No início de 1979 Portugal estava sob a alçada da assistência do FMI, agravado pela circunstância de não ter sido possível "fazer decrescer, em 1978, o défice do Orçamento, para os limites acordados, ultrapassando essa meta em quatro milhões de contos", segundo relatava o O Jornal de 16 de Fevereiro de 1979.
Nessa altura era primeiro-ministro Mota Pinto, num governo de iniciativa presidencial, de Ramalho Eanes, desde Novembro de 1978. O anterior governo, III constitucional também tinha sido dessa iniciativa. Começara em Agosto e terminada em Novembro, com Nobre da Costa que nem chegou a aquecer o lugar. Antes dele, esteve o sempre-em-pé, Mário Soares, desde Janeiro de 1978 e com Vítor Constâncio como ministro das Finanças. E antes dele, no I Constitucional, desde 23 de Setembro de 1976 estivera...Mário Soares. Com Medina Carreira a ministro. Soares fora corrido da governação, justamente, por indecente e má figura.
Portanto, se responsabilidades políticas há em relação à bancarrota de 1977 são-lhes directamente imputáveis. E não vale a pena tergiversar que foi por isto ou aquilo. O responsável político da bancarrota de 1977 foi Mário Soares. Ponto. Final.
Em 1979, conforme dizia, Mota Pinto arrastava-se penosamente por fazer cumprir o "memorando" de então com o FMI que "calculava que Portugal não deverá dispensar um elevado nível de endividamento externo até 1985, na ordem dos 1,5 mil milhões de dólares por ano", conforme escrevia O Jornal naquele número citado. Contas que Soares não sabia fazer e por isso foi afastado liminarmente da governação. Por Eanes, naturalmente.
Foi nessa mesma altura que apareceu na cena política de relevo outro personagem central do bloco-centralismo: Proença de Carvalho que foi do PS e passou depois por outros espectros políticos que assegurassem rendimento...
O PSD nessa altura teve uma crise política grave. Assim, como o Jornal de 6 4 79 contava:
Sá Carneiro tinha ganho o PSD no Congresso de Lisboa de ano e meio antes. Mesmo assim, os "inadiáveis" tendo à cabeça o inefável Sérvulo Correia, agora tycoon da advocacia de negócios do país, queriam que Sá Carneiro fosse mais socialista, mais de "esquerda".
Por tal desiderato esquerdista abandonaram a AR , onde eram deputados, de uma vez, 37 cujos nomes o O Jornal mostrava.
Ainda assim, dois meses depois, já se mostravam mais moderados. O mesmo Sérvulo dizia ao O Jornal de 16 de Junho desse ano:
Coisa que não veio a suceder porque a constituição da AD, para concorrer a eleições de Dezembro desse ano afastou a possibilidade de voltarem ao PSD de Sá Carneiro.
E afinal, o que queriam mesmo os inadiáveis da ASDI, como Sousa Franco que se aproximou depois do PS de Guterres com o resultado desastroso que conhecemos? Simples e claro, como se escrevia no O Jornal de 6 4 79:
As eleições de 2 de Dezembro de 1979 deram a vitória retumbante à AD. Como relatava o Jornal de 7 de Dezembro de 1979:
A ASDI de Sérvulo estava na oposição porque queria mais "socialismo". Foi isso exactamente que disse ao Jornal de 14.12.79 em que declarou que discordava da "viragem à direita do PSD".
E como é que a Esquerda de O Jornal explicava a derrota? Assim, em 14 de Dezembro de 1979: o maldito FMI!
Com a morte de Sá Carneiro em Dezembro de 1980, quem tomou conta do partido e do Governo? Balsemão. O exemplar mais perfeito do bloco-centralismo. O Expresso rejubilava:
E quem eram os ministeriáveis de então? Os bloco.-centralistas de sempre:
Em 1981 Balsemão enquistou o poder e foi assim até meados da década, com nova intervenção do FMI, em 1984, em pleno bloco-centralismo com o sempre-em-pé da política portuguesa outra vez no topo das desgraças: Mário Soares.
O que quer isto dizer? Que o bloco-centralismo que nos governou nessa meia dúzia de anos foi fatal para a nossa sanidade político-partidária. E foi o causador directo, porventura, da segunda bancarrota, em 1984. E depois, com Guterres foi o que se viu, tendo o cavaquismo sido um entremez político que durou dez anos.
É por isso que Júdice defende um novo "golpe revolucionário". Não está contente...
Com Sá Carneiro, provavelmente nada disto tinha acontecido: não haveria Balsemão nem SIC. Nem Cavaquismo durante dez anos. Nem Soares presidente de "todos os portugueses" e dos "pobres" em particular...,mais os afortunados de Macau, com malas de dinheiro a correr nos aeroportos.
Sérvulo Correia teria feito carreira na advocacia de negócios mas com toda a certeza nunca teria feito o Código da Contratação Pública. Nem Júdice teria a avença da Parpública. Nem os escritórios dos demais apaniguados do Bloco Central teriam aproveitado da forma que o fizeram a onda do "pogresso".