domingo, novembro 24, 2024

José Pacheco Pereira, mistificador da História

 Artigo de JPP, ontem no Público:


O PCP teve nenhuma participação no 25 de Novembro de 1975, segundo se lê. Aliás, escreve, "quando se confronta (sic) os defensores da versão "diabólica" do 25 de Novembro com as provas da participação comunista num golpe, não passam da "entrevista" de Cunhal a Oriana Fallaci, que qualquer pessoa que conheça o pensamento de Cunhal, com o que se sabe da estratégia do PCP nesses meses e da posição da URSS, sabe que ele não poderia ter dado aquelas respostas".

Portanto, duas coisas, dois factos envolvidos em opinião supostamente abalizada de quem estudou a vida e obra de Cunhal: 

O primeiro é que o PCP nada teve a ver com o "golpe" que agora tem uma versão "diabólica". Porque a única prova é uma "entrevista" ( entre aspas, como se o não fosse...) e a mesma não revela nada do que se pretende provar.

Quanto à primeira prova, fica aqui o postal de 24 de Novembro de 2015, ilustrado ainda por cima com documentos da época...

"O dia 25 de Novembro de 1975 foi o primeiro dia pós-PREC, porque foi nesse dia que as veleidades da Esquerda marxista-leninista depuseram as armas e arrumaram as botas. Até dali a uns dias, quando voltaram à clandestinidade e começaram a saga das FP25 que terminou dez anos depois.

A Esquerda comunista marxista-leninista nunca desistiu do projecto totalitário inerente e mais uma vez, 40 anos depois, está de volta para dar umas curvas à boleia de um partido perdido e que provavelmente irá desaparecer.

O que foi então o 25 de Novembro de 1975?

Depois da confusão, uma comissão  fez um relatório preliminar que foi publicado em 12 de Janeiro de 1976. Em 19 de Janeiro de 1976 Otelo foi preso por causa das conclusões que o implicavam e solto em e de Março desse ano.
Um editor particular, Martinho Simões, publicou-o integralmente, em dois volumes.

O Relatório é um conjunto de factos apurados pelos investigadores. Começa por uma introdução breve, apresentando as causas remotas, próximas e determinantes do que sucedeu nesse dia. Foi determinante a nomeação pelo Conselho da Revolução, de Vasco Lourenço, já brigadeiro (!) como comandante da Região Militar de Lisboa.





 



Quanto à participação das organizações civis, ou seja movimentos e partidos não há lugar a qualquer dúvida de quem investigou em cima dos acontecimentos: o PCP e suas organizações em correia de transmissão estiveram envolvidos nos acontecimentos, plenamente. Por exemplo, comprovou-se a participação directa do PCP/Tramagal  no desvio de armas do BE3, bem como a responsabilidade na organização dos SUV´s ( Soldados Unidos Vencerão). A célula do PCP na Marinha Grande esteve envolvida na mobilização de civis para ocupação  da BA5 de Monte Real. E por aí fora, com a comparticipação da LUAR do pai das manas Mortágua e do PRP/BR da grande Isabel do Carmo que não faz mal a uma mosca, mas desviaram mil G-3 para fazer cócegas a grilos. Etc etc. É ler.


O que disse então o PCP sobre isto, logo a seguir ao golpe frustrado? Isto:

Nada tiveram a ver com a coisa. Foi tudo obra de uns militares despeitados. O trotskista-mor da época, Ernest Mandel, futuro guru do vindouro BE assegurava o mesmo no O Jornal de 12.12.1975, quinze dias depois...

É ler o que dizia sobre a economia mista: não existia tal coisa em nenhuma parte do mundo porque "uma mulher não pode estar parcialmente grávida". Ou a economia é socialista ou capitalista. Ponto final.  O que defendem estes novos esquerdistas do PS, BE e da "união de esquerda"? A gravidez parcial?


Um ano depois, em o Jornal de 26 de Novembro de 1976 essa esquerda democrática fazia  o balanço  politicamente correcto do que tinha sido o 25 de Novembro, com um branqueamento à maneira da esquerda democrática.

E até se indignava pelo facto de nas comemorações dessa efeméride, no Porto, aparecer um militar ( Mota Freitas) que tinha sido "bombista"...atrás do herói Pires Veloso.

E que pensam hoje os mesmos comunistas do PCP sobre tais acontecimentos?

Ora...o mesmo que diziam há quarenta anos. O PCP tem o mérito de ser coerente na fossilização. Fossilizado uma vez, é para sempre. E tem sido, como mostra O Militante deste bimestre Novembro/Dezembro 2015.
A responsabilidade pelos acontecimentos? Da direita e da social-democracia, sob a batuta da direcção do PS, do grupo dos Nove e de sectores esquerdistas agrupados em torno de Otelo Saraiva de Carvalho.  Em 1975 não tinha sido muito diferente, embora Cunhal circunscrevesse o assunto aos militares...


Quanto a estes assuntos e aos demais o PCP é sempre previsível na fossilização consolidada: aquele Relatório Preliminar nunca existiu. Os factos são invenções e de qualquer modo ninguém leu aquilo. E agora já não podem ler porque nem sequer está  publicado em qualquer lado que se veja. Só em alfarrabistas e é preciso procurar muito...pelo que a História está segura.

E a tal direita como é que vê agora o que aconteceu então? Jornal O Diabo de hoje, um artigo que  transcreve as ideias do coronel Manuel Bernardo que escreveu um livro sobre os comandos de Jaime Neves:


E na época? Jornal O Dia de13.12.1975.


A primeira mistificação é por isso a de considerar que a única prova é a tal "entrevista". Não é. Ponto final. Há pelo menos um Relatório de uma Comissão oficial que considerou que houve efectiva intervenção do PCP nos acontecimentos. Sabendo como é o PCP não andavam a fazer as coisa à revelia do "Partido", certamente...

A segunda decorre da primeira e é a tal "entrevista" de Cunhal a Oriana Fallaci. Há anos que ando à procura da edição original da revista L´Europeo onde foi originalmente publicada mas na mesma altura tal entrevista foi traduzida para francês pela Paris Match e dizia assim segundo este postal de 22 de Novembro de 2018:

A entrevista, uma verdadeira entrevista com perguntas-respostas e não uma "entrevista", é esta, na parte que interessa, publicada no Paris Match, edição de 28 de Junho de 1975, também tirada de um postal de 22 de Novembro de 2018:


"Compreendeu-me muito bem: prometo que em Portugal não haverá um Parlamento"!  Isto é falso?! Quod erat demonstrandum e não é a consideração acerca do putativo pensamento de Cunhal que JPP dá como adquirido pela sua sabedoria infusa que o irá desmentir, simplesmente. 

Não é a dizer que a gravação nunca foi disponibilizada para se aferir da sua veracidade...porque Oriana Fallaci não era uma agente do capitalismo ou do fassismo ou da CIA ou seja lá do que for que José Pacheco Pereira então execrava, inserido num dos movimentos revolucionários que apoiaram o movimento extremista de esquerda que pretendiam mesmo tomar o poder político em 1975. O económico já lhes estava no papo, embora atravessado por espinhas que os impediam de engolir toda a mistela associada. Duas bancarrotas foi o resultado dessa crença, dessa fé cega que continua a cegar José Pacheco Pereira e o leva a mistificar grosseiramente a História. Mais uma vez. 

É triste que não haja quem lhe diga isto na cara, na tv...e ainda mais isto: 

Já que anda sempre a propalar atoardas sobre a censura do fassismo seria bom que desse conta do acto de censura que consistiu na omissão noticiosa de uma tal referência na época à entrevista e principalmente ao que supostamente o mesmo Álvaro Cunhal disse a propósito da democracia parlamentar. Ninguém lhe perguntou nada de nada na época...e nem seque a entrevista foi publicada por cá, integralmente. 

Apenas mereceu uma breve referência no Expresso, segundo julgo. No O Jornal népia. E por isso mesmo se pode falar de censura. Imposta por dentro...

ADITAMENTO em 2 de Dezembro de 2024:

Por amável indicação de um leitor, aqui fica a referência original, a revista L´Europeo, de 13 de Giugno de 1975 ( provavelmente com saída oito dias antes e por isso o equívoco da data, de 6 de Giugno...) e está disponível na Internet ( ebay, com custos de expedição inacreditáveis...):



















sexta-feira, novembro 15, 2024

O Público activista e relapso

 Capa de hoje:



Qual problema legal que poderia impedir alguém como o indivíduo da figura, de ser advogado? Aparentemente...nenhum, tal como a bastonária da OA refere. 

Mas...alto aí! Há um problema que alguns colegas de profissão, com responsabilidades na OA indicam: o indivíduo terá que obedecer a normas estatutárias relativas ao "comportamento público e profissional adequado à dignidade e responsabilidade da sua função, primando pela probidade, honestidade e cortesia". 

E...é tudo o que um dos tais responsáveis ( João Massano, presidente do conselho regional da Ordem) descobre para impedir e entender como inadmissível o exercício da profissão ao referido indivíduo que de resto tem todas as demais condições para o exercício da profissão, como os outros. 

  " Não existe nada no seu cadastro da Ordem dos Advogados que suscite dúvidas aos serviços"...escreve o jornal no artigo assinado por Joana Gorjão Henriques e Ana Henriques. Além do mais, como bem refere a bastonária, a expulsão da magistratura " não se prendeu com questões de idoneidade moral". 

João Massano tem este perfil na Wiki. Evidentemente que está no seu direito de não gostar do modo como o putativo celerado se apresenta e que depois de ser juiz ( e antes ter exercido a advocacia...) é agora advogado. Mas isso não lhe confere nenhum direito em se manifestar publicamente contra um colega de profissão, arvorando-se em juiz de qualidades e defeitos que nem sequer é capaz de elencar. Não tem esse direito, ponto final. 

A resposta que esclarece esta primeira página do Público consagrada a uma pessoa que afinal tem todos os requisitos para exercer uma profissão, contra a vontade de alguns e particularmente das jornalistas que assinam o artigo reside algures, inconfessáveis, mas evidentes. Vem no título manhoso, porque associa uma profissão liberal a uma profissão de poder público, o que é lamentável. No quiosque onde comprei o jornal e a razão por que o fiz e me levou a escrever isto reside na circunstância de uma "idosa" ao ler ter referido, "vejam como está a Justiça!"...sem reparar que os media estão no estado lastimoso que se pode ver todos os dias no Público, com o exemplo deste jornalismo que me parece activista e de vão de escada. 

A resposta reside nesse título e no subtítulo "Fundador do grupo extremista Habeas Corpus voltou a ser advogado há ano e meio, apesar de ter currículo manchado com acusações criminais."

Presunção de inocência? Cuidado particular com a honorabilidade das pessoas em concreto? Isenção e respeito pelos direitos humanos? Isso é para quem não seja de "grupos extremistas"...de direita, claro. 

Os demais " de direita", particularmente " extremistas" e que são quase todos os que se assumem como diferentes da esquerda, apanham com este jornalismo que não tem consequências. 

Aposto que as ditas jornalistas, à imagem de um Dâmaso Salcede ( supondo que conhecem a personagem) até se orgulham do feito. 

Podem bem limpar as mãos à parede.