso e influente. E ir todos os anos a Bilderberg.

2 comentários:

Floribundus disse...

neste povo há 50% com um máximo de 4 anos de escolaridade

elite de fósseis (esquerda ps incluido)
múmias à direita

votem na Troica ou no FMI
se aceitarem o 'tózero à esquerda' depois não se queixem

Anónimo disse...

Balsemão foi primeiro-ministro durante 2 anos e meio (Janeiro de 81 - Junho de 83). É o 4º ou 5º que mais tempo esteve desde o 25 de Abril no cargo.

O Público activista e relapso