segunda-feira, novembro 12, 2018

A novilíngua da esquerda comunista domina a linguagem política, em Portugal

Observador:

As palavras têm uma força imensa – é através delas que construímos o nosso entendimento dos fenómenos sociais. É por isso que o combate político se ganha quase sempre controlando a linguagem. Fazê-lo é escolher o léxico com que se debate determinado fenómeno, é delimitar a primeira percepção geral sobre o problema em causa, é impor à partida uma visão política, é definir a ortodoxia. É, portanto, a forma mais eficaz de controlar a reflexão sobre um tema: normaliza um certo posicionamento político, impõe-no como senso-comum e, por fim, dificulta o aparecimento de visões alternativas, que passam a ser contra-intuitivas.

Vem um bocado atrasado, para a discussão, este Homem-Cristo.  Porém, muito a tempo de colocar o problema e tentar encontrar uma solução. Que me parece apenas uma: denunciar a manobra de manipulação da linguagem comum, pelos comunistas e cripto-comunistas, que dura há sensivelmente 44 anos e mais uns meses. 
A língua portuguesa que designa fenómenos sociais e políticos sofreu uma mutação genética nessa altura, a partir do final de Abril de 1974. 
O vírus da linguagem comunista que estava isolado e guardado no frasco de formol dos fósseis da revolução de Outubro de 1917 , foi então propositadamente liberto e infestou toda a comunidade portuguesa a começar pela mediática, então repleta de analfabetos intelectualizados no "comunismo científico".  Uma boa parte dessa intelectualidade lusa ilustrou-se alguns anos depois, com um banho de realidade que surgiu do Leste, no final dos anos oitenta. Porém, o vírus continuou por lá, latente no bestunto e assomando à escrita sempre que exercitado, tal herpes místico que não desaparece nem à lei .

Por isso temos ainda hoje o "fascismo", os "reaccionários", a "burguesia", o "capital", a "classe trabalhadora", "os monopólios", etc etc. Já houve o "imperialismo" mas foi chão que deu uvas, embora ainda haja umas bagas à solta destes malucos.

Não é preciso ir muito longe porque aparece toda a afloração deste vírus em periódicos  do PCP, desde então e até aos dias de hoje, imutável e aparentemente sem antídoto. 

Vidè uma página- só uma!- da última edição de uma revista:


Como exemplo desta linguagem em pleno estado viral e virulento, temos um período concreto da nossa vida colectiva que já leva quase 40 anos, mas representou para mim a primeira tentativa de mudança e tratamento do vírus latente, desde as primeiras semanas após o 25 de Abril de 1974.

Foi em 1979 que as pessoas em geral se aperceberam do cardápio de tretas que era servido diariamente pela esquerda nos media de então, imprensa, rádio e tv.

Cinco anos depois da infecção Portugal tinha já falido e era assistido pela "finança internacional" capitalista. Mesmo assim a linguagem estava mais virulenta que nunca porque se anunciava uma potencial vacina, com a mudança política iminente e que afinal se revelou estéril. O vírus continuou e desenvolveu-se, espalhando-se ainda mais.

Um dos melhores exemplos pode ser colhido com os recortes de o Jornal desse ano. O Jornal era um dos veículos mais exemplares da linguagem de pau do esquerdismo marxista, iniciada nesse caso em Maio de 1975 e que adoptou o léxico comunista para referenciar fenómenos sociológicos e posições políticas.

Em 31.10.1979 anunciava o começo da campanha eleitoral. Vital Moreira dizia claramente " se a direita ganhar é a crise". A "direita" ( PSD e CDS mais PPM) ganhou.


No Norte o PCP de Álvaro Cunhal tentava evitar o que parecia inevitável: a derrota mas eleições que se aproximavam.  E por isso ameaçava com o perigo do regresso do "fascismo"...


O jornal mostrava como a tal "direita", cujo expoente máximo era Freitas do Amaral, o do "loden" , se manifestava como a "esquerda".


A Educação em Portugal, grande responsável por esta alteração linguística, era isto: falta de professores, colmatada com "mini-concursos" e alteração profunda no ensino técnico-profissional. Acabaram os cursos das escolas técnicas por causa da "diferenciação de classes " e os liceus que eram para os filhos da burguesia acabaram por se fundir com as escolas dos filhos dos trabalhadores.  A luta de classes  foi mais forte que a inteligência dos seus mentores.


Em 9 de Março desse ano, o grande ideólogo da nossa pequena aventura marcusiana, usava a linguagem de trapo comunista e que não existia antes de 25 de Abril de 1974 a não ser nos pasquins clandestinos do Partido.
Correcção: o texto é de 1963 e foi publicado então, em 1979, mostrando o ideal da esquerda que foi retomado após 1974: uma descolonização que foi tida como exemplar. Como diz o comentador, no final , o texto era então anacrónico. Seria?! Foi assim considerado porque dele se evola uma homenagem do vício à virtude.
Julgo que foi esse ideólogo anacrónico quem disse numa entrevista relativamente recente ( e que já publiquei por aqui) que a Esquerda dominou intelectualmente o panorama nacional, desde os anos 40, mesmo com a censura existente. Não admira que em 1974 tivesse retomado à luz do dia o que fazia sempre, na clandestinidade. A linguagem que temos é uma das manifestações dessa realidade que se sobrepôs à que existia no discurso oficial e principalmente conquistando substituindo a linguagem que era então corrente e popular.
Como disse um trabalho digno de Gramsci: substituir conceitos velhos por outros ainda mais velhos e anacrónicos mas convenientes à intelligentsia dominante.



Marcuse, naturalmente, era um herói nacional desta intelectualidade traduzida da revista francesa Le Nouvel Observateur, socialista de gema antiga e subsidiária da mesma linguagem, como mostra a edição de 10.8.1979.


O problema nacional, económico, encontrava solução provisória através do legado de uma "pesada herança" do fassismo, como mostra a edição de 16.9.1979:


Politicamente, houve um problema com um programa de tv que usou a novilíngua e os conceitos novos aprendidos, para explicarem de outro modo a guerra no Ultramar, na edição de 9.3.1979:


Em 21 de Setembro 1979 um intelectual universitário, pai de um outro esquerdista de nome Eduardo, já falecido, fazia esta apreciação do panorama nacional. Repare-se o modo como se refere a um jornal da época- O Dia- conservador e que chegou a ser dirigido por Vitorino Nemésio, completamente esquecido na actualidade, incluindo o "se bem me lembro":


Em 21.9.1979 num artigo revelador um jornalista denunciava a tomada de posição da Igreja Católica a favor da Aliança Democrática. Um escândalo, segundo o mesmo...





28.9.1979 uma notícia dava conta de mortos em confrontos com a polícia na área de intervenção da Reforma Agrária.


Em 6.4.1979, um dos "pais" da Constituição glosava as grandes maravilhas da Constituição, a grande incubadora da novilíngua, com expressões solenes como "a caminho da sociedade sem classes".


Em Dezembro após o acto eleitoral e a AD ganhou, caiu o carmo e a trindade...


Em Agosto o jornal dava conta da "censura fascista", terrível...


Como mostrava a edição de 28.9.1979 houve mesmo fascismo em Portugal. E ninguém depois disso se atreveu a dizer o contrário: o comunismo, dizia que tinha havido. O socialismo idem, a Maçonaria idem aspas. Como é que se poderia negar o fenómeno assim reconhecido por estas luminárias todas? Quem se atreveria a tal?! Até fizeram um "Livro negro"!


E onde estavam as vozes alternativas a esta novilíngua? Havia um comunicador televisivo que tentava...tentava: Hermano José Saraiva, no O Jornal de 12.1. 1979.

Hoje em dia, talvez nem este discurso lhe fosse admitido:


Talvez o melhor exemplo do que sucedeu por causa desta mutação genética na linguagem se encontre algures por aqui:

Sérvulo Correira, o advogado que se juntou a um professor universitário de Direito, da mesma linha ideológica- Sousa Franco- era opositor a Sá Carneiro num PSD que entendiam virado "à direita". Eles eram de esquerda e como tal compagnons de route dos autores daquela mutação genética na linguagem.

Ora o que deu esta mutação no caso deles? Sousa Franco foi ministro de A. Guterres. Reformas antecipadas aos 50 anos, gastar à tripa-forra, desmandos nos fundos estruturais da CEE/UE. Acabou num pântano e de pantanas e a cuspir na sopa do governo de que fez parte ( disse publicamente no Gambrinus, que o governo de Guterres era o pior desde os tempos de D. Maria, ainda na Monarquia, veja-se lá!)
Sérvulo Correia? Esse tornou-se nos anos a seguir um parceiro privilegiado do Estado em certas parecerísticas. Tanto que até lhe encomendaram o guia de os privados sacarem o melhor possível dinheiro ao Estado, com um Código de Contratação Pública, muito académico. Sérvulo era um académico. Está rico e tudo dito do seu esquerdismo anti social-democrata à moda de Sá Carneiro.
Um dos símbolos do regime e da corrupção endémica que o corrói, a que se apresenta impoluta por via das leis e dos seus buracos de incompetência suspeita. Como se distingue da dos pindéricos tipo Sócrates, ou Salgado é a que há-de perdurar. Mas não deixa de ser a mesma porcaria porque se serve do Estado e das suas receitas para prosperar para além do razoável. Escapa às criminalizações mas mina de igual modo o Estado de Direito decente que deveríamos ter e já tivemos, nesse aspecto.

A Esquerda e a novilíngua servem para isso, também.


Perante este panorama que era a realidade de 1979, sabendo que não houve grande mudança nas décadas que se seguiram, o que fazer, como diria o comunista Lenine? 

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