domingo, outubro 11, 2009

O síndroma italiano

Mesquita Machado em Braga, Isaltino Morais em Oeiras e Valentim Loureiro em Gondomar, ganharam as eleições autárquicas e são presidentes de câmara eleitos por mais quatro anos.

O que estes resultados eleitorais demonstram, sem qualquer margem de dúvida, é que a maioria dos eleitores desses concelhos entenderam que esses candidatos eram os melhores para gerir os destinos autárquicos.

Tudo o resto e que inclui suspeitas de corrupção, no exercício dos mandatos autárquicos, até mesmo condenações em penas de prisão, contaram zero para esses resultados.
O sinal que se transmite é o de um inequívoco manguito à ética política, à importância da conduta moral na política, como factor diferenciador do exercício autárquico. Os tribunais e as suas decisões, neste contexto, contam quase nada. E a explicação pode bem residir no descrédito a que têm sido votadas algumas delas, com uma grande falta de compreensão do povo em geral dessas mesmas decisões.
Os políticos, nesse aspecto, têm trabalhado afincadamente para esse resultado de confusão, ignorância e equívocos que lhes têm servido nestes actos eleitorais.

Que isso sirva de lição, se é que ainda não tinha servido, porque idêntico fenómeno se repercute também a nível nacional e já se manifestou nas últimas eleições.
Solução? Uma nova abordagem aos problemas com outra amostragem ética. Aos poucos lá se chegará, como na Itália se chega.

19 comentários:

Panurgo disse...

Tenho muitas dúvidas, José. Apesar de tudo, o povo italiano é um povo mais educado, mais "acordado". A Democracia é uma coisa muito bonita, mas exige uma massa educada (curiosamente, a sofística só surgiu com o aparecimento dessa tal Democracia), e é a falta dela que por cá faz com que a Democracia não passe de uma brincadeira. Bom, no nosso caso até se junta uma certa falta de pujança: preocupa-me o nosso povo, que permite a uma criatura como o Paulo Pedroso andar aí na rua sem levar uma paulada no lombo.

joserui disse...

José, não tem muita fé, demasiada, na Itália? Aquilo é um caos político permanente desde a segunda guerra mundial.
Eu adoro os italianos no trato pessoal, mas digo-lhe, contas feitas, são mais chico-espertos que os portugueses. E mais vigaristas em tudo. E convivem bem com isso. Por alguma razão, a corrupção e instabilidade, interfere pouco com o dia a dia. Mas exemplo é que aquilo não é. -- JRF

josé disse...

A "fé" que tenho nos italianos é devida ao facto de terem desmantelado um sistema corrupto com uma operação mãos limpas.
Fizeram-no com acusações de o poder judicial ter actuado como uma "república de juizes" e ainda de serem de esquerda e patati patata.

Porém, nunca o teriam conseguido se o povo no seu conjunto de eleitores não tivessem escorraçado os partidos políticos tradicionais e julgassem alguns dos seus líderes por vários casos que conseguiram provar em tribunal como sendo de corrupção.

Para mim é o exemplo de que é possível mudar o sistema corrupto num dado momento.

Mesmo que depois posssa surgir outro em seu lugar. Mas isso é outro problema de luta actual e permanente.

Por cá não temos povo para isso e por lá, o Berlusconi queixa-se agora de ser o líder mundial mais perseguido judicialmente, de todos os tempos e que já gastou 200 milhões de euros com os...juízes! Emendou logo a seguir para dizer que os tinha gasto com os ...advogados, o que parece mais consentâneo com a realidade.

Portanto, a Itália, há quinze dias, fez uma manifestação em Roma em prol da liberdade de expressão, com 300 mil pessoas no centro de Roma.
Tem partidos que não tem nomes tradicionais e houve renovação da classe política.

A comparação que faço com a Itália é que eles conseguiram resolver de algum modo a corrupção dos partidos tradicionais, embora não erradicassem o fenómeno como está bom de ver.

No entanto, parece-me que Portugal é um país ainda mais corrupto do que a Itália.
A questão é que nem sequer o conseguimos entender...e achamos que o que temos é a mais perfeita normalidade.

O facto de Braga, Oeiras e Gondomar terem eleito os presidentes que elegeram, comunga do mesmo fenómeno italiano que elege Berlusconi.

E neste caso não há qualquer dúvida, a meu ver, sobre o fenómeno: é o mesmo que não deixa ver o profundo nível de corrupção a que chegamos e que não tem paralelo na Europa.

Karocha disse...

Tem toda a razão José, já para não falar nos Juízes que morreram na operação mãos limpas e ela continuou.

MARIA disse...

Caro José:

Não posso estar mais de acordo consigo no que diz sobre Itália.
Já entre nós, penso que o problema tem que ser enfrentado noutros domínios que jamais se AUTO- QUESTIONAM, julgo eu, porque se entendem meros aplicadores quase autómatos de "um direito" que lhes é transmitido e não podem questionar, depois porque ainda há muito quem entenda exercer um poder que não é questionável, porque se impõe por si só.
Ora o Povo que não percebe de direito mas tem a sua noção do que é justo, não pensa assim.
O Povo segue o que sente.
E o que sente depende da eficácia retórica da mensagem política que recebe.
Pergunto-me se o Povo acreditará que certas pessoas contra quem nada se provou em recentes processos mediáticos em Portugal, estavam inocentes?
Se calhar não...
Mas a própria Justiça sai a explicar-lhe que pelas regras do jogo jurídico a verdade do processo , nem sempre é a da vida.
Assim, inocentes, não merecedores de qualquer sanção, podem sofrê-la e vice-versa...
Algo está profundamente errado quando o sentimento da comunidade difere tanto de quem aplica a lei, esta que como já salientava Ulpianus para ser justa deve "dar, (reconhecer,diria eu) a cada um o que é seu" por direito.
Os governos portugueses dos últimos anos revelam uma grande insensibilidade àquilo que a comunidade espera da Justiça, esquecendo que quanto mais se aproximar desse objectivo, melhor serviço de justiça lhes presta.
Esquece-se que é de um serviço que a justiça se trata...
Depois é o que se vê...
Os portugueses olham hoje mais que nunca para os Tribunais como um poder que pelo exercício da autoridade do Estado impõe as suas decisões.
Sabem que têm que submeter-se a elas, mas ou porque as leis não serão sempre as mais justas, as mais adequadas ou as mais sensatas.
Ou porque quem aplica a lei se esqueceu quem é verdadeiramente e qual a vocação a que está destinado : dizer o justo,
entendem que nem sempre se faz justiça e daí que julguem certos comportamentos e situações com olhar diverso.
Não creio que os portugueses queiram políticos corruptos.
Simplesmente muitos logram confundir o certo e o errado na cabeça das pessoas e por vezes é quase impossível reverter uma injustiça.

Saudações

Maria

zazie disse...

"uma paulada no lombo"

ehehhehe

zazie disse...

Neste caso das autarquias e caciques locais sempre foi assim. Desde tempos da monarquia.

Estão-se pouco lixando se o cacique é corrupto desde que lucrem com isso.

E é claro que quanto mais corrupto mais benesses.

Por isso é que Portugal acabava no dia em que se fizesse a tal de "regionalização".

zazie disse...

E, de certo modo, em maior escala é o mesmo que se passa.

Claro que sabem que votam em corruptos, mas são esses corruptos que mais jeito fazem para os protegerem.

Era engraçado fazer-se um inquérito a todos esses milhares de professores que andaram em greve e na rua contra a ministra e este governo e ver se não acabaram a votar no Sócrates.

Votaram, pois. E os que não votaram nele por causa das coisas, votaram BE e PCP por causa das mesmas.

josé disse...

Karocha:

os juizes que morreram- Givanne Falcone e Paolo Borselino, não eram juizes da Operação mãos limpas. Eram juizes de instrução criminal ( aqui em Portugal seriam procuradores) do Pool antimáfia que se criou em Itália para combater o fenómeno mafioso, principalmente na Sicilia, centro nevrálgico da Cosa Nostra por ser aí que residiam os seus líderes ( Totò Riina e Bernardo Provenzano que só foi preso há um par de anos).

Os juizes da Operação mãos limpas descobriram ligações de políticos à Cosa Nostra como aqueles do Pool antimafia já sabiam.

Andreotti foi acusado e julgado no âmbito dessas ligações, mas foi absolvido. Porquê?
Falta de provas suficientes. Chegou a dizer-se que havia uma fotografia que provava a ligação do mesmo a um dos padrinhos ( precisamente Totò Riina) a testemunhar um beijo na face ( símbolo de respeito mafiosos e portanto de ligação fatal).
Não se descobriu essa foto e não houve testemunhas suficientes, para além de arrependidos que se contradisseram e desdisseram ( síndomra Bibi...).

AInda assim, Andreotti e finito.

Por cá, concorrem à presidência da República e disputam o lugar taco a taco...

zazie disse...

Digo eu, porque é esse feedback que tenho de quem vota "à esquerda".

Sempre com medo que lhes toquem no emprego vitalício e em toda a protecção Estatal.

Claro que depois disfarçam dizendo que é pelos outros e pelo "desenvolvimento"- "porque é preciso que o Estado crie mais empregos".

E pronto- com Estado a criar empregos quem precisa ética autónoma ao Estado?

Só quem for parvo.

joserui disse...

Ok. Mesmo assim, a Felgueiras perdeu, o do Marco idem e o antigo cacique de Matosinhos também (não houve nada contra ele nunca e só isso é misterioso).
E esse tal de "paulada no lombo" não sei como ficou, espero que péssimo. -- JRF

zazie disse...

Mas há outras formas de se mostrar que também lhes comem as papas na cabeça.

Por exemplo, li uma troca de comentários de um blogger com o José a propósito daquela gigantesca aldrabice do Henrique Cayatte paga a peso de ouro, para usar um template já feito de open source e reveber um balúrdio em troca, em nome da República.

Eu até acho que esse comentário técnico, de quem anda no ramo e sabe como as coisas são feitas e quanto custam, devia ser passado a primeira página.

É criminoso isso. Fomos roubados em nome da ética republicana e houve um artista de circo que meteu ao bolso, fazendo um site que até eu era capaz de fazer.

Nem é criação dele. É Zen pronto a usar e com umas alterações de CSS que eu faço em minutos noutras coisas que tenho.

zazie disse...

Fartei-me de rir a imaginar a paulada no lombo do animal

":O)))))

zazie disse...

aqui .

Comentários 20 e 30, onde se explica como aquilo é do Drupal e template zen alterado mais os valores do mercado.

joserui disse...

A plataforma, para mim, não está em causa. Para um site normal, já só algum purista ou alguém que quer ter o cliente "na mão" para sempre, parte para a gestão de conteúdos do zero (este orçamento dava e sobrava para isso, mas é moroso).
Eu fazia aquilo em Wordpress nas calmas. Nem ia para o Drupal. E como disse antes, 5.000€ estava excelentemente bem pago. Mas arredondava para os 10.000€, por serem republicanos :) .
O que o senhor Cayatte está a fazer é a "minar o sistema por dentro". Não há república que aguente esta drenagem. O senhor Cayatte é um monárquico radical. Ou isso ou um anarquista :) . -- JRF

joserui disse...

Coitados. Em Almada era entre os comunas e um "paulada nas costas"! Não podiam ganhar. O "paulada nas costas" ainda teve 23%, escandaloso. -- JRF

zazie disse...

Já botei post. Aquilo estava-me a fazer fornicoques.

joserui disse...

Hehe... Ainda não tinha visto o post da fogueira... Aqui entrou um vizinho... A dar cabo da cabeça ao meu pai por causa do fumo... Foi corrido. E eu a ver, divertido.
Mas sobre o Cayatte... Ele não fez nada do que a Zazie diz. Nem pegou em Drupal, nem Zen, nem nada. Se conheço o método de trabalho, ele deve ter feito uns esquiços numa toalha de papel, ao almoço ou ao jantar. Com a sua "visão". Depois um escravito deu um aspecto e alguma lógica à "visão". O genial deu o aval. E depois os do Sapo, vendo o básico que tudo aquilo era, decidiram-se pelo Drupal.
Acha que o Cayatte sabe o que é o Drupal? -- JRF

zazie disse...

ehehe

Pois há-de ter sido isso mesmo.

":O))))

O Público activista e relapso