Vasco Pulido Valente na sua crónica de hoje no Público mostra que não esgotou ainda o que as suas ideias têm de essencial.
Intitula a crónica como " o fim da loucura?", referindo-se à decisão do actual governo em extinguir a Parque-Expo que enquanto existiu "teve tempo para produzir uma ninhada de empresas ( no mínimo sete e quase sempre deficitárias), para se meter indevidamente no domínio do Estado e para se afundar numa dívida directa de 225 milhões de euros."
A loucura colectiva a que se refere começou com a XVII Exposição Europeia de Arte Ciência e Cultura " que o Governo da AD resolveu fazer sem boa razão ( e em que reconheço uma certa dose de culpa)." Diz que não sabe o que se gastou com a mesma mas "não saiu barata; e sei que não se tiraram grandes vantagens dela. Veio a seguir a Europália, uma extravagância do dr. Cavaco, que se destinava, diziam os devotos, a pôr Portugal na moda e que também não serviu para rigorosamente nada. E no fim, com as mesma ideia de impressionar o `estrangeiro´ apareceu o CCB- de que o país não precisava- em que espatifaram milhões e que acabou por ficar incompleto.
Pior ainda: o CCB ajudou muito Portugal a passar do exibicionismo de província à megalomania militante. O primeiro sinal dessa megalomania foi a chamada Expo´98 que, segundo nos garantia o seu exuberante comissário, `se pagava a si própria´. De Cavaco a Sampaio, os responsáveis da altura deliraram com a ideia invocando o incompreensível argumento de que a Expo ia ser a ´oportunidade` e o ´pretexto` para ´reconstruir a Lisboa oriental`. "
Fica aqui explicado, por um dos seus primeiros protagonistas ( no tempo da AD foi secretário de Estado da Cultura), aquilo que agora considera a "loucura colectiva".
Mas está enganado, Vasco Pulido Valente. A tal "loucura colectiva" é loucura, sim, mas não colectiva. Poderia refazer a crónica e chamar-lhe loucura da classe política que tomou conta do poder em 25 de Abril de 74 e da nossa intelligentsia dominante.
Tenho a certeza absoluta que com o "fassismo" que todos combateram tal loucura não se manifestaria. E não pela razão que gostam sempre de apresentar, que é a do miserabilismo. É muito mais simples de entender: no tempo de Marcello Caetano que alguns execram só por ser quem era, não havia lugar a loucuras dessas porque o sentido do dever, das realidades nacionais e do entendimento do que devia ser um país era outro, diferente e muito melhor, no meu entender.
A classe política de então não se aventurava em "loucuras colectivas" aplaudidas pela intelligentsia de braços abertos e bolsos à espera da dávida e do subsídio, sem limites.
Nesse tempo, a honra de um país media-se pelo respeito que infundia e pela seriedade e noção dos limites da nossa riqueza e capacidade de endividamento.
Depois disso, com a democracia que adveio, Soares, Cavaco e tutti quanti, nem sequer tiveram a noção do que significava esse respeito e em pouco tempo hipotecaram toda uma nação, várias vezes e sem terem a noção do que fizeram. Basta ler os livritos que publicaram para justificar as acções políticas que tomaram para se entender a mediocridade que nos tem governado. É essa aliás , a maior desgraça nacional. Maior que todas as crises.
O nosso mal profundo e a raiz da nossa crise permanente, desde os anos oitenta, depois do PREC reside aí, nesse fenómeno singular: a fraca liderança tornou fraca a gente forte. Se todos percebessem isso, o país mudava radicalmente.
E nem precisava de abdicar da democracia...
9 comentários:
no dia 25.iv o país foi assaltado por uma infinidade de 'bimbos foleiros' convencidos que eram as luminárias saídas da 'longa noite fascistas'. eram todos socialistas, uns mais que outros.
sabiam tudo de tudo e queriam tudo já.
passados 37 anos temos o fmi pela 3ª vez e estamos na merda
de boa vontade os empalava no 'artusanato' das Caldas, 'culoseimas para alguns'
Isso do nem precisar de abdicar da democracia não sei. É um facto que este país ao longo da sua história contemporânea não se deu bem com semelhante regime. Nem com a monarquia constitucional do sec.XIX, nem com a 1ª república, nem agora. Há que encarar os factos frontalmente.
Quem somos nós (qualquer um de nós) para contrariar as sábias crónicas do cronantes de profissão.
A Parque EXPO devia ter entrado em liquidação em Maio de 1999 logo que foram aprovadas as contas do tempo então passado. Seria esse o destino natural, executado que estava o seu objecto: realização do projecto de reordenação urbana da zona de intervenção da EXPO '98 bem como a concepção, execução, exploração e desmantelamento dessa exposição. Vá-lá, concedendo, mais uns meses adiante.
Mas o não se ter ido por aí não significa o desvalor que se lhe quer atribuir. Os ganhos e as perdas não estão nas gavetas certas, sendo que há ganhos no Estado, autarquias e outras entiades públicas que registaram as benesses sem o correspondente gasto.
Nos país das opinões públicas que tudo sabem sem saber, pois perderam a vergonha e o sentido da mesma, estes cronistas estão como peixe na água. A opinião pública são eles também.
O José é uma referência que aprecio, não se deixe iludir por opiniões e opinadores que tudo sabem e por isso escrevem porque vivem disso.
Há muito por onde criticar, há muita opção discutível, mas a base da crónica é pura e simplesmente de ignorante, no mínimo. Mas este é o lado que lhes dói menos.
O mundo é feito de mudança e nessa mudança uns participam e tornam-na numa nova realidade, outros fazem parte da resistência, nada a dizer que ela é necessária. Por isso neste aspecto tudo normal.
Mas no caso vertente, em que tanta gente se emplogou, que foi um êxito assinalável de saber fazer, aliás exemplo não repetido, ficarmo-nos por bafientas crónicas ou fungágás de xabreagas do antónio, é de menos.
Foi criada uma nova centralidade, foi criada riqueza que muitos utilizam e beneficiam, foi executado ao tempo um bom projecto, em parte aniquilado pelas aves de rapina do costume quando lhes cheira a festa e grandes negócios, e poderem gozar dos seus altos estatutos de regime.
O que importa saber é porque não foram pagas as dívidas de quem delas beneficiou (leia-se Estado e autarquias), interessa saber porque não foi dado destino aos bens públicos construídos e pagas as contrapartidas. E depois destas contas, então sim, saber se o saldo é negativo ou não.
Tem toda a razão. Estas luminárias pós- 25 de Abril, achincalham tudo de antes 74, mas o que conseguiram, foi tão somente hipotecar o futuro dos nossos filhos e netos. Continue a denunciá-los, que gente desta algum dia terá que pagar pelos crimes cometidos. Cmps
JsJ:
A minha opinião e que não passa disso...é que antes de 25 de Abril, com os governos de Caetano só se faia obra se houvesse dinheiro. E o Orçamento era equilibrado.
É só isso e ainda outra coisa: em 1977 o FMI entrou cá porque os governos da esquerda liquidaram a viabilidade económica do nosso sistema produtivo. O PCP e o PS, principalmente.
Em 1984 repetiram a dose, como se nada tivesse aprendido.
Os grandes economistas deste país que governaram o banco de Portugal e cuidaram das contas públicas pouco ou nada fizeram para evitar as aventuras de Mário Soares e pandilha.
Ainda assim, com o advento da AD a "loucura colectiva" não só continuou como se agravou.
É só isto e penso que ninguém será capaz de o contestar com números ou factos ou até argumentos.
Não se trata do cronista VPV apenas. Trata-se do que temos e somos perante os nossos olhos que querem ver.
As obras já acabaram e não vai haver mais mas a "mão de obra" africana continua a ser "nacionalizada".É a cereja em cima do bolo democrático...a construção do Sobado de Lisboa!
Brilhante opinião.
Obrigado «José» é um enorme prazer lê-lo!
Bem haja
O José, é fraquinho em história...não é forte dele
Eu serei, mas os documentos que apresento falam por mim.
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